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- Capítulo 62
Em sua imensa sala no topo
do Planalto Índigo, Lance permanecia reflexivo enquanto mantinha o PokéGear à
sua frente, na mesa do escritório. No vídeo, não era possível obter a definição
do rosto do interlocutor, havia pouca luz — talvez ele, ou ela, estivesse
escondido.
— Me preocupa não ter
notícias dos Rockets. Nós os encurralamos e eles deixaram de ser tão
extravagantes... Você sabe muito bem que
dessa vez eles estão nas sombras, mas agora não temos nenhum rastro. Estou com
medo, Amy...
— Quando Red derrotou o
Giovanni há três anos, a primeira ordem foi nos esconder para conseguirmos nos
estabilizar novamente e reerguer a organização. No entanto, dessa vez, a Equipe Rocket tem o
poder de controlar Pokémon via ondas de rádio, capturaram Lugia nas Ilhas dos
Redemoinhos e possuem uma vontade imensa de se vingar por ter sido atrapalhada
duas vezes. Eu acho que, seja lá quais forem os novos planos, eles atacarão com
tudo e não perdoarão ninguém — respondeu Amy. — A PokéBola GS é de fundamental
importância pra organização.
— Eu não os julgo. O Mundo
Pokémon acaba sendo uma coisa fantástica... Controlar o poder dos Pokémon para alterar
os eventos dentro de uma linha do tempo. Tentador.
Lance olhou de relance para
a enorme janela com vista panorâmica. O brilho do sol começava a ser encoberto
por uma espessa camada de nuvens negras que espalhavam-se com certa velocidade
pelo outrora céu azul do Planalto Índigo. A breve distração do ruivo chamou a
atenção da menina.
— O que você mudaria no seu
passado, Lance?
O clarão do relâmpago iluminou
a sala e o som do trovão se fez possível de ouvir pelos pequenos alto-falantes
do PokéGear de Amy. Lance olhou para a garota na pequena tela e deu uma risadinha
antes de responder.
— Minha vida é perfeita.
Não tem nada que eu faria de diferente.
— Se você diz...
— Mantenha-me informado caso
veja qualquer coisa incomum aí em Ecruteak.
— Lance, essa é uma cidade
majoritariamente japonesa. Os moradores comem peixe cru. Isso é incomum demais
pra mim.
Dando uma risada alta,
Lance encerrou a ligação. A pergunta de Amy ainda ecoava pela sua cabeça. O
Campeão da Liga Pokémon abriu a gaveta que se encontrava debaixo de sua mesa e
em um fundo falso, pegou uma caixinha azul pequena e a abriu. Permitiu-se
admirar o que havia dentro dela, um anel em formato de Dratini que estava há
gerações em sua família. Se permitiu acessar as memórias que vez em quando
costumavam invadir sua mente em momentos de distração.
***
Finalmente aquele dia havia
chegado, o dia em que a Cidade de Blackthorn conheceria o maior domador de
Dragões de sua história, o responsável por toda uma nova geração de Dragon
Tamers. Sempre que o Dragon Master alcançava a idade de 70 anos, havia uma nova
cerimônia onde o próximo Mestre carregaria o legado do treinamento das técnicas
secretas lendárias e milenares. Desta vez, no entanto, os candidatos dividiam
opiniões, afinal, se tratavam de Lance e Clair, os dois netos do Dragon Master
atual e prodígios da técnica dracônica desenvolvida no seio da Caverna do
Dragão.
Os primos se encontravam no
interior de uma caverna. Metros à frente, encontrava-se a saída da montanha
onde os moradores da cidade e os Dragon Tamers da Toca do Dragão aguardavam
ansiosos a apresentação dos dois, a cerimônia que seria realizada em uma grande
tribuna de madeira. Clair estava confiante. Ela sabia que era a mais apta a
receber a responsabilidade de se tornar a nova Dragon Master e passar toda a
sabedoria do clã para as futuras gerações. O orgulho de pertencer àquele lugar
emanava de cada poro de seu corpo. Seus vasos sanguíneos dilatavam na medida em
que o sangue fluía cada vez mais rápido devido à expectativa que sentia. Não
gostava de esperar, pra ela era tudo muito simples, dinâmico. Seu primo, por
outro lado, parecia tranquilo até demais, alheio às preocupações e da devida
importância que aquele evento emanava. Claro que aquilo tirava Clair do sério,
como sempre, Lance tinha essa mania de não dar a devida atenção às suas
responsabilidades.
— Hoje é o dia em que você pode
se tornar líder de um clã inteiro, ter uma grande responsabilidade nas costas,
o dia em que você espera desde criança. Por que você não parece estar sequer
com medo? — perguntou Clair.
Lance não respondeu.
Continuou a olhar para a saída da caverna com sua expressão tranquila, como se
estivesse apenas esperando uma carona.
— Detesto quando você não
responde o que eu te pergunto.
O ruivo soltou um
sorrisinho.
— Você, como sempre, muito
tensa. Calma, prima. Vamos relaxar e nos divertir, tá bem?
Lance tomou a iniciativa de
caminhar até a saída da caverna. Clair hesitou por um instante.
— Ainda não anunciaram
nossos nomes.
— Detesto quando você
insiste em seguir à risca toda ordem que te dão.
— É por isso que existem
leis. E quem costuma não segui-las, acaba por ir pra prisão.
O ruivo deu uma risadinha.
— Se cadeia desse jeito em
alguma coisa, não tinha mais bandido no mundo.
Clair não soube como
retrucar. Apenas observou seu primo se dirigir à entrada da caverna e, com um
suspiro, o seguiu.
