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Capítulo 60

 


Ethan havia recebido alta, mas não estava feliz. Àquela hora da manhã, ele estava dando os últimos retoques nas roupas que se já se encontravam limpas, apesar de claramente desgastadas — talvez pelo fato de que o garoto já estar vestindo-as há um bom tempo. Não se descartava a possibilidade de que as agressões sofridas por Ethan também influenciaram no estado atual daquelas vestes. Há uma semana, especificamente no dia 11 de junho, seu namoro acabou. A ironia de ser na véspera do dia dos namorados talvez possa ter influenciado o garoto a ficar cada dia mais deprimido. Apesar da recuperação em relação à saúde física, a emocional não ia tão bem assim. Havia passado os últimos dias fazendo uma retrospectiva de sua jornada até ali e em tudo o que haviam lhe falado. E por mais que doesse, sua mãe tinha razão: não se devia temer a verdade. E a verdade era que seu comportamento estava afastando as pessoas que ele mais amava na vida, portanto, algo tinha de ser feito a respeito.

 

Três batidas na porta desviaram por alguns segundos o fluxo de raciocínio do garoto. Era Marieta.

 

— Bom dia, meu filho. Como você está se sentindo?

 

O garoto deu de ombros.

 

— Tem algum motivo para estar bem, por acaso?

— Se você quer mais algum motivo pra entrar em coma e passar o resto da vida nesse hospital, pode ter certeza que eu mesma posso te proporcionar isso, é só você falar assim comigo só mais uma vez — respondeu a mulher de forma ameaçadora.

— Desculpe.

 

Marieta suspirou antes de continuar.

 

— Suas coisas já estão prontas? Já arrumei tudo, acredito que logo mais estaremos na nossa casa em New Bark.

— Já estão sim. — Ethan estava visivelmente desanimado.

— Excelente, eu já falei com um taxista amigo meu que vai fazer a viagem pra nós, o trajeto pela Rota 45 é mais rápido e--

— Espera mamãe. Eu tô pensando numa coisa.

 

A mulher encarou o garoto com as sobrancelhas erguidas.

 

— O que é?

— Eu não quero ir pra New Bark.

 

Marieta não esboçou reação alguma.

 

— E você quer ir pra onde?

 

Ethan a encarou e respirou fundo. O garoto sabia que aquela nem seria a decisão mais difícil que tomaria nos próximos dias.

 

— Eu preciso ficar em Blackthorn. Tenho que resolver muita coisa. A senhora me disse que eu preciso encarar a verdade e eu preciso fazer as pazes com a Amy... Mas, primeiro, preciso conseguir novamente a confiança dos meus Pokémon. Eu sei que a senhora vai me bater, vai me xingar, vai me impedir de alguma maneira, mas eu não posso voltar pra casa sem resolver isso. Eu não preciso da Liga Pokémon, eu preciso dos meus amigos de volta. E pra isso, preciso ficar aqui.

 

Marieta deu um leve sorriso.

 

— Eu tenho orgulho de você, filho. E não é pouco. Eu acho que você está crescendo, e para mim é difícil assumir isso, mas confesso que prefiro você desse jeito. Se você diz que precisa ficar e resolver seus problemas, você tem todo o meu apoio, mas meu amor, por favor, evite de vir parar no hospital de novo, tá bem?

 

Ethan, pela primeira vez em muito tempo, sentiu um alivio enorme em seu coração.

 

— Obrigado, mamãe! Eu te amo! — E correu para abraçar a mulher.

— Também te amo, meu filho. Conte sempre comigo.

 

***

 

Já se passava das duas horas da tarde quando Ethan se encontrava perdido em pensamentos sentado no banco de uma praça próxima ao Centro Pokémon. Quase que nem se lembrava mais do calor do sol e da tonalidade de azul do céu, as montanhas que rasgavam a cidade ao meio... O garoto quase que estava reaprendendo a entender o mundo em que vivia.


 Ethan, no entanto, se sentia desconfortável. As pessoas que passavam por ali apontavam para ele e não escondiam que estavam falando sobre ele, os acontecimentos ocorridos em Blackthorn não deixaram de ser assunto na cidade. E, com razão, ele estava sendo visto como persona non grata pelos orgulhosos treinadores domadores de dragões moradores da cidade.

 

O desconforto de Ethan, no entanto, iria aumentar ainda mais.

 

— Que bom que te encontrei... Meu filho. Mal deu para conversarmos no hospital.

 

O garoto gelou ao ouvir aquela voz grave. Ao se virar, deu de cara com Gold com um sorriso terno, simpático, daqueles que se dá ao ver alguém que há muito tempo não se via. As mãos nos bolsos e os cabelos cortados penteados para o lado esquerdo da cabeça, que em nada lembrava a rebeldia dos tempos de jovem, traziam uma figura diferente daquela que Ethan se lembrava, até por fotos. Quando Ethan, através de Celebi, viajou no tempo para 25 anos atrás e encontrou o mesmo Gold, ali adolescente e que usava o mesmíssimo boné que hoje o filho usava para cobrir a cabeça, o rapaz jamais imaginou que poderia um dia reencontrar seu pai novamente em uma situação tão aleatória como aquela.

 

— O que o senhor faz aqui? — questionou Ethan, visivelmente incomodado ao ver o homem ali em sua frente.

— Vim te ver, filho. Fiquei preocupado quando sua mãe me deu a notícia de que você estava internado aqui em Blackthorn.

— E o senhor achou legal aparecer assim do nada sem me perguntar se podia?

— Bem, você estava inconsciente, logo, não poderia saber qual seria a sua vontade... — respondeu o homem sem graça.

 

Ethan levantou de supetão e, como um Persian acuado, começou a andar para trás, com os punhos fechados e sobrancelhas franzidas em uma expressão de ódio.

 

— A minha vontade é ficar bem longe do senhor. Nunca mais me procure!

— Mas filho, eu--

— E não me chame mais de filho, eu não sou seu filho e, como sempre durante todos esses anos, o senhor não é meu pai. O senhor não esteve presente quando eu e a mamãe precisamos, então não vai ser agora que eu vou precisar!

 

Ethan se virou para ir embora, mas sentiu seu ombro ser tocado por Gold.

 

— Ethan, espera!

— NÃO TOQUE EM MIM! — berrou o garoto para o homem antes de sair correndo, com os olhos vermelhos tomados em fúria. Gold permaneceu parado no lugar em que estava, constrangido, vendo Ethan ficar cada vez mais longe.

 

Ethan continuou correndo sem um rumo certo, sem nem olhar para trás. Ele só parou de correr quando o fôlego lhe escapou e suas penas tombaram para frente, fazendo-o cair ao chão. Seus braços tremiam de raiva e frustração. As gotas de suor que começavam a se formar contornavam seu rosto e caíam descompassadas no chão enquanto o garoto tentava controlar a respiração. Muitas coisas se passavam por sua cabeça. Os problemas que ele tinha pra resolver em Blackthorn não envolviam seu pai, nunca o envolveu, então por que ele insistia ainda em aparecer? Cada vez que Ethan pensava nisso, seus punhos fechavam com cada vez mais força.

 

— O senhor precisa de ajuda?

