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Capítulo 38


Amy recolheu Gyarados à PokéBola e aproximou-se do amigo.

— E quem diria que você conseguiria me derrotar algum dia... Espero que você não decepcione e vença a final. Afinal, eu fiquei realmente afim daquele Lapras.

Ethan a olhou confuso.

— Ué... Mas se eu vencer, não é justo que eu fique com o prêmio?

A garota sorriu maliciosa.

— É justo que você fique com algo mais valioso do que um mero Pokémon. — E deu uma mordiscada na orelha do menino, fazendo-o arrepiar por inteiro.

Forrest aproximou-se da dupla.

— Você anda melhorando, Ethan. E eu fiquei realmente surpreso com aquele Water Pulse. Onde você o conseguiu?
— Digamos que... Foi uma coincidência. — Respondeu o garoto, ficando sem graça.

Amy o encarou.

— Seeeei... — Ela franziu o cenho. — Essa história tá mal contada. Mas é melhor você se preparar pra batalha final.

Ethan suspirou aliviado.

— E contra quem é?
— Eu. — Soou uma voz conhecida.

Ao se virar, todos deram de cara com Joey e um sorriso convencido no rosto.

— Você?! — Exclamou o menino.
— Não sei por que você está assustado. Até parece que não sabia que eu chegaria à final. — Sorriu Joey.

Ethan pareceu tenso. Da última vez que havia batalhado sem interferências contra Joey, ele havia perdido. Seria medo esse sentimento que estava parecendo consumir seus órgãos internos?

— Eu vou vencer você, Joe. Guarde o que eu estou falando.
— Veremos. Depois do almoço, claro, porque eu estou faminto. — Disse o garoto, acariciando a barriga que reclamava alto.

A voz de Bob ecoou pelos ouvidos de todos.

— Senhoras e senhores! Estamos com as finais definidas: O participante Ethan contra o participante Joey! Em duas horas, após o almoço, Lapras terá um treinador! Mantenham-se atentos!

Ethan e Joey olharam um para o outro e sorriram.

— Quem chegar por último no refeitório é mulher do padre! — Exclamou Joey, saindo em disparada em direção aos corredores do navio.
— Ei, isso não é justo! Você nem avisou que ia fazer isso! — Ethan acelerou e começou a perseguir seu rival.

Amy e Forrest se entreolharam e deram um sorriso sem graça.

Um homem com cabelos arrepiados num tom de carmim, uma roupa azulada com linhas laranja passando por ela e cruzando seu corpo ia em direção a dupla que permanecia parada próxima ao campo de batalha. Sua capa negra se arrastava no chão e dava ao homem um ar selvagem. A feição séria que tinha em seu rosto o fazia uma pessoa respeitada, e isso podia se ver na expressão de admiração e surpresa nas faces dos passageiros que se encontravam ali. Os buchichos e cochichos incrédulos diziam repetidamente o seu nome, mas Amy e Forrest permaneciam tão imersos em seu “mundo real” que nem perceberam quando a voz grave, porém suave, do rapaz chamava por sua atenção.

— Mocinha, com licença.

Amy e Forrest viraram-se e entraram em estado de choque. Em sua frente, estava uma figura conhecida e muito falada tanto no mundo da máfia de Amy quanto nos campos de batalha de Ginásio de Forrest. Ali, parado defronte a eles, estava o grande líder da Liga Pokémon, o mestre dos Dragões, o imbatível Lance.

— Você não gostaria de entrar para a Elite 4? Estou procurando por novos membros e você é perfeita para o cargo que tenho em mente. — Disse Lance, gentilmente repousando seus olhos castanhos em Amy, que pela primeira vez em sua vida, não tinha o que responder.

Forrest engasgou e as pessoas ao redor apontavam tímidas para eles.

— E-Elite 4? E-Eu? — Gaguejou a moça dando um passo para trás, incrédula, sentindo-se estranhamente encantada por aquele sorriso irritantemente simpático.

A respiração de todos os presentes pareceu oscilar por um instante. Não era algo que se via todos os dias: O campeão da Elite convocando um treinador comum no meio de tantas pessoas era algo inacreditável.

Lance aguardava pacientemente a resposta de Amy que permanecia em choque. Nenhuma palavra saia de sua boca. Sua respiração estava ofegante e seu coração palpitava numa velocidade acima do normal. Ela sabia que Lance era um treinador poderosíssimo. Mais até que Red — visto que Lance derrotou Red e pegou de volta o posto de campeão da Elite 4. E, diferente de Red, ela não sabia se Lance se renderia ao seu charme. Era melhor não arriscar e ficar longe, porque ela também não tinha ideia se Lance sabia de sua antiga ligação com a Equipe Rocket.

