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Capítulo 53



— Duas e cinquenta e uma da manhã. Vocês estão atrasados.

Koga permanecia de braços cruzados enquanto assistia a aproximação dos demais integrantes da Elite 4, liderados por Lance e Seth, seu Dragonite. Por serem recém-contratados, Karen e Will pareciam assustados com a primeira missão ser justamente deter perigosos integrantes da maior máfia Pokémon do mundo. Ela, com seus longos cabelos encaracolados azul-prateados — mesma cor de seus olhos atentos — andava de forma soturna, desejando acabar com aquilo o mais rápido possível. Encarava ao redor com um olhar penetrante e orgulhoso, como um gato que dava cada passo de forma calculada para não ser surpreendido durante a caça, talvez devido à sua postura de quem colocava poder e respeito por onde passa de uma maneira sinistra. Andava com um mix de graça e sensualidade, apesar de isso ser apenas resultado da extrema confiança em suas habilidades.

Já ele era misterioso. Quase como um duque recém-saído de um baile, usava uma máscara que cobria seus olhos e o deixava quase anônimo, o que dava certo charme ao homem que podia até mesmo sair na rua sem ser reconhecido. Suas roupas extravagantes, no entanto, eram sua marca registrada, principalmente naquela ocasião oportuna em que faria questão de ser notado. Seu smoking elegante o fazia caminhar de forma sublime, dando-lhe toda pompa e elegância de alguém que exalava um ar enigmático. Não se sabia qual seria o próximo passo que o treinador daria, o que sempre lhe dava vantagem. Era como se pudesse ler a mente de seu oponente.

— Você reclama por um minuto de atraso. Às vezes eu acho que você deveria pegar mais leve — disse Lance ao colega.
— Você é o campeão da Liga Pokémon. Não dê maus exemplos aos novatos — retrucou Koga.
— Estávamos repassando o plano. Acredito que essa nova dupla, apesar de serem tão opostos um do outro, será de grande ajuda para a Elite de agora em diante.

Koga examinou os jovens de cima a baixo.

— A jovem guarda caminha junto com a velha guarda. Ambos se neutralizam, se desafiam e se completam por serem tão opostos, por pensarem diferente e terem origens tão diferentes, mas... Você queria formar uma Elite 4 de respeito e acho que conseguiu. Saberemos hoje como serão os próximos tempos.

Lance sorriu.

— Espero contar com sua ajuda.

Karen e Will se entreolharam e fizeram um sinal afirmativo com a cabeça.

— Muito bem, é assim que começamos.

O campeão da Elite 4 colocou a mão no bolso de sua calça e retirou uma PokéBola de dentro dela.

— Contamos com você.

Blue, o Gastly Shiny foi liberado da PokéBola e encarou os humanos à sua frente.

— Sua mestra está em algum lugar dentro desse labirinto. Faça como o combinado e auxilie-a no que for possível — pediu Lance.

Blue assentiu com a cabeça e desapareceu. Invisível, dirigiu-se até a entrada do esconderijo da Equipe Rocket e foi penetrando por entre as paredes sem ser notado.

— Cinco para as três. Agora, os demais convidados.

Um carro aproximava-se em alta velocidade. Se os integrantes da Elite 4 não estivessem esperando, com certeza seria motivo de suspeita a chegada de tal veículo aquela hora bem próximo daquele grupo de treinadores experientes.

Ao estacionar ali perto, Líderes de Ginásio convocados por Lance saíram do interior do veículo e um a um eles foram se revelando. Dos de Johto, Pryce, Jasmine e a mestra dos Dragões, Clair. A mulher de longos cabelos azulados que vestia um macacão azul escuro com sua capa negra esvoaçava magnificamente com o toque do vento. Seu semblante sério não mudou ao encontrar os olhos de Lance, seu primo, que deu um sorriso.

De Kanto, Brock e Gary Carvalho juntavam-se aos demais colegas e reuniam-se próximo à entrada do esconderijo Rocket.

— Senhoras e senhores, são três da manhã. É hora do show — anunciou o Campeão da Elite 4 dando espaço para Seth passar à sua frente.

Todos os treinadores sacaram suas PokéBolas e convocaram seus parceiros mais poderosos.

***

Uma forte explosão fora ouvida vinda de algum lugar do lado de fora. Um alarme soava incessantemente. Lyra levantou-se em um salto e procurou recolher seu Pokémon.

