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Notas do Autor (Capítulo 1 - Remake)
Dez anos é uma vida, né? Quer dizer, praticamente uma vida. Muitas coisas aconteceram nos últimos dez anos. Quando eu publiquei o primeiro capítulo de AeJ, em Dezembro/2015, eu tinha acabado de começar a faculdade. Não cheguei a terminá-la. E aí, muitas outras coisas aconteceram na vida pessoal e na profissional. Apesar de tudo, certas coisas jamais deixaram seus lugares: O Aventuras em Johto e a Aliança Aventuras.
Estamos meio longe do final da história, no momento em que digito essas palavras, acabei de publicar o último capítulo da terceira temporada, o de número 75. E então, já que terminamos uma temporada inteira, por que não voltarmos para o começo? Eu às vezes me lamento por não ter concluído essa história ainda, por N motivos. Mas, acho que tudo tem a sua hora. Talvez, se eu tivesse terminado ela antes, não teria esse timming de refazer os primeiros capítulos ao mesmo tempo que eu terminei uma temporada (risos). E esse capítulo, como todos os outros, só existe por causa da Aliança e dos meus amigos que tenho nela. Em especial, ao Canas, de Sinnoh, e ao ShadZ, de Hoenn, que me acompanham desde antes do AeJ tomar forma. Não sei como é para eles, mas revisitar o começo depois de tanto tempo me traz uma nostalgia muito grande. Menção honrosa também pra Jolly, autora do Aventuras em Unova, que foi muito importante na realização desse projeto.
Falando em Sinnoh, como sempre, foi AeS que me deu a ideia de fazer esse remake. Escrevi o remake do primeiro capítulo de AeS, lá em 2021, quando os remakes de Diamond and Pearl (Brilliant Diamond/Shining Pearl) foram anunciados por ter um grande carinho pelo universo que o Canas escreveu. Até hoje, quando nos reunimos (e é com tanta frequência que eu tenho certeza que logo menos ele vai mandar me expulsar), sempre falamos de Sinnoh e dos personagens de lá. E é com esse mesmo carinho que eu também decidi refazer os primeiros capítulos, não por achar que eles são ruins... Mas, como os próprios jogos ganharam remakes, por que não fazer o mesmo com essa história? Tomar a liberdade de mexer em algumas coisinhas aqui e ali só para desencargo de consciência...
A essência continua a mesma, mas eu espero que, nessa nova versão, você possa acompanhar não só a evolução do autor que te escreve, mas também a dos personagens que a estrelam. Muitos deles ganharam novos nuances em suas personalidades, quase um novo contorno, para deixar claro as suas motivações. Quando eu comecei essa história, eu perdi muito detalhe querendo focar numa história rápida. Com a experiência, acho que hoje eu posso fazer, sim, uma história que mantém a agilidade do roteiro, mas também ganha detalhes importantes para que cada vez mais você continue mergulhando nela junto com esses personagens.
Espero continuar contando com você pelos próximos dez anos. O que serão deles? Jamais saberemos. Acho que teremos que descobrir juntos. ;)
See ya!
Capítulo 01 [Remake]
Havia
muitas coisas a serem consideradas quando se morava em uma cidade grande, como
Saffron. Em certo ponto, você pode pensar que cidades grandes tendem a serem
muito mais violentas do que as cidades do interior do país, o que não deixa de
estar correto. Existem prédios altos que podem te causar dores no pescoço ao tentar
ver o quão altos eles são. Há o problema das filas. Muitas filas. Filas para
tudo o que você imaginar: Para estacionar, para pagar alguma coisa no caixa do
supermercado, fila para depositar um dinheiro no banco... Sem falar no barulho.
Ah, o ensurdecedor barulho do tumulto da cidade grande! Buzinas dos carros nas
ruas e avenidas enquanto Machoke auxiliava no trânsito, helicópteros e aviões
nos céus disputando espaço com Pidgeots e Fearows, falatório e gritarias nas
calçadas. É muito pouco provável que você encontre paz e tranquilidade morando
em uma cidade grande, como Saffron.
Mas,
em compensação, a poucos metros de você existe uma padaria, uma loja de
departamentos, um Centro Pokémon ou até mesmo um esconderijo da máfia, uma cova
de ladrões. Você nunca saberia dizer.
Principalmente
se o tal esconderijo da máfia tivesse como endereço justamente o interior do
edifício da maior empresa da região de Kanto, a Silph Company.
O
relógio batia seis e dezessete da manhã. Os primeiros raios de sol já começavam
a tomar espaço pelo opaco céu azul-escuro que aos poucos começava a se clarear.
No interior dos apartamentos residenciais do centro, muitos despertadores
começavam a tocar de forma ininterrupta, acordando quem dormia para o novo dia
que se iniciava — muitos, inclusive, lutando em vão para não deixar aquele
resquício de sono ir embora. Do lado de fora das janelas, as ruas já começavam
a ficar tumultuadas com os carros saindo das garagens e se dirigindo aos
escritórios para mais um dia tedioso de trabalho, encontrando-se mais uma vez nos
engarrafamentos que já se tornaram rotina para os moradores da capital.
Seria
mais um dia normal como qualquer outro, se aquele não fosse um dia atípico,
onde um som atípico ressonava, justamente, do prédio da Silph Company. Um
alarme estridente chamava a atenção de quem por coincidência passava por ali
próximo. Provavelmente seria um falso alarme de incêndio —alguém deve ter
colocado fogo no tapete de novo.
Havia,
sim, uma certa correria no interior do edifício. Mas era devido à tentativa
desesperada de conter alguém ao invés
de um incêndio.
As
luzes piscavam de forma frenética enquanto um exército de homens e mulheres com
um uniforme totalmente preto que se destacava não apenas pela boina cafona, mas
pela letra “R” rubra bem grande na região do tórax, corria a toda velocidade
pelos corredores apertados, que, sem tempo para esperar os elevadores, avançavam
pelas escadas de emergência em direção ao último andar do prédio.
Os
agentes que já se encontravam no último andar apressavam o passo rumo à Sala de
Pesquisas J, local de onde o alarme havia sido disparado. A porta estava
aberta.
O
interior da sala era amplo e dava vista para a cidade inteira através de uma
janela panorâmica. Incrivelmente, quem olhava para ali dos outros prédios, não
conseguia ver o interior daquele laboratório pelo fato dos vidros serem
espelhados. O pé direito tinha pelo menos quatro metros de altura.
Pelo
chão, uma bagunça indescritível. Havia diversos tipos de papéis espalhados,
pedaços de vidro quebrado, mesas reviradas, armários caídos, lousas e cavaletes
destruídos e, pelas paredes outrora cheias de prateleiras repletas de itens e
objetos de pesquisa que se encontravam caídos, misturados e espalhados em uma
bagunça sem fim, buracos, como se algo ou alguém tivesse dado socos nelas.
Mas
nenhum detalhe daquela sala chamava mais a atenção do que os cientistas
desacordados espalhados pelo chão. Ou será que, na verdade, eles foram derrubados? Essa hipótese foi levantada quando um dos agentes da Equipe
Rocket rapidamente avançou até um deles e, ao virar para examiná-lo, notou o
olho roxo e pelo menos três dentes quebrados.
