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Capítulo 70


 

Chase se encontrava sentado no chão, com a cabeça apoiada nas palmas das mãos enquanto seus cotovelos eram apoiados nas coxas. Sua paciência estava se esgotando, permanecia sozinho no que já se pareciam horas desde que Ethan havia saído para ir atrás de Elaine, que não tinha voltado ainda da tarefa de ir buscar água fresca para preparar o jantar.


 — Que cabeçuda! Eu sabia que ela não tinha condição alguma de sair sozinha, ainda mais com aquele ovo! — comentou furioso com Takara, seu Pikachu, que por sua vez não parecia estar realmente interessado na conversa por estar atento ao que acontecia nos arredores. O céu, que antes ostentava um tom de laranja-avermelhado graças ao sol que aos poucos se escondia por trás das montanhas ao longe, dava boas vindas à noite que ia chegando.


O garoto pegou da mochila um casaco esportivo ao perceber o vento que soprava. Olhou o acampamento que havia montado e percebeu a diferença que fazia não estar com sua irmã e com Ethan, afinal os colchonetes estavam prontos, a fogueira consumia as madeiras, mas não havia como cozinhar nada sem os materiais que Elaine ficou de conseguir.


 — É, então eu vou ter que ir adiantando o serviço. Se você quer uma coisa bem feita, faça você mesmo. Vamos lá, Takara.


 O garoto levantou-se, pegou a mochila e arrumou a alça lateral alinhada ao peitoral antes de dar os primeiros passos em direção ao bosque por onde sua irmã se dirigiu mais cedo. Conforme a tarde ia caindo, alguns Pokémon iam desaparecendo por entre as tocas construídas escondidas por entre os capins enquanto outros, como os Caterpie, iam escalando vagarosamente os troncos das grossas árvores e se escondiam nos galhos por entre as folhas no topo delas; alguns inclusive se penduravam usando suas teias de seda esperando a evolução para Metapod que ocorreria a qualquer momento. Já podia se ver também os Hoothoot se preparando para sair para caçar e logo menos, a Rota 31 seria preenchida pelos já conhecidos pios que cruzavam a noite e, algumas vezes, misturavam-se com pios dos Pidgey durante alguns minutos ao amanhecer permitindo que uma sinfonia fosse ouvida por todas as criaturas que passassem por ali.


Pelo menos quase todas as criaturas que, de alguma forma, estavam naquela floresta naquele momento produziam seus barulhos característicos — até mesmo Chase fazia ruídos enquanto seus pés caminhavam pelo solo carpetado de mato e folhas secas. As orelhas de Takara, como sempre, permaneciam eretas tentando captar qualquer sinal sonoro estranho.


 Mas ele observava sem fazer barulho. Por trás de uma das imensas árvores, metros à frente, misturado por entre o denso bosque, em uma parte engolida pela escuridão e trevas, nem sua respiração era ouvida. Na verdade, ele nem parecia respirar. Os Pokémon que se escondiam naquela parte do bosque também não conseguiam ver seu rosto, coberto com uma tela de computador. Parecia machucado; subestimara seu oponente em sua última batalha — aquilo não aconteceria novamente.


 A figura misteriosa lentamente se deslocou em direção ao garoto e seu Pikachu, agindo como uma sombra, sem ser notado. Seus passos sequer faziam barulho, era como caminhar sob uma colcha de algodão.

Quando Chase e Pikachu perceberam sua presença, já era tarde demais.


 O grito de horror cortou a noite e fez os Hoothoot das árvores próximas e das distantes voarem assustados para longe, evitando o choque elétrico disparado das bochechas de Takara, pego de surpresa. Nenhum deles olhou para trás para ver o que estava acontecendo. Algumas das colônias de Metapod que penduravam-se nos troncos e galhos, no entanto, tiveram sua atenção voltada para o garoto logo abaixo, que tremia dos pés a cabeça enquanto era encarado pela figura misteriosa que permanecia parada a sua frente.


