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- Capítulo 75
I - O
Sonho
Com um breve aceno de
cabeça, Ethan se despediu de Forrest, que permanecia parado na frente da porta
ao lado de Sunny e Tuscany. O garoto virou-se de costas, em direção à estrada,
e caminhou alguns metros, sem olhar para trás para ver o aceno dado pelas
moças. Elaine hesitou por um instante, mas Chase arrumou o boné em sua cabeça e
virou-se para o trio na porta.
— Muito obrigado por nos
deixar passar a noite. Espero vê-los de novo algum dia.
Elaine olhou para Forrest
ainda com a expressão incrédula.
— Você realmente vai ficar,
tio? Por quê?
O rapaz olhou para a menina
e sorriu.
— Acho que nós precisamos
de uma pausa.
— “Nós”? — repetiu Elaine.
— Eu acho que ele não está
falando da gente — disse seu irmão.
Forrest confirmou com a
cabeça.
— Eu preciso ficar para
acertar algumas coisas.
— Você não pode acertar
enquanto viaja com a gente? — insistiu Elaine.
— Não é um adeus, Elaine, é
um até logo.
— Mas, mas...
Chase segurou na mão da
irmã e a puxou para junto de si. Elaine permanecia olhando para Forrest que a
encarava ainda com um sorriso terno no rosto enquanto via os irmãos se
afastarem da casa.
— Você tem certeza de que
quer ficar? — perguntou Sunny, tocando o rosto do garoto.
— Tenho. Preciso de um
tempo só pra me entender comigo.
— Você pode ficar o tempo
que quiser.
— Eu agradeço — respondeu o
moreno dando um selinho na moça.
Tuscany olhou para os dois
com certo desprezo.
— Se você lavar a louça
todo dia, eu até deixo você ficar mesmo.
— Tus! — Repreendeu
Tuscany.
— Ela está certa. Eu posso
até fazer o almoço, se vocês quiserem.
— Não precisa...
— Agora você está falando a minha língua, cunhado! — exclamou
Tuscany, passando o braço atrás dos ombros de Forrest e o levando para dentro
da residência.
O moreno ainda não sabia como reagir à decisão de ficar. Parecia
estranho olhar para as paredes do lugar que nos próximos dias seria a sua
residência; pelos últimos meses, quando não estava dormindo em colchonetes nas
rotas entre cidades, estava dividindo um quarto no Centro Pokémon com Ethan e
Amy antes de seguir viagem no dia seguinte. Já tinha o hábito de chegar e
partir e demoraria algum tempo para se acostumar com a nova rotina.
Sunny abraçou o namorado, parecendo ler seus pensamentos.
— Se você quiser seguir viagem com seus amigos, está tudo bem. Eu não
quero te prender e—
— Eu escolhi ficar. Eu acho
que Cherrygrove é um ótimo lugar pra eu começar a treinar. Estou precisando
disso.
— E a gente tá precisando de um bom cozinheiro — comentou Tuscany,
recebendo um olhar de desaprovação da irmã. — Que foi? É verdade, ué.
Forrest riu.
— Não se preocupe, eu vou fazer um almoço caprichado hoje.
***
O mês de julho acabou e deu espaço para agosto entrar com uma leve
melhora no clima. As noites ainda eram frias, claro, mas quando amanhecia, o
sol brilhava forte e espantava os ventos gélidos da madrugada. Forrest era o
primeiro a sentir porque dormia no sofá — muito a contragosto de Sunny, que
gostaria que ele ao menos fosse dormir no quarto de visitasque ele dividira com
Ethan nas primeiras noites. No entanto, o rapaz acordava um pouco antes do
nascer completo do sol e preparava-se para sair, então queria evitar ao máximo
incomodar as garotas.
Durante os dias seguintes, a rotina seria a mesma: Depois de tomar uma
xícara de café extraforte sem açúcar, ele saía e caminhava a pé em direção à
Rota 29 e seguia rumo ao norte, na divisa com a Rota 46 que dava visão para as
montanhas que, quilômetros ao longe, escondiam a cidade de Blackthorn. O moreno
então passava a correr montanha acima, o máximo que conseguia. Nos primeiros
dias, a resistência do seu corpo era baixa e o impedia de subir muito mais do
que alguns metros. Apesar de ter cruzado a região de Johto a pé, nada se
comparava com subir uma montanha íngreme correndo. Forrest se lembrara do
rígido treinamento com seu tio Bruno no Monte Mortar e tentara replicar sozinho
algumas das coisas que foram passadas a ele. Precisava aumentar a resistência
do seu corpo. Ser resistente como o Tipo Pedra.
Ao voltar para casa no fim da manhã, ele tomava um banho, fazia o
almoço para Sunny e Tuscany e logo se aprontava para sair outra vez. Ele
dedicava a parte da tarde para o treinamento de sua equipe, separando três
Pokémon diferentespor dia para praticar novas estratégias nas montanhas.