Uma
mulher com o uniforme preto entrou na sala e retirou a boina da cabeça. Ela
estava boquiaberta. Olhava para todos os lados da área e as sobrancelhas
arqueadas ilustravam a sua expressão de surpresa.
—
Mas que merda foi essa que aconteceu
aqui? — perguntou ela, quase em um sussurro antes de voltar à atenção ao grupo
que se aglomerava nas portas da sala. —Chequem as câmeras de segurança imediatamente!
O
som de algo caindo no chão chamou a atenção da mulher e do grupo próximo à porta.
Ninguém até então havia notado que tinha mais
alguém ali presente. Uma grande porta de armário que estava aberta
escondia-a. Os agentes imediatamente sacaram suas PokéBolas e adentraram a
sala.
A
garota deveria ter por volta de seus quinze anos de idade. Ela era realmente uma jovem muito atraente, cujo
corpo sinuoso e desenvolvido estava escondido por baixo de um vestido negro
que, diferente dos outros agentes, não trazia a letra “R” púrpura no tórax. O
que exibia no lugar, porém, era um chamativo decote, fazendo questão de
exibi-lo ao jogar os longos cabelos amendoados para trás, deixando a visão de
qualquer um ali presente livre para admirá-la. A calça legging que vestia, em contraponto, era na cor branca — a mesma cor
de suas luvas — e seus olhos azuis eram tão lindos quanto duas safiras e que
disputavam naquele momento com o céu o título de azul mais bonito. O mar
ficaria invejado.
A
garota foi cercada. No entanto, um sorriso sádico em seus lábios demonstrou que
ela não se sentia intimidada.
—
Bom dia, galera! Foi mal, eu acho que causei
um pouco demais aqui. Mas eu juro que foi sem querer!— e deu um sorriso
travesso.
—
Amy... O que você está fazendo? Você sabe que o acesso aqui é restrito... Como
você entrou? — perguntou a mulher em um misto de raiva e surpresa.
—
Oops! Deixei cair uma coisa — a garota abaixou e, ao subir de volta, causou
espanto.
Em
suas mãos, havia uma PokéBola, muito distante de ser uma PokéBola comum. Na
parte de cima, ela era dourada, como uma grande jóia que brilhava ao toque dos
raios de sol que adentravam na sala. A parte debaixo era prateada, como uma
aliança, reluzindo como milhares de mini-cristais contrastando com a luz do dia
que invadia o andar sem pedir licença.
Amy
não tinha pressa. Mesmo estando cercada, puxou do armário uma bolsa transversal,
vestiu-a e colocou o objeto dentro dela.
—
O que pensa que está fazendo? Devolva isso imediatamente! — um dos homens de
preto que estavam presentes gritou para a menina.
— Sabe o que é? Eu juro que iria adorar fazer isso, mas é que não vai
dar, não — a cada resposta debochada de Amy, o grupo rangia os dentes de raiva
ou apertavam as PokéBolas com força. A verdade é que boa parte deles queria era
apertar o pescoço dela.
—
Não seja idiota, Amy... Você não quer
fazer isso... — a mulher que havia retirado sua boina falava devagar, mostrando
as duas mãos para a menina para demonstrar que não tinha intenções de acionar
alguma PokéBola.
A
jovem a encarou com uma expressão de curiosidade. Colocou o braço esquerdo em
cima do decote e apoiou o direito nele, segurando o queixo utilizando o polegar
e o indicador.
—
Hmm... Será mesmo que eu não quero? —
era irritante a forma que a garota falava. Ela emulava uma voz aguda, como se
falasse com uma criança pequena.
—
Não tem mais escapatória, senhorita Amanda. Por favor, devolva isso já — pediu
um terceiro homem, também vestido de preto.
—
Não nos faça de idiota! — rosnou um quarto, partindo para cima da garota.
De
dentro do armário com a porta aberta, saltou um Pokémon bípede. Tinha o corpo
arredondado, os pêlos de cor bege que o cobriam eram todos arrepiados e
embaraçados como se não fosse penteado há, pelo menos, uns seis meses. Os
músculos dos braços de cor marrom contraíam músculos grandes e presos, tanto
nos pés, quanto nos tornozelos, algo que se assemelhava a algemas de metal.
O
símio atacou o homem e o nocauteou dando-lhe um soco no rosto.
Então
havia sido desse jeito que aqueles
corpos espalhados pela sala haviam sido derrubados.
Os
agentes da Equipe Rocket assustaram-se com o súbito ataque do Primeape de Amy.
A garota, no entanto, parecia muito tranquila. Olhou para o vestido para se
certificar de que não havia nenhum tipo de poeira sobre o tecido.
O
grupo, que além de estar bloqueando as saídas da sala, também entupia o
corredor daquele andar com a chegada dos agentes espalhados pelo prédio,
espremeu-se além do batente e invadiu a sala, correndo em direção à Amy.
Primeape se preparou para atacar os oponentes quando uma voz feminina ecoou
firmemente pelo lugar.
—
Parem!
Como
se tivessem levado um choque, todos os agentes ali presentes congelaram. Amy,
que até então sustentava um sorrisinho debochado, mudou de expressão ao ver a
mulher passar pela porta. Até a garota pareceu temer aquela figura.
Seu
uniforme era diferente dos demais. Era de manga longa, justo e elegante, na cor
branca, e ostentava o escudo rubro da Equipe Rocket acima do seio direito. Ia
até abaixo dos joelhos e, assim como Amy, desenhava uma certa sensualidade, apesar
de mais contida, com um corte lateral mostrando parte das pernas. Era possível notar sua presença de longe não
apenas pelo olhar imponente, confiante e ameaçador, mas pelos cabelos vermelhos
volumosos que eram sua marca registrada. Caminhava a passos lentos, mas seus
passos eram marcados pelo eco do impacto de suas botas brancas cano alto pelo
ambiente, carregando um ar de imponência.
Ah,
sim. Ela era a perfeita definição da
palavra “imponência”.
—
Ela não tem para onde fugir. Eu não entendi ainda o porquê de a situação não
ter sido controlada.
Por
algum motivo, Amy começou a rir. A mais velha com cabelos vermelhos sentiu
saltar uma veia na têmpora. Diferente da menina, ela não via graça alguma
naquela situação.
—
Você não sabe a loucura que está cometendo, Amy... — disse ela baixinho,
contendo o ódio e a vontade de explodir em cima daquela pirralha.
—
Nossa, parece que eu estou ficando importante por aqui, né? Pra você ter vindo até aqui me ver... —
respondeu Amy com uma piscadela.
O
deboche da menina estava esgotando a paciência de todos os presentes.
—
Eu vou falar apenas uma vez — disse a
ruiva entre dentes. — Devolva a PokéBola GS imediatamente.
Amy
olhou alguns instantes para o rosto da mulher ruiva à sua frente parecendo se
divertir com a expressão furiosa em seu rosto. Abaixou os olhos para a mochila
e voltou a retirar a esfera bicolor dourada e prateada, o que causou diversas
exclamações audíveis e sussurros misturados entre os agentes. Ela olhou para a
cápsula e a estendeu em direção à mulher, que observava atentamente.
—
Você quer, velha? — a jovem abriu um
sorriso provocador. — Então vem pegar!
