Archive for November 2025

Notas do Autor (Mente de Cristal I)

 

Sim, AeJ é tão plágio de AeS que eu mais uma vez copiei o Canas e dividi a temporada em duas partes.

O Aventuras em Johto, este blog aqui, completa exatos dez anos este ano, da data que escrevo esse texto (Novembro/2025). Em dez anos, muita coisa mudou. Quando eu ganhei esse blog de presente, eu mal tinha chegado aos vinte anos de idade. Agora, estou quase beirando os 30, apesar de ainda frustrar meus amigos com piadas de quinta série. Mentira, boa parte deles ainda fazem parte da quinta série comigo. Os primeiros 60 anos da vida de um homem adulto são sempre os mais difíceis. Mas uma hora, a gente amadurece kkkkk.

 

E, antes de começarmos, é bom avisar que é muito provável que eu vá dividir essas notas em duas partes. Tem muita coisa pra contar a respeito desses dez anos.

 

Aqui, agora, falaremos sobre Mente de Cristal — Parte 1 que, olhem só, terminou em Novembro de 2025, dia 13, que é o mesmo mês que sua antecessora, Alma de Prata, terminou também lá em 2018, com uma semana de diferença, no dia 22. De acordo com as minhas anotações originais, Mente de Cristal era pra ter sido concluída neste mesmo capítulo 75 no começo de 2019. Mal sabia eu que eu jamais iria cumprir esses prazos que eu mesmo me dei. Não por ser preguiçoso, mas porque a vida adulta me cobrou muitas coisas que eu não pude deixar de lado e escrever o Aventuras em Johto foi ficando cada vez mais difícil. Percebe-se pelos longos hiatus entre os capítulos que começaram na metade da segunda temporada, no Capítulo 39 (que causou traumas em muitos kkkk) e foram ficando cada vez mais comuns desde então, alguns levando MAIS DE UM ANO (!!!) entre um capítulo e outro (e sinto muito por isso, de verdade). Até mesmo o Canas Ominous, um dos maiores amigos e incentivadores que eu tenho, pensou que eu ia desistir. Mas, para orgulho geral da nação, cá estamos nós. Pode passar o tempo que for e continuamos escrevendo e desenvolvendo nossos personagens. Talvez demore mais uns dez anos (esperamos que não!), mas seguimos acreditando na ideia de que essa história será concluída. E eu sei que ela será. Me cobre!

 

Falando nessa temporada... Ela começou com um Ethan entregando a então namorada, Amanda Green, para a Equipe Rocket, com o auxílio de Forrest e terminou com o grupo separado e uma explosão terrorista em uma das maiores cidades do país causada por um personagem principal. Que beleza, não? Eu sei que vocês provavelmente ficaram tão surpresos quanto eu escrevendo. Eu sempre digo que AeJ se escreve sozinha. Ela dita como as coisas devem ser escritas e eu apenas a ouço. Apesar do começo tenso, ela teve momentos muito marcantes. Ethan conseguiu sua oitava insígnia (mesmo tendo que enfrentar Clair numa revanche após abandonar sua equipe inteira de Pokémon por estar sendo um grande babaca — um mero detalhe, se me permite), a entrada de Chase e Elaine como protagonistas e a relação estranha deles com o Ethan (pois ele, aparentemente, é pai deles em algum tempo futuro), Forrest tendo uma participação muito maior na história... Nesses quase sete anos escrevendo e publicando Mente de Cristal, eu aprendi muito e os personagens cresceram demais. E agora, chegamos em um ponto chave em que a história está chegando em seu ápice narrativo. Me lembro de uma madrugada, lá em 2015, quando ainda existia o Skype, quando eu contei sobre esses planos finais para o ShadZ e o Canas. Algumas coisas mudaram, outras evoluíram, e nós seguimos com a expectativa de fazer uma Segunda Parte (que retorna em Fevereiro/2026) ainda mais marcante para você, leitor, e eu realmente espero não estragar tudo kkkkk Não tem como voltar atrás. Prometi pro Canas que jamais iria refazer a história, dar reboot ou reescrever o começo e sigo cumprindo. Pelo menos... Até agora. Mas isso é assunto de outras Notas do Autor...

 

Enfim. Obrigado por ter me acompanhado nessa trajetória. Nós seguimos rumo aos dez anos de blog e uns 15 de história, no geral. Crescemos juntos, nos emocionamos juntos e eu fico muito feliz por fazer parte da sua vida como você faz parte da minha. Vamos descobrir juntos quais serão as próximas Aventuras em Johto?

 

See ya!


Capítulo 75

 

I - O Sonho

 

Com um breve aceno de cabeça, Ethan se despediu de Forrest, que permanecia parado na frente da porta ao lado de Sunny e Tuscany. O garoto virou-se de costas, em direção à estrada, e caminhou alguns metros, sem olhar para trás para ver o aceno dado pelas moças. Elaine hesitou por um instante, mas Chase arrumou o boné em sua cabeça e virou-se para o trio na porta.

 

— Muito obrigado por nos deixar passar a noite. Espero vê-los de novo algum dia.

 

Elaine olhou para Forrest ainda com a expressão incrédula.

 

— Você realmente vai ficar, tio? Por quê?

 

O rapaz olhou para a menina e sorriu.

 

— Acho que nós precisamos de uma pausa.

— “Nós”?  — repetiu Elaine.

— Eu acho que ele não está falando da gente — disse seu irmão.

 

Forrest confirmou com a cabeça.