Um dos Pokémon, sempre revezando entre Rocky, o Steelix, Graveler ou
Rhydon, era usado para auxílio no treino de algum outro Pokémon que não fosse
tão forte, além de servir para proteçãodos perigos iminentes que podem existir
em uma cordilheira. O garoto anotava em um caderno as observações que fazia durante
os treinos.
Quarta-feira, dia 01/08.
Treinei
Sudowoodo e Heracross. Melhorar
mira para usar o Low Kick do Su e Brick Break do Hera. Acho que dá pra
fazer uma boa combinação entre esses dois golpes.
Quinta-feira, dia 02/08.
Hoje foi a vez
de Phanpy e Shuckle. Já tem um tempo que não uso Shuckle, mas aparentemente
estamos nos dando bem. Phanpy
ainda precisa se enturmar melhor com o resto da equipe.Preciso arrumar
um jeito do Phanpy não ficar tonto ao usar o Rollout...
Sexta-feira, dia 03/08.
Dia dos
grandões. Rocky parece estar bem mais ágil, mas preciso fazer com que o Rock Throw seja ainda mais forte.
Rhydon está afiado como sempre no Stomp, então precisamos só aumentar sua resistência
um pouco mais. Graveler está cada vez mais dedicado a fazer o Magnitude tremer cada vez mais
forte — espero que a montanha não desabe :p
Em todos os dias, quando via que o sol estava para se pôr, Forrest
retornava para Cherrygrove, deixava seus Pokémon para serem tratados pela
Enfermeira Joy e então seguia para a casa de sua namorada, onde após um segundo
banho, fazia o jantar para as anfitriãs, lavava a louça e, cansado, desabava no
sofá, esperando o dia seguinte para repetir todo o processo.
Em seu sono pesado, sequer imaginava que Sunny o observava com certa
tristeza.
— Por que você passa os dias aqui e me deixa sozinha, só pensando em
treinar...? — questionou ela em um sussurro.
...
II -A
Fantasia
No final daquela semana, o relógio de Forrest tocou pela manhã. Aquele
sábado seria diferente, não seria um sábado de treinamento. Seria um sábado que
ele dedicaria a um encontro com Sunny.
Na noite anterior, ela tomou coragem para conversar com seu namorado e
dizer que gostaria que ele dedicasse um tempo a ela. Ele, claro, deu razão.
Forrest preparou um piquenique para três pessoas. No entanto, Tuscany
não quis participar do passeio, alegando que tinha um encontro também com um boy bonitinho que conhecera no Alômomolado, um famoso aplicativo de
relacionamentos.
O dia estava convidativo. Apesar do típico clima de outono, com o sol
que brilhava forte e a brisa fria que soprava arrepiando a pele das pessoas, nada
parecia estragar o dia. Forrest e Sunny caminharam de mãos dadas até a praia e
logo encontraram um lugar para fazer seu piquenique. Como não havia quase
ninguém, aquilo havia sido uma tarefa bem fácil. Crianças preferiam brincar na
praça, poucos se arriscavam em encarar a brisa gélida de sunga, biquini ou
maiô. Colocaram uma toalha xadrez sob a areia e colocaram sobre ela as cestas
com os mantimentos preparados. Não demorou muito para que a comida e os lanches
fossem organizados por eles.
Aquele seria um bom dia.
Os treinadores até mesmo liberaram seus Pokémon das PokéBolas.
Enquanto eles brincavam, o casal ria e comia.
Aquele, com certeza, seria um bom dia.
Entre beijinhos e abraços, eles conversavam sobre o futuro.
— Onde você se vê daqui a dez anos? — perguntou Sunny.
— Essa é fácil! Eu espero estar sendo um bom líder de Ginásio lá em
Pewter.
— Pewter, né? Parece uma cidade legalzinha.
Forrest percebeu o sutil tom de desaprovação de Sunny, mas nada disse.
Aquele ainda seria um dia bom.
— E você? Onde se vê daqui dez anos?
— Espero que estar estudando sobre os Pokémon... Quero ser uma
referência como pesquisadora, sabe? Viajar o mundo e saber quantos Pokémon
diferentes existem por aí...
Forrest sorriu.
— Eu acho esse um baita sonho legal!
— E eu espero que você esteja comigo também.
O garoto ficou envergonhado.
— E-eu também espero.
Aquele acabou sendo um dia bom no final das contas.
***
Em relação à rotina, a próxima semana foi idêntica, começando no domingo.
Forrest subia a montanha todos os dias pela manhã, tentando escalá-la cada vez
mais alto e trabalhando a resistência de seu corpo. Durante a tarde, treinava
sua equipe e voltava já bem tarde para casa. No sábado, passava parte do seu dia
com Sunny, enquanto Tuscany sempre inventava algo pra fazer — era impressionante
como ela era desenrolada.
Era 18 de agosto, também um sábado. Naquela semana, os resultados de
treinamento já estavam mais evidentes. Forrest já aparentava ter um físico diferente.