A ovação do público que assistia
ao evento foi gigantesca ao assistirem Lance e Clair subindo a tribuna de
madeira. O Mestre Dragão ao perceber os discípulos aparecendo sem terem sido
anunciados, não escondeu o descontentamento. Sua capa negra esvoaçava ao ser
tocada pelo vento e hipnotizava a platéia. Lance não pareceu se importar, mas
Clair ficou visivelmente constrangida. O idoso, com a cara fechada, virou-se
para falar com o público novamente.
— Como eu ia dizendo, este
é um dia muito importante não só para o Clã dos Dragões, mas também para a
Cidade de Blackthorn, raiz de toda nossa descendência. E hoje, me deixa muito
feliz passar o bastão de Dragon Master adiante, visto que tenho certeza de que
qualquer um dos dois que se tornar o líder de nossa comunidade fará um
excelente trabalho.
O silêncio tomou conta do
local. O público presente ouvia com atenção o
discurso daquele homem que, mesmo com a idade, ainda mantinha status e respeito
perante a sociedade blackthorniana. Clair fazia o possível para esconder a
ansiedade, visto que seu orgulho não permitia que ela demonstrasse sentimentos
em público, mas era claro que Lance fazia isso bem melhor que a prima. Com um
sorriso simpático no rosto, passeava o olhar na platéia e, vez em quando,
arrancava suspiros de algumas meninas ali presentes.
— Lance. Clair. Vocês dois
se demonstraram os mais capacitados de receberem a responsabilidade de
continuar guiando o Clã dos Dragões para os dias futuros, assim que eu partir.
No entanto, apenas um de vocês irá receber o Anel dos Dragões — o homem hesitou
por alguns segundos. — Independente de quem for o escolhido, quero que estejam
cientes da seriedade do papel que vocês irão receber.
O Dragon Master fechou os
olhos. O vento soprou mais forte, fazendo com que sua capa tremulasse como uma
bandeira imponente. Quando voltou a abri-los, sua feição estava mais séria do
que a de costume.
— Eis a minha decisão.
Você, Lance, é o novo Dragon Master do Clã dos Dragões.
Clair não conseguiu
esconder a expressão de desgosto. O público vibrava com a noticia. O idoso
parou na frente de Clair e olhou para cima para poder encarar seu rosto.
— Você é talentosa, mas não
está pronta.
— Mas, Mestre, por que
então me fez vir até aqui passar por essa vergonha? — perguntou a jovem, tentando
conter as lágrimas.
— Você não sabe perder.
Esse é o seu maior ponto fraco — respondeu o velho de forma calma. Aquilo era muito
mais um conselho do que uma bronca.
— “Você não sabe perder. Esse é o seu maior ponto fraco”. Perder... Tch.
As palavras do Mestre
Dragão ditas há tantos anos ainda costumavam ecoar na mente de Clair. A mulher
encarava a lava fumegante que corria impiedosamente debaixo de seu campo de
batalha no Ginásio de Blackthorn.
— Dragon Tamers são
orgulhosos, Clair, assim como as próprias criaturas que costumam treinar. São
munidos de uma força impiedosa... Mas é essa mesma força que os torna tão frágeis.
Achei que você tivesse entendido — comentou o idoso.
— Já faz muito tempo,
Mestre. Eu aprendi que perder faz parte do nosso crescimento — retrucou Clair.
— Bonito discurso, mas
nunca me convence. Você mesma não acredita nisso. Você só se tornará uma
verdadeira Dragon Master quando se libertar desses caprichos.
— “Caprichos”? Logo pra mim
o senhor vem falar sobre caprichos, quando sabemos que é Lance que ficou
conhecido por ser excêntrico. Isso quase me faz rir! — exclamou a mulher de
forma ríspida, dando um soco no vidro temperado inquebrável que dava visão para
a arena.
Um silêncio se propagou. Clair
ofegava de raiva. Relaxou o braço, o que fez sua mão escorregar de volta para o
lado do corpo enquanto tentava fazer sua respiração ficar mais lenta.
— Desculpe, vovô — disse
ela, quase em um sussurro.
— Você tem suas qualidades.
Muitas delas, inclusive, tendem a ser melhores do que as de seu primo. Mas, por
mais excêntrico que Lance possa ser, tem algo nele que você ainda não tem: o
auto-reconhecimento. Ele sabe que ele é excêntrico, ele assume isso e é isso
que o torna um treinador fantástico. Ele não tem medo dos próprios defeitos.
Você, Clair, quer ser perfeita. E o perfeccionismo te impede de colocar pra
fora todo o seu potencial.
Um alarme de relógio foi
ouvido. O Mestre Dragão olhou para o pulso e, no toque de um botão, o
desabilitou.
— Duas e quinze. Vamos
praticar os Ataques Especiais.
Clair curvou-se perante o
idoso e o seguiu rumo a uma das escadas que levavam para o andar inferior, onde
ficava o campo de batalha.
***
O estrondo de um trovão fez
Ethan encolher os ombros e olhar pela quinta vez naquele mesmo minuto para o
céu carregado de nuvens escuras. Ele e Forrest subiam uma das íngremes e
enormes montanhas que cercavam os limites entre Blackthorn e a Rota 45.
— Forrest, isso não é
inteligente... Vai cair um raio na nossa cabeça, eu não sou um para-raios! —
exclamou o menino visivelmente incomodado. — Vamos voltar para o Centro
Pokémon, esperar essa chuva passar pra gente poder seguir com o treinamento.
— Tá com medo do quê, cara?
É só uma garoa — comentou Forrest em tom de provocação dando um sorriso
travesso.
Outro trovão ribombou de
maneira impiedosa. O grito que Ethan soltou foi abafado pela reverberação
daquele anúncio de tempestade que se aproximava com rapidez.
— UMA GAROA? VOCÊ TÁ LOUCO!
EU VOU VOLTAR PRO CENTRO POKÉMON, EU ME RECUSO A MORRER AQUI!