— Eu agradeço o convite, senhor Lance... Mas não posso aceitar.

A surpresa foi audível na exclamação soltada por todos os passageiros que presenciavam aquela cena. Forrest, timidamente, aproximou-se do ouvido da amiga, apreensivo.

— Amy... Você tem certeza? A Elite 4 é a oportunidade de uma vida! Nem em sonho eu acho que conseguiria fazer parte dela... — Cochichou o moreno.
— Eu tenho certeza da minha escolha. Desculpa, senhor Lance, mas essa é a minha decisão final. — Disse a garota.

Lance deu de ombros.

— Muito bem então. Eis aqui o meu cartão. Ligue-me se mudar de ideia. — O campeão dos dragões estendeu um cartão de visita preto com o logotipo da Liga Pokémon, virando-se em seguida para seguir em direção à sua cabine luxuosa no navio.

Amy e Forrest se entreolharam. Foi quando a garota não aguentou a curiosidade.

— Por que você me quer na Elite 4?

Lance parou imediatamente. Com aquele sorriso irritantemente simpático, virou-se para Amy.

— Você é talentosa. Eu vi o jeito como você lidou com seu Gyarados. Claro que eu posso aumentar ainda mais o seu poder como treinadora... Mas não cabe a mim escolher por você.
— Mas por que o senhor está formando uma nova Elite? — Questionou Forrest.
— Creio que a Liga Pokémon precise de treinadores jovens que levem a sério o trabalho. A Elite 4 de Kanto e Johto se tornaram independentes e, depois de Red e Gary, que foram treinadores prodígios mas que não aguentaram a responsabilidade, quero renovar a Liga, abrir novas portas. Os meus antigos companheiros têm planos diferentes dos meus e achamos por bem dividir o governo. Estou juntando novos. Eu já vi tudo o que tinha que ver por aqui. Até mais, jovens treinadores.

Lance arrumou sua capa majestosa e se retirou dali. Ninguém fez menção de segui-lo para conseguir autógrafos ou fotos. O público ainda estava em choque. Amy e Forrest também.

***

Ethan e Joey acariciavam a barriga estufada. Eles competiram até mesmo pra definir quem terminava de comer a maior quantidade de comida em menos tempo. Nem deram muita atenção quando o pessoal que vinha da proa do navio chegava atrasado no restaurante e, entre eles, Amy e Forrest vinham conversando baixinho, aproximando-se da mesa onde os garotos estavam sentados.

— Por que é que vocês estão com essa cara surpresa? Parece até que viram um Pokémon lendário. — Disse Ethan saudando os amigos.
— Foi quase isso... — Suspirou Forrest.
— Lance está no navio. Veio até mim perguntar se eu não queria me juntar à Elite 4. — Resumiu Amy.

Os olhos de Ethan e Joey quase saltaram para fora das órbitas.

— COMO ASSIM?! — Berrou Ethan.
— VOCÊ ACEITOU, NÃO É?! – Questionou Joey no mesmo tom de voz.
— Calem a boca! Falem baixo! — Brigou Amy, constrangida, tentando fazer com que os amigos chamassem menos atenção. — É óbvio que eu não ia aceitar!

Ethan parecia indignado.

— Mas como assim, mulher?! Você sabe o quanto é difícil derrotar a Liga Pokémon! Imagina entrar pra Elite!
— Vocês três sabem que eu não posso ficar sozinha! Minha cabeça está em jogo. E imaginem quatro dos maiores treinadores da região estarem comigo 24 horas por dia, isso mancharia a reputação da Elite. Eles me entregariam pros Rockets.
— Ou você teria quatro dos maiores treinadores da região de segurança. O que é uma organização criminosa perto da Elite 4? — Falou Joey distraído.
— Oito ou oitenta. — Finalizou Forrest.

Agora a mente de Amy trabalhava a mil por hora. Era realmente uma questão de extremos. Ao menos Lance havia deixado o contato dele com a menina, nem tudo estava perdido.

Após a pausa do almoço, finalmente a grande batalha final havia chegado. Ethan ergueu-se da mesa e espreguiçou-se. Joey levantou-se vagarosamente.

— Acho que tá na hora do show. — Disse o garoto para Ethan.
— Vamo nessa. Boa sorte, parceiro. Que vença o melhor. — Sorriu Ethan.

***

Na proa do navio, uma muvuca. Os curiosos aproximavam-se para presenciar aquela batalha. Não era sempre que aquele tipo de evento acontecia e ninguém sabia quando ia acontecer de novo.

Ethan e Joey se encararam e sorrindo. Bob autorizou a partida erguendo o braço esquerdo para o alto.

— Wooper, eu escolho você! — Ethan arremessou a PokéBola no piso do navio.