 

Uma voz infantil atraiu a atenção de Ethan, que rapidamente se levantou e limpou as mãos na parte de trás dos shorts. Ao reparar nos dois garotos, ele viu que ambos eram extremamente parecidos — gêmeos, logicamente —, um menino e uma menina. Ela com uma das mechas do cabelo colocadas atrás da orelha direita e olhar curioso, semelhante ao do Eevee que se agarrava no topo da cabeça da treinadora. Ele, meio envergonhado, com as mãos dentro dos bolsos dos shorts jeans e com a aba do boné tentando esconder os olhos acinzentados com um Pikachu em seus ombros, com as orelhas levantadas em sinal constante de alerta, que olhava para Ethan com certa desconfiança.

 

— “Senhor”? Eu não sou assim tão velho, tá? Eu só tenho 13 anos! — respondeu ele sem esconder uma leve indignação. — Mas eu estou bem, obrigado...

— O senh... Você se chama Ethan, não é? — perguntou o menino, surpreendendo o treinador mais velho.

— Vocês me conhecem? Nossa... Se bem que eu devo imaginar o motivo, aqui nessa cidade todo mundo me conhece... Sim, sou eu, o cara que abandonou os Pokémon. Podem me xingar, eu acho que já acostumei...

 

Os gêmeos se olharam.

 

— Nós não vamos te xingar. A gente quer te ajudar a recuperar seus Pokémon — disse a menina.

 

Ethan ergueu as sobrancelhas.

 

— Me ajudar? Isso é muito legal vindo de vocês, mas eu preciso fazer isso sozinho. Além do mais, eu nem sei os nomes de vocês. Seus pais estão sabendo que vocês estão falando com um estranho?

— Meu nome é Elaine. Você não é um estranho... Pelo menos, não deveria ser... — comentou a menina meio sem jeito.

— E você, meu chapa? Como se chama? — questionou Ethan ao menino que demorou alguns segundos para responder.

— M-Meu nome é Nic--

— O nome dele é Chase! — interrompeu Elaine com um sorriso sem graça, dando uma cotovelada nas costelas do irmão. — C-H-A-S-E, Chase. Com “ch”, igual tem no nome do Pikachu. Ele é o meu irmão mais novo. Temos dez anos, mas eu sou sete minutos mais velha!

— Ai! — reclamou Chase massageando o local. — Isso doeu...

 

Ethan deu uma risadinha.

 

— Gêmeos, né? Vocês são parecidos mesmo, mas eu acredito que seja só na aparência, porque vocês dois são totalmente opostos na personalidade.

— Acho que eu puxei meu pai, né? — comentou Elaine com um sorrisinho convencido.

— Bem, eu não conheço seu pai, mas ele deve ser muito gente boa igual você mesmo — respondeu Ethan. — E você, baixinho? É o menos falante dos dois. Mas não se preocupe, eu sou gente boa.

— Eu não sou baixinho! Mamãe disse que eu estou em fase de crescimento! — Exclamou Chase de forma agressiva. Pikachu disparou faíscas de suas bochechas.

 

Ethan levantou as duas mãos.

 

— Calma, calma... Eu não quero ofender.

— Não ligue pra ele... Você conhece o Chase, né, pai? — comentou Elaine para Ethan segundos antes de ficar vermelha como um pimentão. — Q-quer dizer, Ethan! Esqueça o que eu disse!

 

Ethan, no entanto, gargalhou.

 

— Pai? Eu sou muito novo pra essas coisas, menina. Não se preocupe, você deve estar com saudades dele, não é? Parece eu quando criança... Uma vez eu chamei a minha professora de “mãe”. Foram os seis meses mais longos da minha vida... Mas vou confessar, gostei de vocês. Se um dia eu for pai e tiver filhos como vocês, vou ficar feliz da vida!

 

Chase chegou perto do ouvido da irmã.

 

— A gente não deveria ajudar ele a procurar os Pokémon...? — perguntou baixinho.

— Ah, é! Certo, bem... — Elaine tentou retomar o foco, apesar de continuar rubra. — Nós sabemos que seus Pokémon estão perdidos. Queremos ajudar... Por favor, deixa!

 

Ethan cruzou os braços e começou a pensar.

 

— É... Pensando melhor eu acho melhor ter ajuda... Eu não faço ideia de onde eles possam estar...

— Justamente por isso que nós estamos aqui! — exclamou Elaine. — Com nossos Pokémon, com certeza nós poderemos encontrar toda a sua equipe.

— Além do Eevee e do Pikachu, quais outros Pokémon que vocês têm?

— Minha Eevee se chama Vera. Eu tenho também a Free, que é uma Butterfree, e a Mandy, que é uma Aipom. O Pikachu do meu irmão se chama Takara e com ele tem o Donald, que é um Psyduck e o Faísca.

— “Faísca”? Engraçado, eu tenho um Pokémon chamado Faísca também! Deixa eu ver? — pediu Ethan para Chase.

— É... Tá bem... — respondeu o garoto de forma tímida pegando uma PokéBola da mochila.

— Espera aí, espera aí! — Exclamou Elaine nervosa. — Você não pode ver!

 

Tarde demais. Da PokéBola fora liberado um Pokémon cujo corpo era largo e circular, semelhante a um disco feito de metal, com uma borda fina circundando o diâmetro de seu corpo. Havia um olho no centro contendo uma pupila grande e vermelha. Em cada lado de seu corpo, haviam duas bolas soldadas, com cada lado contendo um olho, cada uma com ímã de ferradura e um grande parafuso. No topo de sua cabeça, uma haste alta, fina e amarela que muito se assemelhava a uma antena que deveria ser usada para lançar ataques elétricos. Atrás de seu corpo, como uma cauda, havia um terceiro ímã em forma de ferradura.

 


— “Magnezone, o Pokémon Área Magnética. A exposição a um campo magnético especial mudou a estrutura molecular do Magneton, transformando-o em Magnezone”— informou a PokéDex de Ethan.

— Ele é a forma evoluída do Magneton? Engraçado, Faísca é justamente o apelido do meu Magneton. Como o mundo é pequeno... — comentou Ethan sorrindo. — Mas espera aí...

 

Elaine ergueu as sobrancelhas e levou as duas mãos à cabeça, em pânico.

 

— N-não é nada disso o que você está pensando!

— Eu acho que é sim... Esse Magnezone, forma evoluída do Magneton... Chamado Faísca...

 

A cada palavra de Ethan, um mini-ataque cardíaco acometia a menina.

 

— E-eu acabei de descobrir o que está acontecendo aqui — disse Ethan, chocado.

 

Elaine paralisou. Olhou para o irmão, implorando por ajuda.

 

— Faz alguma coisa... — pediu ela.

— Fazer o quê? Eu não sei o que fazer... — sussurrou ele de volta.

— Os poderes de magnetismo do seu Faísca podem ajudar a atrair o meu Faísca, porque com certeza um imã de um Pokémon enorme igual a esse com certeza faria todos os Magneton do mundo se reunirem rapidinho! — exclamou o mais velho.

 

Os irmãos se entreolharam em silêncio. Chase tampou os olhos com as mãos balançando a cabeça de forma negativa, incomodado com a ignorância de Ethan. Elaine encarava o treinador de forma incrédula e de boca aberta.

 

— É... Com certeza... Isso mesmo... — disse a menina de forma pausada devido ao choque.

— Agradeço demais a ajuda de vocês! Vocês apareceram na hora certa com o Pokémon certo! E olha que eu nem sou de acreditar em coincidências! — Sorriu Ethan para os irmãos antes de virar-se em direção à cidade. — E então? Vamos procurar o meu Faísca?