Um raio desceu e acertou uma
árvore retorcida que caiu a poucos metros dali, o estouro não levou mais do que
alguns segundos. Ethan recuou relutante e voltou seu olhar para Forrest que
analisava o ambiente ao redor.
— É, acho que aqui tá bom —
e virou-se para Ethan. — Convoca seus Pokémon, vamos começar o treinamento.
— Onde, aqui? Mano, mas nem
a pau, se você tá querendo se matar, beleza, mas não me leva junto, não!
— Convoca seus Pokémon ou
eu vou passar por cima de você — disse Forrest de maneira séria. — Não vou
falar de novo.
Ethan ergueu as
sobrancelhas, completamente surpreso com aquela atitude. Resolveu seguir as
orientações de Forrest, ao menos para não perder o amigo. O garoto abriu sua
mochila, pegou suas PokéBolas liberou todos os Pokémon de sua equipe, que foram
organizados um ao lado do outro. Quilava, Magneton, Tyranitar, Nidorino,
Quagsire e Sandslash aguardavam as ordens de Ethan, seu treinador, que
aguardava as ordens de Forrest, treinador de Ethan.
— Você não está só prestes
a disputar uma batalha pela sua última insígnia, mas também, está praticamente
a um passo de chegar à Liga Pokémon. Suas estratégias de batalha precisam ser
revistas, cara.
— E como podemos fazer
isso?
— Cada batalha Pokémon não gera
só uma vitória para o treinador. Também é um desenvolvimento para cada Pokémon,
visto que ao derrotar os oponentes, os Pokémon aprimoram seu Ataque, sua
Defesa, a Velocidade, entre outros Status.
— Caraca, e tem isso? —
comentou Ethan impressionado. — E como a gente desenvolve esses aprimoramentos
todos?
Forrest apontou para uma
árvore à esquerda de Ethan. Havia um Pokémon pendurado de ponta cabeça em um
galho, com o auxílio de sua longa cauda que ostentava um grande ferrão redondo
na ponta. Dormia tranquilamente, nem a ameaça de tempestade parecia atrapalhar
o sono daquele Pokémon que tinha o corpo num tom de roxo tão claro que mais
parecia rosa. Sua língua tampava grande parte do seu rosto, afinal, estava para
fora da boca. Suas asas azuis jaziam estendidas em direção ao solo. O garoto
sacou a PokéDex.
— Gligar, um Pokémon Escorpião Voador. Ao ver um oponente, abre suas asas e plana direto para o rosto de seu alvo e se aproveita do susto de sua vítima para injetar veneno. Geralmente se pendura em penhascos — informou o dispositivo.
— Ele não parece um Pokémon
tão perigoso assim — analisou Ethan olhando para a PokéDex. — É até bontinho.
— Meça suas palavras, meu
parceiro. Eu não iria querer tomar uma ferroada venenosa na cara, se fosse você
— alertou Forrest.
Um trovão rugiu mais uma
vez. Tão alto que Ethan e Forrest sentiram o chão tremer de forma leve.
Aquele trovão, sim, foi
capaz de despertar Gligar. O susto fez o Pokémon perder a firmeza no rabo e
cair de cabeça no chão. Desorientado, o Pokémon levantou-se e tentou se
recompor, balançando a cabeça para se livrar da tontura. Percebeu a presença de
Ethan, Forrest e dos outros Pokémon, que o olhavam com certo receio. Gligar se
levantou, esticou as asas e, num impulso rasante, voou na direção de Ethan, que
só não foi atingido porque deu um pulo para o lado, esquivando-se por um triz
do ferrão do Pokémon. A informação na PokéDex, como sempre, estava correta.
— Quagsire, Water Gun! — ordenou Ethan para o
Pokémon que prontamente correu para auxiliar seu treinador.
O Pokémon de Ethan disparou
um poderoso jato de água na direção de Gligar, que desviou veloz voando em
direção ao céu.
— Quagsire é mais lento do
que Gligar, Ethan. A tipagem não é a única coisa que importa em uma batalha —
comentou Forrest para o amigo.
— Droga, o que é que eu vou
fazer? — perguntou o menino.
Gligar disparou na direção
do oponente com velocidade enquanto preparava a cauda. O ferrão na ponta
ameaçadoramente afiado pronto para aplicar um Poison Sting no Pokémon de Ethan.
— Evasiva! — gritou Ethan.
Quagsire se jogou no chão e
sentiu Gligar passar rasante em suas costas. O garoto rapidamente tentou tomar
a frente.
— Water Gun de novo!
O Pokémon de Ethan
levantou-se do chão e aproveitou da oportunidade que Gligar o deu ao se
aproximar de novo para um novo ataque. O jato d’água, desta vez, atingiu seu
oponente em cheio, o que levou ao chão. Ethan voltou a sacar a PokéDex.
— As fraquezas do Gligar
são Água e Gelo... Droga — lamentou Ethan, tentando pensar em alguma
estratégia. — Será que só o Tipo Água do Quagsire dá jeito?
— Você precisa usar todas
as armas que você tem — aconselhou Forrest. — Se você só tem uma... Use-a!
Gligar levantou-se
rapidamente. Esticou as asas e pulou para o lado esquerdo de Quagsire, que o
acompanhava com os olhos. Depois, olhou para o lado direito e foi para as
costas do Pokémon, que o perdeu de vista.
— Atrás de você! — gritou
Ethan para o Pokémon.
Tarde demais. Quando
Quagsire se virou, Gligar já estava a um palmo de distância. Com suas pinças, o
Pokémon provocou um grande arranhão no peito de Quagsire que cambaleou para
trás.
— Aqua Tail! — bradou Ethan.