O pequenino saiu sorridente, animado para batalhar.

— Lembra desse, Joey? — Questionou o menino. Joey fez que sim com a cabeça.

***

Uma bela cachoeira recebeu os garotos que se surpreenderam ao ver um número grande de Wooper selvagens que habitava ali. Eles pareciam reverenciar um Pokémon maior que estava sentado em uma espécie de trono feito com objetos brilhantes. Ethan exclamou alto quando viu suas duas insígnias na coroa de Quagsire.

— Que Pokémon é aquele? — Questionou Ethan enquanto sacava a PokéAgenda.
“Quagsire, um Pokémon Peixe Aquático. É a forma evoluída de Wooper. Este despreocupado Pokémon tem uma natureza fácil de lidar. Devido à sua atitude relaxada e despreocupada, muitas vezes esbarra a cabeça em pedregulhos e cascos de barcos enquanto nada.” — Informou o dispositivo.
— Siiiiiiiire! — Quagsire gritou de repente e apontou para os humanos. O enorme grupo de Wooper colocou-se na frente de seu rei, pronto para atacar.

Ethan deu um passo à frente e apontou para Quagsire.

— Essas duas coisas aí na sua coroa idiota são minhas insígnias! Eu dei um duro danado pra conseguir elas e não vou aceitar que nenhum Pokémon idiota roube elas de mim!

Quagsire voltou a gritar e os Wooper soltaram um jato d’água de suas bocas minúsculas. O poderoso ataque em grupo derrubou a todos no chão. Ethan se irritou a ver todos os Pokémon rindo dele.

— Vocês. São. Ridículos! Pessoal, vamos acabar com esses pequenos demônios! — Exclamou Ethan nervoso.
— Ethan, eu não posso ajudar! Meus Pokémon são do tipo Pedra, eu estou muito em desvantagem! — Disse Forrest.
— Eu topo... Primeape, vai! — Amy arremessou sua PokéBola.
— Certo, Rattata! Tá na hora de mostrar quem é que manda! — Joey liberou seu Pokémon que pousou no chão com vigor.
— Butterfree, vamos nessa! — Ethan exclamou ao Pokémon. — Sleep Powder!
— Rattata, Hyper Fang! — Ordenou Joey.
— Primeape, Scratch! — Disse Amy ao seu Pokémon.

Butterfree fez um voo rasante despejando um pó verde sobre os Pokémon que caíram adormecidos. Rattata e Primeape miraram em Quagsire que lutava para resistir ao sono.

Sucker Punch! — Exclamou Joey.

Rattata correu em direção a Quagsire e com uma de suas patas, desferiu um soco direto em seu rosto, fazendo sua coroa cair.

— PokéBola, vai! — Joey arremessou uma esfera.

A PokéBola atingiu a testa de Quagsire que foi sugado para dentro. A capsula caiu no chão e começou a se balançar violentamente. A abrupta parada anunciou o sucesso da captura.

— Pronto! Peguei o Quagsire! — Comemorou Joey.
— Caramba! Você pegou o líder deles! — Exclamou Ethan impressionado.
— Eu sou o melhor. Quero o melhor. — Gabou-se o rapaz.

Todos os Wooper estavam dormindo. Quando todos olharam para a saída, havia um Wooper encarando-os.

— Esse não é aquele Wooper que estava lá na margem? — Perguntou Amy.
— Certo... Agora é a minha vez! Butterfree, Confusion!

As pupilas de Butterfree desapareceram e um brilho ofuscante tomou lugar. Wooper começou a se contorcer e ficou tonto. Estava confuso. No entanto, conseguiu lançar um jato de água da boca, atingindo Butterfree. Era o Water Gun.

Sleep Powder!

Butterfree começou bater as asas e delas, um púrpuro pó verde começou a sair. Wooper caiu adormecido.

— PokéBola, vai! — Disse Ethan arremessando o objeto.

A capsula abriu ao encostar no dorminhoco Wooper. Sugando-o para dentro, o objeto começou a balançar diversas vezes até fazer um barulho alto. A captura tinha sido um sucesso.

— Mais um Pokémon! Wooper, eu te peguei! — Comemorou Ethan.
— Você está feliz por capturar um simples Wooper? Bem sua cara mesmo. — Zombou Joey.
— Eu ainda posso chutar sua bunda com esse Pokémon. — Retrucou Ethan.

***

Joey deu uma gargalhada.

— Que tal revivermos os velhos tempos? Vai, Quagsire!

O grande anfíbio azul vagarosamente encarou seu oponente. Por uma fração de segundos, os dois Pokémon relembraram seus momentos de súdito e majestade e, após um longo tempo, encontraram-se para um confronto que valeria mais para eles do que para seus treinadores.