 

Enquanto ele saltitava feliz, Chase puxou a manga da camiseta da irmã para cochichar em seu ouvido.

 

— Ni... Eu sei que o tio Lance pediu pra que a gente não contasse pra ele sobre o que está acontecendo, mas... Tem certeza de que realmente precisamos guardar segredo? Ele parece tão...  Desligado...

— Eu até me surpreendo, Ni... Graças à Arceus que puxamos a inteligência da mamãe... — comentou Elaine.

— Vocês não vêm? — gritou Ethan alguns metros a frente.

 

Os irmãos se olharam, suspiraram e correram atrás do rapaz.

 

***

 

Por onde passava, o grande Magnezone chamava a atenção. Não era comum um Pokémon daqueles na região de Johto, afinal, o continente, junto com Kanto, não era um local onde a evolução do Magneton se tornasse possível, afinal, dependia de um campo magnético especial existente em poucos lugares no mundo, como na região de Sinnoh. Chase e Elaine comentaram com Ethan que o Pokémon foi um presente de seus pais para que eles pudessem ficar protegidos durante a viagem, o que fazia muito sentido para Ethan, afinal, os dois só tinham dez anos — idade mínima para e tirar uma licença Pokémon. Apesar do tamanho, Magnezone não parecia ser um Pokémon agressivo. Pelo menos, não com as crianças.

 

Os três imãs de Magnezone giravam em direções diferentes, como um satélite emitindo sinais. Faísca emanava frequências magnéticas específicas para localizar um único Pokémon e apesar de alguns parafusos e porcas grudarem em seu corpo de metal, tudo aos arredores, como postes de luz, lixeiras e bancos de praça, apesar de serem feitos de ferro e aço, permaneciam intactos.

Não existia Magneton selvagem por aquelas bandas. Logo, quando um Magneton apareceu flutuando na direção do Magnezone completamente seduzido pelas ondas magnéticas emitidas pelo Pokémon, uma onda de exclamações e comentários sussurrados chamaram a atenção.

 

— É o meu Faísca! — exclamou Ethan enquanto corria na direção de Magneton.

 

Magnezone parou de girar seus imãs, despertando Magneton do transe. Ao despertar, seus olhos focaram em Ethan, parado em sua frente. Os parafusos em seu corpo começaram a girar e, sem que o treinador esperasse, uma descarga de ThunderShock fora disparada de seus imãs, atingindo o garoto em cheio, para surpresa de Elaine e Chase. Ethan gritou de dor enquanto os gêmeos deram um passo para trás, assustados.

 

— O que está acontecendo?! — Perguntou Elaine assustada.

 

Ethan caiu ao chão sentindo os membros do seu corpo formigando pela descarga elétrica sofrida. Deitado de costas com os braços e pernas abertos, sentia a eletricidade se dispersar de seu corpo.

 

— Ethan, você está bem? — perguntou Elaine se aproximando do corpo do rapaz.

— Eu confesso que mereci essa — comentou o rapaz se sentando no chão. — Você tem razão, Faísca... Me desculpe.

 

Magneton flutuava na frente do rapaz.

 

— Eu fui um treinador péssimo. Não, pior que isso... Eu nem sei se inventaram palavra pra definir que tipo de treinador eu fui pra você. Eu vou entender se você não quiser me perdoar e não quiser seguir jornada comigo, eu vou entender... Mas, antes de você tomar a sua decisão, ouça um pouco o que eu tenho a dizer.

 

Ethan levantou-se com um pouco de dificuldades. Apesar de estar com o corpo dolorido, queria ficar de pé custasse o que fosse. Precisava encarar seu Pokémon nos olhos.

 

— Eu estou a um fio de perder todos os meus amigos, todos aqueles que eu sempre disse que amava, mas não tratei como deveria. Um pedido de desculpas não resolve nada, é da boca pra fora muitas vezes, mas... Eu preciso de ajuda pra realmente mudar, pra crescer e evoluir... Eu não vou conseguir fazer isso sozinho. Então, se por algum motivo você ainda acreditar que eu posso mudar e dentro de você puder existir qualquer tipo de pequena hipótese de me dar uma chance e me ajudar a ser uma pessoa melhor, então eu peço, por favor... Me dê essa chance. — Ethan sacou a PokéBola de Faísca de dentro do bolso do shorts e apontou para o Magneton.

 

Chase olhava os dois com uma certa esperança no olhar. Sua irmã, no entanto, cruzou os dedos das mãos e levou o punho até o queixo, estava aflita e apreensiva. Faíscas elétricas escapavam dos imãs de Magneton, mas não assustava Ethan. O garoto estava disposto a receber quantos mais choques elétricos fossem necessários para aliviar a raiva de seu Pokémon. Faísca olhou para o Magnezone que não moveu um parafuso. Olhou de volta para Ethan que ainda segurava a PokéBola e encostou um dos imãs no botão central da cápsula, permitindo-se ser guardado novamente dentro dela.

Era nítida a sensação de alivio de todos os presentes. Chase e Elaine se entreolharam e sorriram e Ethan suspirou enquanto olhava para a PokéBola.

 

— Você merece meus parabéns. A humildade é o primeiro degrau da escada que você precisa subir para reconquistar o que você quer.

 

Ethan olhou para trás e viu o dono daquela voz conhecida. Era Forrest que trazia um sorriso de satisfação e um olhar orgulhoso.

 

— Obrigado, de verdade — disse Ethan, feliz.

— Eu confesso que estava preocupado... Eu não fazia a menor ideia de como você iria conseguir recuperar a confiança de seus Pokémon. Até que você deu um bom primeiro passo — comentou o rapaz aproximando-se do amigo. — E quem são vocês?

 

Chase e Elaine deram um passo para trás, pegos de surpresa com aquela pergunta.

 

— M-meu nome é Chase. E essa é a minha irmã, Ni... Quer dizer, o nome dela é Elaine. Nós estamos viajando para ser treinadores também... — respondeu o menino, tímido.

— O meu nome é Forrest. Pelo o que eu estive observando, vocês ajudaram o Ethan também a encontrar o Faísca, então deixo meu agradecimento a vocês. São novinhos, mas têm muita força de vontade. Apesar de eu realmente achar que estão escondendo alguma coisa... — disse o moreno coçando o queixo e analisando os irmãos de cima a baixo.

— N-Nós?! Não estamos escondendo nada, tio! — Respondeu Elaine como uma criança que estivesse realmente tentando esconder alguma coisa.

 

Forrest ergueu as sobrancelhas.

 

— “Tio”? Pegou pesado, hein? — E riu.

 

Elaine voltou a ficar vermelha como um Scizor.

 

— Desculpa! Forrest, eu quis dizer Forrest! — exclamava a menina em desespero.

— Calma, eu só acho engraçado. Se você quiser me chamar de tio, não tem problema.

— Mas você não é muito novo pra ser chamado de tio? — perguntou Ethan.

— Eu sou o segundo mais velho numa família de sete irmãos... Eu acho que já acostumei com o papel — respondeu Forrest meio sem graça.

 

Ethan voltou a encarar a PokéBola de Faísca.

 

— Ainda faltam cinco Pokémon... — comentou sozinho.

— Você sabe onde estão os outros? — perguntou Forrest.

— Eu não... mas talvez o Faísca saiba.

 

O Magneton foi liberado de sua cápsula e aguardou ordens de seu treinador.