Estava mais magro, seu rosto tinha afinado um pouco e seu abdômen estava levemente
definido. Sunny o achava ainda mais atraente.
O encontro deles naquele sábado começou numa barraquinha de
cachorro-quente do Sr. Iwata, um velho senhor que ficava sempre no mesmo local
no centro da cidade a pelo menos 50 anos e conhecia praticamente todos os moradores
daquele local bucólico e sabia diferenciar cada Pidgey que vivia empoleirado no
galho das árvores que cercavam a praça central.
O casal caminhou com as mãos ocupadas. Uma segurava gentilmente a do
parceiro e a outra, um cachorro-quente completo para cada. Caminharam a passos lentos
em direção a um banco vazio da pracinha e sentaram-se um do lado do outro.
— Acho engraçado como estou morando aqui há três semanas e a impressão
que eu tenho é que o tempo não passou — comentou Forrest depois de dar a última
mordida, olhando reflexivo para a orla da praia.
— Como assim?
— O Sr. Iwata por exemplo. Sempre no mesmo lugar, há tantos anos,
conversando com as mesmas pessoas. Sempre parece que tem as mesmas folhas
caídas no chão. Já parou pra pensar nisso?
Sunny olhou ao redor com uma expressão reflexiva.
— Acho que não... Pra mim sempre foi assim.
— Johto sempre me passou uma vibe
meio interiorana... As cidades de Kanto
sempre foram mais movimentadas. Pewter por exemplo, apesar de não ser imensa
como a capital, foi construída no pé do Monte Lua, assim como Cherrygrove
também, aos pés dessa cordilheira que forma o Monte Prateado e o Planalto
Índigo. Mas lá tem problemas de cidade grande... Trânsito, filas, poluição... É
diferente.
— Se tem uma coisa que Kanto tem, é poluição — disse Sunny em tom de
deboche. Forrest riu.
— Mas tem seu charme também.
Sunny ficou alguns segundos calada antes de perguntar.
— Até quando você pretende correr atrás dessa coisa de ser Líder de
Ginásio de Pewter?
Forrest olhou para a garota com as sobrancelhas arqueadas.
— Como assim?
— Desde que você passou a ficar em casa que nunca tem tempo pra ficar
comigo, você só vai treinar e treinar e volta cansado... Eu entendo seu
objetivo de ser um Líder de Ginásio, mas...Por que você não pode concorrer a
uma vaga para alguma cidade de Johto e pega um pouco mais leve?
— Porque Pewter é a minha cidade natal. E meu irmão, Brock, que é o
atual líder é o meu maior ídolo. Eu quero ser como ele. Tão forte que eu possa
vencê-lo e herdar o cargo dele e honrar o legado que ele construiu. Preciso ser
forte.
— Mas, você não acha que Johto é uma região melhor que Kanto pra isso?
Quero dizer, você que disse da vibe
interiorana... Menos pessoas pra disputar com você.
Forrest deu de ombros.
— Assim fica melhor, eu acho. Ter um desafio é sempre bom.
— É que eu não vou morar em
Pewter — disse Sunny com firmeza.
O moreno se virou com seriedade.
— Mas eu não tô pedindo pra você ir morar em Pewter.
— Então você vai namorar comigo como?
— Mas isso não é um impedimento...
— Mas é pra mim!
Os dois ficaram se olhando. Ela com a testa frisada. Ele, com as
sobrancelhas arqueadas, surpreso.
— Então está bem. Você tem razão.
Sunny ergueu as sobrancelhas e relaxou os ombros.
— Tenho?
— Sim. É um impedimento pra você.
— Que bom que você entende... Eu achei que você ficaria chateado.
— Meu sonho é um impedimento pra você. Eu entendi.
Sunny levantou-se de supetão e colocou-se na frente do garoto.
— Pera... Não foi isso o que eu disse.
— Eu sei. Não é sobre você, é sobre mim.
O garoto se levantou do banco e dirigiu-se até uma lixeira próxima,
onde jogou os restos do cachorro-quente. Limpou as mãos e voltou-se para Sunny.
— Eu não quero estragar o nosso dia. Podemos falar sobre isso depois?
— C-claro... Não tem problema algum. Me desculpe se eu falei algo que
não devia...
— Tá tudo bem, sério. Não esquenta com isso.
O garoto sorriu. Sunny se forçou um sorriso. Estava evidente que
aquela conversa não seria continuada ali.
O resto da tarde passou de maneira estranha. Forrest estava mais
quieto e Sunny sentia o clima estranho no ar, apesar do namorado não ter
deixado de ser gentil com ela em momento algum. Ela esperava poder se explicar
com ele o quanto antes sobre o que havia dito.
Não é que ela não apoiava o
sonho de Forrest.Ela sabia o quanto ele era dedicado e o quão incrível ele
seria como Líder de Ginásio. É que ela pensava em se casar e não queria viver
em uma cidade muito longe da natureza. Pewter era cercada por uma montanha, mas
os Pokémon que ali viviam não eram exatamente
objetos de estudo muito interessantes em sua opinião. O Monte Lua era
conhecido por ser o lar de hordas e mais hordas de Zubat em toda a sua
extensão. Zubat!