— Wooper, Slam!
— Deixa não, Quagsire! Double Slap!

O pequenino correu na direção do oponente e saltou, pegando impulso com sua cauda. Wooper mirou na direção de Quagsire, que rebateu o golpe atingindo o rabo do Pokémon de Ethan com seu poderoso rabo, surpreendendo-o. Wooper virou no ar e Quagsire girou seu corpo 180° para atingir novamente o oponente com seu rabo, arremessando-o pelo ar.

— Wooper! — Exclamou Ethan.

O pequenino usou sua cauda para girar seu corpo no ar e pousar majestoso no chão. Ele já estava acostumado com os ataques de Quagsire. Afinal, ele havia sido seu mestre e seu líder na gangue.

— Quagsire, não o deixe tomar vantagem! Scald! — Ordenou Joey.
— Rebata com Mud Shot!

Um jato de água fervente saiu da boca de Quagsire enquanto bolas de lama eram atiradas de Wooper. Os dois ataques se confrontaram e se dissolveram no ar, tornando o piso do casco do navio altamente barrento e escorregadio. Joey sorriu.

— Wooper, vamos fazer um ataque direto. Water Gun, agora!

Wooper disparou um potente jato d’água na direção de Quagsire que nada fez. O ataque não pareceu surtir efeito algum.

— Você está lutando num campo em que eu tenho total controle, Ethan. Deixa eu mostrar como é que faz. —Joey sorria maliciosamente e deixava Ethan irritado. — Mud Bomb!

Aproveitando-se do piso enlameado, Quagsire formou uma grande bolha de lama e atirou-a em Wooper. A grande bola de lama deixou o pequeno atordoado.

Quagsire metralhava pedaços de lama na direção de Wooper, que nada podia fazer, já que era cada vez mais enterrado pela lama.

— Wooper! — Exclamou Ethan.

Era inútil. Wooper não tinha braços. Quanto mais mexia seu corpo para tentar se livrar do ataque, mais preso na lama ele ficava. Então, inconscientemente, ele passou a tornar-se maior. Seu corpo passou a emanar um forte brilho. Dois braços surgiram e as barbatanas em suas bochechas sumiram. Agora haviam dois Quagsire em campo, e o de Ethan se livrou da lama com um redemoinho de água que criou em sua cauda — era o Aqua Tail.

Wooper, você evoluiu... Que demais! — Ethan comemorava com vontade.
— Por essa eu não esperava... Quagsire, é melhor a gente não arriscar. Aqua Ring!

O Quagsire de Joey envolveu-se em um véu de água que visivelmente recuperou parte seus danos e curou seus machucados, deixando-o revitalizado.

Ethan assustou-se.

— Não acredito! Seu Quagsire está melhor que o meu!
— O melhor do combate é a estratégia. Scald!

O Pokémon de Joey lançou um poderoso jato de água quente na direção do Quagsire de Ethan, que tomou o golpe e sentiu o rosto queimar, balançando a cabeça em seguida para tentar se livrar da dor.

— Quagsire, Aqua Tail! — Ordenou Ethan.
— Use o Scald! — Disse Joey.

Os dois Pokémon lançaram os golpes simultaneamente. O Aqua Tail do Quagsire de Ethan atingiu o Scald do Quagsire de Joey e o partiu ao meio, atingindo seu rosto, deixando-o atordoado. Era visível o cansaço dos dois.

Ethan gritou “Slam!” ao mesmo tempo que Joey berrava “Mud Bomb!”.

O Quagsire de Ethan correu em direção ao oponente e, com uma investida, o derrubou no chão. O Quagsire de Joey, no entanto, atirou diversas bolas de lama no rosto do oponente, fazendo-o tampar o rosto para se proteger.

Scald! — Exclamou Joey.

O jato de água quente atingiu Quagsire em cheio que dessa vez, não conseguiu se manter de pé, caindo nocauteado.

Um silêncio tomou conta do local. Todos os espectadores estavam anestesiados pela batalha.

— A batalha foi rápida, mas o vencedor foi o Quagsire do participante Joey! — Anunciou Bob.

Ethan fechou os punhos com força. Decepcionado, recolheu Quagsire em silêncio e encarou a PokéBola.

Joey aproximou-se do rival.

— Ethan, está tudo bem?

O garoto o encarou com os olhos marejados. Ele se esforçava para não chorar.

— Tá tudo ótimo. Parabéns pela sua vitória, Joe! — O garoto estendeu a mão para o rival. Ao olhar para o lado, viu os olhos de Gabrielle o penetrarem profundamente.

Ethan se retirou dali em silêncio em direção às cabines do navio. Não ficaria para a premiação de Joey.

Amy e Forrest, do meio da multidão, seguiram o amigo.