 Chase colocou a mão no peito e sentiu o coração disparar, a respiração rápida e ofegante fez com que o garoto mal pudesse formular uma frase inteira. Faíscas escapavam das bochechas de Pikachu que encarava a misteriosa figura com o semblante sério.


 — Q-quem é você? — perguntou o menino. — Você quase me matou de susto, cara! Qual é o seu problema?


 É claro que Chase não obteve resposta. O ser misterioso o encarava sem dizer uma única palavra. O garoto conseguia observar o reflexo de seu rosto através da tela desligada na cabeça daquela criatura. Agora que estava perto, conseguia ver melhor os detalhes daquela pessoa, sentir o cheiro de ferrugem que ela emanava, como uma máquina antiga abandonada ao relento, encharcada com água e castigada pelo sol e pelo vento. O macacão verde e a blusa azul traziam chamuscados e rasgos que, apesar de grandes, não se era possível ver a pele por debaixo da roupa.


E aquilo, claramente, não era normal.


 O ser anônimo colocou o braço direito na frente do corpo e, com a mão esquerda, puxou a manga que cobria o relógio digital, digitando alguns comandos.


A tela ligou e o reflexo do rosto de Chase fora substituído pelo sorriso sádico do Porygon2. O garoto deu alguns passos para trás e encostou no largo tronco de uma das árvores gigantes daquele bosque.


 Quase como um sussurro horripilante, a voz robótica da criatura misteriosa saiu pelos falantes do monitor que usava como capacete.


 Game. Over.


 O humanoide simulou uma pistola com o dedo indicador e apontou na direção de Chase. Usando o polegar como mira, a figura mecatrônica disparou um raio na direção do garoto que intuitivamente se abaixou e sentiu o ar quente passar rápido por cima de sua cabeça. Chase, no entanto, reparara que um clarão originado pela luz da lua apareceu em sua frente e sentiu um vazio onde poucos segundos antes apoiava suas costas, o que o fez cair para trás — a árvore simplesmente desaparecera.


 A figura misteriosa voltou a apontar o dedo na direção do garoto e se preparou para disparar outro raio. Das bochechas de Pikachu, faíscas fagulhavam de forma ameaçadora. Takara se pôs à frente de seu treinador e os pelos em suas costas estavam eriçados. Mesmo com todos os sinais, o humanoide não temeu, nem mesmo ao vê-lo mostrando as presas. Apontou o dedo indicador para o Pokémon e atirou.


Assim que foi atingido, Takara congelara. Em um piscar de olhos, seu corpo desintegrou-se bem na frente de Chase, sumindo no ar como mágica. O garoto arregalou os olhos completamente aterrorizado, olhando para o vazio de onde segundos antes estava seu Pokémon. Suas pernas paralisaram, não se mexeu nem mesmo ao ver o ser humanoide apontar o dedo indicador em sua direção. Mirando na cabeça do menino, a figura misteriosa se preparou para disparar uma última vez, mas se distraiu quando sentiu uma sombra passar voando sob sua cabeça.


 Havia dois olhos. Dois grandes olhos vermelhos que, sob a luz da lua, encaravam fixamente o alvo abaixo e que, como flechas, voaram velozes e praticamente em silêncio, planando no que pareciam ser duas longas asas brancas como a lua. Tal qual como surgiu, embicou em direção ao solo e com a sua aproximação, pôde-se reparar que os dois olhos faziam parte de um ser maior. As penas esverdeadas só não eram mais chamativas e belas que as cores fortes que adornavam as pontas de suas asas e partes de seu corpo, como a grande crista vermelha no topo de sua cabeça.




 O humanoide deu alguns passos para trás e tentou se esconder atrás de uma das árvores próximas, mas sentiu seu corpo travar.


 — Xatu, Psychic! — gritou uma voz na escuridão.