Tudo
aconteceu em um piscar de olhos. Amy disparou para o lado esquerdo da sala
enquanto seu Primeape correu para o outro, arrancando a porta do armário e
arremessando em direção aos agentes da Equipe Rocket, causando um novo tumulto
entre os homens e mulheres que tentaram se desviar daquele grande objeto em um
piscar de olhos enquanto a menina pulava os obstáculos no chão da sala em
direção à janela panorâmica.
—
PEGUEM-NA! — berrou a mulher ruiva apontando para a adolescente.
Dezenas
de estampidos começaram a ser ouvidos quando os Pokémon dos capangas da
organização começaram a ser liberados de suas cápsulas. A menina já sabia quais
tipos de criaturas os agentes portavam, já os viu em ação antes. Logo, não
precisou desviar a atenção para saber que atrás dela se encontravam hordas de
Golbat, Raticate, Arbok e Weezing, aproximando-se perigosamente dela.
Apesar
da sala ser ampla, os Pokémon tinham a locomoção reduzida pelos obstáculos
colocados nela. Tanto os corpos, quanto a mobília destruída no chão, tudo era motivo
para que eles batessem entre si enquanto tentavam desviar, o que lhes custou
preciosos segundos.
O
Primeape de Amy pegou o resto do único armário que permanecia de pé e o
arrancou da parede como se arrancasse uma simples folha de um caderno qualquer
e ergueu-o sobre a cabeça. Subiu em cima do que restara de uma mobília que
jazia quebrada no chão e arremessou com força em direção ao vidro da janela
panorâmica, destruindo-o por completo. Pôde-se ouvir segundos depois vindo lá debaixo
o som de um impacto seco de algo amassando metal com vidros quebrando e um
alarme de carro soando. Amy, por sua vez, arremessou a PokéBola GS para o lado
de fora do prédio, o que a fez ouvir um coral de vozes atrás dela berrando um
sonoro “NÃO!”.
A
garota olhou para trás com uma segunda PokéBola em mãos. Desta vez, a esfera
era a bicolor comum, em vermelho e branco.
—
Bye, bye, panacas! — exclamou a menina com um sorriso enquanto retornava seu
Pokémon para a sua cápsula.
Sem
hesitar, Amy saltou do parapeito da janela e a última visão dos capangas da
Equipe Rocket no último andar do prédio foi o corpo da garota despencar em
direção ao solo.
A
mulher de cabelos ruivos apressou-se em chegar à janela quebrada, mas foi
surpreendida quando uma ave de rapina materializou-se no ar e, em alta
velocidade, pegar a garota no lombo e em seguida, voar rente ao solo e com o
bico, pegar a esfera dourada e prateada antes de este tocar no chão.
Amy
e Pidgeot desapareceram por detrás do prédio da Silph Company e não ouviram as
maldições e xingamentos que eram lançados aos quatro ventos pela mulher ruiva
que ficara para trás.
—
Idiotas! — ela se virou nervosa para os agentes que estavam com ela, se
entreolhando, perdidos. — Vão atrás dela, ela não pode fugir! Nós precisamos daquilo!
—
Ele já foi avisado, Ariana.
Um
homem alto e robusto tomou a frente. Ele não se diferenciava dos demais agentes
apenas pela calma com que entrava na sala ou pelo ar calculista com que
analisava a situação através dos seus olhos azuis, mas também pelo uniforme,
branco, como o da mulher ruiva no parapeito. O sol que nascia servia de holofote
aquele homem, já que um facho de luz caía exatamente sobre onde ele estava,
como se tivesse sido combinado entre ele e os deuses dos céus. A blusa de manga
longa estava perfeitamente alinhada, sem falar na calça social, tão bem
ajustada que parecia ter sido até mesmo moldada para seu corpo. Quase era
possível ver o reflexo de seu belo rosto se ele olhasse para os sapatos,
engraxados com primor. Nem mesmo seu cabelo acinzentado tinha um fio sequer
fora do lugar. Mantinha o peito estufado e as mãos nas costas, olhando toda a
bagunça com atenção, até repousar os olhos em Ariana.
—
Você não deveria estar aqui — ela disparou para ele.
—
É, mas agora estou. Assim como boa parte do prédio — ele respondeu. — Não se preocupe,
ela não irá muito longe. Logo menos teremos aquela peste de volta em nossas
mãos.
Ariana
olhou para o céu que começava a se colorir em um tom de rosa.
—
Ótimo. Por isso eu gosto de você, Archer. Nunca poupa ninguém.
...
A
cidade já começava a ficar intransitável, principalmente naquela hora da manhã
em que as pessoas tentavam chegar ao trabalho. Amanda Green tentava se esconder
no meio da multidão que acessava o metrô, tentando proteger a bolsa transversal
da aglomeração que tentava passar as catracas. Ela sabia que em poucos minutos,
os jornais estariam noticiando que o prédio da Silph Company fora invadido e
que um móvel fora jogado do último andar do edifício, atingindo o carro de
algum trabalhador azarado da empresa. Para evitar problemas, pegar o metrô
compensava bem mais do que dar a brecha de sair voando pelo céu sendo vista por
testemunhas. Apesar de considerar ser bem mais interessante ser admirada como um
Articuno, às vezes compensava mais sair pelo underground
como um Dugtrio.
Além
do mais, seria muito difícil da Equipe Rocket sair uniformizada daquele jeito pelas
ruas atrás dela. Desde que a organização caiu há três anos e os integrantes se
viram obrigados a trabalhar no submundo, a polícia abordava qualquer um que
vestisse o uniforme preto, mesmo que por brincadeira. Podia até mesmo se acusar
de apologia ao crime. Eram novos tempos, não valia o risco.
Amy
não baixou a guarda nem mesmo quando finalmente atravessou a catraca e se
dirigiu para a plataforma para esperar o próximo trem. Mantinha a mochila
transversal firme, segurava-a contra o corpo para evitar que ela se enganchasse
nas pessoas ao redor. A passos lentos, ela seguia firme para a passarela em
meio ao mar de gente que fazia o mesmo. Estranhamente, parecia haver bem mais
pessoas do que de costume. Com certeza, algum problema na linha causara o
tumulto.
Não
esperava, porém, que tropeçaria em um homem alto que utilizava um sobretudo
negro que estava parado no caminho da jovem. Apesar daquela hora da manhã o sol
não estar tão forte, foi possível notar que ele também cobria a cabeça com um
chapéu fedora.
—
Opa! Me desculpa aí, tio, eu... — e parou de forma abrupta ao olhar para o
rosto dele. O sorriso sumiu de seus lábios e um arrepio lhe percorreu a espinha.
Amy
já havia visto outras vezes aquele olhar de autoridade. Mas ela jamais
imaginaria que o dono por trás dele seria tão ousado. Ele era um homem alto.
Mais do que a sua altura, chamava a atenção o seu olhar cansado, como se não
tivesse uma boa noite de sono há dias. O homem mantinha as mãos nos bolsos do
sobretudo e em nenhum momento fez contato visual com ela — não que precisasse.
Ela se sentia constrangida só de estar diante da sua presença. Presença essa que
simplesmente anulava qualquer outra ao redor deles, como se simplesmente só existisse
os dois ali presentes.