***

— Seu próximo desafio será contra a Jasmine. Você não poderá vencê-la se continuar com esses pensamentos negativos. — Disse Amy.

A garota estava encostada em um dos armários do quarto com os braços cruzados. Olhava para Forrest, sentado no chão à sua frente, e para Ethan, que estava sentado na parte de baixo do beliche, olhando emburrado para a paisagem na janela.

— Eu nem sei mais. Eu tava tão convencido de que iria vencer... Eu não sei o que aconteceu... — Suspirou o garoto.
— Talvez a chave seja isso. Você se convencer de uma vitória antes de ela existir de fato. Veja suas batalhas de Ginásio, por exemplo... Você imerge na batalha e esquece do resto. Derrotas são necessárias. Analise seus erros e torne-os acertos na próxima batalha. — Comentou Forrest.

Ethan o olhou com uma expressão irônica.

— Você sempre tem essas frases filosóficas nessas horas. Depois me passa esse seu livro motivacional pra eu tacar ele longe.

Forrest ficou sem graça.

— Ah... Desculpa.

O apito do S.S. Aqua soava. A cidade de Olivine aproxima-se. Já entardecia e o céu alaranjado saudava novamente o navio.

Ethan mudou sua expressão.

— Olivine... Finalmente voltamos. Vou pegar a Flaaffy de volta e junto dela, minha sexta insígnia. — Disse o garoto sério.

Amy e Forrest se entreolharam. A garota dirigiu-se até a janela.

— Espero que com esse remédio, Amphy fique bem. — Suspirou preocupada.

Após encontros, derrotas e despedidas, Ethan, Amy e Forrest aproximam-se de novo da Cidade de Olivine com o objetivo agora de entregar o remédio para a plena recuperação do Ampharos de Jasmine, que vive no topo do Farol Cintilante, que está muito doente. A corrida agora é contra o tempo.



TO BE CONTINUED...


Capítulo 37




Gabrielle deu um passo e aproximou-se de Ethan. Era engraçado, pois ela era um pouco mais velha que ele e sua altura fazia com que ela tivesse que olhar para baixo para que pudesse ver o garoto.

Mas não eram os olhos de Ethan que ela fixava.

Ele foi surpreendido. Gabrielle encostou seus lábios nos do garoto e fechou os olhos. O menino não sabia exatamente o que estava acontecendo ali. O rosto angelical da moça estava totalmente relaxado. Ethan transpirava em partes estranhas de seu corpo que o garoto nem tinha noção de que podiam transpirar. Ele fechou os olhos e apenas tentou imitar o que Gabrielle fazia.

Sozinho com Gabrielle naquele corredor, Ethan estava tão desligado do mundo real que esquecera-se completamente que Amy e Forrest ainda duelavam lá fora.

O garoto parou o beijo e olhou a jovem. Dando um passo para trás, Ethan suspirou.

— Olha, moça, você me desculpa, mas eu não posso fazer isso...

Gabrielle se espantou.

— Eu fazer algo de errado?
— Não! É que eu gosto de uma pessoa aí... E não acho justo fazer isso.

A garota ergueu as sobrancelhas.

— Eu não sabia que você namorrava.
— E eu não namoro. Ainda.

O silêncio de antes voltou a tomar conta do lugar. Mas, ele era constrangedor. Um silêncio que fez com que os dois desejassem, do fundo do seu íntimo, desaparecerem dali.

Fora Ethan, com um sorriso sem graça, que quebrou aquele silêncio.

— Mas você ainda pode ensinar o Water Pulse pro meu Pokémon, né?

***

No campo de batalha, Amy e Forrest finalizavam sua batalha.

— Dewgong, Aurora Beam!

De seu chifre, Dewgong lançou um raio multicolorido na direção de Shuckle, que foi atingido em cheio. O Pokémon de Forrest resistiu bravamente, mas já estava visivelmente cansado. Dewgong também não estava mais no auge de suas forças. A disputa poderia finalizar a qualquer momento.

— Shuckle, Constrict!

O Pokémon de Forrest grudou seus tentáculos na cara de Dewgong que não conseguiu tira-lo de sua face.

— Dewgong, tire-o daí! Ice Shard!

Dewgong abriu a boca o máximo que pode e atingiu o estômago de Shuckle com cacos afiados de gelo. O Pokémon de Forrest imediatamente largou o rosto do oponente, mas caiu no chão, nocauteado. Sua defesa não conseguiu aguentar o golpe direto de Dewgong.

— Parece que a vitoriosa é a treinadora Amy! — Bob anunciava com vigor.

Forrest sorriu para a amiga.

— É. Parece que dessa vez você levou a melhor.
— Hehe. Você é páreo duro.