Quagsire virou-se para
encarar seu oponente que planou para suas costas. De sua cauda, gotículas de
água foram se formando rapidamente e uma aura azul emanou de seu corpo, produzindo
uma torrente de água corrente que cresceu em um piscar de olhos. Como um
chicote, Quagsire atingiu Gligar que foi pego de surpresa com aquele golpe e
não conseguiu pensar em como se defender a tempo, sendo atingido em cheio. O
Pokémon cambaleou e caiu ao chão, tentando levantar-se para continuar a luta. Ethan
abriu rapidamente a mochila e procurou em um bolso lateral o zíper que o
lacrava. Ao abri-lo, pegou uma PokéBola vazia e rapidamente a arremessou em
direção à Gligar.
A PokéBola se balançou três
vezes antes de se lacrar.
— Te peguei! — exclamou
Ethan, correndo para pegar a cápsula no chão.
— É... Nosso objetivo não
era capturar Pokémon, mas tá valendo — riu Forrest.
— Ué... Mas pelo menos
temos uma nova adição na equipe, né? Pelo trabalho que ele deu, eu acho que ele
pode ser bem forte pra usar na Liga Pokémon.
As gotas de chuva começaram
a engrossar e a cair com mais força. Mais um trovão bradava ao longe e
aproximava-se num ressonar grave, arrepiando Ethan da cabeça aos pés. Quilava
grunhiu insatisfeito — afinal, sendo um Pokémon do tipo Fogo, detestava água, principalmente
se ela viesse em forma de chuva e não tivesse onde se esconder.
— O clima instável será
perfeito para o nosso treinamento. A instabilidade é sempre um dos principais
elementos de uma batalha Pokémon, e quem sabe se utilizar dela geralmente é
quem se consagra vencedor — explicou Forrest. — Ethan, você se lembra da
batalha contra Jasmine, não é?
— Claro, cara... Tudo
naquela batalha saiu do controle. Até o farol foi derrubado... — Ethan não pode
deixar de dar um sorriso travesso.
— Pois então, por mais que
tenha sido de uma maneira instintiva, você manteve o controle da batalha.
Precisamos ter esse controle na manga, independente da situação. Foi por isso
que eu decidi começar nosso primeiro treinamento hoje, quando a previsão
meteorológica é de chuvas intensas em Blackthorn e região.
Ethan olhou para os
Pokémon. Aquela ideia não parecia inteligente.
— Você sabe que eu não
tenho seguro de vida, né, cara? Eu sou pobre. Se a minha mãe ficar sabendo
disso, ela te mata!
— Esquenta não que eu já
liguei pra tia Marieta e ela autorizou. Inclusive... — Forrest tirou a mochila
e procurou algo dentro dela, trazendo para fora uma folha de papel. — Aqui
está. Uma autorização por escrito me dando total liberdade para trabalhar como
eu bem entender no seu treinamento.
Ethan correu e tomou o
papel das mãos de Forrest. Leu todo o conteúdo em uma velocidade
impressionante.
— “Eu, responsável legal pelo treinador Ethan
Heart, autorizo o senhor Forrest Mason a treinar meu filho da maneira como bem
entender”, ESSA É A ASSINATURA DELA MESMO!
A
chuva começou a cair com força. Forrest tomou o papel das mãos de Ethan e o
tornou a guardar na mochila.
— O
Gligar foi só o começo. Têm outros da mesma espécie aqui nessa montanha e nosso
objetivo é derrotar cinquenta deles.
—
CINQUENTA?! EU MAL CONSEGUI DERROTAR UM, CÊ QUER ME FAZER DERROTAR CINQUENTA?!
—
Você, não. Seus Pokémon.
—
Você só pode estar brincando.
—
Quer pagar pra ver? — perguntou o moreno de forma séria.
Outro
trovão ressonou pelo céu escuro. Forrest soava muito mais ameaçador com todos
aqueles raios caindo sob sua cabeça.
—
T-Tá bem... Vamos nessa.
—
Ethan, Ethan! O guarda-chuva! — exclamou uma voz infantil.
Ethan
e Forrest surpreenderam-se ao ver Elaine e Chase, acompanhados de Pikachu e
Eevee, correndo em sua direção. As duas crianças ofegavam e estavam encharcadas
pela chuva que já caía com intensidade.
— O
que vocês estão fazendo aqui? — perguntou Ethan, indo de encontro com os dois.
—
Imagina que a gente ia perder a oportunidade de ver você treinando! — exclamou
Elaine.
—
Se eu soubesse que você ia chegar falando a verdade, a gente não tinha perdido
tanto tempo inventando a desculpa, Ni... — murmurou Chase.
—
Vocês nem deveriam estar aqui, pra começo de conversa. Voltem pro Centro
Pokémon — disse Forrest, aproximando-se dos irmãos. — É perigoso.
—
Perigo? Eu rio da cara do perigo! — disse a menina em uma risada debochada. —
Nós estamos acostumados em assistir os treinamentos de vocês!
—
Mas você nunca assistiu um treinamento nosso — comentou Ethan.
Elaine
e Chase se entreolharam em um silêncio constrangedor.
—
É-é só modo de falar, tio! — riu ela sem graça.
Mais
um trovão rasgou o céu e fez Elaine encolher os ombros ao mesmo tempo que Ethan
fazia o mesmo gesto. Se fosse combinado, não teria dado certo.
—
Vocês têm certeza que vocês querem ficar e assistir? — perguntou Forrest.
—
Não — respondeu Chase.
—
Sim! — exclamou Elaine, com vigor.
Ethan
e Forrest se entreolharam.
—
Então está bem. Rocky! — Forrest sacou uma PokéBola do bolso da calça e
pressionou o botão central da cápsula bicolor. A enorme serpente de metal
surgiu majestosa, rugindo tão alto quanto os trovões que desciam do céu.
—
Rocky?! Mas ele não é fraco contra o Tipo Água? Ele deveria se incomodar em ficar
se molhando... — comentou Ethan.