—
Amy... — chamou o homem. A voz grave ressonando baixo, só para ela ouvir.
A
adolescente respirou fundo e olhou ao redor. Notou outras pessoas próximas a
ela que, aparentemente, também esperavam o próximo trem. Algumas delas
utilizavam boinas. Boinas essas que ela sabia
de onde vinham. Droga. Ponto para eles. Procurou os painéis no teto que
mostrava quanto tempo restava para a chegada da próxima locomotiva: Vinte
segundos.
Ela
olhou para o homem de sobretudo negro ao lado dela. Entre eles, dois homens de
boina que os comprimiam, impedindo a passagem. E não era pelo fato da estação
estar lotada.
Pelo
menos a especialidade dela era dar trabalho às pessoas.
—
Sim...? — ela respondeu de forma meiga e com um sorriso travesso, justamente
para provocar o homem enquanto tentava ganhar tempo.
—
Você vai mesmo abandonar a Equipe
Rocket? Eu confiei em você.
—
Ora titio... Você não imaginou mesmo que eu ia ficar com um bando de
otários como vocês, né? Sou muita areia pra esse caminhãozinho!
Amy
notou que Giovanni pareceu desconfortável com a resposta, mexendo o pescoço levemente
de um lado para o outro.
No
painel, quinze segundos para o próximo trem.
—
Amy, apenas devolva o que você pegou e retorne imediatamente para seu posto na
organização. Já chega dessas brincadeiras imaturas!
O
sussurro ressoou como uma ameaça. Nove segundos para o próximo trem. Já era
possível ouvir sua aproximação com os freios sendo acionados.
—
Parece que não temos mais tempo, titio — respondeu Amy. — Você sabe que eu adoro um pequeno desafio, mas fica pra
próxima.
Cinco
segundos. O trem vai desacelerando e a composição finalmente vai se deslocando
até o fim da plataforma.
Quatro
segundos. O cérebro de Amy começa a processar as coisas de forma tão rápida que
as coisas ao seu redor parecem desacelerar, como o trem a alguns poucos metros
a sua frente.
Três
segundos. O trem para completamente e as portas começam a se abrir.
Dois
segundos. Ela sente alguém pegar em seu ombro para impedi-la de se mover em
direção ao trem. Não é Giovanni.
Um
segundo. Ela resolve agir.
—
ASSÉDIO! ESSE HOMEM ESTÁ ME ASSEDIANDO!
O
berro que Amy soltou foi o bastante para que dezenas de pessoas olhassem em
direção a ela, o que, por um breve instante, foi o suficiente para fazer com que
seja lá quem fosse seu captor tirasse as mãos de seus ombros, permitindo que ela
se agachasse e desse alguns passos engatinhados para a frente, o bastante para
chegar até a porta do metrô e entrasse no vagão.
Ao
olhar para a janela, viu Giovanni afastando-se em direção às catracas de saída
enquanto guardas da estação tentavam abrir espaço entre as pessoas para conter
o tumulto que se iniciara. Um dos homens de boina estava sendo segurado por
outras quatro pessoas que, apesar de já não ser possível ouvir o que diziam,
pelas suas expressões, com certeza tiravam satisfações com ele.
Um
sinal sonoro apitou no vagão. As portas se fecharam e o trem começou a tomar
velocidade rumo à próxima estação. Amy, sentindo que a qualquer momento seu
coração iria sair pela boca, cruzou seu olhar com Giovanni pela última vez
quando o trem virou o túnel subterrâneo em direção à Estação de Pewter.
Do
lado de fora, a manhã brilhava límpida, sem nenhuma nuvem no céu. Giovanni, com
seu chapéu fedora e sobretudo esvoaçante, seguia pela calçada sendo seguido por
uma terceira pessoa, que removeu a boina e a jogou em uma lata de lixo próxima.
—
Chefe, devemos dar um jeito de segui-la?
—
Não — respondeu Giovanni de forma seca, como querendo se desviar do assunto. —Com
certeza nós iremos reencontrá-la. Ela virá até nós. E eu mesmo ensinarei uma
lição a ela. Amanda Green não sabe
com quem está mexendo.
O
homem assentiu com a cabeça e virou a esquina na próxima quadra enquanto
Giovanni seguiu a calçada, rumo ao desconhecido.
***
Os
jornais locais até informariam sobre os eventos ocorridos no prédio da Silph
Company, mas sem dar a atenção devida para o evento, classificado apenas como
um “caso sob sigilo policial”, pois naquela manhã seria transmitido do Planalto
Índigo uma batalha emblemática que era o assunto do momento. O Desafio ao
Campeão, como foi chamado, exibiria a batalha do Líder atual da Liga Pokémon,
Gary Carvalho, que estava invicto há três anos contra um desafiante misterioso.
Havia apostas de que o tal desafiante era Lance, o antigo campeão que agora
estava retornando ao posto, mas o mistério por trás da identidade verdadeira do
treinador era o que causava frisson entre todos.
O
campo de batalhas era no interior do castelo construído no topo da montanha que
dividia duas regiões, dois países distintos: Kanto e Johto. O castelo era
enorme, erguido por entre as montanhas que formavam as principais cordilheiras
da região. As muralhas de pedra que formavam suas colunas robustas eram
preparadas para resistir tanto à passagem do tempo do exterior quanto aos
intensos combates que aconteciam no interior da construção. Ao passar pelos
grandes portões principais, um grande salão amplo com um imenso, largo e grosso
tapete vermelho convidava os treinadores a repor itens essenciais com quiosques
de lojas de departamentos conhecidas ou recuperar a energia dos Pokémon de sua
equipe com a filial local do Centro Pokémon. Dividido em alas, cada área da
Liga Pokémon era construída em um andar diferente com campos de batalha
diferentes e a batalha contra o Campeão costumeiramente era no penúltimo andar
do castelo, em um grande salão com corrimões dourados que guiavam a um campo de
batalha grande, contornado por plataformas que emitiam feixes de luz que faziam
parte do grande evento, o espetáculo conhecido como batalha Pokémon.
De
um lado do campo, um rapaz de cabelos castanhos cujos fios eram arrepiados para
cima e para os lados, dando-lhe uma expressão enérgica, apesar da expressão
séria e exausta. A camiseta estava encharcada de suor e a capa cinza que vestia
demonstrava estar pesada sob seus ombros. Do outro, um homem ruivo que também
ostentava um visual parecido: Cabelos arrepiados e uma capa que esvoaçava
energicamente, como asas prestes a alçar vôo. O blazer laranja que usava em
cima da camiseta preta fazia parecer que o homem trajava pele de dragão, cujas
escamas brilhavam ao refletir os holofotes dispostos no campo de batalha. A
máscara que cobria seu rosto se assemelhava ao rosto de um Dragonair coberto de
cristais. Ele com certeza exibia pompa.
Na
televisão, a narração era dada por uma dupla de comentaristas. O primeiro homem
descrevia as ações de forma enérgica.
—
O atual campeão já teve quatro dos seus seis
Pokémon derrotados, está suando para manter seu Blastoise de pé! Do outro lado
da arena, o desafiante vindo da Cidade de Blackthorn mantém em pé seu segundo
Pokémon, Dragonite, que não dá sinais de que cairá tão cedo! Que batalha
intensa, senhoras e senhores!