 O homem com a tela de monitor de computador na cabeça foi erguido do chão e arremessado com força para o interior do bosque. Chase ouviu passos que caminhavam em sua direção e ao olhar para trás, viu uma figura surgir das sombras enquanto Xatu pousava suavemente ao lado do rapaz que se aproximava e parou em uma posição de totem. O que mais chamou a atenção do menino foi a máscara dominó que a outra figura misteriosa vestia, que cobria seus olhos e dificultando a sua identificação. O fraque preto ornava com a gravata branca com babados em seu pescoço e com o terno rosa perfeitamente alinhado, o que lhe fazia irritantemente elegante e, até certo ponto, démodé. O sorriso em seus lábios trazia uma certa malícia. Porém, diferente do que Chase esperava, não era para ele que a segunda figura olhava.


 

— Senhoras e senhores, o grande show de mágica desta noite começará em instantes — anunciou o rapaz em voz alta, com toda pompa. — O primeiro grande ato de um grande artista é a entrada triunfal. O elemento surpresa. 


Por entre as árvores, um raio colorido surgiu em direção ao segundo homem mascarado, mas o Tri Attack bateu de forma seca na frente do rapaz como se houvesse uma parede invisível entre ele e a escuridão, ricocheteou no ar e transformou-se numa nuvem de fumaça. O homem de terno não se mexeu. Passou a mão na franja dos cabelos púrpuros e sorriu de forma maldosa para o nada.

 

— O segundo ato: O truque de mágica. Mr. Mime, por favor.


 Chase não havia percebido, mas havia outra criatura ali próxima a ele. Era um Pokémon que ele nunca havia visto antes, pelo menos não pessoalmente. Seu corpo pequeno, redondo e com esferas em tom de magenta que também da mesma cor de suas bochechas. Não havia nada em suas mãos, mas Mr. Mime caminhava olhando para frente e mexendo os braços como se estivesse fazendo malabarismos.

 


— Você está cada vez melhor — Will aplaudia. — Por favor, apresente as cartas aos nossos espectadores.


 Mr. Mime fingiu tirar do bolso um pacote em um formato quadricular. Aproximou-se do treinador mascarado e simulou abrir o tal caixinha e a entregou para o rapaz que o pegou e, em um estalar de dedos, fez aparecer um baralho em suas mãos. As embaralhou calmamente e não pareceu perceber quando o ser mecatrônico avançou em velocidade impressionante carregando consigo uma fúria enorme, batendo com violência na parede invisível que Mr. Mime havia construído instantes antes.


 O mascarado sorriu.


 — Parece que nosso público está bastante empolgado para participar do nosso espetáculo. Chegou a hora, escolha uma carta.


 O homem misterioso estendeu a mão com as cartas viradas para baixo na direção da figura mecatrônica. O ser com o monitor de computador na cabeça apontou o dedo para o rapaz e disparou mais um raio colorido. O oponente mascarado, como uma sombra, desviou do tiro. Uma segunda árvore fora atingida e um grande buraco abriu em seu tronco.


 Uma das cartas lentamente caiu ao chão e revelou-se o naipe nela presente.


 — Que surpresa! O naipe do Coringa... Se parece comigo. 


Xatu saiu da posição de totem e se colocou ao lado de Chase, ainda em choque sentado ao chão. Mr. Mime também se juntou, se posicionando do lado oposto do garoto.


 — O terceiro e último ato, o grand finale. Precisa ser sempre mais surpreendente que a abertura.


 O homem mascarado pegou uma PokéBola do bolso do fraque e apertou o botão central, iluminando o local por breves segundos quando o raio vermelho que saiu de dentro dela se transformou em um Pokémon alto com três cabeças e que se assemelhava a um coqueiro.



 — Agradeço a presença em nosso espetáculo. Não voltaremos para o bis, mas, deixaremos um gostinho do que estamos preparando para nossa próxima turnê itinerante. Exeggutor, Egg Bomb!