— É
exatamente por isso que estamos treinando aqui hoje. Independente da condição
do ambiente, seus Pokémon devem tentar se manter firmes. Uma condição climática
como chuva, sol ou até mesmo uma nevasca que pode ajudar os Pokémon ou podem
enfraquecê-los. Por isso você deve entender que é importante estar aqui fora,
Quilava, mesmo que você deteste se molhar — explicou Forrest olhando para o
Pokémon de Ethan que, encharcado, olhava de mau humor para todos. — Rocky, por
favor, proteja os dois, sim?
Steelix
afirmou com a cabeça e enrolou gentilmente seu corpo ao redor de Elaine e
Chase. A cabeça do Pokémon passou a impedir que a chuva continuasse molhando os
irmãos.
Forrest
caminhou até os gêmeos e pegou o guarda-chuva das mãos de Elaine e o abriu,
abrigando-se.
—
Muito bem, Ethan. Vamos começar? Use Quilava para derrotar 50 Gligars.
O
garoto suspirou visivelmente contrariado.
—
Se você insiste... Vamos, Lava!
Quilava
não se mexeu.
—
Vai ser um longo dia... — comentou
Ethan, levando a palma da mão até o rosto em um sinal de frustração. O garoto
caminhou até Quilava e tentou arrastá-lo pelos braços. Por sua vez, o Pokémon lançou
um Ember na direção de Ethan,
atingindo-o em cheio, o que acabou sendo um gatilho para uma discussão entre os
dois, o que fez Forrest, Chase e Elaine se entreolharem sem saber se, de fato,
deveriam intervir naquilo.
Um
raio caiu do céu em direção a Ethan e Quilava. O parafuso no topo de uma das
cabeças de Faísca serviu como um pára-raios, atraindo o raio elétrico, fazendo
com que o Magneton absorvesse aquela poderosa carga elétrica. Um som agudo e
estridente foi emitido dos imãs que o Pokémon carregava em seu corpo, fazendo
com que todos os presentes tentassem de alguma maneira proteger os ouvidos.
—
FAÍSCA! — berrou Ethan, correndo na direção do Pokémon.
—
ETHAN, NÃO! — Forrest gritou de volta antes de perceber que já era tarde.
Ethan
abraçou Faísca e imediatamente sentiu seus músculos travarem. Gritou de dor.
Parte da carga elétrica absorvida por Faísca fora descarregada no garoto,
fazendo com que ele recebesse um baita choque, ajoelhando-se no chão com as
pernas bambas.
—
Ethan! Você está bem? — perguntou Forrest aproximando-se do amigo. Ethan não
respondeu.
Elaine
e Chase tentaram correr na direção dos garotos, mas Steelix encolheu o espaço entre
seu corpo e o dos gêmeos, impedindo que eles se libertassem daquela prisão.
—
Rocky, deixa a gente ir até lá! — pediu a menina de forma séria, conseguindo
apenas um grunhido alto de resposta.
Magneton
libertou-se dos braços de seu treinador e o encarou com uma feição preocupada.
Ethan, de bruços, tentou erguer-se sem sucesso. A sensação de formigamento
tomava conta de seu corpo inteiro e o fato de estar molhado por causa da chuva
só trazia a certeza da seriedade daquilo.
—
E-eu n-não v-vou d-d-desistir... — murmurou Ethan, ainda esforçando-se para se
levantar.
Quilava
aproximou-se de seu treinador e se colocou embaixo de seu corpo, empurrando-o
para cima. Os outros Pokémon de Ethan também se aproximaram e auxiliaram o
garoto a se levantar, usando Forrest de apoio.
—
Você está bem, cara? — perguntou Forrest, preocupado.
—
F-foi s-só um c-choque... V-vou ficar bem! — sorriu o garoto, cambaleando.
Ethan
olhou para Faísca, ainda meio tonto. Uma ideia passou pela sua cabeça.
—
Ei, Faísca... Você sempre consegue atrair raios assim?
— Bzz... — respondeu o Pokémon sem
entender o questionamento de seu treinador.
— O
que quer dizer com isso, Ethan? — perguntou Forrest.
—
Forrest, e se o Faísca pudesse atrair raios elétricos através dos imãs dele e de
alguma forma canalizasse essa energia pra disparar raios elétricos?
Forrest
ergueu as sobrancelhas completamente surpreso pelo comentário do amigo.
—
Você está bem mesmo, cara? Esse choque afetou seu cérebro...
— É
uma ideia ruim? — perguntou Ethan.
—
Não... É genial! — exclamou Forrest com um sorriso. — Acho que podemos tentar.
Aproveitando
a chuva que caía, Ethan passou o resto do dia incentivando Quilava a acender
suas chamas mesmo na chuva e a mantê-las acesas pelo máximo de tempo possível enquanto
Faísca aprimorava seu Thundershock atraindo
a eletricidade dos raios das nuvens de tempestade.
***
Havia
um riacho na Rota 45 onde Ethan e Forrest descobriram existir uma pequena
casinha de madeira onde moravam dois velhinhos que auxiliavam os garotos na
recuperação de seus Pokémon — o que facilitou muito o trabalho, visto que eles
não precisavam voltar para Blackthorn para usar o Centro Pokémon. Em
agradecimento, Forrest se ofereceu para auxiliar os curandeiros para reformar o
pequeno herbário antigo que fora construído ao lado da cabana em que os dois
moravam. O moreno orientou Ethan a pedir que Sandslash aperfeiçoasse seu Fury Swipes cortando a madeira que seria
usada para a construção que era recolhida pelo próprio Ethan e sua equipe de
Pokémon. Durante a tarefa, porém, algo chamou a atenção de Ethan enquanto o
garoto caminhava com Wobbuffet pelas margens do riacho enquanto seguravam
algumas toras de madeira. Um Pokémon de
pelagem roxa que se assemelhava a um macaco pendurava-se alegremente pelos
galhos das árvores próximas. O garoto sacou sua PokéDex.