—
Realmente, Don, dá pra ver que o atual campeão não estava preparado para as
estratégias que o desafiante trouxe para essa batalha — comentou a segunda voz,
analítica, aparentando estar mais tranquilo do que o colega.
Milhões
de pessoas assistiam a batalha ao vivo pela televisão em diversas cidades pelo
país. Inclusive no interior de Johto, numa cidadezinha chamada New Bark, que
diferente de muitas capitais, não tinha muito movimento, sequer turistas. Ao
invés de caos e buzinas em engarrafamentos, a paz e a tranquilidade reinavam em
absoluto naquele pedacinho de chão.
Era
tudo tão tranquilo que naquela hora da manhã havia poucos estabelecimentos
abertos. Entre os endereços arborizados com calçadas curtas beirando as ruas de
paralelepípedo, casas baixas com muros coloridos, portas de madeira e janelas
floridas, podia-se ver o Mercadinho do Antônio, com frutas verdinhas e frescas expostas
para o lado de fora, recém-colhidas; a padaria da Senhora Kim, que abria todos
os dias pontualmente às seis horas da manhã com a primeira fornada já assada e,
claro, o Bar do Seu Alcides. Diferente da padaria da Senhora Kim ou do
Mercadinho do Antônio, sempre impecáveis para receber seus clientes, o bar do
Seu Alcides parecia abandonado. A última pintura que ele fez na fachada do
estabelecimento foi há pelo menos vinte anos. Em cima da entrada, sequer era
possível ler as letras garrafais “BAR DO ALCIDES” em um amarelo berrante que
agora estava quase invisível. As portas de correr enferrujadas mantinham aberto
o bar que era ponto de encontro na cidade. No balcão que dava de frente para a
rua, havia uma estufa de vidro onde eram expostos lanches naturais e salgados
de que já estavam ali há tanto tempo que até estavam com aparência esquisita. O
balcão de mármore ainda resistia ao tempo, apesar de ter tempo que não recebia
uma boa limpada. Crostas de sujeira
se impregnavam em cada canto possível entre os azulejos trincados da decoração
e os bancos de alumínio enferrujados tinham pedaços de material faltando.
Mesmo
assim, o ambiente ainda era propício para duas pessoas se reunirem em silêncio enquanto
assistiam a batalha sendo transmitida por uma televisão de tubo pequena
colocada em um suporte na parte de cima da parede, na parte superior do balcão.
Um deles mantinha uma vassoura na mão e olhava de forma estática para a tela.
Era um senhor, já por volta dos 70 anos de idade, calvo, cujos cabelos
acinzentados nas laterais da cabeça eram desarrumados, como se tivessem o
hábito de não serem penteados pela manhã. As roupas surradas mostravam furos
causados por traças. Na calça jeans tinham manchas. Ele, porém, não parecia ligar para o estado
das vestes. Afinal de contas, seu Alcides, o dono do bar, já vira tanta coisa acontecer
que estar com roupas impecáveis para tocar o estabelecimento com certeza não era uma prioridade.
Em
contrapartida, havia um garoto de treze anos sentado em um dos bancos de
acrílico. Em relação à bancada de mármore, era baixinho. Seu tórax mal passava
da altura do balcão. Os cabelos azul-petróleo eram rebeldes e tinha uma longa
franja que chegava à ponte do seu nariz. Usava uma camiseta lisa na cor azul e
shorts xadrez amarelo. Seus chinelos balançavam incessantemente no apoio para
os pés. Estava tão vidrado na partida que não conseguia colocar na boca o
canudo da lata de refrigerante que bebia, então seus lábios formaram um
biquinho que não puxava líquido algum.
Quando
o Blastoise de Gary foi declarado fora de combate e restava apenas um Pokémon
para ele, o silêncio no bar foi quebrado pelo mais velho.
—Você
acha que ele ainda tem alguma chance de virar o jogo? — perguntou Alcides,
apoiado na vassoura, coçando o queixo. — Nem parece que é o mesmo garoto que
enfrentou o Red anos atrás.
Antes
de responder, o garoto puxou pelo canudo uma última vez o que restara
refrigerante da latinha. Um barulho alto e irritante surgiu por conta do
recipiente vazio, seguido por um breve arroto.
—
Faz tempo que o “neto do Carvalho” não mostra a que veio. Parece que se
esconder atrás do fato de ser parente de alguém importante é o que resta pra ele
— disse. — Pode perceber que as últimas partidas dele foram ganhas todas na
sorte. Com um campeão desses no cargo, até eu que nunca tive um Pokémon na vida tenho chance de
ganhar também.
Alcides soltou ar pelo nariz e revirou os olhos. Era
engraçado ouvir uma criança daquela idade falar como um adulto, como se realmente soubesse do que estava
falando.
—
E do que você entende de batalhas Pokémon, Ethan?
—
Com certeza mais do que você, velhote.
Alcides
segurou o cabo da vassoura com força, como uma arma.
—
Ah, pronto! Cadê a sua educação, moleque? Quem você pensa que é pra me chamar
de velho! Sua mãe não lhe ensinou a respeitar os mais velhos?
Ethan
colocou a lata vazia de refrigerante em cima do balcão de mármore, pulou do
banco em direção ao chão e encarou o dono do bar com uma expressão debochada e
as duas mãos na cintura.
—
Estamos falando de batalhas Pokémon ou de como a minha mãe me educou? E por que
eu não posso chamar o senhor de velho? O senhor é velho, seu Alcides. Quando o senhor nasceu, New Bark ainda era só Bark!
Alcides
levantou a vassoura e partiu em direção a Ethan, que começou a correr em
direção à calçada e entrou de volta no bar tentando se desviar do velho. Ele
não admitia crianças mal educadas em seu estabelecimento. E Ethan adorava dar
respostas atravessadas a velhos que enchiam o saco.
Uma
garota caminhava alegremente pela calçada. Ela parou de forma abrupta ao ver a
cena que acontecia no Bar do Alcides. Ethan, ao sair outra vez do bar para
correr na calçada, também parou ao dar de cara com a menina. Logo, fechou a
cara. Tudo nela o irritava. A começar
pelo macacão azul de alças largas cafonas que em nada combinava com a camisa de
manga longa vermelho escarlate que ela usava. Sem falar nos cabelos castanhos
amarrados em maria-chiquinhas. Quem ainda amarrava
o cabelo em maria-chiquinhas e ainda botava uma boina branca em cima? O tipo típico
de vizinhas chatas e cafonas. E aquele era exatamente
o caso de Lyra, a vizinha chata e cafona de Ethan.
Alcides
também parou. Mas no caso dele, foi
devido ao cansaço. Um senhor da idade dele não dava conta de correr atrás de
pivetes por muito tempo.
—
Ora, ora, ora... Se não é o Ethan caçando encrencas com o doce Senhor Alcides
de novo! — disse Lyra olhando Ethan de cima a baixo com um forte desdém no
olhar.
—
Ora, ora, ora se não é a trouxa da Lyra de novo — respondeu Ethan de forma
debochada.
Lyra
não gostou do comentário do rapaz.
—
Que tipo de cavalheiro você é? Não é
assim que se fala com uma dama!