 

— Faísca, você saberia dizer onde estão os outros da equipe? — perguntou Ethan ao Pokémon que assentiu positivamente. — Por favor, você poderia nos levar até eles?

 

O Pokémon tomou a frente e guiou os quatro pelas ruas da cidade. Faísca girava seus imãs de forma muito parecida com o Magnezone dos gêmeos, funcionando como um satélite que, provavelmente, dava referência a ele do caminho a ser tomado. Alguns minutos caminhando e logo foi possível ver uma pracinha há alguns metros do Centro Pokémon. Apesar de haver alguns brinquedos instalados, as crianças ali presentes se divertiam com um Pokémon azul que ia de um lado para o outro e não deixava de bater continência, o Wobbuffet de Ethan. Mesmo bancando o João-bobo, o Pokémon não baixou a guarda em nenhum momento ao ver o garoto se aproximando, claramente sua prioridade não era cumprimentar Ethan.

 

As crianças na praça continuaram a brincadeira com Wobbuffet e nem se importaram com Ethan parando bem próximo do Pokémon.

 

— Podemos conversar? — perguntou o garoto ao Pokémon.

 

Pela primeira vez, Wobbuffet baixou a guarda. Ethan entendeu o gesto como uma permissão. Agachou-se para ficar mais ou menos na mesma altura de seu Pokémon.

 

— Eu sei que pedir desculpas pra você não é o bastante. Eu fui um tremendo babaca com você e os outros da equipe e vou entender completamente se você não me quiser mais como treinador. Mas, como disse para o Faísca, eu não posso pensar em ser um cara melhor se eu não tiver vocês... Eu preciso começar com vocês que sempre estiveram comigo e que acreditaram em mim desde o começo. Me perdoe por ter sido um babaca.

 

O Pokémon azul bateu continência para o treinador, mas logo as lágrimas tomaram conta do rosto de Wobbuffet que pulou no pescoço de Ethan derrubando-o no chão. A tensão no ar foi quebrada em segundos pela pureza de um coro de risadas infantil que foi puxado por Chase. Até Forrest não escondeu a risada.

 

— Bom ter você de volta, meu amigo — comentou Ethan sorrindo enquanto abraçava um Wobbuffet emocionado.

— Mas ainda faltam quatro, não é? Onde eles estão? — Perguntou Elaine.

— No Centro Pokémon — respondeu Forrest. — Pelo menos, Quilava e Sandslash estão lá.

— E como você sabe? — Questionou Ethan. — Você tem alguma coisa a ver com isso tudo?

— Eu... — Forrest ia responder, quando a exclamação de Elaine o interrompeu.

— Nidorino!

 

Ethan virou-se na direção do Centro Pokémon, a poucos metros da praça onde se encontrava, e viu Imperador o encarando poucos segundos antes de entrar no local. O garoto, sendo seguido por Elaine, correu atrás do Pokémon sem sequer concluir a conversa com o amigo.  Forrest riu enquanto Chase olhou pro mais velho confuso.

 

— Ele sempre foi assim, tio?

— O Ethan? Acho que nunca vai deixar de ser — respondeu com uma risada.

 

...

 

Os treinadores presentes no Centro Pokémon fizeram um silêncio constrangedor quando Ethan passou pela porta. O garoto estava tão concentrado atrás de Imperador que nem percebeu que a sua presença causou uma significativa mudança no comportamento geral. Surpresa de Ethan foi notar Quilava e Sandslash próximos ao balcão de informações do hospital.

 

— Então foi aqui que vocês resolveram se encontrar, né? — comentou Ethan se dirigindo aos Pokémon.

— Menino Ethan! Então você resolveu aparecer por aqui.

 

O garoto se virou e deu de cara com Duster acenando para ele.  O rapaz de cabelos esverdeados aproximou-se com um sorriso simpático.

 

— Oi, Duster. Bom te rever, mas eu to meio ocupado agora.

— Você ainda não evoluiu seu Quilava, cara? Poxa vida.

 

Ethan respirou fundo e encarou Duster com toda a paciência que conseguiu reunir.

 

— Não, cara, eu não evolui meus Pokémon. Mas por que isso te incomoda tanto? Isso não deveria ser da sua conta.

— Cara, batalhas Pokémon são da minha conta. Eu sou um dos melhores treinadores de Blackthorn, eu acredito ser meu dever ajudar o próximo.

 

Duster cruzou os braços e adotou uma posição soberba. Um sorriso contornou seus lábios, mas Ethan nada disse. Ao invés disso, virou-se novamente para seus Pokémon e agachou-se para ficar mais ou menos do mesmo tamanho que eles.

 

— Quilava, Sandslash, Imperador. Eu sei que por causa dele e daquele Feraligatr maneiraço eu fui um completo idiota com vocês. Eu vim aqui pedir perdão pelo o que fiz, foi uma coisa covarde, foi imbecil da minha parte...

 

Um dos treinadores que estavam presentes no Centro Pokémon soltou uma risada alta e debochada.

 

— Ih, galera, olha isso! Aquele moleque daquela vez tá pedindo desculpas por ter abandonado os Pokémon dele!

 

As risadas e os comentários cada vez mais altos começavam a tomar conta do ambiente. Ethan fechou os punhos e sentiu o rosto queimar de vergonha, mas não retrucou. Continuava a tentar falar com seus Pokémon, que olhavam para o garoto de forma séria.

 

— E-eu queria q-que v-vocês me dessem uma n-nova chance... — pediu ele, nervoso.

— Chega, pessoal! — exclamou Duster em alto volume, fazendo a zombaria diminuir. O treinador se aproximou de Ethan. — O melhor a se fazer é me dar esses Pokémon. Você não acha que eles seriam melhor aproveitados comigo, um treinador experiente? Eles se tornariam poderosos.

 

Ethan levantou-se e encarou Duster.

 

— Se eu não fui claro antes, eu vou ser agora. Eu não pedi a sua opinião. Eu tenho meu próprio método e se eu precisar de conselhos, eu sei muito bem a quem pedir, então muito obrigado, mas eu não to nem aí pra você.

 

O silêncio voltou a prevalecer no Centro Pokémon. O sorriso de deboche de Duster estremeceu e o rapaz partiu pra cima de Ethan. Nidorino, Quilava e Sandslash pularam na frente do treinador e começaram a rosnar para Duster, que encarou os Pokémon de forma surpresa.

 

— Então... Vocês vão mesmo ser orientados por esse moleque? Vou ter que demonstrar a diferença de nível entre nós... —disse o treinador sacando uma PokéBola.

Light Screen!  — ordenou a voz da Enfermeira Joy.

 

Chansey imediatamente correu na direção de Ethan e Duster e criou uma tela de energia que os separou.

 

— Aqui não é local pra isso! Se vocês querem batalhar, façam isso lá fora. Eu não permitirei nenhum tipo de briga aqui, respeitem os Pokémon que estão em tratamento! — bradou a mulher para os presentes. — É melhor vocês saírem daqui antes que eu acione a polícia!

 

Duster guardou a PokéBola e encarou Ethan. Pela primeira vez, seus olhos demonstravam ódio.

 

— Isso não vai ficar assim... Estou louco por uma briga, lutar com você vai ser fácil visto seu desempenho na batalha contra a Clair no Ginásio... Seus Pokémon sequer te obedecem! Estarei te esperando na Toca do Dragão.