Amy e Forrest recolheram seus Pokémon e logo abraçaram-se amigavelmente. Eles caminharam em direção à proa do navio. Olharam para o aglomerado de curiosos que assistiam as batalhas, mas não viram Ethan. Procuraram por Joey na fila dos desafiantes, mas ele já estava enfrentando alguém na arena das piscinas.

— Bem, acho que ele deve ter seguido direto pra proa, não é? — Sugeriu Forrest.
— É... Mas acho falta de consideração dele. Ele podia esperar a gente... — Bufou Amy fazendo Forrest rir.

***

Já haviam muitas pessoas na proa do navio. Amy e Forrest procuraram por Ethan, mas não havia nenhum sinal do garoto.

— Aonde ele foi parar? Cara, ele só tinha um caminho pra seguir. Até nisso ele falhou! — Exclamou Amy.
— Normal. Se tratando do Ethan, ele deve ter se distraído com algum Pokémon diferente. — Teorizou Forrest.

Passados alguns minutos, Bob surgiu.

— Saudações, vencedores! Vocês foram, com maestria, aprovados na primeira parte da nossa competição! Sendo assim, agora, vamos para a fase dois. Apenas dois de vocês irão para as finais. Sendo assim, vocês continuarão usando apenas um Pokémon.

O discurso de Bob foi interrompido quando Ethan apareceu correndo. O garoto estava suado e ofegava bastante — ele parecia ter corrido uma maratona.

— Desculpe... A... Demora... — Suspirava o garoto.

Bob ergueu as sobrancelhas.

— Ora... Parece que alguém errou o caminho.

O garoto correu para o lado de Amy.

— Onde você estava? — Perguntou a garota de forma séria.
— Eu tava... adquirindo novas experiências... — Respondeu Ethan.

Amy pareceu não entender a resposta, mas não tornou a questionar.

— A partir de agora, vocês duelarão com a pessoa que está ao seu lado. E na batalha, vocês usarão um único Pokémon. Boa sorte.

Ethan abraçou Amy, que estava em sua frente, com força. Todos ali olharam para ele de forma estranha enquanto Amy não sabia se sentia ódio ou vergonha daquela situação.

— Muito bem! Que comecem as semi-finais!

Os treinadores olharam confusos para Bob, que pareceu não entender o motivo dos questionamentos.

— O que foi? Olha o tamanho do lugar que vocês tem pra usar de campo de batalha! Vamos, movam-se!

Ethan encarou Amy e sacou uma PokéBola, tomando a iniciativa.

— Muito bem então. Agora eu tenho uma arma secreta. Bora! Imperador, eu te escolho!

Nidorino surgiu majestoso e encarou Amy. A garota não deixou-se intimidar e pegou uma PokéBola da bolsa.

— Muito bem então. Gyarados, vamos nessa!

O poderoso dragão, com toda sua soberania, tomou conta da proa do navio. Ele soltou um rugido alto e escandaloso, assustando boa parte dos treinadores que ali estavam.

— Gyarados?! — Exclamou Ethan.
— Eu o peguei com o Professor Carvalho quando estávamos em Cianwood. Surpresinha. Gyarados, Hyper Beam! — Exclamou Amy.

O Pokémon de Amy carregou e disparou um poderoso raio amarelo-alaranjado de sua boca na direção de Nidorino, que, em reflexo, esquivou-se com velocidade para os lados, evitando assim ser atingido.

Ethan soltou uma exclamação.

— Você não perde tempo...!
— Foi você quem quis lutar comigo.

Nidorino olhou para seu treinador esperando ordens.

— Muito bem, Imperador. Vamos com tudo também. Double Kick!

Nidorino partiu em velocidade na direção de Gyarados, subindo em sua cauda e escalou o grande corpo do oponente. Imperador girou seu corpo em 360° e executou dois chutes poderosos nos dois lados do rosto de Gyarados, deixando-o zonzo.

Ethan sorriu, mas Amy mantinha-se concentrada. Devido ao Hyper Beam, Gyarados não podia atacar.

— Imperador, Peck!

Nidorino avançou com velocidade na direção do oponente e usou seu chifre para perfurar o peito de Gyarados, que soltou um urro de dor.

— Gyarados, Dragon Rage!

O Pokémon de Amy materializou uma grande e poderosa bola de fogo e arremessou na direção de Nidorino, que foi atingido e arremessado a alguns metros.

— Imperador! Você está bem?! — Ethan correu para acudir seu Pokémon.

Nidorino ergueu-se e balançou a cabeça. Encarou Gyarados e franziu o cenho.