 

— Eu preciso ficar para acertar algumas coisas.

— Você não pode acertar enquanto viaja com a gente? — insistiu Elaine.

— Não é um adeus, Elaine, é um até logo.

— Mas, mas...

 

Chase segurou na mão da irmã e a puxou para junto de si. Elaine permanecia olhando para Forrest que a encarava ainda com um sorriso terno no rosto enquanto via os irmãos se afastarem da casa.

 

— Você tem certeza de que quer ficar? — perguntou Sunny, tocando o rosto do garoto.

— Tenho. Preciso de um tempo só pra me entender comigo.

— Você pode ficar o tempo que quiser.

— Eu agradeço — respondeu o moreno dando um selinho na moça.

 

Tuscany olhou para os dois com certo desprezo.

 

— Se você lavar a louça todo dia, eu até deixo você ficar mesmo.

— Tus! — Repreendeu Tuscany.

— Ela está certa. Eu posso até fazer o almoço, se vocês quiserem.

— Não precisa...

Agora você está falando a minha língua, cunhado! — exclamou Tuscany, passando o braço atrás dos ombros de Forrest e o levando para dentro da residência.

 

O moreno ainda não sabia como reagir à decisão de ficar. Parecia estranho olhar para as paredes do lugar que nos próximos dias seria a sua residência; pelos últimos meses, quando não estava dormindo em colchonetes nas rotas entre cidades, estava dividindo um quarto no Centro Pokémon com Ethan e Amy antes de seguir viagem no dia seguinte. Já tinha o hábito de chegar e partir e demoraria algum tempo para se acostumar com a nova rotina.

Sunny abraçou o namorado, parecendo ler seus pensamentos.

 

— Se você quiser seguir viagem com seus amigos, está tudo bem. Eu não quero te prender e—

— Eu escolhi ficar. Eu acho que Cherrygrove é um ótimo lugar pra eu começar a treinar. Estou precisando disso.

— E a gente tá precisando de um bom cozinheiro — comentou Tuscany, recebendo um olhar de desaprovação da irmã. — Que foi? É verdade, ué.

 

Forrest riu.

 

— Não se preocupe, eu vou fazer um almoço caprichado hoje.

 

***

 

O mês de julho acabou e deu espaço para agosto entrar com uma leve melhora no clima. As noites ainda eram frias, claro, mas quando amanhecia, o sol brilhava forte e espantava os ventos gélidos da madrugada. Forrest era o primeiro a sentir porque dormia no sofá — muito a contragosto de Sunny, que gostaria que ele ao menos fosse dormir no quarto de visitasque ele dividira com Ethan nas primeiras noites. No entanto, o rapaz acordava um pouco antes do nascer completo do sol e preparava-se para sair, então queria evitar ao máximo incomodar as garotas.

Durante os dias seguintes, a rotina seria a mesma: Depois de tomar uma xícara de café extraforte sem açúcar, ele saía e caminhava a pé em direção à Rota 29 e seguia rumo ao norte, na divisa com a Rota 46 que dava visão para as montanhas que, quilômetros ao longe, escondiam a cidade de Blackthorn. O moreno então passava a correr montanha acima, o máximo que conseguia. Nos primeiros dias, a resistência do seu corpo era baixa e o impedia de subir muito mais do que alguns metros. Apesar de ter cruzado a região de Johto a pé, nada se comparava com subir uma montanha íngreme correndo. Forrest se lembrara do rígido treinamento com seu tio Bruno no Monte Mortar e tentara replicar sozinho algumas das coisas que foram passadas a ele. Precisava aumentar a resistência do seu corpo. Ser resistente como o Tipo Pedra.

Ao voltar para casa no fim da manhã, ele tomava um banho, fazia o almoço para Sunny e Tuscany e logo se aprontava para sair outra vez. Ele dedicava a parte da tarde para o treinamento de sua equipe, separando três Pokémon diferentespor dia para praticar novas estratégias nas montanhas.

Um dos Pokémon, sempre revezando entre Rocky, o Steelix, Graveler ou Rhydon, era usado para auxílio no treino de algum outro Pokémon que não fosse tão forte, além de servir para proteçãodos perigos iminentes que podem existir em uma cordilheira. O garoto anotava em um caderno as observações que fazia durante os treinos.

 

 

Quarta-feira, dia 01/08.

 

Treinei Sudowoodo e Heracross. Melhorar mira para usar o Low Kick do Su e Brick Break do Hera. Acho que dá pra fazer uma boa combinação entre esses dois golpes.

 

 

Quinta-feira, dia 02/08.

 

Hoje foi a vez de Phanpy e Shuckle. Já tem um tempo que não uso Shuckle, mas aparentemente estamos nos dando bem. Phanpy ainda precisa se enturmar melhor com o resto da equipe.Preciso arrumar um jeito do Phanpy não ficar tonto ao usar o Rollout...

 

 

Sexta-feira, dia 03/08.

 

Dia dos grandões. Rocky parece estar bem mais ágil, mas preciso fazer com que o Rock Throw seja ainda mais forte. Rhydon está afiado como sempre no Stomp, então precisamos só aumentar sua resistência um pouco mais. Graveler está cada vez mais dedicado a fazer o Magnitude tremer cada vez mais forte — espero que a montanha não desabe :p

 

 

Em todos os dias, quando via que o sol estava para se pôr, Forrest retornava para Cherrygrove, deixava seus Pokémon para serem tratados pela Enfermeira Joy e então seguia para a casa de sua namorada, onde após um segundo banho, fazia o jantar para as anfitriãs, lavava a louça e, cansado, desabava no sofá, esperando o dia seguinte para repetir todo o processo.