— “Aipom, o Pokémon Cauda Longa. Sua cauda é
tão poderosa que pode ser usada para agarrar um galho de árvore e se manter no
ar. Ele vive no topo de árvores altas. Ao saltar de galho em galho, ele habilmente
usa sua cauda para se equilibrar” — informou o dispositivo.
—
Caraca, um Aipom! Ele pode vir a ser um grande Pokémon na equipe, o que você
acha, Wobbuffet?
— Woah? — respondeu o Pokémon, como
sempre, batendo continência ao garoto.
—
Certo, Wobbuffet! Vamos capturá-lo, eu escolho você!
Ethan
apontou em direção ao Aipom. Wobbuffet tomou a frente, desta vez batendo
continência para o Aipom na árvore.
— Wobbuffet! — exclamou o Pokémon azul de
forma feliz.
O
Aipom encarou o Pokémon de Ethan com certa curiosidade. Deu uma risadinha malandra
e voltou a escalar de galho em galho, desaparecendo no meio da mata. Ethan cobriu
o rosto com a mão em uma expressão de constrangimento.
—
Você nunca toma a iniciativa das coisas, né?
Wobbuffet
voltou a encarar o seu treinador e ostentou uma bela pose.
— Wobbuffet, Wobbu! — bradou contente. Havia considerado aquilo como uma bela vitória da sua parte.
***
Já
havia se passado um mês desde que os treinamentos de Ethan e sua equipe de
Pokémon havia se iniciado. Mesmo com o aniversário de Forrest em 10 de Julho,
não houve pausa nenhuma no treinamento do garoto, que muitas vezes passava a
madrugada com seus Pokémon aplicando diversas técnicas conduzidas pelo amigo
para que os status da equipe de Pokémon de Ethan se desenvolvesse. Forrest
pediu inclusive para que Ethan trouxesse ao treinamento Pokémon que estavam no
Laboratório do Professor Elm, como Butterfree e Scyther. A cada dia que se
passava, um Pokémon da equipe de Ethan apresentava visíveis melhorias, a equipe
crescia em entrosamento e habilidades.
—
Você está sabendo da novidade? — perguntou Forrest a Ethan.
—
Qual? — quis saber Ethan, entre um gole e outro de Água Fresca que bebia para
tentar hidratar seu corpo completamente suado após uma sessão bem sucedida de
treinos.
— A
Liga Pokémon desse ano ocorrerá em White City.
—
White City? Onde fica isso? — perguntou Ethan, empolgado.
— É
uma cidade construída em uma ilha ao sul de Johto, na mesma rota marítima que
leva a Alto Mare.
— A
cidade lendária?! — exclamou o menino.
—
Ela mesma.
— E
quando será a Liga?!
—
Em Fevereiro do ano que vem. Haverá um navio que sairá de Olivine direto pra
lá.
Ethan
olhou em direção ao lago que havia ali próximo, bem no meio da Rota 45. Foi ali, naquele local, que ele havia passado
as últimas semanas junto aos seus Pokémon sendo treinado e elaborando
estratégias para a vindoura batalha contra Clair que aproximava-se. Os dois
inclusive até acharam alguns itens valiosos para o treinamento, até mesmo um
Revestimento de Metal* fora localizado nas margens do lago. Receber a notícia
do local onde aconteceria a Liga Pokémon encheu o coração do menino de alegria,
pois todos os empecilhos que enfrentou o fizeram chegar até ali, junto com sua
equipe de Pokémon que, mais do que força, ostentava um forte desejo de força de
vontade que há muito tempo não se sentia.
O
garoto fechou a garrafa de água e olhou com um sorriso confiante para o amigo.
—
Sabe, Forrest, independente do resultado da batalha com a Clair, eu sinto que
eu evoluí muito nesse tempo pra cá. Obrigado por sempre acreditar em mim.
Forrest
apoiou a mão no ombro do amigo.
—
Eu sempre acreditei, cara. Você é meu melhor amigo. Você está pronto para lutar
pela sua última insígnia.
Ethan
ficou em silêncio por alguns instantes.
—
Você acha mesmo? Eu não me sinto preparado ainda.
—
Você nunca vai estar — disse o garoto para espanto de Ethan. — Mas eu acho que
a graça é essa, afinal, se a gente pensar muito, desiste. E não estamos aqui
pra desistir.
O
garoto desviou o olhar de Forrest. Começou a sentir um frio na barriga que há
tempos não sentia.
—
Vamos parar por hoje. Você precisa de um bom banho e uma boa noite de sono.
Amanhã, vá até o Ginásio e marque sua batalha.
—
Espero contar com a sua torcida.
—
Você contará, mas não me verá lá.
—
Mas por quê? — perguntou Ethan erguendo as sobrancelhas, surpreso. — Você não
vai assistir minha batalha?
—
Não dessa vez. Afinal de contas, você estará com seus Pokémon. E assim como eu
e Amy não estivemos na primeira batalha, também não estaremos presentes agora.
Você consegue!
—
Estou com saudades dela... Espero que ela esteja bem.
— É
a Amy, cara. Ela sempre vai dar um jeito de se sobressair. E sei que ela também
está torcendo por você.
—
Mesmo eu sendo um ridículo?
—
É, aí vocês vão ter que conversar — riu o garoto.
—
Obrigado pela força, amigo — retrucou
Ethan de forma irônica.
—
Foque na batalha, Ethan. Coloque em prática o que você aprendeu, depois a gente
foca em consertar as coisas com a Amy.
Ethan
concordou com a cabeça.