—
E eu lá tenho cara de Rapidash pra ser cavaleiro?
Eu não sou cavalo, eu sou menino!
—
Um menino idiota! — exclamou Lyra dando a língua.
Ethan
fechou os punhos e a cara.
—
Eu é que não vou ficar aqui sendo obrigado
a ouvir esse tipo de absurdo vindo desse tipinho de gente, ta legal? Eu vou pra casa que eu ganho mais.
—
Não vai, não! — exclamou Alcides. — Antes você vai pagar o guaraná que você
tomou!
—
Pendura na conta, velhote — respondeu Ethan já virando de costas, rumo à saída.
— “Pendurar na conta”? Você sabe em quanto já está a sua conta comigo? Hein?
Um toque telefônico fora
ouvido. Do braço de Lyra, um relógio. Ou o que Ethan pensou que fosse um
relógio. Na verdade, era um relógio,
mas era também um telefone. E um
mapa. E um rádio. Era o Pokémon Gear,
um dispositivo eletrônico moderno que estava na moda entre os jovens
ultimamente. Jovens que tinham condições de ter um, o que não era o caso de
Ethan. Era um dos motivos pra ele detestar
Lyra também. Ela sempre aparecia com
algum trambolho de última geração para se exibir por aí.
A menina atendeu e a voz do
outro lado da linha fez Ethan paralisar onde estava.
—
Lyra? Está me ouvindo? Alô, Lyra?
—
Oi, tio Elm! Estou sim.
—
Você já comprou os pães que eu pedi?
—
Ah, ainda não... Eu estou chegando na padaria da Senhora Kim.
—
Ah, sim... Olha, eu preciso que você
retorne o mais rápido possível. Estou precisando de ajuda com alguns Pokémon
aqui.
Lyra
surpreendeu-se quando Ethan brotou em sua frente, agarrando seu braço e
levando-o até próximo da boca.
—
Professor Elm? Professor Elm! Aqui é o Ethan! O senhor lembra de mim?
—
Ethan? — chamou a voz do outro lado
da linha. — O nosso vizinho?
—
Sim, eu mesmo! Posso ajudar o senhor com os Pokémon também? Por favor!
—
Ah, claro que sim! É sempre bom contar
com ajuda de alguém disposto como você!
Lyra
fechou a cara.
—
Tio, o senhor quer mesmo esse garoto
ajudando a gente? — indagou a garota. — Ele nunca foi no laboratório, como que
ele pode ajudar? Ele é bagunceiro!
—
Eu não sou, não! — retrucou Ethan.
—
É sim! — exclamou Alcides no interior do bar.
Elm
riu ao telefone.
—
Se ele está querendo se aproximar dos
Pokémon é essencial começar do básico. E aqui no laboratório, você pode fazer
isso com segurança. Estarei aguardando você e a Lyra.
—
Mas... Mas... — balbuciou a menina.
—
Não se esqueça dos pães, querida! —
orientou Elm antes de desligar.
***
O
nome “Tohjo” era formado pela última sílaba do nome “Kanto” e a primeira parte
do nome “Johto”. O rio que banhava a Rota 27 ganhara esse nome porque, assim
como a montanha que dividia as duas regiões, começava em Johto e seguia seu
fluxo até terminar na região de Kanto. Assim como seu nome, os dois países
vizinhos, unidos pela mesma cordilheira, eram como as sílabas, que mesmo separadas
e retiradas de dois nomes distintos, uniam-se sob um só, como o Rio Tohjo e a
montanha que o cercava.
Histórias
que terminavam em Johto costumavam ter continuidade em Kanto, e vice-versa. Naquela
manhã, o sol brilhava a pino, o céu estava azul e não havia qualquer motivo
para aquele rapaz estar andando com um capuz pelas margens do rio, em direção a
um cais onde diversas embarcações descansavam embaladas pelo movimento das
águas. O rapaz não era muito alto, mas andava com rapidez, desviando das pedras
e das atenções. Tentava conter, com relativa frustração, que uma mecha do seu
cabelo ruivo escapasse pelo capuz preto e entregasse sua verdadeira identidade. É
como dizem, as paredes têm ouvidos e as janelas, olhos. Todo cuidado é pouco.
Um
velho marinheiro repousava em seu barco pesqueiro. Não era um barco muito
grande, mas tinha tamanho bastante para que ele pudesse deitar de corpo rechonchudo
inteiro. Mantinha um quepe no rosto para proteger os olhos da forte luz do sol
e repousava a cabeça em um grosso blazer branco, talvez usado por ele em dias
de navegação no frio.
Portanto,
o marinheiro não percebeu o garoto encapuzado aproximando-se de seu barco.
—
Bom dia — chamou ele, sem obter resposta.
O
marinheiro levantou no susto quando sentiu algo sendo jogado no barco, entre
suas pernas. Agora era possível ver seu rosto. A barba branca por fazer e as
olheiras indicavam que aquele homem não dormia há dias.
—
O que pensa que está fazendo?! — perguntou o marinheiro em um tom de irritação,
tentando acomodar a luz do dia através dos seus olhos com o auxílio das mãos.
—
Preciso chegar em New Bark e quero que o senhor me leve com seu barco.
—
Eu tenho barco pesqueiro, não um
iate, moleque. Eu carrego peixes, não gente.
—
Eu não estou pedindo um favor. Eu estou pagando
para que o senhor me faça um serviço.
O
homem olhou entre as pernas e viu um maço grosso de cédulas de dinheiro. Rapidamente
levantou-se e pegou-o, contando-o imediatamente.
—
Mas isso é... Muito dinheiro! Onde você conseguiu isso, menino? Você roubou?
—
O dinheiro não é roubado, não se preocupe. E então? Vai me levar até onde eu
pedi ou não? — perguntou o rapaz encapuzado.
O
marinheiro olhou desconfiado para o rosto do garoto que pareceu desconfortável,
descendo ainda mais o capuz para esconder o que podia da sua face. Mas, após
alguns segundos, deu um sorriso amarelo.
—
Claro, claro, meu jovem. Podemos ir até New Bark sem problemas. Suba, por
favor.
...
O
laboratório do professor Elm começava a partir de um casarão com dois andares.
A construção era de madeira e o telhado verde trazia um charme rústico que
apenas uma construção do interior do país conseguia exibir. A escolha da cor era
interessante, pois quase a fazia se fundir e camuflar com as árvores do bosque
bem ao fundo da propriedade que beijavam os pés da montanha que se erguia imponente.
Havia
um belo gramado amplo onde alguns Pokémon que Ethan não sabia o nome se
encontravam brincando entre si. Lyra, como sempre querendo fazer o papel de
sabichona, dissera que aqueles Pokémon eram dois Sentret e dois Hoppip. Eram
quatro ao todo e, ainda por cima, pareciam formar dois pares de casais. Ethan
não conseguiu imaginar um casal de Pokémon namorando. Eles iriam botar o quê? Ovos? Até parece.
Apesar
de tudo, ele não conseguiu esconder a euforia de estar vendo Pokémon tão de
perto.
—
Eu só tinha visto esses Pokémon pela Rota 29, quando às vezes eu vou com a
minha mãe em Cherrygrove! O único Pokémon que eu convivo é o Sandshrew dela,
então é interessante ver outros assim de pertinho!