 

O rapaz se virou para sair. Ao cruzar a porta, esbarrou em Forrest, que olhou feio para Duster.

 

— Tá louco, cara?! — reclamou o moreno, mas sem resposta. Duster caminhava para longe pisando forte.

 

Chase e Elaine correram até Ethan.

 

— Você conseguiu se desculpar com seus Pokémon? — perguntou a menina.

 

O garoto desviou o olhar dela e voltou a se agachar para seus Pokémon.

 

— Obrigado por me defenderem... Eu sei que eu merecia apanhar pelo o que eu fiz com vocês. Eu vim atrás de vocês porque eu realmente me arrependo. Vocês estão comigo desde o começo da minha viagem e não me interessa o que o Duster ou qualquer pessoa diga sobre a forma que nós treinamos, vocês é que irão saber quando vão querer evoluir. Me desculpem...

 

Ethan começou a chorar.  Tirar o peso do coração trazia um alivio indescritível para o garoto. Ele tentava expressar com toda sinceridade tudo o que sentia, e realmente estava arrependido pelo o que havia feito com sua equipe de amigos.

 

Quilava foi o primeiro a se aproximar de Ethan. O Pokémon ergueu-se em suas patas traseiras e lambeu a bochecha do garoto. Sandslash e Nidorino também aproximaram-se de Ethan e demonstraram seu perdão ao menino, Sandslash o abraçou e Nidorino grunhiu de forma carinhosa.

 

— Obrigado... — disse Ethan sob lágrimas retribuindo o carinho. — Eu prometo que vamos derrotar o Duster e todos os treinadores daquela Toca do Dragão. Vamos juntos!

— Toca do Dragão?  — perguntou Forrest ao amigo. — Você pretende lutar lá?

— Aquele cara... Duster, o de cabelo esverdeado. Eu vou derrotá-lo, Forrest, e preciso de ajuda pra isso.

— Ethan, a Toca do Dragão é um lugar onde você precisa estar preparado pra poder entrar. Pupitar está treinando lá e acredito que não será fácil convencê-lo a te dar uma nova chance. Esse Duster aí é só uma amostra do que te aguarda ali.

— Eu vou reconquistar a confiança do Pupitar. E se é pra eu elevar o nível técnico da minha equipe, você é a melhor pessoa pra me ajudar com isso — disse Ethan de forma séria enquanto secava as lágrimas do rosto.

— Eu não vou pegar leve.

 

Na Toca do Dragão se encontra o próximo desafio que Ethan precisa enfrentar: A rebeldia de seu Pupitar. Após ser desafiado por Duster, cabe ao garoto com sua equipe quase completa se preparar com a ajuda de Forrest para os próximos desafios que não serão nada simples de serem resolvidos. O tempo em Blackthorn fica cada vez mais fechado.

 

TO BE CONTINUED...





Notas do Autor (Capítulo 60)

 



Toda vez que chegamos a um capítulo cujo capítulo é uma multiplicação de 10, eu fico feliz. São mais dez capítulos que eu consegui fechar, e um número dezenas de vezes maior de capítulos que eu consegui escrever. Pra quem, como eu, escreve muito mais porque gosta e que, diferente do Canas e seu livro Matéria, Espada de Madeira, não tem em mente escrever como profissão (apesar de eu ser um compositor, olha que ironia), é sempre uma vitória pra mim, e uma consagração que o Aventuras em Johto, que é escrito há doze anos, chegou longe. Essa semana, estava até conversando com o pessoal do Discord da Aliança sobre isso, de como a evolução da história vem caminhando lado a lado com a minha evolução pessoal. Eu era um menino quando comecei a elaborar essa história só por gostar pra caramba de Pokémon (e de Johto) sem saber que ela me levaria tão longe. E eu acho que é como o Ethan, que apesar de tudo, saiu de New Bark lá no Capítulo 01 e  hoje, se encontra perdido, completamente confuso, depois de ter feito a enorme burrada de ter abandonado seus Pokémon. É, eu sei que muito provavelmente muitas pessoas não entenderam, muitas não acreditaram, mas eu acho que muitas vezes, na hora da raiva, a gente acaba magoando quem a gente gosta. Faz parte da evolução humana. A dor é necessária pra gente aprender a nunca mais se machucar de novo: Pelo menos, não daquela mesma maneira. Aos poucos, a imaturidade de nosso personagem principal vai se transformando em experiência e, principalmente, em maturidade, que não se vende por aí. Maturidade que muitas vezes a gente acha que tem, mas que é irrisória quando colocada em prática. Ethan pode até ter, em certo ponto, conquistado o perdão de seus Pokémon. Mas agora, resta saber se Pupitar e Amy irão ter a mesma compreensão. O Aventuras em Johto cresce junto com seu autor, que se (des)envolve até demais com cada personagem que escreve...

Capítulo 59

 



Amy mantinha os dois punhos fechados e apoiados nos joelhos. Estava sentada em um canto da pequena sala localizada em um endereço secreto no centro da cidade. Os longos cabelos cobriam seu rosto e não se podia ver que tipo de expressão que a garota fazia, talvez apenas o chão — se pudesse falar — o descreveria, visto que era para onde ela olhava. O silêncio ensurdecedor fazia companhia e os pensamentos e preocupações sobre Ethan rondavam sua cabeça como abutres ao redor de um pedaço podre de carniça. Ela não esteve presente quando o namorado, aquele ser imaturo e infantil, mais precisou; e sentia-se culpada pelo o que aconteceu. Sentiu-se uma pessoa horrível.

 

A porta de madeira se abriu, mas Amy não pareceu se importar.

 

— Está quase na hora da reunião. Você vem? — a voz de Forrest ressonou pelo ambiente. Amy, no entanto, não respondeu. — Sei que o último lugar que você queria estar nesse momento é em uma sala fechada discutindo o paradeiro da Equipe Rocket, mas... Você sabe o quanto é necessária pra que eles sejam capturados, né?

 

Amy permaneceu calada por mais alguns segundos antes de levantar-se.

 

— Necessária? O que o Lance quer é me usar de isca pra aqueles cretinos... Quem tinha que estar em uma cama de hospital era eu, não o Ethan. Vocês dois se arriscam muito por minha causa.

 

Forrest colocou as mãos no bolso e deu de ombros.

 

— Eu não digo que sou feliz arriscando a minha vida. Eu sou jovem, tenho muito o que aprender ainda... Mas por você e pelo Ethan eu não penso duas vezes antes de agir. Estou preocupado com ele e mais ainda com você. Se ele morre, você se mata e eu não tenho psicológico pra enterrar meus dois melhores amigos. Eu treino Pokémon do tipo Pedra, mas eu não sou feito de pedra. Vamos superar essa, juntos — o garoto estendeu a mão esquerda em direção à Amy. — E vamos, juntos, espancar o Ethan quando ele se recuperar, porque as cagadas que ele anda fazendo estão nos causando enxaqueca.

 

Pela primeira vez após algum tempo, a garota sorriu. De mãos dadas, os dois se retiraram dali e a sala se fechou em silêncio.

 

***

 

Os dois homens se encararam sem piscar. Lance continuava a sustentar um sorrisinho debochado que confrontava a seriedade inabalável do Observador.

 

— E com quem está a PokéBola GS?

— A verdadeira? Com guardiões de minha confiança.

— Quem são?

— Treinadores, eu acho.