 

Em seu sono pesado, sequer imaginava que Sunny o observava com certa tristeza.

 

— Por que você passa os dias aqui e me deixa sozinha, só pensando em treinar...? — questionou ela em um sussurro.

 

...


II -A Fantasia

 

No final daquela semana, o relógio de Forrest tocou pela manhã. Aquele sábado seria diferente, não seria um sábado de treinamento. Seria um sábado que ele dedicaria a um encontro com Sunny.

Na noite anterior, ela tomou coragem para conversar com seu namorado e dizer que gostaria que ele dedicasse um tempo a ela. Ele, claro, deu razão.

Forrest preparou um piquenique para três pessoas. No entanto, Tuscany não quis participar do passeio, alegando que tinha um encontro também com um boy bonitinho que conhecera no Alômomolado, um famoso aplicativo de relacionamentos.

O dia estava convidativo. Apesar do típico clima de outono, com o sol que brilhava forte e a brisa fria que soprava arrepiando a pele das pessoas, nada parecia estragar o dia. Forrest e Sunny caminharam de mãos dadas até a praia e logo encontraram um lugar para fazer seu piquenique. Como não havia quase ninguém, aquilo havia sido uma tarefa bem fácil. Crianças preferiam brincar na praça, poucos se arriscavam em encarar a brisa gélida de sunga, biquini ou maiô. Colocaram uma toalha xadrez sob a areia e colocaram sobre ela as cestas com os mantimentos preparados. Não demorou muito para que a comida e os lanches fossem organizados por eles.

Aquele seria um bom dia.

Os treinadores até mesmo liberaram seus Pokémon das PokéBolas. Enquanto eles brincavam, o casal ria e comia.

Aquele, com certeza, seria um bom dia.

Entre beijinhos e abraços, eles conversavam sobre o futuro.

 

— Onde você se vê daqui a dez anos? — perguntou Sunny.

— Essa é fácil! Eu espero estar sendo um bom líder de Ginásio lá em Pewter.

— Pewter, né? Parece uma cidade legalzinha.

 

Forrest percebeu o sutil tom de desaprovação de Sunny, mas nada disse.

Aquele ainda seria um dia bom.

 

— E você? Onde se vê daqui dez anos?

— Espero que estar estudando sobre os Pokémon... Quero ser uma referência como pesquisadora, sabe? Viajar o mundo e saber quantos Pokémon diferentes existem por aí...

 

Forrest sorriu.

 

— Eu acho esse um baita sonho legal!

— E eu espero que você esteja comigo também.

 

O garoto ficou envergonhado.

 

— E-eu também espero.

 

Aquele acabou sendo um dia bom no final das contas.

 

***

 

Em relação à rotina, a próxima semana foi idêntica, começando no domingo. Forrest subia a montanha todos os dias pela manhã, tentando escalá-la cada vez mais alto e trabalhando a resistência de seu corpo. Durante a tarde, treinava sua equipe e voltava já bem tarde para casa. No sábado, passava parte do seu dia com Sunny, enquanto Tuscany sempre inventava algo pra fazer — era impressionante como ela era desenrolada.

Era 18 de agosto, também um sábado. Naquela semana, os resultados de treinamento já estavam mais evidentes. Forrest já aparentava ter um físico diferente. Estava mais magro, seu rosto tinha afinado um pouco e seu abdômen estava levemente definido. Sunny o achava ainda mais atraente.

O encontro deles naquele sábado começou numa barraquinha de cachorro-quente do Sr. Iwata, um velho senhor que ficava sempre no mesmo local no centro da cidade a pelo menos 50 anos e conhecia praticamente todos os moradores daquele local bucólico e sabia diferenciar cada Pidgey que vivia empoleirado no galho das árvores que cercavam a praça central.

O casal caminhou com as mãos ocupadas. Uma segurava gentilmente a do parceiro e a outra, um cachorro-quente completo para cada. Caminharam a passos lentos em direção a um banco vazio da pracinha e sentaram-se um do lado do outro.

 

— Acho engraçado como estou morando aqui há três semanas e a impressão que eu tenho é que o tempo não passou — comentou Forrest depois de dar a última mordida, olhando reflexivo para a orla da praia.

— Como assim?

— O Sr. Iwata por exemplo. Sempre no mesmo lugar, há tantos anos, conversando com as mesmas pessoas. Sempre parece que tem as mesmas folhas caídas no chão. Já parou pra pensar nisso?

 

Sunny olhou ao redor com uma expressão reflexiva.

 

— Acho que não... Pra mim sempre foi assim.

— Johto sempre me passou uma vibe meio interiorana...  As cidades de Kanto sempre foram mais movimentadas. Pewter por exemplo, apesar de não ser imensa como a capital, foi construída no pé do Monte Lua, assim como Cherrygrove também, aos pés dessa cordilheira que forma o Monte Prateado e o Planalto Índigo. Mas lá tem problemas de cidade grande... Trânsito, filas, poluição... É diferente.

— Se tem uma coisa que Kanto tem, é poluição — disse Sunny em tom de deboche. Forrest riu.

— Mas tem seu charme também.

 

Sunny ficou alguns segundos calada antes de perguntar.

 

— Até quando você pretende correr atrás dessa coisa de ser Líder de Ginásio de Pewter?

 

Forrest olhou para a garota com as sobrancelhas arqueadas.