—
Meu tio Elm costuma ter vários exemplares de Pokémon no laboratório por causa
das pesquisas dele, eu mesmo já vi um montão deles! — exclamou Lyra estufando o
peito e colocando as duas mãos na cintura, em um ar convencido. Ethan fechou a
cara.
Ah,
sim. Era sempre bom mostrar para Ethan que ela
sim tinha motivos para se achar superior nas coisas, apesar de saber que as
discussões entre eles eram apenas por conveniência. Ele provocava, ela
respondia. E assim a relação dos dois foi sendo construída.
Lyra
subiu as escadas que davam para a porta principal e tocou a campainha. Chegou a
olhar para o interior do local através das amplas janelas e logo abriu um
sorriso ao notar alguém se aproximando.
O
homem que abriu a porta era alto, magro e esguio. Seus cabelos eram curtos e
castanhos e levemente espetados e tinha também um nariz fino cujos óculos de
aros redondos deslizava teimosamente por ele. Ethan notou que ele, como um bom
cientista, vestia um jaleco branco por cima da roupa, que era uma camiseta
verde lisa e calças cáqui que, olhando melhor, era um conjunto bem... Brega.
Ele
esqueceu, porém, qualquer detalhe sobre as vestes do professor quando este lhe
dirigiu um sorriso simpático.
—
Bom dia, Ethan! Seja bem-vindo ao meu laboratório. Por favor, entre!
A
sala de entrada era ampla. As janelas grandes permitiam a entrada de luz
natural que mostravam sem nenhum pudor que o interior do laboratório era uma
bagunça organizada. Nas mesas de madeira, papéis e pastas jaziam abarrotados,
livros estavam abertos com anotações e equipamentos de pesquisa, como tubos de
ensaio e aparelhos de medição. Computadores estavam ligados e as telas exibiam
arquivos de texto que Ethan não conseguiu ler sobre o que eram. Ele nunca havia
visitado o laboratório de Elm, mesmo ficando a poucas quadras de sua casa,
então tudo era novidade para o garoto. Seguia o corredor em direção aos fundos
da casa e admirava-se com quadros de Pokémon, prateleiras que exibiam PokéBolas
dos mais diversos tipos, lombadas de livros gastas, diagramas e anotações em
lousas, entre outras coisas.
Mas,
talvez a coisa mais impressionante que havia dentro do laboratório fosse uma
estátua de médio porte exibida no centro do lugar, após o corredor de imagens e
prateleiras. Esculpida na imagem, duas aves distintas que se cruzavam como se
estivessem em um confronto no ar. Um dos Pokémon era majestoso, cujas asas
enormes lembravam mãos abertas, tinha uma cabeça pontiaguda, pescoço fino e se
assemelhava a algo como um pássaro que se fundiu com um dragão. Suas costas
mostravam protuberâncias que, junto com seu corpo liso, passavam a sensação de
ser uma criatura aerodinâmica.
A
segunda figura parecia com uma fênix. Suas asas pareciam um estandarte, como um
pavão, possuía um bico curto e uma longa crista emplumada no topo da cabeça e
longas penas na cauda. Seu olhar, mesmo sendo apenas uma estátua, eram
penetrantes e, de alguma forma, pareciam vivos.
Na
base, uma breve inscrição: “Aqui se encontram representados, segundo descrições
das antigas populações de Johto, o Guardião dos Mares, Lugia, e o Guardião dos
Céus, Ho-Oh”.
—
O que acha? — perguntou Elm para o garoto.
—
ELES SÃO DEMAIS! — exclamou Ethan com um berro, antes de se desculpar,
constrangido. — Eles existiram mesmo?
—
É o que eu ando querendo descobrir. Lugia e Ho-Oh são objetos de estudo da
minha atual pesquisa. Diz a lenda que eles originaram outros Pokémon lendários
e sequer precisaram de ovos pra isso — disse o professor.
Ethan
parou por alguns segundos para refletir sobre o que havia ouvido.
—
Então os Pokémon são originados... De ovos? — perguntou o menino. — Então quer
dizer que quando a minha mãe me faz um pão com ovo... EU TÔ COMENDO UM POKÉMON?!
Ethan
começou a sentir ânsia de vômito. Elm, no entanto, foi mais rápido.
—
Não, não! Os ovos que nós humanos comemos não tem nada a ver com os ovos que os
Pokémon colocam ao se reproduzir! — E sentiu um alivio imediato quando Ethan
respirou fundo e pareceu se acalmar. Pelo menos não haveria vômito de crianças no
chão do laboratório. — A reprodução dos Pokémon é a minha área de pesquisa.
Gostaria de saber de onde eles vêm.
Atrás
de Elm, algo chamou a atenção de Ethan. Era uma mesa de madeira próxima a uma
janela grande onde três PokéBolas descansavam. Comparado com grande parte do
laboratório, era até engraçado ver que aquelas simples cápsulas estavam
impecáveis.
—
E aquilo ali?— perguntou o garoto apontando para as três esferas sobre a mesa.
—
São três Pokémon que estou cogitando entregar para três novos treinadores
Pokémon.
—
Pokémon?! Posso ver? — os olhos do menino brilharam.
—
Claro! Lyra, você poderia colocar eles pra fora, por favor?
A
menina meneou com a cabeça meio a contragosto, mas se dirigiu à mesa e pegou
com cuidado a primeira PokéBola, apertando seu botão central de trava.
O
primeiro Pokémon era um ser quadrúpede com um longo corpo de pêlos curtos
verde-claro e uma única folha verde grande no topo de sua cabeça, que era
proporcionalmente maior do que seu corpo. No seu pescoço, havia brotos
verde-escuros e encarava Ethan com curiosidade, através de seus grandes olhos
vermelhos brilhantes. Um suave cheiro de grama emanava de sua folha.
— Essa é a Chikorita, um Pokémon do tipo Grama — apresentou Lyra. — Ela usa a folha da cabeça dela pra checar a umidade do ar e a temperatura do ambiente e, além de ser um Pokémon muito gentil, adora absorver os raios do sol. Tipo fotossíntese.
—
Caramba Lyra, você realmente entende muito de Pokémon — elogiou Ethan sem
perceber o que tinha feito por estar focando a atenção no Pokémon a sua frente.
— Prazer em conhecer você, Chikorita!
Lyra
ficou levemente envergonhada. Resolveu então respirar fundo e seguir para a
segunda PokéBola.
Um
raio vermelho materializou no chão um segundo Pokémon. Dessa vez, a criatura
era bípede e seu corpo era repleto de pêlos azulados na parte superior que
também tinham quatro círculos vermelhos em suas costas e, aparentemente, seu
ventre e toda a parte inferior de seu corpo não tinha pêlo algum, era possível ver
que a sua pele era cor de creme. Seus olhos eram fechados, não se podia
ver suas pupilas, mas mesmo assim Ethan teve a impressão de que aquele Pokémon
era um pouco mais tímido que Chikorita. Seus braços curtos balançavam de forma
inquieta, como se estivesse ansioso para sair logo dali.