Só de imaginar os guinchos agudos daqueles morcegos cegos, Sunny já se
arrepiava inteira.
Se Forrest quisesse se casar com ela, ele poderia considerar viver em
outro lugar em que pudesse exercer o cargo dos sonhos e onde ela poderia viver
satisfeita fazendo suas pesquisas. Estudar variedades maiores de Pokémon. Uma
vida simples, mas feliz.
Ela esperava que Forrest ao menos considerasse a ideia.
Já era fim de tarde quando o casal retornou para casa.Fizeram o
caminho todo de mãos dadas, o que era um bom sinal. Apesar do silêncio de
Forrest, Sunny já não se sentia tão mal.
Naquela noite, Forrest não dormiu. Seus pensamentos estavam naquela
tarde, ouvindo em looping as coisas
que ouvira de Sunny. Ele gostava dela, mas será que estaria disposto a largar
os seus sonhos para que pudesse fazer as vontades dela? Até onde valia a pena
abrir mão de tudo por causa de alguém?
Como todos os domingos, o cheiro do café se espalhava pela casa e
perfumava o ambiente, impregnando cada cômodo como fumaça e fogo, mas tão suave
quanto uma brisa. A novidade foi que Sunny, ao sair do quarto, viu Forrest
sentado na mesa, encarando a xícara de café sem piscar.
— Bom dia, amor. Que surpresa te ver aqui ainda, achei que você já
tinha saído para treinar...
— Bom dia. Eu ainda vou, é só que eu não consegui pregar o olho
durante a noite e eu... Bem, estou tentando não ficar cansado.
Sunny mordeu o lábio.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não — respondeu ele prontamente. — Está tudo bem.
Dito isso, o garoto virou a xícara de café, dirigiu-se até o sofá e
pegou sua mochila. Voltou até onde Sunny se encontrava e aproximou-se dela,
dando-lhe um beijinho e retirou-se pela porta, em direção às montanhas para
mais uma sessão de treino intensivo. O coração dela batia forte, seja por
apreensão, seja por paixão.
***
Quando agosto chegou ao fim e deu lugar para o primeiro dia de
setembro, houve mudanças na rotina de Forrest. Naquela última semana, não houve
piqueniques ou encontros com Sunny. O seu físico também estava visivelmente
diferente. As veias em seus braços estavam saltadas, o garoto estava mais
magro, mas ainda assim, aparentava estar mais forte. Apesar do clima ameno de
fim de inverno, ele estava mais bronzeado pelos treinos debaixo do sol nas
montanhas. Suas pernas estavam um pouco mais torneadas também. Quando começou
seu treinamento, Forrest mal conseguia subir mais do que alguns metros sem se
cansar.Agora, ele já se orgulhava de conseguir enxergar os prédios da Cidade de
Blackthorn quilômetros acima das montanhas, o pico do Monte Prateado a leste e
as pequenas cidadelas lá embaixo no sopé, próximos ao mar, incluindo
Cherrygrove e New Bark.
Além disso, não temia mais os perigos que habitavam por entre as
cavernas ao redor. Seus Pokémon cresceram em nível e tiveram alterações
significativas em seus movesets. O
diário de Forrest mantinha registros cada vez mais detalhados e o garoto se sentia
pronto para o seu próximo desafio: A exibição da Batalha da Fronteira em
Ecruteak.
Ele precisava apenas resolver uma única questão que estava lhe
incomodando há dias. Por isso, naquela quinta-feira à noite, ele se sentou com Sunny
para conversar. O ar estava pesado. Ele nunca tinha entrado no quarto dela —
por mais que ela tivesse o convidado algumas vezes. Quase todas as paredes eram
brancas, exceto a que estava encostada a cama da menina, que era cor de rosa. Na
parede em frente à cama, uma janela quadrada que à noite era escondida por uma
grossa cortina cinza. Ao lado, uma mesa onde se encontrava um notebook e alguns
papéis. Na parede oposta, em cima da cabeceira, parte do armário do
guarda-roupas, que se estendia por toda extensão das paredes e terminava em
outro armário, aberto, onde alguns livros de diversos assuntos eram guardados.
Ao lado da porta, de frente para a cama, uma penteadeira branca com gavetas que
tinham diversos produtos de maquiagem, algumas escovas de cabelo e um grande
espelho.
— Bonito — comentou o garoto ao terminar de dar um giro com a cabeça.—
Nunca entrei no quarto de uma menina antes, exceto no das minhas irmãs em casa.
— Não tem nada demais. É só um quarto, como qualquer outro.
— A diferença é que tem cheiro do seu perfume nele, né? — E sorriu,
deixando Sunny sem graça.
— Eu não quero nem ver o que a Tuscany vai dizer se ver a gente aqui.
— Ela pode ficar tranquila, eu não vou fazer nada.
— Bem que eu queria...