 

— Como assim?

— Desde que você passou a ficar em casa que nunca tem tempo pra ficar comigo, você só vai treinar e treinar e volta cansado... Eu entendo seu objetivo de ser um Líder de Ginásio, mas...Por que você não pode concorrer a uma vaga para alguma cidade de Johto e pega um pouco mais leve?

— Porque Pewter é a minha cidade natal. E meu irmão, Brock, que é o atual líder é o meu maior ídolo. Eu quero ser como ele. Tão forte que eu possa vencê-lo e herdar o cargo dele e honrar o legado que ele construiu. Preciso ser forte.

— Mas, você não acha que Johto é uma região melhor que Kanto pra isso? Quero dizer, você que disse da vibe interiorana... Menos pessoas pra disputar com você.

 

Forrest deu de ombros.

 

— Assim fica melhor, eu acho. Ter um desafio é sempre bom.

— É que eu não vou morar em Pewter — disse Sunny com firmeza.

 

O moreno se virou com seriedade.

 

— Mas eu não tô pedindo pra você ir morar em Pewter.

— Então você vai namorar comigo como?

— Mas isso não é um impedimento...

— Mas é pra mim!

 

Os dois ficaram se olhando. Ela com a testa frisada. Ele, com as sobrancelhas arqueadas, surpreso.

 

— Então está bem. Você tem razão.

 

Sunny ergueu as sobrancelhas e relaxou os ombros.

 

— Tenho?

— Sim. É um impedimento pra você.

— Que bom que você entende... Eu achei que você ficaria chateado.

— Meu sonho é um impedimento pra você. Eu entendi.

 

Sunny levantou-se de supetão e colocou-se na frente do garoto.

 

— Pera... Não foi isso o que eu disse.

— Eu sei. Não é sobre você, é sobre mim.

 

O garoto se levantou do banco e dirigiu-se até uma lixeira próxima, onde jogou os restos do cachorro-quente. Limpou as mãos e voltou-se para Sunny.

 

— Eu não quero estragar o nosso dia. Podemos falar sobre isso depois?

— C-claro... Não tem problema algum. Me desculpe se eu falei algo que não devia...

— Tá tudo bem, sério. Não esquenta com isso.

 

O garoto sorriu. Sunny se forçou um sorriso. Estava evidente que aquela conversa não seria continuada ali.

O resto da tarde passou de maneira estranha. Forrest estava mais quieto e Sunny sentia o clima estranho no ar, apesar do namorado não ter deixado de ser gentil com ela em momento algum. Ela esperava poder se explicar com ele o quanto antes sobre o que havia dito.

Não é que ela não apoiava o sonho de Forrest.Ela sabia o quanto ele era dedicado e o quão incrível ele seria como Líder de Ginásio. É que ela pensava em se casar e não queria viver em uma cidade muito longe da natureza. Pewter era cercada por uma montanha, mas os Pokémon que ali viviam não eram exatamente objetos de estudo muito interessantes em sua opinião. O Monte Lua era conhecido por ser o lar de hordas e mais hordas de Zubat em toda a sua extensão. Zubat!

Só de imaginar os guinchos agudos daqueles morcegos cegos, Sunny já se arrepiava inteira.

Se Forrest quisesse se casar com ela, ele poderia considerar viver em outro lugar em que pudesse exercer o cargo dos sonhos e onde ela poderia viver satisfeita fazendo suas pesquisas. Estudar variedades maiores de Pokémon. Uma vida simples, mas feliz.

Ela esperava que Forrest ao menos considerasse a ideia.

Já era fim de tarde quando o casal retornou para casa.Fizeram o caminho todo de mãos dadas, o que era um bom sinal. Apesar do silêncio de Forrest, Sunny já não se sentia tão mal.

 

Naquela noite, Forrest não dormiu. Seus pensamentos estavam naquela tarde, ouvindo em looping as coisas que ouvira de Sunny. Ele gostava dela, mas será que estaria disposto a largar os seus sonhos para que pudesse fazer as vontades dela? Até onde valia a pena abrir mão de tudo por causa de alguém?

Como todos os domingos, o cheiro do café se espalhava pela casa e perfumava o ambiente, impregnando cada cômodo como fumaça e fogo, mas tão suave quanto uma brisa. A novidade foi que Sunny, ao sair do quarto, viu Forrest sentado na mesa, encarando a xícara de café sem piscar.

 

— Bom dia, amor. Que surpresa te ver aqui ainda, achei que você já tinha saído para treinar...

— Bom dia. Eu ainda vou, é só que eu não consegui pregar o olho durante a noite e eu... Bem, estou tentando não ficar cansado.

 

Sunny mordeu o lábio.

 

— Aconteceu alguma coisa?

— Não — respondeu ele prontamente. — Está tudo bem.

 

Dito isso, o garoto virou a xícara de café, dirigiu-se até o sofá e pegou sua mochila. Voltou até onde Sunny se encontrava e aproximou-se dela, dando-lhe um beijinho e retirou-se pela porta, em direção às montanhas para mais uma sessão de treino intensivo. O coração dela batia forte, seja por apreensão, seja por paixão.