—
Este é Cyndaquil, um Pokémon do tipo Fogo — anunciou a menina. — Ele é um pouco
mais tímido. Tá vendo os círculos nas costas dele? É de onde ele consegue
explodir chamas para usar seus golpes, como o Ember. Parece até que ele usa uma carapaça de espinhos, é
muito legal!
—
Olá, Cyndaquil, muito prazer! — cumprimentou Ethan com brilho nos olhos. — Você
é muito da hora!
Quando
a terceira cápsula se abriu, um terceiro Pokémon surgiu completamente diferente
dos outros dois. Ele era bastante hiperativo, saltava no lugar sob as duas
pernas e parecia muito feliz de estar
fora da PokéBola. Ele parecia um crocodilo pequeno e as mandíbulas abertas em
um sorriso exibiam dentes afiadíssimos. Ostentava manchas pretas ao redor dos
olhos, uma mancha em um formato que se assemelhava à letra “V” em um amarelo
chamativo que se estendia até seus bracinhos e uma fileira de espinhos
vermelhos nas costas que iam até a ponta de sua cauda.
— Este é o Totodile, um Pokémon do tipo Água — comentou a menina. — Eu falei pro meu tio que esse Pokémon é completamente maluco... A mandíbula dele é forte porque ele morde tudo e a todos sem exceção. Acho que até o treinador que ficar com ele deve ficar atento pra não ter dor de cabeça...
Ethan
agachou-se para cumprimentar o Pokémon.
—
Olá, Totodile. É um prazer conhecer você!
O
garoto levou a mão para tentar acariciar a cabeça da criatura que tentou
abocanhar de brincadeira a mão do menino, que foi pego de raspão.
—
Ai! — exclamou o garoto.
—
Eu avisei... — comentou Lyra para o colega com uma expressão de julgamento.
Elm
caminhou até a mesa e retornou os três Pokémon para as suas respectivas
PokéBolas, colocando-as novamente de forma impecável em cima da mesa próxima à
janela.
—
Fico feliz que você não tenha medo dos Pokémon, Ethan. Parece até que você já
lida com eles há algum tempo.
—
Eu gosto de Pokémon! Minha mãe era treinadora e tem o Sandshrew dela que mora
com a gente. Estar perto de outros tipos me faz imaginar quantos outros Pokémon
existem pelo mundo. Seria legal ver todos um dia. Em New Bark não tem nada pra fazer!
O
professor riu com o comentário do menino.
—
O mundo Pokémon é muito grande e bem maior do que New Bark. Mas saber que você
gosta deles já me deixa tranquilo para contar com a sua ajuda no laboratório.
—
Com qual tipo de Pokémon você precisa de ajuda, professor Elm? — perguntou
Ethan.
—
Ah, sim. São os Pokémon lá do jardim. Vocês poderiam vir comigo, por favor?
O
trio caminhou tranquilamente pelos corredores em direção à sala de entrada do
laboratório. Ethan admirou-se uma segunda vez pela estátua e seguiu com um
sorriso no rosto.
No
entanto, um barulho de vidro quebrando chamou a sua atenção.
—
O que foi isso? — perguntou Elm, retornando com os dois jovens para o local de
onde tinha ouvido o som do suposto vandalismo.
Havia
alguém em frente à mesa onde instantes antes, as três PokéBolas de Cyndaquil,
Chikorita e Totodile estavam sendo exibidas. Não se conseguiu ver seu rosto, ele
usava um capuz preto para esconder sua identidade. Ao ouvir passos se
aproximando, logo tratou de voltar por onde tinha entrado: Uma janela grande
que dava para o exterior do laboratório.
Foi
Ethan quem primeiro viu a figura sair pela janela, mas foi Lyra quem apontou
que estava faltando uma PokéBola em cima da mesa, para desespero de Elm.
—
N-não pode ser! Roubaram um Pokémon! — exclamou o professor em desespero. —
Rápido, vamos até o lado de fora para ver se conseguimos alcançá-lo!
Mas,
quando se deu conta, viu Ethan correr em direção à mesa e pegar uma outra
PokéBola. Lyra gritou pelo seu nome, mas o garoto correu em direção à janela e
se jogou em direção à rua.
Ele
caiu torcendo o pé no processo. Seu pulso arranhou e alguns pedaços de vidro
arranharam suas canelas e braços, mas ele pareceu não sentir dor. Viu a figura
encapuzada correr em disparada pela calçada e ergueu-se rápido para persegui-la
como pôde.
—
AÍ, DEVOLVE ESSA POKÉBOLA, SEU LADRÃOZINHO SAFADO! — berrou o garoto.
Que
vacilo. O rapaz encapuzado fora visto.
Ele
continuou correndo o mais rápido que pode, abrindo grande distância em relação
ao seu perseguidor.
Ethan
começou a sentir o peso de não ter um porte atlético. Seu gás estava acabando e
ele via o ladrão encapuzado se afastar cada vez mais.
O
garoto apertou o botão central da PokéBola e liberou seu Pokémon. Qual foi sua
surpresa ao ver Cyndaquil materializar-se em sua frente? O Pokémon aparentou
estar confuso.
—
Cyndaquil, a gente mal se conhece, mas aquele cretino ali acabou de roubar um
parceiro seu do laboratório e precisamos dar um jeito nisso! — exclamou Ethan
para a criatura a sua frente que pareceu entender a urgência da situação,
assentindo com a cabeça.
Das
costas do Pokémon, uma explosão de chamas ardeu e fez Ethan soltar uma
exclamação sonora. Cyndaquil correu em disparada na direção do ladrão encapuzado
e chamas ardentes foram disparadas de sua boca.
Acontece
que o capuz do ladrão era longo. Vinha até um pouco abaixo de suas coxas e o
fogo de Cyndaquil pegou em seu tecido. Levou alguns instantes para que o rapaz
percebesse o que aconteceu e, em desespero, removesse-o de sua cabeça.
Foi
quando Ethan viu que o ladrão tinha longos cabelos ruivos e lisos, bagunçados
pelo capuz que o cobria e pelo vento que soprava. Vestia roupas que se
assemelhavam a um uniforme de cor azul-escuro de gola alta e com listras
verticais em vermelho na jaqueta do uniforme. A calça estava chamuscada pelo
golpe direto que levara. O capuz se desfazia em chamas na calçada e Ethan
percebeu que ele era um pouco mais velho e mais alto que ele.
Mas
o olhar de ódio que o garoto deu ao encarar Ethan mudou o foco da sua atenção.
—
Eu vou fazer você se arrepender de ter se metido onde não foi chamado.
O
ruivo apertou o botão central da cápsula da PokéBola e um brilho vermelho tomou
a forma de um Pokémon que fez Ethan e Cyndaquil hesitarem por um instante.
Quando
Totodile apareceu, ainda mantinha a postura hiperativa, pulando sobre as duas
patas. Mas, ao perceber Cyndaquil e Ethan do outro lado da rua, sua expressão
ficou sombria.
Ele
estava pronto para o combate.
Quem é o misterioso ladrão ruivo e qual é o seu objetivo com Totodile? Como Ethan e Cyndaquil se sairão em seu primeiro combate juntos? As respostas virão com as próximas Aventuras em Johto!
TO
BE CONTINUED...
