— Hã?
— Nada. Esquece, tô pensando alto. Enfim, sobre o que é que você
queria conversar?
— É que chegou a hora de eu viajar pra Ecruteak. É lá que meus amigos
estão.
— Por que não me falou antes? Você pode esperar até amanhã? Me dê um
tempo pra eu poder arrumar as minhas malas e...
— Não precisa vir junto. Eu vou sozinho.
Sunny fechou os punhos e baixou a cabeça. Forrest falou antes que ela
pudesse dizer alguma coisa.
— Eu gosto muito de você.
Pra caramba, mesmo. E eu não estou terminando
com você. Bem, pelo menos eu não pretendo.
A menina não pôde deixar de soltar um suspiro aliviado. Olhou para o
moreno com os olhos marejados, mas segurou as lágrimas.
— Mas acho que eu cumpri o meu objetivo aqui e eu sou grato por você e
a sua irmã terem me recebido tão bem nessas últimas semanas... Sei que eu fui
ausente e falhei com você muitas vezes por optar por ir treinar ao ficar com
você.
Sunny fungou antes de abrir um sorriso tímido.
— Não foi tão ruim... Eu aproveitei para trabalhar na pesquisa que
estou fazendo para o Professor Elm...
— Essa pesquisa é muito importante pra você, assim como é para o
Professor. Então não seria justo eu te pedir pra abandoná-la aqui e agora pra
você viajar comigo.
Houve um instante de silêncio onde os dois se encararam. Sunny sabia onde
Forrest queria chegar.
— Assim como seria injusto eu te pedir pra ficar e abandonar os seus
sonhos.
O garoto sorriu.
— Não se trata de abandonar os sonhos, refazer os planos... Acho que
fantasiar muito perde a graça, então por que a gente não realiza os nossos
sonhos, cada um à sua maneira, e depois a gente se junta pra fazer um sonho
novo?
Sunny desviou o olhar.
— Me desculpa por eu ser tão egoísta.
— Você não é egoísta. Só acho que esteja com medo de não ser ouvida.
Eu sempre vou te ouvir e considerar o
que você diz. Mas nesse momento, eu acho melhor a gente terminar o que
começamos antes do nosso namoro e então ver que tipo de coisas a gente pode
estar fazendo um pelo outro. Juntos.
Ela sorriu. Em seguida, o abraçou forte, tão forte que podia sentir o
coração dele pulsar contra si.
— Eu vou morrer de saudades.
— Eu também. Mas eu sei que logo nós nos veremos.
— Cada um com seu sonho...
— E com novos planos!
...
III - O Plano
21 de setembro era a data em que estava marcado o início do Festival
Ouro e Prata, na cidade de Ecruteak. Sunny e Tuscany saíram no dia 19 e vieram
de carro até a cidade, junto com o Professor Elm, que fizera questão de
acompanhá-las. Afinal, não era todo dia que se tinha a oportunidade de se ver —
e até mesmo estudar — alguns Pokémon que muitas vezes só se podia ver
pessoalmente em grandes festivais assim.
E, claro, o outro principal motivo de Tuscany acompanhá-los era para
conhecer pessoas novas com as quais pudesse flertar e sair.Não precisava nem ao
menos ser solteira, ela fazia as próprias prioridades.
Sunny permanecia ansiosa para encontrar Forrest. Fazia semanas que não
o via, desde que ele partira de Cherrygrove rumo à Ecruteak. Ela imaginava que
o encontraria no Centro Pokémon, mas a única informação que obteve foi que
havia saído com um outro adolescente com roupas desarrumadas que usava um boné
para trás. Pela descrição, ela imaginara ser Ethan. E se os dois estavam
juntos, muito provavelmente saíram para treinar.
O centro médico estava em polvorosa. Espalhados pelas paredes do Centro
Pokémon, havia diversos pôsteres e anúncios sobre o evento que aconteceria ali há
poucas horas. O Festival de Ouro e Prata, que anualmente celebrava a chegada da
primavera, teria como evento de abertura a presença dos integrantes da Batalha
da Fronteira, que estava para ser inaugurada na Região de Johto. Anualmente, a
competição é estabelecida em uma região diferente do planeta. Apesar de muitos
treinadores considerarem o desafio à Elite dos Quatro como o maior de suas
vidas, a Batalha da Fronteira era vendida como um nível acima de dificuldade,
onde apenas os treinadores mais bem-avaliados e capacitadosdo mundo recebiam
convites para desafiar as instalações e seus Cérebros — título dado ao treinador-líder
de cada instalação.
Johto, no próximo ano, irá sediar o formato com cinco instalações, que
serão construídas em cinco cidades diferentes: Olivine com a Torre,Cianwood com
o Arcade, Blackthorn com o Castelo, Violet com a Fábrica e na própria Ecruteak,
onde o Salão de Batalha seria erguido. As fronteiras destas cidades com o
oceano, as montanhas e florestas foram consideradas ideais para proporcionar um
maior desafio aos competidores que vierem até as locações.