— E então? Desiste agora ou quer ser humilhado mais um pouco? — Provocou Amy.
— Como assim?
— Você precisa amadurecer antes de enfrentar uma treinadora poderosa como eu. Você não entendeu ainda que somos de níveis diferentes?
— Eu tô aqui pra batalhar. Não interessa pra mim nosso nível de amadurecimento. Poison Sting!

Nidorino correu em direção a Gyarados com a ponta de seu chifre cintilando. O Pokémon de Amy tentou usar a cauda para se defender, mas foi aí que ele cometeu seu erro.

Gyarados empurrou Nidorino que caiu ao chão, mas levantou-se rapidamente. Foi quando percebeu que sua cauda formigava.

Amy pareceu não notar.

— Você pode me atacar o quanto quiser, mas nunca vai me derrotar. Gyarados, Aqua Tail!

Gyarados criou um redemoinho de água ao redor da própria cauda, arremessando-o na direção de Nidorino, atingindo-o com força. O gigante, porém, pareceu sucumbir. A visão de Gyarados começou a ficar turva, uma dor de cabeça repentina tomou conta e ele cambaleou. Os efeitos do veneno do Poison Sting começaram a ficar evidentes.

— Gyarados, você está bem...? — Perguntou Amy, preocupada.

Ethan também pareceu perceber que tinha algo errado.

— Imperador, depressa, use o Water Pulse!

Nidorino concentrou-se. Por um instante, lembrou-se de todas as instruções que a amiga de seu mestre, Gabrielle, lhe passou.

***

— Você deve se concentrrar. A esferra de poder que você ter que soltar tem de vir de dentro de você.

Nidorino fechou os olhos e concentrou-se. Concentrou todas as energias de seu corpo na ponta de seu chifre, que começou a exibir um fraco brilho.

— Imperador! Você tá conseguindo! — Exclamou Ethan.

Nidorino abriu seus olhos. A animação de seu mestre o fez distrair. A pequena esfera desapareceu em um instante.

Ethan suspirou.

Concentrre-se! Você prrecisa manter a calma e manter a atenção! — Pela segunda vez, Ethan viu Gabrielle séria. Ela realmente levava os Pokémon a sério.

Ethan incentivou Nidorino com o olhar. O Pokémon respirou fundo e voltou a concentrar-se e deixar-se ajudar pela garota.

***

Nidorino criou uma esfera de água e a sustentou por alguns segundos. Mirou e atirou a bola de energia no rosto de Gyarados, mas não pareceu ter muito efeito.

— Golpes aquáticos não funcionam no Gyarados. — Disse Amy.
— Meu objetivo é derrubá-lo aos poucos. Enquanto o Imperador estiver de pé, nós iremos atacar.
— Que seja. Gyarados, Hyper Beam!

O Pokémon dragão mais uma vez disparou o poderoso raio na direção de Nidorino, que foi atingido diretamente. Imperador cambaleou para os lados e lutou-se como nunca para manter-se de pé.

Ethan começava a se preocupar. Se Nidorino recebesse mais um golpe desses, ele com certeza não iria resistir. O garoto então passou a pensar em rápidas estratégias. Nidorino era menor que Gyarados. Portanto, deveria ser mais rápido.

— Imperador, Water Pulse!
— Isso não vai funcionar. — Comentou Amy, séria.
— Por enquanto. — Respondeu Ethan, com confiança.

Nidorino concentrou-se o máximo que pode. Sua vantagem era o repouso obrigatório que Gyarados fazia após lançar cada Hyper Beam. Amy apenas esperava quase impacientemente aquele golpe aparentemente inútil atingir seu Pokémon imbatível.

A esfera feita de água partiu com velocidade de Imperador e atingiu o rosto de Gyarados em cheio. O dragão cambaleou para trás e sentiu-se tonto. Não era apenas o efeito do veneno... Agora, sua mente estava embaçada. Ele não conseguia ouvir os próprios pensamentos. Ethan havia percebido que seu plano havia dado certo: Gyarados estava confuso. De bônus, ainda mantinha-se envenenado do Poison Sting que Nidorino havia utilizado.

—...Gyarados? — Chamou Amy baixinho.

O Pokémon da garota balançou a cabeça tentando afastar a confusão por um instante. Ele olhou para sua mestra e deu um sorriso confiante.

— Eu sabia que ia ficar tudo bem. Dragon Rage!

O Pokémon de Amy materializou mais uma bola de fogo enorme. No entanto, ele fitou Nidorino por alguns instantes e acabou decidindo que era uma excelente ideia atingir seu próprio peito com o golpe.

Amy soltou uma exclamação. Ethan deu um sorrisinho e lembrou-se das aulas de Gabrielle.

Water Pulse ser um golpe de mestrre. Aplique conscientemente e você causarrá um enorme dor de cabeça.”

Imperador, Double Kick!