Wrap! — berrou Forrest.

O corpo de Lyra foi envolvido com tentáculos amarelos, imobilizando a garota de fazer qualquer tipo de movimento. O moreno levantou-se e, ainda segurando o próprio pescoço, correu para a cela de Gabrielle onde a entregou algumas PokéBolas.

— Você vai precisar — avisou o garoto entre tossidos.

Joey saiu correndo de sua cela e foi em direção à de Gabrielle.

— NÃO TOQUE NELA! — berrou ele para Forrest.

O moreno olhou para o garoto e estendeu a mão, mostrando outras cinco PokéBolas.

— Nós estamos lutando por um bem comum. Use tudo o que puder.

Diversos agentes da Equipe Rocket corriam nos corredores na direção do laboratório. Forrest recolheu seu Shuckle, que continuava a impedir Lyra de se mexer, e saiu correndo pela porta.

O moreno atravessava o corredor com pressa, esbarrando vez em quando em agentes da Equipe Rocket que corriam para o laboratório, de onde parecia se originar a maior parte do caos. Forrest olhava de um lado para o outro procurando algo que ele sabia que estava ali, mas que não conseguia ver. Um suspiro de alívio tomou o corpo do garoto quando viu Blue, o Gastly Shiny que pertencia à Amy aparecendo alguns metros à frente sinalizando para ele por onde ele deveria seguir.

A porta que dava para a sala onde Amy era mantida presa estava aberta. Forrest viu Proton caído desmaiado ao chão. Gastly o sufocou, conforme previamente combinado. A garota não pareceu surpresa em ver o moreno cruzar a porta e pegar a chave de sua cela no cinto do Rocket.

Forrest abriu a cela e entregou as PokéBolas de Amy. A garota as recolheu e saiu da sala com o moreno em seu encalço, na direção do laboratório.

A Elite 4, com o auxílio dos Líderes de Ginásio, derrubavam agentes e Pokémon da Equipe Rocket conforme invadiam o quartel-general da organização. Brock lutava com Omastar enfrentando Rockets que insistiam em cercá-lo com Crobats, Raticates e até mesmo Alakazam enquanto Clair usava seu Kingdra contra Ariana, que golpeava-o utilizando certeiros golpes de Gelo comandados por sua Murkrow.

Gary batalhava junto com Red e Charizard, usando seu Blastoise para derrubar agentes e Pokémon. Jasmine e Skarmory davam suporte ao velho Pryce e seu Sandslash de gelo, que iam impedindo que integrantes da Equipe Rocket acabassem tentando escapar do bunker.

Petrel, sozinho, encarava Will e Karen, que tentava desconcentrá-los desviando sua atenção.

— Vocês são novos por aqui? Cuidado para não se machucar, crianças, hehe. Weezing, Smog! Raticate, Crunch!
— Umbreon! — chamou Karen
— Exeggutor, querida! — clamou Will.
— Evasiva! — disse a dupla, simultaneamente, como se um conhecesse o próximo passo que o outro daria.

Os dois Pokémon pularam para direções opostas, evitando o ataque de seus oponentes.

Archer enfrentava Lance. Seth, o Dragonite, encarava Beliel, o Houndoom.

— Tenho que admitir que você até que é habilidoso — provocou Lance.
— Você deveria ter vergonha de brincar em serviço, cavalheiro. Beliel, acabe com isso. Dark Pulse!

O Houndoom abriu a boca, liberando uma aura negra que atingiu em cheio o peito do dragão.

Seth, no entanto, pareceu nada sentir. Sua resistência era absurda.

— Adorei a brincadeira, mas tenho coisas mais importantes a fazer. Outrage.

Dragonite envolveu-se em uma aura vermelha e sua feição mudou. Uma fúria indomável tomou conta de seu ser. Seth partiu com violência para cima de Beliel, arranhando-o com ira, impedindo-o de se defender. Suas garras arranharam seu rosto e feriram os olhos do Houndoom, que urrou de dor. Um pedaço da garra de Seth fixou-se no focinho de Beliel, tamanha a violência do ataque.

Silver tentava escapar da confusão, procurando fugir dali o mais rápido possível. Cada vez que achava uma brecha, propositalmente algum treinador acabava atingindo um ataque próximo a ele, impedindo-o de se mover. O ruivo mantinha a PokéBola GS em mãos que, após frustradas tentativas, não conseguira ser aberta.