 

O detetive avançou contra Lance agarrando-o pelo colarinho e aproximou o rosto do ruivo do seu. Lance podia sentir a respiração pesada e ver a têmpora destacada do homem que estava visivelmente irritado.

 

— Não estou para brincadeiras, senhor Lance! O senhor está colocando a segurança da região inteira em risco com essas suas atitudes infantis!

— Não estou brincando. Está tudo sob controle. Me agredir vai continuar te fazer ficar sem respostas.

 

O detetive afrouxou os dedos e o colarinho de Lance se soltou.

 

— Bem melhor.

 

O Observador se afastou. Respirando fundo, arrumou seu sobretudo, tentando alinhá-lo novamente.

 

— Muito bem. Estou atento.

 

Lance afastou-se da mesa e caminhou até um dos cantos sala, onde algumas confortáveis poltronas de cor carmim se mantinham imponentes. O campeão sentou em uma delas, entrelaçou seus dedos e colocou os indicadores em haste, apoiando-os nos lábios enquanto cruzava as pernas. O detetive se aproximou e sentou na cadeira da esquerda, não tirando os olhos do ruivo, que parecia sério pela primeira vez.

 

— Isso não é uma fanfic. O que eu lhe contar é absolutamente verdade.

 

O Observador ergueu o cenho. Cruzou os dedos das mãos e apoiou-as no colo, mantendo os polegares em riste.

 

— Estou atento.

— Pois bem. A PokéBola GS está nas mãos de dois irmãos que vieram do futuro trazidos por Celebi, por alguma razão misteriosa.

 

Houve alguns segundos de silêncio antes de o detetive soltar uma bufada de ar.

 

— Você está tirando uma com a minha cara, não está?

— Eu disse que era absolutamente verdade.

— E como isso aconteceu?

— É o que estamos tentando descobrir. Eles ainda estão tentando recuperar a memória. A informação que temos é que eles estavam na Floresta Ilex quando foram sugados por um portal verde-oliva, acordando na casa de Kurt, que os resgatou. Acreditamos que eles não foram trazidos a toa.

— E onde eles se encontram agora?

— Estão seguros, protegidos em um local secreto onde só alguns integrantes da Elite 4 têm conhecimento.

 

O Observador pareceu digerir por alguns instantes toda aquela informação recebida.

 

­— Certo, então como exatamente você está mantendo as investigações sobre a Equipe Rocket sob controle? E como Amanda Green, o garoto em coma, os viajantes do tempo acabam se envolvendo nessa história toda?

— Nós temos uma linha de investigação... Amanda Green nos fornece detalhes sobre toda a operação de dentro da organização, afinal, ela é uma ex-agente, e não a toa que continua sendo procurada e perseguida pelos integrantes Rockets. Nos reunimos frequentemente em lugares diferentes e com uma certa irregularidade, escondidos para que não haja nenhum tipo de espionagem... Poucas pessoas participam, como a própria Srta. Green, o garoto em coma e o amigo que anda com eles. E muitas delas apenas uma vez. Eu, por exemplo, estou aqui hoje com o senhor enquanto acontece uma reunião nesse mesmo horário... Mas o Bruno pode estar lá. Ou o Koga. Ou algum dos novatos... Pode ser qualquer um. Tentamos ser discretos, mantenho agentes da polícia infiltrados no meio da sociedade. Temos certeza que a Equipe Rocket não sumiu de forma definitiva, eles ainda estão por aí. Destruir o quartel de operações foi só uma saída triunfal, mas apenas o fim do primeiro ato. O pior é que não sabemos como é que eles irão agir, já que o que eles mais desejam está conosco, justamente a PokéBola GS, com Celebi.

— Mas você não disse que o Celebi trouxe aqueles garotos do futuro? Quem lhe garante que ele está na PokéBola GS?

— Ninguém. Talvez seja essa a grande mágica por trás disso.

 

 Os dois se encararam de forma séria por alguns instantes antes de o detetive parecer por satisfeito.

 

— E quais serão as próximas providências que vocês irão tomar?

— É um jogo de xadrez, lembra-se? Eles perderam a Torre e o Bispo, mas a Rainha e o Rei deles ainda estão no jogo. Giovanni fez uma rodada fantástica, agora o marca-tempo está no nosso lado.  É bom fazermos uma boa jogada e, de preferência, o quanto antes, afinal... O tempo está se esgotando. Eu tenho uma leve impressão de como eles irão fazer a jogada para o xeque mate... — comentou Lance enquanto encarava em um mapa em uma das paredes de sua imensa sala a localização da Cidade de Ecruteak.

 

***

 

De repente era possível sentir sua própria respiração. Seu diafragma trabalhando enquanto o ar era sugado por suas narinas, mesmo que com um leve desconforto em seu rosto — havia algo preso à sua face, aos seus ouvidos chegavam sons de repetidos bipes em mi bemol, a única música que fazia companhia ao garoto naquele momento. Quando abriu os olhos, a primeira coisa que viu foi o teto branco com três lâmpadas tubulares fluorescentes. Virou a cabeça e, como se fosse combinado, as três pessoas ali presentes foram tomadas por uma expressão de surpresa. Junto aos humanos, dois Pokémon — Quilava e Sandslash —, que agilmente se aproximaram da cama de seu treinador.

 

— Ethan, você acordou! — Marieta levantou-se da cadeira em um pulo. — Vou chamar o médico!

— Bom ver que você acordou... Meu filho.

 

Ethan engoliu em seco ao ver o pai presente naquele instante. Claramente, de todas as pessoas do planeta, ele era a última que ele não esperava — e talvez nem quisesse — rever.

 

Gold se aproximou da cama de Ethan.

 

— Você não faz ideia do susto que causou em nós.

 

O garoto fechou os punhos. O monitor cardíaco começou a registrar batimentos cada vez mais rápidos. Os passos de Gold foram interrompidos quando Marieta e um médico entraram no quarto de forma apressada para um sentimento de alivio de Ethan.

 

Após ser checado de diversas maneiras pelo médico, Ethan teve a máscara de oxigênio removida, o que permitiu que o garoto imediatamente pudesse sentir uma sensação de alivio, apesar de ainda sentir a pele marcada pelas alças que prendiam o equipamento em seu rosto.

 

— Como você está se sentindo, garoto? — perguntou o médico enquanto checava uma prancheta.

 

Houve alguns segundos de silêncio até Ethan responder.

 

— O que aconteceu...? Como eu vim parar aqui? Mais uma vez acordando dentro de um quarto de hospital... Eu deveria me acostumar.

— Credo meu filho! — repreendeu Marieta, incomodada. — Você entrou numa briga na Rota 45 a três dias, foi espancado por um grupo de treinadores.

 

O garoto ergueu as sobrancelhas em uma expressão surpresa.

 

— Entendi por que tá parecendo que fui esmagado pelo Rollout de uma Miltank...

— Você teve uma concussão cerebral — alertou-lhe o médico. — Seu cérebro se deslocou dentro de sua caixa craniana devido às agressões que você sofreu. Perda de memória é comum, alguns pacientes não conseguem se lembrar do que aconteceu no momento do acidente. Agora precisaremos fazer alguns exames para ver qual o estado da sua cabeça e do seu cérebro, mas acredito que você logo estará recuperado.

 

Gold fez menção de se aproximar da cama de Ethan, mas Marieta colocou uma das mãos no ombro do homem, interrompendo seu movimento.