Além dos comentários sobre os desafios, um segundo burburinho tomava
conta do saguão do Centro Pokémon. Uma batalha ocorreria na praça central entre
um desafiante e um Cérebro de Fronteira.
— Esse cara tá morto — disse um.
— Pelo menos dá pra ver que tem coragem — comentou outro.
— Será que essa batalha vai ser de verdade ou vai ser só demonstração
e enrolação? — questionou outra.
— Acho melhor a gente ir logo pra lá antes que a gente fique sem lugar
bom. Eu não quero perder nenhum detalhe dessa humilhação — zombou um,
procurando sair do saguão e sendo seguido por alguns.
A curiosidade de Sunny falou mais alto e ela logo tratou de se colocar
no meio das pessoas e tentar enxergar o motivo do falatório. Não conseguiu
abafar o grito de surpresa quando viu, exposto sob um cavalete, um retrato de
Forrest e, ao lado, o de uma outra mulher, mais velha. O cartaz trazia uma
grande mensagem em letras garrafais e cores chamativas.
UMA AMOSTRA DA BATALHA DA FRONTEIRA!
Venha conferir o que a
Batalha da Fronteira reserva para você nesta batalha!
Um jovem treinador foi
corajoso o bastante de desafiar um dos Cérebros,
a líder do Salão de
Batalha de Ecruteak City,
ARGENTA, a Dama do Salão!
21 de Setembro, às
15:30h, na Praça Central!
Faltavam quase quarenta e cinco minutos antes do início da batalha. Sunny
se esforçou para sair do meio daquela roda de muitas pessoas o quanto antes para
se locomover o mais rápido possível até o local onde a batalha ocorreria.
***
Ensurdecedor. Essa era a descrição mais precisa sobre onde Sunny
estava envolvida. Ela sequer conseguia ouvir os próprios pensamentos. A praça
estava cheia. Pessoas, inclusive, subiam em árvores procurando o melhor lugar
para assistir aquele confronto. Outros usavam de seus Pokémon como apoio para
obter uma boa visão da praça. Todos estavam ansiosos e faziam apostas sobre o
provável resultado da batalha que se sucederia em poucos instantes. O perímetro
estava cercado também por um alambrado que permitia separar as pessoas do que
acontecia na batalha, uma questão primordial de segurança.
Um homem calvo surgiu na praça. Ele visivelmente estava acima do peso
e a camisa florida azul-piscina que usava não ajudava a disfarçar a pança. Mas
ele não parecia se preocupar com isso. Mesmo de óculos escuros, dava pra ver
que seus olhos brilhavam de satisfação ao encarar o público presente. Estava
com um microfone em mãos e, com um sorriso, o levou à boca.
— Boa tarde, Cidade de Ecruteak!
O homem foi respondido com uma imensa ovação.
— Meu nome é Scott e eu estou muito feliz de estar aqui hoje, trazendo
para a maravilhosa região de Johto o projeto da Batalha da Fronteira! E é aqui
em Ecruteak que uma das instalações que eu mais gosto será construída. E,
liderando ela, a nossa maravilhosa Argenta, a Dama do Salão!
A mulher, sozinha, já era um acontecimento. Ela era mais velha, tinha
por volta dos cinquenta, quase sessenta anos de idade. Ela caminhou para o meio
da praça tal qual alguém da realeza, com o queixo erguido e firmeza em seus
passos, quase como se desfilasse. A poeira erguia-se das pontas de seus sapatos
altos. A jaqueta vermelho-escarlate de couro dava à figura um quê de jovialidade. Encarou o público e
tirou seus óculos escuros e seus olhos rubros se destacaram. O público presente
foi ao delírio. Ela não precisava dizer nada, eles estavam completamente em
suas mãos.
— Eu confesso a vocês que quando ele me pediu para lutar contra
Argenta, eu o chamei de maluco. Mas, ao mesmo tempo, que oportunidade melhor de
mostrar todo o poder de um Cérebro de Fronteira do que em uma batalha para todo
mundo ver? Argenta quando soube, lembrou-se desse mesmo desafiante, meses atrás
e o resultado vocês imaginam. Agora ele retorna para uma revanche, será que o
resultado será diferente? Vamos conferir AGORA! Com vocês, o nosso desafiante,
vindo diretamente da Cidade de Pewter, em Kanto: Forrest!
Quando ele entrou, não houve vaias. O público que assistia aplaudiu
calorosamente e incentivava o garoto com assovios e gritos. Era realmente um
sopro de vitalidade. Muitos ali reconheciam a coragem que Forrest estava tendo
de encarar tudo aquilo. Sunny sentiu um calafrio no estômago quando o viu
cruzar firmemente a praça para encarar Argenta. Ele não olhou para o público,
mantinha-se visivelmente concentrado. Ela ficou feliz por perceber que ele não
estava nervoso. Seu incômodo maior era ouvir bochichos maldosos de algumas
pessoas atrás dela. Sunny, no entanto, era uma pessoa de estatura pequena e,
devido à quantidade de pessoas concentradas ali, ela não conseguia ver os
autores deles. No entanto, ela não escondia a cara feia.