Red tentou se aproximar de Silver, mas um capanga da Equipe Rocket foi corajoso o suficiente para parar em sua frente, impedindo-o de continuar.

— Primeiro capturamos a Amy. Agora vamos capturar você, o maior treinador Pokémon do mundo. Aposto que serei promovido depois de conseguir sua cabeça — sorriu maliciosamente.
— Eu estou feliz com a minha cabeça no lugar. Charizard, Flamethrower! — Ordenou Red.

Um jato de fogo saiu da boca de Charizard, queimando a pele de alguns capangas Rocket que estavam perto demais.

— Eu já disse o quanto eu adoro uma confusão? — gritou Gary do outro lado da sala para Red, que deu um sorrisinho.

Forrest e Amy chegaram juntos ao epicentro da grande batalha. Com PokéBolas em mãos, a dupla procurou se defender dos agentes que tentavam agarrá-los e derrubá-los. Ethan e Sandslash abriam caminho entre Rockets e Pokémon para alcançar os dois.

Archer, Petrel e Ariana já estavam sem seus Pokémon, nocauteados pelos poderosos treinadores. Os demais agentes agora eram quem faziam a guarda dos executivos. A Elite 4 e os Líderes de Ginásio eram poderosos, mas os Rockets ainda eram maiores em número. Ao ver Amy, no entanto, Ariana pareceu perder a concentração. Fechou os punhos com força e uma têmpora se contraiu.

— Como foi que a Amy...?

Archer, irônico, respondeu com a resposta mais óbvia do mundo.

— O tempo todo, Ariana. O tempo todo.

Silver olhou para a executiva e a temeu por um instante. Ariana não aceitava ser passada para trás.

— Eu me recusava a pensar que você falharia Silver. Você nos fez confiar nas pessoas mais erradas que eu tive o desprazer de conviver. Você entregou de bandeja a nossa ruína, meu filho. A culpa é totalmente sua.

O garoto paralisou. Ouvir aquelas palavras fora um choque.

— Cessar fogo! — bradou Ariana.

Imediatamente os agentes da Equipe Rocket recuaram, surpreendendo a Elite 4 e os Líderes de Ginásio.

Lance sorriu vitorioso.

— Vocês se rendem?
— Jamais! — a voz de Ariana ressonava como um trovão. — Giovanni não morreu pra desistir de seus planos. Ele morreu para cumpri-los! E você o assassinou, sua garotinha miserável.

Os olhos azuis de Amy encaravam os olhos rubros e furiosos da mulher.

— Graças à Amy que agora nós os capturamos. Desde a morte de Giovanni nós tivemos a certeza de que vocês seriam incapazes de se moverem sozinhos — disse Lance, ainda com seu ar de soberba. — Aliados da Equipe Rocket? Nunca houve!

Silver sentia o rosto queimar de vergonha. Nunca fora tão humilhado na vida. Quando foi que havia perdido o controle da situação?

— Não acho que Silver tenha culpa... Ele queria apenas demonstrar que podia dar continuidade aos trabalhos do pai. Claro que se preocuparia em fazer alianças com pessoas poderosas... Fico agradecido por ter sido considerado parte de seu plano — comentou Red.
— Entregar Amy foi apenas uma maneira simples de chegar até vocês. E vocês caíram como um Psyduck — complementou Lance.

Petrel deu uma risada sarcástica.

— Hahaha, quer dizer então que a Amy tava por dentro do esquema esse tempo todo?

A garota deu um sorriso convencido.

— Todos nós. Mesmo Ethan, Forrest, Red... Todos aqueles que de alguma forma eram aliados a mim, assim permaneceram.

Ethan permanecia reflexivo. Olhou para Forrest e lembrou-se de todo o plano maluco.

No longo corredor que dava para as escadas que dividiam as suítes de hospedagem dos andares de enfermaria, Forrest continuava a ignorar as perguntas de Ethan. O moreno evitava fazer qualquer tipo de contato visual com demais treinadores que passavam por ele no caminho que levava até o hall do Centro Pokémon. Não parecia estar nervoso, mas seu corpo estava enrijecido de tensão.