Nidorino correu em direção de Gyarados e saltou, pegando impulso no reforçado casco do navio. Escalando novamente seu corpo, atingiu o queixo do poderoso dragão com dois chutes poderosos que o fez cair ao chão.

Gyarados tentou se levantar, mas o efeito do veneno em sua corrente sanguínea o nocauteou de vez.

Nem Ethan, nem Amy pareceram acreditar no que havia acabado de acontecer. O menino levou as costas da mão à testa e secou as gotas de suor que havia ali. Amy tentava conter o queixo, que pesou para baixo.

Escondida por trás da multidão, tentando passar despercebida mesmo com sua beleza chamativa, Gabrielle dava um sorriso. Ela estava feliz por Ethan. E seu ego mais ainda pelo garoto ter levado seus conselhos em consideração.

Amy recolheu Gyarados à PokéBola e aproximou-se do amigo.

— E quem diria que você conseguiria me derrotar algum dia... Espero que você não decepcione e vença a final. Afinal, eu fiquei realmente afim daquele Lapras.

Ethan a olhou confuso.

— Ué... Mas se eu vencer, não é justo que eu fique com o prêmio?

A garota sorriu maliciosa.

— É justo que você fique com algo mais valioso do que um mero Pokémon. — E deu uma mordiscada na orelha do menino, fazendo-o arrepiar por inteiro.

Forrest aproximou-se da dupla.

— Você anda melhorando, Ethan. E eu fiquei realmente surpreso com aquele Water Pulse. Onde você o conseguiu?
— Digamos que... Foi uma coincidência. — Respondeu o garoto, ficando sem graça.

Amy o encarou.

— Seeeei... — Ela franziu o cenho. — Essa história tá mal contada. Mas é melhor você se preparar pra batalha final.

Ethan suspirou aliviado.

— E contra quem é?
— Eu. — Soou uma voz conhecida.

Ao se virar, todos deram de cara com Joey e um sorriso convencido no rosto.

— Você?! — Exclamou o menino.
— Não sei por que você está assustado. Até parece que não sabia que eu chegaria à final. — Sorriu Joey.

Ethan pareceu tenso. Da última vez que havia batalhado sem interferências contra Joey, ele havia perdido. Seria medo esse sentimento que estava parecendo consumir seus órgãos internos?

— Eu vou vencer você, Joe. Guarde o que eu estou falando.
— Veremos. Depois do almoço, claro, porque eu estou faminto. — Disse o garoto, acariciando a barriga que reclamava alto.

A voz de Bob ecoou pelos ouvidos de todos.

— Senhoras e senhores! Estamos com as finais definidas: O participante Ethan contra o participante Joey! Em duas horas, após o almoço, Lapras terá um treinador! Mantenham-se atentos!

Ethan e Joey olharam um para o outro e sorriram.

— Quem chegar por último no refeitório é mulher do padre! — Exclamou Joey, saindo em disparada em direção aos corredores do navio.
— Ei, isso não é justo! Você nem avisou que ia fazer isso! — Ethan acelerou e começou a perseguir seu rival.

Amy e Forrest se entreolharam e deram um sorriso sem graça.

Um homem com cabelos arrepiados num tom de carmim, uma roupa azulada com linhas laranja passando por ela e cruzando seu corpo ia em direção a dupla que permanecia parada próxima ao campo de batalha. Sua capa negra se arrastava no chão e dava ao homem um ar selvagem. A feição séria que tinha em seu rosto o fazia uma pessoa respeitada, e isso podia se ver na expressão de admiração e surpresa nas faces dos passageiros que se encontravam ali. Os buchichos e cochichos incrédulos diziam repetidamente o seu nome, mas Amy e Forrest permaneciam tão imersos em seu “mundo real” que nem perceberam quando a voz grave, porém suave, do rapaz chamava por sua atenção.

— Mocinha, com licença.

Amy e Forrest viraram-se e entraram em estado de choque. Em sua frente, estava uma figura conhecida e muito falada tanto no mundo da máfia de Amy quanto nos campos de batalha de Ginásio de Forrest. Ali, parado defronte a eles, estava o grande líder da Liga Pokémon, o mestre dos Dragões, o imbatível Lance.



— Você não gostaria de entrar para a Elite 4? Estou procurando por novos membros e você é perfeita para o cargo que tenho em mente. — Disse Lance, gentilmente repousando seus olhos castanhos em Amy, que pela primeira vez em sua vida, não tinha o que responder.

Forrest engasgou e as pessoas ao redor apontavam tímidas para eles.

— E-Elite 4? E-Eu? — Gaguejou a moça dando um passo para trás, incrédula, sentindo-se estranhamente encantada por aquele sorriso irritantemente simpático.




TO BE CONTINUED...

 

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