 Das folhas no topo das cabeças do Pokémon, sementes em formato de ovos caíram no chão e explodiram, levantando uma densa cortina de poeira e terra e arremessando a figura mecatrônica alguns metros para longe. Ao levantar novamente, a constatação de que os Pokémon que enfrentava, o ser mascarado e o menino que perseguia já não se encontravam mais ali — sumiram no ar como o Pikachu que ele próprio deletara da existência usando o Teleport de Xatu.


 Aquilo o deixou furioso. Porygon2, de dentro do monitor de computador, soltou um estridente som eletrônico. As frequências foram tão intensas que fizeram os auto-falantes queimaram, silenciando sua voz robótica.

 

***


 A Cidade de Violet era bastante pacata, o destino favorito de muitos que procuravam por paz e tranquilidade. Era onde muitos idosos passavam os últimos anos de sua vida e a cidade se orgulhava da imponente construção da Torre Brotinho e de seus monges que passavam o dia cuidando de seus Bellsprout e meditando. Tinha também uma geografia privilegiada: Saídas para as maiores cidades da região, sendo ponto de passagem obrigatória para todos aqueles que viajavam por Johto; afinal de contas, o Ginásio de Violet era uma ótima chance de treinar as habilidades de qualquer treinador Pokémon.


O povo de Violet também tinha orgulho de pertencer a ela. Talvez fosse por isso que, naquele momento, todas as expectativas estavam nos ombros de Falkner, o Líder do Ginásio local.  Já fazia quase um ano que havia herdado a função de seu pai e nesse tempo as suas responsabilidades só aumentavam. Claro que era um Líder competente — gostava de mostrar as vantagens que só os Pokémon do tipo Voador possuíam —, mas ele também se sentia responsável por cada pessoa, cada Pokémon, cada morador da cidade e sentia que, além de dar Insígnias para treinadores, seu dever era proteger aquelas pessoas.


 E era exatamente por isso que Falkner estava tão estressado aqueles dias. O tic-tac do relógio não amenizava o sentimento de expectativa e ansiedade do rapaz, apenas aumentava a sua irritação.


 — Você fica ainda mais gato quando faz essa cara séria, sabia?


 Whitney encarava Falkner enquanto mordiscava o lábio. Apoiava a cabeça nos dedos entrelaçados, que pressionavam um pouco mais os cotovelos da garota contra a grande mesa de vidro no centro da sala onde estavam. Ela era espaçosa, assim como era a construção do Ginásio de Violet, onde havia liberdade para os Pokémon voarem.Apesar da mesa, não havia muitos móveis fazendo decoração, mas uma janela panorâmica dava visão para a cidade, de onde era possível ver a Torre Brotinho e até mesmo as árvores do Parque Nacional ao longe.


 Falkner suspirou e fechou os olhos que segundos antes olhava para a paisagem. Afastou-se da janela e dirigiu-se à mesa, sentando-se de frente para Bugsy que, por sua vez, estava ao lado direito de Whitney. 


— É, parece que a reunião terá a participação de apenas nós três — comentou Bugsy, sem graça.


— Jasmine está supervisionando as obras de reconstrução do Farol Cintilante e Morty está investigando o paradeiro de Raikou, Entei e Suicune que estão à solta por aí. Não consegui contato com a Clair e Pryce se recusa a sair de casa de cadeira de rodas — numerou Falkner contando nos dedos. — Eu fiquei de receber a resposta do Chuck, mas até agora, nada.


 Um pio seguido de um bater de asas. Um Hoothoot adentrou a sala e pousou diante de Falkner, assustando Bugsy. A ave trazia um envelope pardo em seu bico e o entregou para o garoto de cabelos azuis, que gentilmente acariciou o topo da cabeça do Pokémon. Hoothoot bateu asas e novamente levantou voo, saindo por uma das janelas da sala. Falkner reconheceu a letra quase inteligível do remetente.


 — É do Chuck.


 O rapaz abriu o envelope e retirou uma carta de dentro dele.