Forrest desceu as escadas, alcançou a recepção e parou abruptamente, virando-se com o dedo em riste para o rosto de Ethan.

— Eu tenho uma ideia. Vamos entregar a Amy para os Rockets antes do Red. O que acha?

Ethan engasgou.

— O quê?! Você ficou maluco? Que história é ess...

Forrest aproximou-se e cochichou algo no ouvido do garoto. Era inaudível ao ponto de que as pessoas olhavam a expressão de Ethan e só podiam acreditar que ele estava recebendo a notícia da morte de alguém.

Entregar a Amy é a única maneira de ela sair viva no final dessa história toda.

Ethan tremia incontrolavelmente. Ele não conseguia fazer nenhum tipo de contato visual com Forrest, que falava com a maior tranquilidade um absurdo daqueles. O garoto fechou os punhos, tentando involuntariamente manter algum tipo de controle de si próprio.

— Como assim... Entregar a Amy? Você não disse... Que amava ela... Agora a pouco?

Forrest olhou para Ethan e deu uma risadinha sarcástica.

— Ora, mas não foi ela mesma quem disse? Na história, Julieta amou tanto Romeu que morreu por ele. Se eu a amo, preciso dar ela em sacrifício.

O moreno só sentiu a dor quando caiu ao chão. Seu rosto doía imensamente. Levou a mão até o local da pancada para tentar mensurar a dor.

O punho de Ethan permanecia parado no ar. Sua expressão de fúria assustou Forrest, que nunca havia visto o amigo daquele jeito antes. Como ele podia falar coisas tão absurdas de maneira tão natural?

— Isso não vai ficar assim! Eu vou falar tudo pra Amy!

Forrest levantou-se do chão, ainda com a mão no rosto, e sorrindo olhou para Ethan.

— Não, você não vai. Fazendo isso, você vai fazer ela suspeitar de você também, e aí sozinha, fica mais fácil para os outros pegá-la. A escolha é toda sua.
— Mas se eu me explicar, ela não vai...
— Você acha mesmo? Você realmente acha que ao contar sobre nossa conversa, ela não vai olhar pra você de uma forma diferente? Não se iluda Ethan. Até logo.

Forrest virou-se de costas e avançou para a saída do Centro Pokémon, deixando um Ethan em estado de choque para trás.

Ao voltar para o quarto, deparou-se com Amy escovando os cabelos. Ela assustou-se ao ver a expressão do garoto.

— Ethan, está tudo bem? Onde está o Forrest?

O garoto olhou para a amiga e sua voz sumiu. As lágrimas tentaram tomar conta do rosto do menino, mas ele piscou algumas vezes para controlá-las.

— Não é nada. Ainda estou processando tudo o que aconteceu. A história do Forrest, você sendo ameaçada por duas pessoas que eu pensava serem aliados... Eu não sei o que fazer.

Amy suspirou. Colocou o pente sobre a cama e aproximou-se do garoto, que tremia de nervoso.

— Pelo menos nada de ruim pode acontecer com a gente enquanto estivermos juntos, não é? — e sorriu.

Ethan hesitou antes de responder numa mentira descarada.

— …Você está certa.

A garota o abraçou de forma terna. Ethan tremia. Diversas coisas passavam pela sua cabeça.

— Amy...
— Sim? — a voz suave da menina fez Ethan querer protegê-la de tudo.

O garoto respirou fundo.

— Amy, Forrest quer entregá-la para a Equipe Rocket! Nós precisamos fugir e-
— Sim, eu sei disso.

Ethan arregalou os olhos.

— V-você sabe?! Como?!
— Não se preocupe, está tudo sobre controle. — Amy sorriu e voltou a pentear seus cabelos. — É o único jeito de tudo isso acabar bem.
— M-mas como assim? Amy, isso não pode acabar bem! De quem foi essa ideia maluca?
— Não se preocupe, tudo o que você precisa saber por enquanto é que tudo isso está sendo arquitetado já há bastante tempo. Forrest soube do planejado recentemente, enquanto treinava com Bruno. Está tudo bem. Você confia em mim?

Ethan hesitou por um momento. Os olhos de Amy o encaravam, cobrando uma resposta.

— Eu... — balbuciou o garoto após alguns segundos de silêncio. — Eu confio...
— Fico feliz de poder contar com você, lindinho. Agora por favor, mantenha a calma e finja que não sabe de nada, tudo bem?