***
Ao
recolher seus Pokémon com a Enfermeira Joy, Ethan já sabia que estava prestes a
mudar sua vida para sempre. Não encontrou Forrest no Centro Pokémon, muito
menos Elaine e Chase que estavam sempre o seguindo em dias de chuva ou de sol. Apesar
do garoto muitas vezes se irritar com a presença das duas crianças que teimavam
em corrigir alguma birra do próprio Ethan, ele gostava da companhia delas como
se fossem parte de sua família, irmãos que nunca teve.
Arrumou
seu boné como sempre gostava, com a aba voltada para trás da cabeça e seu
topete rebelde vazando para fora das tiras que o ajustava. Respirou fundo e saiu
pelas portas automáticas do prédio.
Como
sempre, o sol se escondia sobre densas nuvens. Fazia quase dois meses que o
garoto havia chegado em Blackthorn e em todo esse tempo não havia visto um dia
ensolarado sequer. Às vezes, sentia falta do litoral de Olivine. Antes de
seguir para o desafio do Ginásio, no entanto, Ethan pegou o caminho para a Rota
45, em direção ao riacho que serviu de auxílio durante seu treinamento. Apesar
da esperança de encontrar os amigos ali, também não os viu, mas sorriu quando
um vento suave tocou seu rosto. Retirou do bolso uma PokéBola e a encarou por
alguns instantes antes de apertar o botão central e liberar Quilava de dentro
da esfera.
Tanto
Ethan, quanto Quilava, admiraram em silêncio a plenitude daquele lugar. Não
havia raios, trovões ou tempestades, apenas a natureza majestosa que os
cercava.
—
Sabe amigão, eu estive pensando numa coisa. Hoje é um daqueles dias que vai
mudar a nossa vida pra sempre. Eu fico feliz por você ter me dado uma chance de
crescer comigo e ter me ajudado durante todo esse tempo. Eu não chegaria aqui
sem você.
Quilava
olhou para seu treinador e sorriu.
— É
até engraçado perceber que há alguns meses, esse turbilhão de sentimentos
dentro de mim me fez agir por impulso e fazer coisas terríveis. Poder agora
estar do seu lado com toda essa calmaria aqui fora e aqui dentro me deixa contente,
feliz de verdade. Apesar de tudo, eu confesso que estou nervoso, mas eu sei que
você e o pessoal estarão comigo, eu não vou estar sozinho. Nunca estive.
Ethan
agachou e abraçou seu Quilava. O corpo do Pokémon era quente.
— É
agora, parceiro. Chegou nossa vez.
O
garoto encarou o riacho pela última vez antes de virar as costas
definitivamente e caminhar pela estrada que levava de volta para Blackthorn.
Quilava foi acompanhando seu treinador, que ficou em silêncio enquanto
repassava mentalmente cada possibilidade de estratégia que poderia usar contra
os poderosos dragões de Clair. A batalha que estava prestes a encarar com
certeza o transformaria em uma pessoa diferente.
Ethan
só foi despertado dos pensamentos que o distraíam quando, ao virar a esquina,
deu de cara com as belíssimas esculturas feitas em pedra de dois Dragonites
imponentes que encaravam qualquer um que tivesse coragem o bastante para chegar
próximo das portas do Ginásio da cidade. Estranhamente, havia uma placa
colocada embaixo de uma das esculturas que o garoto tinha certeza de não estar
ali no dia anterior, quando foi até o local para reservar seu horário para a
disputa de logo mais. Aproximou-se e leu, com certo espanto, as palavras
escritas em latim com a tradução ao lado: Draco
Dormiens Nunquam Titillandus.
—
“Nunca faça cócegas em um dragão adormecido”? Como assim? O que será que isso
quer dizer?
Ethan
olhou para os lados e não viu ninguém. Deu de ombros, retornou Quilava para a
PokéBola e entrou pela porta da frente do Ginásio.
—
Você quase me faz admirá-lo.
A
voz de Clair surpreendeu o garoto que congelou no lugar onde estava. A mulher
aproximou-se devagar, com sua capa majestosa esvoaçando de forma sensual,
acompanhando o balanço de seu rebolado.
— Clair! Estou aqui para minha revanche! —
exclamou Ethan para a mulher, que parou em sua frente com as mãos na cintura.
— Nos últimos tempos, eu ouvi demais o seu
nome por aí. Em cada esquina em que eu passei, em cada lugar em que eu entrei
só se falava em seu nome. Falava-se em Ethan, jovem treinador que abandonou os
Pokémon porque não conseguiu lidar com o peso e a frustração de ser derrotados
em uma batalha contra mim — comentou Clair, quase em um sussurro. — Eu mesma
não acreditei quando li seu nome na programação de hoje, voltei a lembrar
daquele dia em que você saiu daqui completamente perdido, sem o apoio de seus
Pokémon.
Os olhos azuis de Clair fitavam os olhos de
Ethan de uma forma severa.
— Eu estou pronto para enfrentá-la — disse o
garoto de maneira firme.
— É inegável que seus Pokémon possuem força.
Você tem um Tyranitar em sua equipe que destruiu meu clube de treinos. Seu
Tyranitar foi treinado pela minha Dragonair e veja só, hoje pode ser o dia em
que eles poderão colocar em prática o resultado de seu treinamento. — A Líder
do Ginásio desviou o olhar para o campo de batalha no andar inferior. — Nunca
faça cócegas em um dragão adormecido. Você sabe o que quer dizer?
Ethan respondeu balançando a cabeça de forma
negativa.