  

Falkner,

 Não poderei comparecer à reunião. Eu realmente sinto muito, mas as coisas em Cianwood não estão em seus melhores dias. Percebo que as ondas estão mais ferozes e que o mar está muito mais bravio mesmo fora de noites de lua cheia. Neste momento, parto em direção às Ilhas dos Redemoinhos para verificar se tem alguma coisa lá que está influenciando tudo isso — tenho suspeitas desagradáveis. Desculpe por decepcioná-lo.

 O manterei informado. 

— Chuck.

  

— E o que isso quer dizer? — perguntou Whitney após algum tempo refletindo. — A ilha dele vai afundar?

— É mais sério do que isso. Tem alguém, ou alguma coisa, mexendo com o que não devia — respondeu Falkner.

— Isso explica muito... — comentou Bugsy baixinho em um tom de alerta.

— Explica o quê? — questionou Whitney assustada.

— Insetos são sensíveis ao meio em que vivem. Ando percebendo que os Pokémon insetos que moram na Floresta Ilex estão bastante agitados, mais do que o normal. Eu achei que fosse por causa da mudança da estação, muitos deles saindo da diapausa, que é quando seu metabolismo está mais lento, mas... Pode ser que tenha alguma coisa mexendo com o desenvolvimento deles.

— Por que você acha isso? — perguntou Falkner de forma séria.

 

Bugsy sacou uma PokéBola e apertou o botão da cápsula, liberando um Pokémon de dentro dela. Um Pokémon Joaninha voou alegremente pelo ambiente antes de pousar em frente ao seu treinador.

 


— Ledyba? O que tem de errado nele? — Falkner aproximava-se do Pokémon tentando ver seus detalhes.

— As antenas. Vê? Meus estudos indicam que há um diformismo entre machos e fêmeas, as antenas variam de tamanho entre os sexos, mas se vocês prestarem a atenção dá pra ver que as antenas desse Ledyba têm tamanhos diferentes...

— Então basicamente não tem como saber se é um joaninho ou uma joaninha? — Whitney riu da própria piada.

— É muito mais grave do que isso — Bugsy continuou sério. — Alguma coisa está interferindo na forma em que eles se desenvolvem e eu não sei o que é.

 

A fala de Bugsy foi interrompida pelo toque de um telefone que mostrou ser o PokéGear de Falkner. O rapaz pediu desculpas e logo tratou de atender o dispositivo.

 

A expressão de surpresa do Líder de Ginásio chamou a atenção dos colegas.

 

***

 

As paredes brancas não amenizavam a agonia que Ethan sentia enquanto balançava as pernas de forma impaciente. Ele não estava algemado, mas se sentia preso. O estreito corredor da delegacia causava uma sensação de claustrofobia, mas o garoto suava mais por preocupação com Elaine do que por incômodo com aquele lugar. Ele não sabia para onde haviam levado a menina, não sabia como estava o ovo Pokémon que viajava com ele e não sabia se Chase estava bem. Havia deixado parte de seus Pokémon com o menino, mas deixá-lo sozinho na beira da estrada não parecia, agora, ter sido uma ideia inteligente.

 

Quando um dos policiais se aproximou do Ethan, depois do que pareceram horas, o garoto não pareceu aliviado. Era só olhar para o rosto do oficial que podia-se saber que o garoto estava encrencado — era uma expressão de poucos amigos.

 

— Com licença, onde está a Elaine? — perguntou o garoto.

 

Mas o policial, apesar de continuar se aproximando, não respondeu sua pergunta.

 

— Venha comigo, por favor.

— Onde você vai me levar? Eu conheço os meus direitos! Eu quero um advogado!

 

Novamente Ethan foi ignorado, mas levantou-se quando o homem pegou pelo seu braço e praticamente o carregou, sem se importar com os protestos do rapaz. No fim do corredor havia uma porta que, ao cruzá-la, fez o rapaz soltar uma exclamação audível.