 

***

 

Quando agosto chegou ao fim e deu lugar para o primeiro dia de setembro, houve mudanças na rotina de Forrest. Naquela última semana, não houve piqueniques ou encontros com Sunny. O seu físico também estava visivelmente diferente. As veias em seus braços estavam saltadas, o garoto estava mais magro, mas ainda assim, aparentava estar mais forte. Apesar do clima ameno de fim de inverno, ele estava mais bronzeado pelos treinos debaixo do sol nas montanhas. Suas pernas estavam um pouco mais torneadas também. Quando começou seu treinamento, Forrest mal conseguia subir mais do que alguns metros sem se cansar.Agora, ele já se orgulhava de conseguir enxergar os prédios da Cidade de Blackthorn quilômetros acima das montanhas, o pico do Monte Prateado a leste e as pequenas cidadelas lá embaixo no sopé, próximos ao mar, incluindo Cherrygrove e New Bark.

Além disso, não temia mais os perigos que habitavam por entre as cavernas ao redor. Seus Pokémon cresceram em nível e tiveram alterações significativas em seus movesets. O diário de Forrest mantinha registros cada vez mais detalhados e o garoto se sentia pronto para o seu próximo desafio: A exibição da Batalha da Fronteira em Ecruteak.

Ele precisava apenas resolver uma única questão que estava lhe incomodando há dias. Por isso, naquela quinta-feira à noite, ele se sentou com Sunny para conversar. O ar estava pesado. Ele nunca tinha entrado no quarto dela — por mais que ela tivesse o convidado algumas vezes. Quase todas as paredes eram brancas, exceto a que estava encostada a cama da menina, que era cor de rosa. Na parede em frente à cama, uma janela quadrada que à noite era escondida por uma grossa cortina cinza. Ao lado, uma mesa onde se encontrava um notebook e alguns papéis. Na parede oposta, em cima da cabeceira, parte do armário do guarda-roupas, que se estendia por toda extensão das paredes e terminava em outro armário, aberto, onde alguns livros de diversos assuntos eram guardados. Ao lado da porta, de frente para a cama, uma penteadeira branca com gavetas que tinham diversos produtos de maquiagem, algumas escovas de cabelo e um grande espelho.

 

— Bonito — comentou o garoto ao terminar de dar um giro com a cabeça.— Nunca entrei no quarto de uma menina antes, exceto no das minhas irmãs em casa.

— Não tem nada demais. É só um quarto, como qualquer outro.

— A diferença é que tem cheiro do seu perfume nele, né? — E sorriu, deixando Sunny sem graça.

— Eu não quero nem ver o que a Tuscany vai dizer se ver a gente aqui.

— Ela pode ficar tranquila, eu não vou fazer nada.

— Bem que eu queria...

— Hã?

— Nada. Esquece, tô pensando alto. Enfim, sobre o que é que você queria conversar?

— É que chegou a hora de eu viajar pra Ecruteak. É lá que meus amigos estão.

— Por que não me falou antes? Você pode esperar até amanhã? Me dê um tempo pra eu poder arrumar as minhas malas e...

— Não precisa vir junto. Eu vou sozinho.

 

Sunny fechou os punhos e baixou a cabeça. Forrest falou antes que ela pudesse dizer alguma coisa.

 

— Eu gosto muito de você. Pra caramba, mesmo. E eu não estou terminando com você. Bem, pelo menos eu não pretendo.

 

A menina não pôde deixar de soltar um suspiro aliviado. Olhou para o moreno com os olhos marejados, mas segurou as lágrimas.

 

— Mas acho que eu cumpri o meu objetivo aqui e eu sou grato por você e a sua irmã terem me recebido tão bem nessas últimas semanas... Sei que eu fui ausente e falhei com você muitas vezes por optar por ir treinar ao ficar com você.

 

Sunny fungou antes de abrir um sorriso tímido.

 

— Não foi tão ruim... Eu aproveitei para trabalhar na pesquisa que estou fazendo para o Professor Elm...

— Essa pesquisa é muito importante pra você, assim como é para o Professor. Então não seria justo eu te pedir pra abandoná-la aqui e agora pra você viajar comigo.

 

Houve um instante de silêncio onde os dois se encararam. Sunny sabia onde Forrest queria chegar.

 

— Assim como seria injusto eu te pedir pra ficar e abandonar os seus sonhos.

 

O garoto sorriu.

 

— Não se trata de abandonar os sonhos, refazer os planos... Acho que fantasiar muito perde a graça, então por que a gente não realiza os nossos sonhos, cada um à sua maneira, e depois a gente se junta pra fazer um sonho novo?

 

Sunny desviou o olhar.

 

— Me desculpa por eu ser tão egoísta.

— Você não é egoísta. Só acho que esteja com medo de não ser ouvida. Eu sempre vou te ouvir e considerar o que você diz. Mas nesse momento, eu acho melhor a gente terminar o que começamos antes do nosso namoro e então ver que tipo de coisas a gente pode estar fazendo um pelo outro. Juntos.

 

Ela sorriu. Em seguida, o abraçou forte, tão forte que podia sentir o coração dele pulsar contra si.

 

— Eu vou morrer de saudades.

— Eu também. Mas eu sei que logo nós nos veremos.

— Cada um com seu sonho...

— E com novos planos!

 

...

 

III - O Plano

 

21 de setembro era a data em que estava marcado o início do Festival Ouro e Prata, na cidade de Ecruteak. Sunny e Tuscany saíram no dia 19 e vieram de carro até a cidade, junto com o Professor Elm, que fizera questão de acompanhá-las. Afinal, não era todo dia que se tinha a oportunidade de se ver — e até mesmo estudar — alguns Pokémon que muitas vezes só se podia ver pessoalmente em grandes festivais assim.