— Muito bem — anunciou Scott. — Eis aqui presentes os nossos
treinadores. As regras são simples: Apenas um Pokémon para cada lado. Sem limite de tempo. Em caso de empate, o
vencedor será aquele que tiver causado o maior dano no oponente. Em seus
lugares... Start!
Argenta foi a primeira a liberar seu Pokémon e Forrest tinha
lembranças muito vívidas dele. Reconheceria aquelas lâminas afiadas, os olhos
pequenos e frios nas laterais da cabeça em formato de disco em meia-lua, a
carapaça dura como abdômen... Kabutops
encarou o garoto com certa malicia, como se já esperasse que o humilharia outra
vez.
Forrest sacou uma cápsula e apertou seu botão central. De dentro dela,
saiu uma criatura grande, bípede, que carregava uma concha de pedra e rocha sob
suas costas, tão dura que era dito que não se podia arranhá-la nem com uma
explosão de dinamite. A cabeça, braços e pernas saíam de dentro da concha e
mostravam garras e presas afiadas que reluziam sob a luz do sol. Golem
sustentava o olhar de ameaça de Kabutops sem medo de encará-lo. Sunny não sabia
de onde ele havia conseguido aquele Golem. Será que o Graveler havia evoluído?
O plano do garoto era muito simples: Ele poderia até cair — porque não
esquecera que sua oponente é formidável —, mas ele cairia atirando.
Sunny observava tudo de forma apreensiva. Ela estava tão nervosa que
não percebeu quando Tuscany chegou por trás dela e deu um tapinha no ombro
esquerdo da menina, que se assustou.
— Te achei! Agora sim essa treta pode começar! — disse a menina.
Próximo delas, uma criança sentada nos ombros do pai olhava vidrado
para a praça. Um enorme sorriso fazia o menino mais encantador do que ele já
era.
— É ele, pai, é ele! — exclamava o menino apontando o dedo para
Forrest.
Argenta e Forrest continuavam a se encarar. Nenhum dos dois parecia
com pressa de começar a batalha. A mais velha não via qualquer tipo de
hesitação em relação ao oponente mais novo, o que a fez dar um leve sorriso.
— Ora, ora... Você parece mudado. Não é mais tão simples ler seus
movimentos.
O garoto sorriu.
— Aprendi muito com a nossa última batalha. Eu venho treinando desde
então para o dia de hoje.
— Veremos o quanto. Waterfall.
Os olhos de Kabutops emitiram um brilho azulado e as grandes lâminas
que possuía rasgaram o chão, onde uma coluna de água surgiu com violência. A
poderosa torrente de água realmente fazia parecer uma cachoeira que tinha seu
fluxo inverso, de baixo para cima. O Pokémon de Argenta mergulhou na corrente e
rapidamente apareceu no topo dela, mirando em Golem que aguardava paciente o
comando de seu treinador. As lâminas de Kabutops desviaram o fluxo de água em
direção ao oponente e aproximava-se com velocidade.
— Stone Edge! — bradou o
rapaz.
O braço de Golem emanou uma aura azul e em um piscar de olhos, o
Pokémon deu um soco no chão. Grandes pilares pontiagudos de pedra surgiram do
chão, rasgando-o como um pedaço de papel, chocando-se com a cachoeira de
Kabutops e desviando o fluxo da água para as laterais. De bônus, ainda atingiu
o queixo do Pokémon fóssil, pegando-o desprevenido.
O público foi à loucura. Berravam como loucos, completamente eufóricospelo
que estavam assistindo. Batiam na tela do alambrado e gritavam palavras de
incentivo para ambos treinadores.
— Kabutops, Night Slash!
As lâminas do Pokémon de Argenta brilharam em uma coloração púrpura e
partiu com velocidade na direção das colunas de pedras anteriormente invocadas
por Golem, cortando-as e rapidamente destruindo a proteção do Pokémon de
Forrest, que se escondia por trás delas.
— Rock Slide!
— Rollout!
Uma das lâminas de Kabutops rasgou o solo e grossas pedras
levantaram-se e, enquanto eram arremessadas com a outra lâmina, Golem começava
a girar ao redor do próprio eixo, como uma roda que ia acelerando cada vez mais.
No entanto, ele não saía do lugar. Uma nuvem de poeira se ergueu e começou a
cobrir tanto Golem, quanto Kabutops. A nuvem, outrora uma leve camada de poeira,
foi ficando cada vez mais densa e maior, o que impedia a visão no campo de
batalha.
Do seu lado do campo, Argenta não esboçava reação alguma. Apenas
desceu seus óculos de volta para os olhos para protegê-los.
— Abaixe a poeira com Waterfall!
Kabutops voltou a romper o chão com uma forte torrente de água que passou
a abaixar a nuvem de poeira. A visão do campo começou a ficar limpa, mas só era
possível ver um dos Pokémon nele: O que pertencia a Argenta.