 

Falkner estava sentado na mesa de interrogatório enquanto Bugsy e Whitney aguardavam, em silêncio, encostados em paredes opostas. Já pareciam estar esperando o garoto e pareceram estar com certa urgência.

 

— Assim que eu fiquei sabendo que pegaram você, eu corri pra cá. Tinha que ver com meus próprios olhos.

— O que está acontecendo? O que vocês estão fazendo aqui? — questionava Ethan olhando para todos os presentes esperando alguma resposta.

 

Falkner esperou o policial que acompanhava o garoto se retirar da sala. O rapaz apontou para a cadeira que estava na outra ponta da mesa, de frente a ele. Ethan caminhou olhando de forma desconfiada para os três Líderes de Ginásio que o encaravam de volta em silêncio. Sentou na cadeira e estendeu os braços, colocando as mãos entrelaçadas em cima da mesa.

 

— Eu fiquei sabendo que você tinha sido detido pela polícia de Violet e eu confesso que eu demorei pra entender — começou Falkner. — Quando me contaram que pegaram um garoto destruindo uma área preservada e que ele era um treinador famoso, eu não acreditei.

— Falkner, eu não destruí nada! — exclamou Ethan.

— Você não pode provar, né? — Whitney cortou.

 

Ethan ergueu as sobrancelhas e abriu a boca para se defender, mas Bugsy interveio.

 

— Os Beedrill chegaram a atacar você enquanto você estava lá?

— Não! Quer dizer, eu acho que não... Elaine nocauteou alguns, mas eu só pensei em resgatá-la. Eu acho que eles estavam atacando algum oponente que estava batalhando com ela, mas...

— Então eu acredito que não foi você que tenha causado aquilo.

 

Falkner olhou para o colega.

 

— Os Beedrill têm uma tendência a serem violentos.

— Mas, como qualquer Pokémon selvagem, só atacam quando são incomodados. E são inteligentes o bastante para discernir entre um alvo e uma distração.

 

Houve um breve silêncio antes de Ethan o quebrar.

 

— E quanto à Elaine?

— A menina? Ela está bem. Estava em estado de choque, mas conseguimos acalmá-la. Ela já deu o depoimento dela a meus colegas investigadores.

 

O garoto ergueu o cenho.

 

— Faz meses desde que nos vimos pela última vez, quando lhe entreguei a Insígnia Zephyr — continuou Falkner. — Desde então, muitas coisas aconteceram. Coisas ruins.

— Lembra quando você esteve em Azalea e você acabou no Poço Slowpoke, sequestrado pela Equipe Rocket? — questionou Bugsy.

— Eu jamais poderia esquecer disso... — suspirou Ethan.

— Pois bem, eu confesso que havia achado estranho todo o ataque em Azalea... É uma cidade pacífica. Eu conheço cada rua, cada estrada, cada morador... Eu não me convenci de imediato que alguém poderia fazer mal aos Slowpoke que moram lá.

— Até que eu soube da notícia que a Equipe Rocket estava cortando as caudas dos Slowpoke para vender.

 

O tom de voz de Whitney era sério. De braços cruzados, a menina mantinha um semblante fechado, com cara de poucos amigos, muito diferente da moça mimada que Ethan havia enfrentado meses antes no Ginásio de Goldenrod.

 

— Quando aqueles cretinos invadiram e praticamente destruíram a torre da Rádio de Goldenrod, a cidade toda saiu no prejuízo. A Rádio de Lavander começou a retransmitir a programação pra toda área de Johto, mas perdemos patrocínio. Foi quando eu fui cobrar providências da Elite que eu percebi que não era só Goldenrod que estava sob ataque... Bugsy estava lá também, falando sobre o que aconteceu com os Slowpoke... Eles se fortaleceram debaixo do nosso nariz. A polícia encontrou vestígios dos capangas Rocket no subterrâneo da cidade e eu jamais vou me perdoar por não ter conseguido perceber antes... — Ethan se assustou ao ver Whitney socando a parede com força.