 

— Me acompanhem, por favor — solicitou o médico, dirigindo-se aos pais do menino. Os dois se retiraram do quarto, deixando Ethan sozinho com Quilava e Sandslash.

 

O menino, por alguns instantes, até ficou aliviado por estar apenas com seus Pokémon sem a presença do pai. Mas, como se o vento soprasse em seu ouvido, lembrou-se do que havia feito a eles, lembrou do momento em que virou as costas para seus companheiros por pura birra. Logo, a vergonha passou a queimar seu rosto como um ferro que marca o lombo de um Tauros. Naquele instante desejou do fundo do coração que a amnésia apagasse o resto de suas lembranças, como uma forma de não ter de lidar com aquele sentimento de culpa que cortava seu coração e causava muito mais dor do que aquela física que percorria seus músculos.

 

Do lado de fora do quarto, o médico caminhou com Gold e Marieta ao longo do corredor de paredes brancas. Olhando a expressão séria do doutor, Marieta entrelaçou os dedos das mãos o os levou até o queixo, aflita.

 

— Doutor, por favor... O que está acontecendo?

— Bem, seu filho vai se recuperar bem e sem nenhuma sequela. Eu apenas não sei se seu filho irá se lembrar algum dia do ocorrido, portanto identificar os envolvidos contando com o testemunho dele pode não ser possível...

 

Gold e Marieta se entreolharam com uma expressão preocupada.

 

— Quais são suas orientações, doutor? Ethan precisará voltar pra casa? — questionou o homem.

— Sendo bastante honesto, ele precisa de repouso. Não sei até onde a viagem do garoto pode ser cem por cento segura, afinal, ele precisa de acompanhamento dos medicamentos. Mas, essa decisão não cabe a eu fazer. Sou pai, meu filho sonha em sair em jornada junto com um Pokémon. Como médico, a decisão é manter meu paciente longe de qualquer tipo de estresse, mas esse estresse também poderia ser causado pelo fato de Ethan ter de largar tudo justamente pela recomendação médica. Cabem a vocês, como pais, decidirem o melhor para o filho de vocês.

 

...

 

Quando a porta do quarto novamente se abriu, apenas Marieta entrou. Quilava e Sandslash, os companheiros mais velhos da equipe de Ethan, prontamente se apresentaram à mulher que, com um sorriso simpático, agachou-se para fazer um carinho no topo da cabeça dos dois.

 

— Vocês não deixam mesmo o Ethan sozinho... Muito obrigada.

 

O garoto estava sentado na cama. Apesar dos hematomas — entre arranhões, feridas e o olho direito roxo —, Ethan parecia estar bem. O monitor cardíaco exibia bipes ritmados e boa saturação.

 

— Ah, meu filho... Por que você me causa tanta preocupação?

— Sermão essa hora, mamãe? — perguntou Ethan com um sorriso travesso.

— Sermão vinte e quatro horas por dia se for preciso! A gente fecha o olho e você se mete em encrenca. Da última vez que nos falamos, você havia abandonado sua equipe inteira de Pokémon!

 

Ethan fez uma careta.

 

— Não precisa me lembrar disso... — resmungou baixinho.

— Claro que preciso! Você tinha UMA tarefa, Ethan: fazer as pazes com seus Pokémon. O que você me fez? Toma uma surra. E ainda complicou mais, brigou com a minha nora. A Amanda está arrasada, meu filho.  Não é desse jeito que se resolve as coisas, não foi assim que eu te criei.

 

Ethan ficou em silêncio, tentando encolher-se por entre os ombros. Queria sumir dali para que não tivesse que ouvir aquela bronca. Ele sabia que sua mãe estava coberta de razão, mas a dureza da verdade era demais para ele.

 

E Marieta, como sempre, parecia ler os pensamentos de seu filho.

 

— Você não tem que temer a verdade, meu filho. Você tem que encará-la, enfrentá-la.

— Então, por favor. Me ajude, mamãe.

— Ajudar com o quê?

— Eu não sei se consigo encarar essa verdade... A senhora não pode pedir desculpas pra quem eu magoei no meu lugar?

 

A mulher cruzou os braços na postura autoritária que Ethan conhecia muito bem.

 

— Eu não vou viver pra sempre. Com isso, eu quero dizer que minha função como mãe é te educar, te orientar e te mostrar o que é certo. Até porque, eu te dou uma surra se você sair um tantinho assim da linha — ameaçou a mulher ilustrando com a mão. — Fui eu quem trouxe você pra esse mundo e sou eu que posso tirar você dele.

 

Ethan gelou.

 

— A senhora veio aqui pra me matar? Podia ter feito isso sem ter me avisado antes...

 

Marieta suspirou. Apertou ainda mais os bíceps e aproximou-se da cama do filho, ficando ainda mais próxima de seu rosto. A mulher começou a afagar seus cabelos e a olhar de forma tênue o menino.

 

— O que tenho a dizer pra você é algo bem sério. O médico me disse que você está se recuperando bem, mas... — e hesitou.

— Mas...?

— Ele foi bem claro quando recomendou que você terminasse sua jornada para que pudesse se recuperar em casa.

 

Ethan olhou incrédulo para Marieta.

 

— A Liga Pokémon é daqui seis meses, eu estou a um passo de conseguir uma vaga... E a senhora quer que eu volte pra aquele fim de mundo, mamãe? Nem morto!

— É melhor você pensar bem e direito no que você quer mesmo da sua vida. Você está sem seus Pokémon, sem a namorada, sem seus amigos... Como você pretende dar esse último passo? Me diz!

 

Mais uma vez, Ethan não soube o que responder. Ele não tinha saída.

 

— Eu não sei o que fazer, mãe... Como é que eu posso dar esse passo então?

— A pergunta certa é: o que você deve fazer pra dar esse passo? A resposta você já sabe. Reflita sobre tudo o que aconteceu nos últimos dias e reconheça seus erros. Corra atrás para corrigi-los e torça pra que aqueles a quem você deu as costas ainda possam lhe dar um novo voto de confiança.

— E se eles não derem?

— É doído pra eu dizer isso, meu filho, mas... a gente sempre colhe o que planta. Se eles não lhe derem uma nova chance, é porque você não merece.

 

Ethan desviou o olhar dos olhos de sua mãe e encarou o lençol branco. Não conseguiu evitar as lágrimas de frustração.

 

Marieta não aguentou ver seu filho chorar e o abraçou carinhosamente.

 

—Ai, Ethan... — ela suspirou.

 

***

 

Algumas horas se passaram desde que Marieta deixara o quarto de hospital. Ethan até temeu que Gold tomasse a iniciativa de visitá-lo, mas o reencontro não aconteceu, para seu alivio. Ainda tinha a esperança de receber a visita de alguns de seus amigos, mas depois da conversa com sua mãe, aos poucos, reconhecia que sua imaturidade passara dos limites. Percebeu que nem Quilava, nem Sandslash, retornaram para o quarto com a saída de Marieta; pois muito provavelmente preferiam a companhia dela à dele.

 

Enquanto se perdia em pensamentos e lamentações, surpreendeu-se com a porta sendo aberta. Ele não esperava ninguém. Um sorriso se abriu ao reconhecer que era Amy.

 

— Ufa... Eu achei que você não fosse vir me visitar...

 

A garota devolveu o sorriso, mesmo que de forma tímida.

 

— Jamais poderia deixar de ver você.