O garoto assentiu. Ele não conseguiu dormir aquela noite.

— O bem sempre vence o mal, Ariana. Lembre-se disso. — A voz de Lance trouxe Ethan de volta para a realidade.

Em um último ato de soberania, Silver ergueu-se na direção dos oponentes pela primeira vez, mostrando a PokéBola GS que ele zelava com dedicação.

— V-vocês estão errados! Eu vou trazer meu pai de volta, eu tenho Celebi aqui dentro desta PokéBola! Meu plano é perfeito, eu voltarei no tempo e vou impedir que vermes como vocês impeçam papai de realizar os planos dele! Papai viverá de novo e será graças a mim!

O ruivo arremessou a cápsula na direção de uma das paredes. A PokéBola GS bateu em um dos vidros do laboratório e o estilhaçou, mas permaneceu intacta.

Lance gargalhou.

— Você realmente acredita que Celebi está aí dentro, rapaz?

Silver o encarou chorando.

— Tolo. Essa PokéBola GS está vazia.

Por um instante, todos os cientistas, capangas e os executivos da Equipe Rocket pareceram perder a respiração.

— Descobri que o velho Kurt, da cidade de Azalea, foi quem desenvolveu a PokéBola GS original. Solicitei para que fizesse outra, idêntica. Pelo fato de não termos penas de Lugia e Ho-Oh para produzir uma de mesmo poder, improvisamos usando Apricorns mesmo — detalhou Red.

Incrédulos, os integrantes da Equipe Rocket se entreolhavam com um semblante de pesar.

— Então... Todo o meu esforço foi... Pra nada? — Silver se recusava a acreditar.
— Vocês estão presos, Equipe Rocket — anunciou Lance.

Ariana riu. Uma risada maligna que arrepiou a espinha dos presentes. Ria de forma insana, como se seu único restante de vida dependesse disso. Encarou Lance e rangeu os dentes.

— Presos? Nós? Pelo crime de vender Pokémon? Meu caro, você deveria se preocupar com criminosos de verdade.

Lance riu de forma debochada.

— Então você está dizendo que existem criminosos piores que você?
— Claro que sim. E aqui nessa sala.

A ruiva desviou o olhar e apontou para Amy.

— Por que não condená-la pelo pior crime que alguém pode cometer na vida?

Todos encararam a garota, que não esboçou nenhuma reação.

— Não sei do que você está falando — retrucou Amy.
— Ah, não? Você é a culpada de ter cometido o crime mais terrível, inafiançável, imperdoável e irreparável que um ser humano pode ter feito.

Lance mudou sua expressão. O líder da Liga Pokémon arregalou seus olhos e em poucos instantes, o sorriso cínico e irônico deu lugar a uma expressão de pânico. Red fechou seus punhos.

— Ariana, não! — exclamou Lance.

Amy pareceu não temer a mulher. A encarava com seus olhos azuis com a segurança de quem não iria se deixar abalar pelo o que ela dissesse.

— E o que pode ser mais grave do que clonar Pokémon? — provocou a garota.
— Matar seu próprio pai.
— Ariana! — berrou Red.

Demorou alguns segundos para que Amy reagisse. Ela encarava Ariana sem esboçar reação alguma. Seus rostos estavam tão próximos que uma sentia a respiração ofegante da outra. No entanto, a garota riu.

— HAHAHAHAHA, você está louca! Foram vocês que mataram meus pais, lembra disso? É essa sua cartada final, titia?

Um pavoroso sorriso de vitória pairou sobre o rosto de Ariana.

— Giovanni é seu pai. E adivinha só? Eu sou sua mãe.

Amy arregalou os olhos.

— Do que você está falando? Tá louca? — a voz da garota se alterava e ficava cada vez mais alta.

— Conheço Giovanni há vinte anos. Nos conhecemos no Ensino Médio, no Instituto Técnico Pokémon em Viridian. Foi amor à primeira vista... Nós nos apaixonamos e logo eu descobri quem era ele de verdade... Sucessor da liderança da maior organização criminosa do planeta. Quando sua avó morreu, ele se tornou o grande chefe imediato. Sempre gostei dos homens poderosos e Giovanni sempre foi um líder de verdade. Quando ele soube que eu estava grávida de você, me mandou abortar... Nenhuma mulher, nem mesmo eu, assumiria a Equipe Rocket depois da mãe dele.