— Rock Blast! — gritou
Forrest.
O chão debaixo de Kabutops explodiu e um segundo buraco apareceu. Pedras
e rochas espalhavam-se pelo céu e pelas laterais e voavam junto com Kabutops.
Golem surgiu do primeiro buraco do chão e urrou ameaçadoramente.
Argenta apontou para o seu Pokémon no céu e deu um grito.
— Ancient Power!
Kabutops despencava em direção ao chão. No entanto, ao invés de cair
ao chão, ele girou no ar e mergulhou em direção ao solo. Suas lâminas tornaram
a cortar o chão e pedras envoltas em uma aura púrpura surgiram do subterrâneo e
foram disparadas em direção à Golem, que fora atingido em cheio.
O Pokémon fóssil pousou no chão e encarou o oponente. Golem estava
todo sujo, mas não estava disposto a arredar o pé um passo sequer.
— Night Slash!
As lâminas de Kabutops brilharam ameaçadoramente em uma aura púrpura e
o fóssil partiu veloz em direção à Golem. O Pokémon de Forrest curvou-se para a
frente e cruzou os braços à frente do corpo aguardando o impacto.
Forrest pensou rápido. Apesar de seu Pokémon ter sofrido alguns danos
na batalha, era evidente que Kabutops estava bem mais prejudicado. Ele ia para
o tudo ou nada.
Com um sorriso, estendeu a mão em direção à Golem, que olhou para o
treinador e pareceu entender exatamente
o que teria de fazer. Seus olhos brilharam, quase de forma demoníaca e voltou a
encarar o Kabutops que estava mais rápido e mais forte, devido aos status aumentados pelo Ancient Power usado anteriormente.
— Agarre-o! — gritou o moreno.
Kabutops rasgou o ar e a caixa torácica de Golem. Apesar da dor, o
Pokémon de Forrest agarrou os membros superiores do oponente e girou-o no ar.
Golem pulou e se colocou por detrás de Kabutops, segurando-o em um abraço
mortal pelas costas.
Quando Forrest gritou o próximo golpe, pareceu que o mundo ao redor
parou. Sunny ergueu as sobrancelhas em completa surpresa. O queixo de Tuscany
veio ao chão. As ovações da plateia silenciaram. O sorriso triunfante de Scott
sumiu em um instante.
E, finalmente, Argenta esboçou uma reação. Uma reação de surpresa que
a fizera desmontar da pose ereta e séria e erguer a cabeça, afrouxando o tronco
e abrindo os dedos das mãos.
— Explosion!
Não se sabe exatamente o que aconteceu em seguida. Algo deu errado.
Uma reação química originou uma energia que fez explodir a concha de
pedras de Golem enquanto este agarrava Kabutops, que não conseguiu reagir. Um
dos destroços da concha voou longe, uma pedra aquecida pela energia acumulada
do golpe que cortou o ar e quebrou uma janela de uma casa a poucos metros de
distância.
A casa explodiu. Um breve zunido agudo antecipou o som da explosão em
cadeia, não deu tempo de ninguém fugir. O chão que havia embaixo da residência
cedeu e um enorme buraco abriu-se na rua, sugando outras casas para dentro.
Novas explosões, casas sendo destruídas em cadeia.
Na praça, estilhaços, berros e gritos. Pessoas sangravam e tropeçavam
em corpos sem vida no chão. Um bueiro explodiu a alguns metros da praça,
atingindo o público que assistia à partida. Som de sirenes podia ser ouvido ao
longe, mas não se via nada um metro a frente devido à fumaça negra das
explosões.
A base da Torre do Sino explodiu e começou a pegar fogo. Por ser feita
de madeira, o choque da explosão fez com que ela, lentamente, passasse a cair
em direção ao solo, atingindo pelo menos quatro quarteirões devido ao seu
enorme tamanho. As árvores de folhas alaranjadas que enfeitavam a bonita Trilha
do Sino que levava à torre quase milenar passaram a queimar e, muito em breve,
sucumbiriam ao solo.
Forrest não ouvia nada exceto um zumbido no ouvido. Também não
enxergava nada, visto que tudo ao seu redor estava em chamas e a fumaça cobria
a sua visão.
Percebeu que estava deitado, não sabia onde. Ao olhar para o corpo,
viu uma enorme estaca de madeira que atravessara a sua coxa. Havia sangue
escorrendo e, ao ver aquela cena, deu um berro.
E então, desmaiou.
Assim que recobrasse a consciência, estaria não só com uma tala na
perna esquerda, parte do corpo queimado e se recuperando de um traumatismo
craniano, mas também algemado numa cama de hospital. Os policiais que vigiavam
o quarto lhe dariam a notícia de que, assim que recebesse alta, seria conduzido
à cadeia pelo crime inafiançável de Terrorismo.
TO BE CONTINUED...





