E, claro, o outro principal motivo de Tuscany acompanhá-los era para conhecer pessoas novas com as quais pudesse flertar e sair.Não precisava nem ao menos ser solteira, ela fazia as próprias prioridades.

Sunny permanecia ansiosa para encontrar Forrest. Fazia semanas que não o via, desde que ele partira de Cherrygrove rumo à Ecruteak. Ela imaginava que o encontraria no Centro Pokémon, mas a única informação que obteve foi que havia saído com um outro adolescente com roupas desarrumadas que usava um boné para trás. Pela descrição, ela imaginara ser Ethan. E se os dois estavam juntos, muito provavelmente saíram para treinar.

O centro médico estava em polvorosa. Espalhados pelas paredes do Centro Pokémon, havia diversos pôsteres e anúncios sobre o evento que aconteceria ali há poucas horas. O Festival de Ouro e Prata, que anualmente celebrava a chegada da primavera, teria como evento de abertura a presença dos integrantes da Batalha da Fronteira, que estava para ser inaugurada na Região de Johto. Anualmente, a competição é estabelecida em uma região diferente do planeta. Apesar de muitos treinadores considerarem o desafio à Elite dos Quatro como o maior de suas vidas, a Batalha da Fronteira era vendida como um nível acima de dificuldade, onde apenas os treinadores mais bem-avaliados e capacitadosdo mundo recebiam convites para desafiar as instalações e seus Cérebros — título dado ao treinador-líder de cada instalação.

Johto, no próximo ano, irá sediar o formato com cinco instalações, que serão construídas em cinco cidades diferentes: Olivine com a Torre,Cianwood com o Arcade, Blackthorn com o Castelo, Violet com a Fábrica e na própria Ecruteak, onde o Salão de Batalha seria erguido. As fronteiras destas cidades com o oceano, as montanhas e florestas foram consideradas ideais para proporcionar um maior desafio aos competidores que vierem até as locações.

Além dos comentários sobre os desafios, um segundo burburinho tomava conta do saguão do Centro Pokémon. Uma batalha ocorreria na praça central entre um desafiante e um Cérebro de Fronteira.

 

— Esse cara tá morto — disse um.

— Pelo menos dá pra ver que tem coragem — comentou outro.

— Será que essa batalha vai ser de verdade ou vai ser só demonstração e enrolação? — questionou outra.

— Acho melhor a gente ir logo pra lá antes que a gente fique sem lugar bom. Eu não quero perder nenhum detalhe dessa humilhação — zombou um, procurando sair do saguão e sendo seguido por alguns.

 

A curiosidade de Sunny falou mais alto e ela logo tratou de se colocar no meio das pessoas e tentar enxergar o motivo do falatório. Não conseguiu abafar o grito de surpresa quando viu, exposto sob um cavalete, um retrato de Forrest e, ao lado, o de uma outra mulher, mais velha. O cartaz trazia uma grande mensagem em letras garrafais e cores chamativas.

 

UMA AMOSTRA DA BATALHA DA FRONTEIRA!

 

Venha conferir o que a Batalha da Fronteira reserva para você nesta batalha!

Um jovem treinador foi corajoso o bastante de desafiar um dos Cérebros,

a líder do Salão de Batalha de Ecruteak City,

ARGENTA, a Dama do Salão!

 

21 de Setembro, às 15:30h, na Praça Central!

 

Faltavam quase quarenta e cinco minutos antes do início da batalha. Sunny se esforçou para sair do meio daquela roda de muitas pessoas o quanto antes para se locomover o mais rápido possível até o local onde a batalha ocorreria.

 

***

 

Ensurdecedor. Essa era a descrição mais precisa sobre onde Sunny estava envolvida. Ela sequer conseguia ouvir os próprios pensamentos. A praça estava cheia. Pessoas, inclusive, subiam em árvores procurando o melhor lugar para assistir aquele confronto. Outros usavam de seus Pokémon como apoio para obter uma boa visão da praça. Todos estavam ansiosos e faziam apostas sobre o provável resultado da batalha que se sucederia em poucos instantes. O perímetro estava cercado também por um alambrado que permitia separar as pessoas do que acontecia na batalha, uma questão primordial de segurança.

Um homem calvo surgiu na praça. Ele visivelmente estava acima do peso e a camisa florida azul-piscina que usava não ajudava a disfarçar a pança. Mas ele não parecia se preocupar com isso. Mesmo de óculos escuros, dava pra ver que seus olhos brilhavam de satisfação ao encarar o público presente. Estava com um microfone em mãos e, com um sorriso, o levou à boca.

 

— Boa tarde, Cidade de Ecruteak!

 

O homem foi respondido com uma imensa ovação.

 

— Meu nome é Scott e eu estou muito feliz de estar aqui hoje, trazendo para a maravilhosa região de Johto o projeto da Batalha da Fronteira! E é aqui em Ecruteak que uma das instalações que eu mais gosto será construída. E, liderando ela, a nossa maravilhosa Argenta, a Dama do Salão!

 

A mulher, sozinha, já era um acontecimento. Ela era mais velha, tinha por volta dos cinquenta, quase sessenta anos de idade. Ela caminhou para o meio da praça tal qual alguém da realeza, com o queixo erguido e firmeza em seus passos, quase como se desfilasse. A poeira erguia-se das pontas de seus sapatos altos. A jaqueta vermelho-escarlate de couro dava à figura um quê de jovialidade. Encarou o público e tirou seus óculos escuros e seus olhos rubros se destacaram. O público presente foi ao delírio. Ela não precisava dizer nada, eles estavam completamente em suas mãos.