Amy, perplexa, encarava Ariana sem emitir um único som.

— I-isso é mentira... Eu me lembro dos meus pais... ISSO É MENTIRA!! — berrou Amy.

Ariana, como uma serpente, apreciava o desespero de Amy com um sorriso sádico. Era como se estivesse se alimentando do pânico e do temor da garota.

— Lavagem cerebral. Apagamos todas as suas memórias e implantamos as que queríamos graças à Alakazam. Giovanni jamais assumiria, mas eu tenho certeza que, depois que você nasceu Amanda, ele começou a criar um certo apreço por você, principalmente depois que o seu irmão, Silver, nasceu. Você não imagina o quanto ele ficou feliz com o nascimento do Silver... Finalmente a sucessão da Equipe Rocket estava completa. Silver, um homem, descendente direto, teria total apoio de seu pai para assumir a liderança da organização. Fui eu que o convenci a treiná-la para que pudesse ao menos ter um local de prestígio no nosso exército. Talvez você pudesse assumir um cargo executivo, mas sempre fugiu das suas responsabilidades... Você sempre se negou a aceitar que seu destino sempre foi a Equipe Rocket... Não percebe? Quanto mais você tenta fugir, mais fica presa a mim... Você é minha filhinha.

Amy acertou um tapa no rosto de Ariana e sacou uma PokéBola.

— SUA VELHA NOJENTA!
— Ora, ora, ora... Mais uma vez, eu sempre chego atrasado pra festa...

Proton, coçando a cabeça, surgiu no meio das dezenas de pessoas que permaneciam naquele local. Segurava um transmissor em sua mão direita.

Forrest arregalou os olhos.

— Isso é um detonador!

O Rocket sorriu.

— Por que a surpresa? Eu tava pensando só em bombar um pouco esse nosso encontro... — e apertou um dos botões.

Dos auto-falantes do laboratório, uma voz robótica anunciou.

Auto-destruição total em trinta segundos.

Houve um tumulto generalizado. Os agentes da Equipe Rocket começaram a correr buscando sair do bunker enquanto a Elite 4 e os Líderes de Ginásio tentavam manter um controle que já estava perdido. Ethan e Forrest aproximaram-se de Amy, que chorava, mas tentava avançar em Ariana que, sorrindo de forma vencedora, se retirava correndo junto com os demais executivos.

Silver deu uma última olhada para a irmã antes de correr para a saída.

— Eu nunca vou te perdoar.

Ethan e Forrest tentavam conter a amiga.

— Amy, nós precisamos sair daqui agora! — exclamava Forrest.
— Me larguem, eu vou matar essa vadia! — bradava Amy incontrolável.
— Amy, me escuta! Vamos pegá-los, mas se a gente explodir aqui dentro, vai ficar por isso mesmo! — argumentou Ethan.

Amy se debatia, mas permitiu que fosse guiada pelos amigos até o imenso buraco na parede criado pela Elite 4 e os Líderes de Ginásio para invadirem o local.

Jasmine ajudou Pryce a sair do bunker. Os arredores estavam cercados de viaturas da polícia — tudo planejado anteriormente. No entanto, ao invés de capangas presos, tudo o que se via eram os treinadores justiceiros chegarem ao lado de fora aos berros.

— Vai explodir! — gritavam.

Os policiais começaram a correr para fora da área. O velho Pryce, no entanto, não permitiria que a Equipe Rocket se safasse.

O Líder de Ginásio retornou até o quartel-general subterrâneo e pediu para que seu Sandslash tampasse o buraco feito por ele e seus colegas com gelo.

— Pryce! — exclamou Lance, correndo em sua direção para tentar tirá-lo dali.
— Esta ainda é minha cidade! — bradou o velho.

Quando o auto-falante anunciou o “zero” na contagem regressiva, o bunker explodiu. Pryce fora arremessado violentamente para trás e Lance voou por alguns metros. Estilhaços de bomba, aço e concreto eram jogados com força por todos os lados, atingindo treinadores, policiais e Pokémon.

Às três e cinquenta e sete da manhã, as chamas ardiam e queimavam ferozmente aquele trecho da Rota 44, próxima à entrada da Cidade de Mahogany.


TO BE CONTINUED...







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