— Eles usavam o dinheiro da venda dos rabos de Slowpoke e se escondiam no subterrâneo de Goldenrod sem levantar suspeitas.  Agindo nas sombras, muito diferente da Equipe Rocket de três anos atrás... — comentou Bugsy.

 

Ethan parecia refletir sobre aquilo o que ouvia. Mas uma dúvida ainda pairava sob sua cabeça.

 

— Mas por que é que eu estou aqui?

— Porque você acompanhou de perto cada tragédia em que a Equipe Rocket teve participação — respondeu Falkner.

— Vocês não acham que eu tenho alguma coisa a ver com isso, né?

— Você tem, sim — disse o líder. — Não do jeito que imagina, mas tem.

 

O garoto levantou-se da cadeira de forma abrupta.

 

— O que você tá querendo dizer com isso? Você não acha que eu estou trabalhando pra eles, né?!

— Você se lembra da nossa batalha de Ginásio, quando você usou seu Cyndaquil? — Falkner, diferente de Ethan, não alterara seu tom de voz, permanecendo com a expressão séria. Apesar disso, o jeito firme com o qual havia se dirigido ao garoto o fez se calar.

 

Ethan respirou fundo antes de responder, tentando não se exaltar novamente.

 

— Como eu já te disse, eu lembro de cada detalhe daquela batalha. Foi minha primeira batalha importante... Foi quando eu ganhei minha primeira insígnia. Foi quando o Quilava evoluiu.

— Esse é o ponto.

 

Ethan olhou para Falkner com a mesma expressão que tinha desde que havia chegado ali — a velha expressão de dúvida. Whitney não pode deixar de soltar uma risadinha.

 

— O que você tem de bonito, você tem de burro. Sem ofensa.

 

Bugsy a julgou com o olhar, mas ela fingiu que não percebeu.

 

— Não foi só seu Pokémon que evoluiu naquela batalha, meu Pidgey também alcançou o seu segundo estágio evolutivo, Pidgeotto — continuou Falkner. — Mas algumas semanas depois eu comecei a perceber que ele estava tendo dificuldades de voo. Como uma ave de repente para de voar? Eu comecei então a tentar entender o motivo disso. As coisas só começaram a fazer sentido quando eu fiquei sabendo que havia aparecido um Gyarados vermelho no Lago dos Magikarp... Logo começaram a dizer que ele foi forçado a evoluir com as radiofrequências da Equipe Rocket e aí eu entendi tudo.

 

Uma mistura de sentimentos crescia dentro de Ethan ao ouvir o relato de Falkner. Tristeza e raiva tomavam conta de seu coração e o garoto apertava os punhos com força.

 

— Eu sinto muito mesmo... — disse por fim.

— Você se tornou um grande treinador, conseguiu derrotar a gente e nossos outros colegas e sabemos como você deve ter noção de como é ter a vida atrapalhada pelos Rockets — falou Bugsy de forma séria. — Nós estamos trabalhando para recuperar nossas cidades das consequências causadas por esses malditos e precisamos de você enquanto isso para impedir que eles voltem a tomar o poder e tornar a vida de todo mundo um inferno.

 

Houve uma hesitação que pairou no ar. Bugsy, Falkner e Whitney encaravam Ethan que não fazia contato visual, preferiu encarar a mesa à sua frente.

 

— Eu não vou conseguir fazer isso sozinho. É demais pra mim.

— Você não vai estar sozinho. Nós vamos ajudá-lo com o que precisar — garantiu Falkner.

— Antes de tomar qualquer decisão, eu realmente preciso ver como está a Elaine...

 

Ethan levantou de supetão.

 

— O Chase! Onde está o Chase? Eu o deixei na Rota 31, junto com meus Pokémon enquanto fui procurar a Elaine!

 

Falkner levantou-se da cadeira.

 

— Eu o levo até ele.

 

 

TO BE CONTINUED...





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