 

Amy deu um beijo suave na testa de Ethan, que estranhou.

 

— Aconteceu alguma coisa?

— Preciso conversar com você.

 

Ethan sentiu um calafrio e um puxão na boca do estômago. Ele sabia que alguma coisa naquelas palavras seria muito pior do que qualquer sermão de sua mãe.

 

— Aqui, agora?  Pelo tom da sua voz parece ser algo muito sério...

— E é.

— Você não quer esperar eu me recuperar primeiro, esperar eu sair desse hospital? A gente pode tomar um sorvete, passear, namorar... sei lá...

— Preciso resolver isso hoje, Ethan. Estou indo embora para Ecruteak.

 

O garoto franziu o cenho, confuso.

 

— Como assim “indo embora pra Ecruteak”? Quando você vai? Deixa eu arrumar as minhas malas, a gente pod--

— Você não entendeu. Estou indo pra Ecruteak sozinha. Daqui a uns dois meses, haverá um grande evento na cidade onde Lance acredita que a Equipe Rocket possa agir... Não é certeza, mas eu irei pra lá me certificar e mandar relatórios sobre qualquer movimentação suspeita.

— Mas por que eu não posso ir junto? Não posso deixar você sozinha, Amy!

— Posso me cuidar muito bem.

— Tudo estava indo tão bem até agora, nós superamos tanta coisa juntos...

— Eu sei. E sou muito grata, são memórias preciosas que carregarei comigo para sempre.

— Por que você decidiu isso de forma tão repentina sem me avisar?

— Ethan — Amy chamou sua atenção. — Você não pode me enfiar dentro de uma Pokébola e me levar aonde quiser. Eu quero terminar o nosso namoro.

 

Foi como se Ethan tivesse levado um soco no estômago. De repente, tudo que sua mãe lhe dissera mais cedo se reiterou em sua mente de forma latejante.

 

“A gente sempre colhe o que planta. Se eles não lhe derem uma nova chance, é porque você não merece”.

 

Os olhos do garoto se encheram de lágrimas.

 

—Por favor, Amy... Não termine comigo... Eu amo você, me perdoe pelo o que eu fiz... Eu juro que vou melhorar, eu não posso viver sem você!

— Aí é que tá — interrompeu a garota. — Você precisa aprender a viver sem mim.

 

Os bipes no monitor cardíaco de Ethan apitavam de forma frenética. Ele respirava de forma ofegante, apertando os lençóis com força. Amy, no entanto, não pareceu se abalar; continuou firme em sua decisão.

 

— O que eu posso fazer pra você me perdoar? — perguntava Ethan chorando.

— Você não precisa do meu perdão. Depois desses últimos dias, o meu perdão é a última coisa de que você precisa... Eu tenho certeza de que você já tem ciência do que você precisa estar fazendo. Apesar de gostar de você, eu não posso mais me submeter a esse tipo de coisa. Eu ainda estou completamente furiosa por você ter abandonado seus Pokémon. E mais do que isso, ter feito pouco caso, não querer assumir a responsabilidade. Estou completamente decepcionada com você, magoada. Frustrada por saber que você é um menino que tá se distanciando muito daquele que eu encontrei lá no laboratório em New Bark... Antes que eu realmente pegue ranço da sua pessoa e me encontre completamente enojada por ser apaixonada por você, eu prefiro ir embora. Minha consideração por você ainda me permite ter te avisado, como estou fazendo. Eu só te peço uma coisa...

 

Silêncio. Ethan, soluçando, também nada disse, na expectativa das próximas palavras que seriam proferidas por Amy.

 

— ...Por favor, não me procure nunca mais se for pra continuar desse jeito.

 

E se virou para sair do quarto sem olhar para trás.

 

Ao fechar a porta, deparou-se com Forrest de braços cruzados, encarando-a. Como se o moreno fosse um imã, Amy foi atraída até o amigo e o envolveu em um abraço pesado, enterrando a cabeça em seu tórax, perdendo a luta contra as lágrimas que agora corriam seu rosto.

 

— Vai ser melhor pra todos nós. O resto pode deixar comigo — disse Forrest enquanto apoiava o queixo no cocuruto da amiga.

 

E ali ficaram por alguns minutos antes de se conduzirem para o exterior do hospital.

 

***

 

Pikachu e Eevee observavam todos os detalhes daquela casinha com muita cautela. Encaravam os rostos daqueles humanos estranhos que cercavam a eles e a seus treinadores. Entre eles, Lance, que havia sido convocado diretamente por Kurt e agora permanecia estupefato com o que acabara de ouvir daquelas duas crianças. Irmãos gêmeos, um menino e uma menina, que eram cópias quase idênticas um do outro.

O menino ainda mantinha em seu rosto uma expressão confusa, seus olhos acinzentados encaravam o chão o tempo inteiro, tentando sem solução encontrar algum tipo de resposta inexistente para a situação em que se encontrava. A menina não parava de brincar com uma das mechas de seus cabelos castanhos — sempre a mesma, a do lado direito; a outra vivia atrás da orelha. Seu irmão sabia bem que ela só ficava daquele jeito quando estava muito nervosa com alguma situação, e aquela, até então, era inédita e insolúvel. A menina encarava os adultos esperando que eles pudessem ajudá-los. Seu pai sempre lhe ensinou que se devia pedir a ajuda de alguém mais velho em situações que ela não saberia resolver. Já seu irmão, se sentia desconfortável. Sabia que levaria bronca de sua mãe, pois estavam reunidos com pessoas que ele não conhecia, sem saber onde estava e como havia ido parar ali.

 



A única certeza que os dois irmãos compartilhavam era a que aquele homem grande e ruivo que andava de um lado para o outro com sua capa negra a esvoaçar pela sala era muito mais novo do que eles conheciam. E foi justo ele quem finalmente quebrou o silêncio.

 

— Estou incrédulo... Todas as descrições que vocês me passaram, todos esses detalhes... Não me restam dúvidas de que realmente vocês foram trazidos pra cá através de Celebi... — comentou Lance. — Isso deve ter algum tipo de motivo.

— Pode ter sido um acidente. Dois treinadores viajando pela região de Johto em busca de insígnias que passam pela Floresta Ilex e são vítimas da viagem no tempo do guardião da floresta — teorizou Kurt.

— Será que o próprio Celebi não os trouxe propositalmente? — questionou Bugsy.

 

O idoso encarou o rapaz.

 

— Mas eles são crianças! Qual seria o motivo de Celebi ter trazido eles pra nosso tempo?

— Talvez como um auxílio... Lance, você não comentou que a Equipe Rocket tem um plano para possuir Celebi? A PokéBola GS que está com uma menina que você está vigiando... Como é o nome dela?

 

Como se as coisas clareassem em sua mente, Lance ergueu as sobrancelhas e encarou Bugsy, ainda mais surpreso. Virou-se em direção às crianças e seus Pokémon já imaginando a resposta da pergunta que faria naquele instante.

 

— De onde vocês vêm, por acaso já ouviram falar de uma treinadora Pokémon chamada Amanda Green?

 

Os gêmeos se olharam espantados ao ouvir aquele nome.

 

— Ni...! — Exclamou a menina.

— Será que é, Ni...? — Questionou o garoto.

 

Os dois viraram-se para Lance e, surpreendendo o ruivo, responderam em uníssono:

 

— É o nome da mamãe!

 


TO BE CONTINUED...







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