 

— Eu confesso a vocês que quando ele me pediu para lutar contra Argenta, eu o chamei de maluco. Mas, ao mesmo tempo, que oportunidade melhor de mostrar todo o poder de um Cérebro de Fronteira do que em uma batalha para todo mundo ver? Argenta quando soube, lembrou-se desse mesmo desafiante, meses atrás e o resultado vocês imaginam. Agora ele retorna para uma revanche, será que o resultado será diferente? Vamos conferir AGORA! Com vocês, o nosso desafiante, vindo diretamente da Cidade de Pewter, em Kanto: Forrest!

 

Quando ele entrou, não houve vaias. O público que assistia aplaudiu calorosamente e incentivava o garoto com assovios e gritos. Era realmente um sopro de vitalidade. Muitos ali reconheciam a coragem que Forrest estava tendo de encarar tudo aquilo. Sunny sentiu um calafrio no estômago quando o viu cruzar firmemente a praça para encarar Argenta. Ele não olhou para o público, mantinha-se visivelmente concentrado. Ela ficou feliz por perceber que ele não estava nervoso. Seu incômodo maior era ouvir bochichos maldosos de algumas pessoas atrás dela. Sunny, no entanto, era uma pessoa de estatura pequena e, devido à quantidade de pessoas concentradas ali, ela não conseguia ver os autores deles. No entanto, ela não escondia a cara feia.

 

— Muito bem — anunciou Scott. — Eis aqui presentes os nossos treinadores. As regras são simples: Apenas um Pokémon para cada lado.  Sem limite de tempo. Em caso de empate, o vencedor será aquele que tiver causado o maior dano no oponente. Em seus lugares... Start!

 

Argenta foi a primeira a liberar seu Pokémon e Forrest tinha lembranças muito vívidas dele. Reconheceria aquelas lâminas afiadas, os olhos pequenos e frios nas laterais da cabeça em formato de disco em meia-lua, a carapaça dura como abdômen...  Kabutops encarou o garoto com certa malicia, como se já esperasse que o humilharia outra vez.

Forrest sacou uma cápsula e apertou seu botão central. De dentro dela, saiu uma criatura grande, bípede, que carregava uma concha de pedra e rocha sob suas costas, tão dura que era dito que não se podia arranhá-la nem com uma explosão de dinamite. A cabeça, braços e pernas saíam de dentro da concha e mostravam garras e presas afiadas que reluziam sob a luz do sol. Golem sustentava o olhar de ameaça de Kabutops sem medo de encará-lo. Sunny não sabia de onde ele havia conseguido aquele Golem. Será que o Graveler havia evoluído?

O plano do garoto era muito simples: Ele poderia até cair — porque não esquecera que sua oponente é formidável —, mas ele cairia atirando.

Sunny observava tudo de forma apreensiva. Ela estava tão nervosa que não percebeu quando Tuscany chegou por trás dela e deu um tapinha no ombro esquerdo da menina, que se assustou.

 

— Te achei! Agora sim essa treta pode começar! — disse a menina.

 

Próximo delas, uma criança sentada nos ombros do pai olhava vidrado para a praça. Um enorme sorriso fazia o menino mais encantador do que ele já era.

 

— É ele, pai, é ele! — exclamava o menino apontando o dedo para Forrest.

 

Argenta e Forrest continuavam a se encarar. Nenhum dos dois parecia com pressa de começar a batalha. A mais velha não via qualquer tipo de hesitação em relação ao oponente mais novo, o que a fez dar um leve sorriso.

 

— Ora, ora... Você parece mudado. Não é mais tão simples ler seus movimentos.

 

O garoto sorriu.

 

— Aprendi muito com a nossa última batalha. Eu venho treinando desde então para o dia de hoje.

— Veremos o quanto. Waterfall.

 

Os olhos de Kabutops emitiram um brilho azulado e as grandes lâminas que possuía rasgaram o chão, onde uma coluna de água surgiu com violência. A poderosa torrente de água realmente fazia parecer uma cachoeira que tinha seu fluxo inverso, de baixo para cima. O Pokémon de Argenta mergulhou na corrente e rapidamente apareceu no topo dela, mirando em Golem que aguardava paciente o comando de seu treinador. As lâminas de Kabutops desviaram o fluxo de água em direção ao oponente e aproximava-se com velocidade.

 

Stone Edge! — bradou o rapaz.

 

O braço de Golem emanou uma aura azul e em um piscar de olhos, o Pokémon deu um soco no chão. Grandes pilares pontiagudos de pedra surgiram do chão, rasgando-o como um pedaço de papel, chocando-se com a cachoeira de Kabutops e desviando o fluxo da água para as laterais. De bônus, ainda atingiu o queixo do Pokémon fóssil, pegando-o desprevenido.

O público foi à loucura. Berravam como loucos, completamente eufóricospelo que estavam assistindo. Batiam na tela do alambrado e gritavam palavras de incentivo para ambos treinadores.

 

— Kabutops, Night Slash!

 

As lâminas do Pokémon de Argenta brilharam em uma coloração púrpura e partiu com velocidade na direção das colunas de pedras anteriormente invocadas por Golem, cortando-as e rapidamente destruindo a proteção do Pokémon de Forrest, que se escondia por trás delas.

 

Rock Slide!

Rollout!

 

Uma das lâminas de Kabutops rasgou o solo e grossas pedras levantaram-se e, enquanto eram arremessadas com a outra lâmina, Golem começava a girar ao redor do próprio eixo, como uma roda que ia acelerando cada vez mais. No entanto, ele não saía do lugar. Uma nuvem de poeira se ergueu e começou a cobrir tanto Golem, quanto Kabutops. A nuvem, outrora uma leve camada de poeira, foi ficando cada vez mais densa e maior, o que impedia a visão no campo de batalha.

Do seu lado do campo, Argenta não esboçava reação alguma. Apenas desceu seus óculos de volta para os olhos para protegê-los.

 

— Abaixe a poeira com Waterfall!

 

Kabutops voltou a romper o chão com uma forte torrente de água que passou a abaixar a nuvem de poeira. A visão do campo começou a ficar limpa, mas só era possível ver um dos Pokémon nele: O que pertencia a Argenta.

 

Rock Blast! — gritou Forrest.

 

O chão debaixo de Kabutops explodiu e um segundo buraco apareceu. Pedras e rochas espalhavam-se pelo céu e pelas laterais e voavam junto com Kabutops. Golem surgiu do primeiro buraco do chão e urrou ameaçadoramente.

Argenta apontou para o seu Pokémon no céu e deu um grito.

 

Ancient Power!

 

Kabutops despencava em direção ao chão. No entanto, ao invés de cair ao chão, ele girou no ar e mergulhou em direção ao solo. Suas lâminas tornaram a cortar o chão e pedras envoltas em uma aura púrpura surgiram do subterrâneo e foram disparadas em direção à Golem, que fora atingido em cheio.

O Pokémon fóssil pousou no chão e encarou o oponente. Golem estava todo sujo, mas não estava disposto a arredar o pé um passo sequer.

 

Night Slash!

 

As lâminas de Kabutops brilharam ameaçadoramente em uma aura púrpura e o fóssil partiu veloz em direção à Golem. O Pokémon de Forrest curvou-se para a frente e cruzou os braços à frente do corpo aguardando o impacto.

Forrest pensou rápido. Apesar de seu Pokémon ter sofrido alguns danos na batalha, era evidente que Kabutops estava bem mais prejudicado. Ele ia para o tudo ou nada.

Com um sorriso, estendeu a mão em direção à Golem, que olhou para o treinador e pareceu entender exatamente o que teria de fazer. Seus olhos brilharam, quase de forma demoníaca e voltou a encarar o Kabutops que estava mais rápido e mais forte, devido aos status aumentados pelo Ancient Power usado anteriormente.

 

— Agarre-o! — gritou o moreno.

 

Kabutops rasgou o ar e a caixa torácica de Golem. Apesar da dor, o Pokémon de Forrest agarrou os membros superiores do oponente e girou-o no ar. Golem pulou e se colocou por detrás de Kabutops, segurando-o em um abraço mortal pelas costas.

Quando Forrest gritou o próximo golpe, pareceu que o mundo ao redor parou. Sunny ergueu as sobrancelhas em completa surpresa. O queixo de Tuscany veio ao chão. As ovações da plateia silenciaram. O sorriso triunfante de Scott sumiu em um instante.

E, finalmente, Argenta esboçou uma reação. Uma reação de surpresa que a fizera desmontar da pose ereta e séria e erguer a cabeça, afrouxando o tronco e abrindo os dedos das mãos.

 

Explosion!

 

Não se sabe exatamente o que aconteceu em seguida. Algo deu errado.

Uma reação química originou uma energia que fez explodir a concha de pedras de Golem enquanto este agarrava Kabutops, que não conseguiu reagir. Um dos destroços da concha voou longe, uma pedra aquecida pela energia acumulada do golpe que cortou o ar e quebrou uma janela de uma casa a poucos metros de distância.

A casa explodiu. Um breve zunido agudo antecipou o som da explosão em cadeia, não deu tempo de ninguém fugir. O chão que havia embaixo da residência cedeu e um enorme buraco abriu-se na rua, sugando outras casas para dentro. Novas explosões, casas sendo destruídas em cadeia.

Na praça, estilhaços, berros e gritos. Pessoas sangravam e tropeçavam em corpos sem vida no chão. Um bueiro explodiu a alguns metros da praça, atingindo o público que assistia à partida. Som de sirenes podia ser ouvido ao longe, mas não se via nada um metro a frente devido à fumaça negra das explosões.

A base da Torre do Sino explodiu e começou a pegar fogo. Por ser feita de madeira, o choque da explosão fez com que ela, lentamente, passasse a cair em direção ao solo, atingindo pelo menos quatro quarteirões devido ao seu enorme tamanho. As árvores de folhas alaranjadas que enfeitavam a bonita Trilha do Sino que levava à torre quase milenar passaram a queimar e, muito em breve, sucumbiriam ao solo.

Forrest não ouvia nada exceto um zumbido no ouvido. Também não enxergava nada, visto que tudo ao seu redor estava em chamas e a fumaça cobria a sua visão.

Percebeu que estava deitado, não sabia onde. Ao olhar para o corpo, viu uma enorme estaca de madeira que atravessara a sua coxa. Havia sangue escorrendo e, ao ver aquela cena, deu um berro.

E então, desmaiou.

 

Assim que recobrasse a consciência, estaria não só com uma tala na perna esquerda, parte do corpo queimado e se recuperando de um traumatismo craniano, mas também algemado numa cama de hospital. Os policiais que vigiavam o quarto lhe dariam a notícia de que, assim que recebesse alta, seria conduzido à cadeia pelo crime inafiançável de Terrorismo.

 

 

TO BE CONTINUED...







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