— Muitas vezes fazemos uso do que achamos ser
uma vantagem para tentar tirar proveito de uma situação. Os dragões são
criaturas formidáveis, são poderosas, sim, mas demonstram seu poder máximo
apenas com aqueles que conseguem domá-los... Eu passei a minha vida inteira
tentando provar pra mim mesma que eu sou a maior de todas, mas o reconhecimento
que eu acredito que preciso não me é dado. É frustrante... Mas ao invés de me
lamentar por causa disso, eu simplesmente busco me tornar mais forte, porque um
Dragon Tamer de verdade jamais curvará a cabeça, independente do inimigo. Eu
sou a melhor Mestra de Dragões do mundo porque me sinto assim e não preciso de
cerimônias para afirmarem isso. Hoje, eu sei que um treinador precisaria de
anos de experiência para chegar ao meu nível. Você, na
última batalha, não conseguiu se defender. Foi facilmente derrotado. Será que
você está apto para conseguir a insígnia desse Ginásio? — perguntou Clair de
forma séria.
— Eu não sei — respondeu o garoto, fazendo com
que a mulher erguesse o cenho, surpreendida pela resposta. — A gente nunca pode
dizer que tem o controle de uma batalha sem participar dela antes. Muitos
fatores podem mudar o curso de uma vitória, mas se eu estou aqui, é porque
acredito que meus Pokémon e eu estamos prontos para ao menos tentar te cansar
um pouquinho.
A mulher examinou Ethan de cima a baixo. Sem
dizer uma única palavra, caminhou até um dos elevadores ao fim do corredor que
davam acesso ao campo de batalha.
— Muito bem. Vamos ver o que você tem a
oferecer dessa vez. — Ethan viu as portas do elevador se fecharem e cerrou os
punhos. Apressou-se para ir até o elevador que o levaria até o seu lado do campo
de batalha.
O calor emanado pela lava quente que escorria
por debaixo do campo de batalha parecia ainda mais intenso. Ethan ainda não
entendia como aquela mulher conseguia manter-se de capa, mas desta vez não fez
qualquer comentário a respeito disso. Lembrou do conselho de Forrest sobre
condições adversas em batalha, principalmente em relação ao ambiente em que ela
aconteceria, e concentrou-se apenas para tentar usar isso a favor de si.
— Assim como da última vez, eu usarei três
Pokémon. Você, desafiante, pode usar quantos Pokémon desejar e acredito que
você irá precisar usar todos mesmo — avisou Clair.
— Não me subestime, Clair. Hoje os seus
Dragões precisarão de muito mais do que força pra me derrubar — respondeu Ethan
sacando uma PokéBola.
— Se você diz... Espero que pelo menos alguém
do seu time obedeça aos seus comandos dessa vez, desafiante — provocou a mulher
com sua primeira PokéBola em mãos.
Sincronizados
como se estivessem em uma dança, Ethan e Clair arremessaram suas PokéBolas no
campo de batalha. Iniciava agora uma das maiores batalhas de suas vidas.
TO BE CONTINUED...
*Revestimento de Metal = Metal Coat
Regressar aqui e poder encontrar capítulos de Aventuras em Johto para me distrair a alma e, ao mesmo tempo, dar-me inspiração e motivação para escrever é o melhor de tudo! Obrigado por isso, querido Dento.
ReplyDeleteComecemos então por perceber um pouco melhor o background de Clair, a Mestre dos Dragon-Type, mas que nem sempre assim foi. Essa sua história serve para mostrar que nem todas as respostas negativas, derrotas ou contra-tempos são fundamentais naquilo que vamos construir amanhã. E eu acho que essa é a principal mensagem deste capítulo, uma vez que Ethan treina com os seus Pokémon, dando uma segunda oportunidade para a sua equipa se preparar para o último desafio de ginásio. Pelo meio, captura um Gligar e (quase) um Aipom. Estou curioso para ver se esse macaquinho roxo vai voltar.
Os diálogos e a narração estavam excelentes, como o Dento já nos habituo imenso. Aguardo com bastante excitação o confronto entre Ethan e Clair e perceber se, finalmente, o rapaz está disposto a levar a taça para casa.
Yo Angie!
DeleteSou eu quem agradeço por ter um cara como você por aqui! ♥ E se a minha história te inspira e faz a diferença na sua vida, acho que posso dizer que meu trabalho aqui está concluído! kkkk
Sim, é exatamente isso! Acho que a gente se torna melhor toda vez que passa por uma provação... O mundo não funciona como a gente quer que ele funcione, eu acho que seria muito cômodo (e até muito chato) se fosse assim... O prazer de viver está justamente na conquista daquilo que a gente deseja. E acho que a Clair acaba descobrindo isso e se tornando uma treinadora melhor e, mais ainda, uma pessoa melhor, mas pra isso, precisa quebrar a cara (como todos nós). E SIM, temos atualizações na equipe do nosso menino! Estou ansioso pra começar a usar esse Pokémon! Vamos para a ação!
Eu fico muito feliz que você goste da minha história, de verdade mesmo! É sempre um prazer ter você por perto!
Espero continuar te surpreendendo!
See ya!
Ok, bora que tem muita coisa pra comentar nesse capítulo.
ReplyDeleteMais uma cena do Lance. Ele que, aliás, tem dado muito as caras por aqui nos últimos capítulos. Dessa vez sua conversa é com a Amy. Eles estão muito certos de que a Team Rocket ainda não se deu por vencida, mesmo que o esconderijo deles em Mahogany, uma das estruturas mais importantes da organização, tenha vindo abaixo naquele confronto. Não só isso, como a Amy é a carta trunfo do Lance pra tentar antecipar os passos do inimigo. Eles sabem que o alvo é Ecruteak, só não sabem quando a bomba vai explodir.
Clair, minha querida, você diz que o Lance não tá nem aí pra nada, mas você mesma não foi escolhida como Dragon Master justamente por levar tudo mais a sério do que deveria. Vai encher a cara um pouco, sai dessa vida obsessiva.
O treinamento de Ethan e Forrest começou. Gligar na equipe do Ethan muito me agrada! Aipom eu amo, todo mundo ama, quem não ama está morto por dentro. Mas sinceramente eu não sei o que ele poderia acrescentar pro time do Ethan na Liga Pokémon. Quero ver o que você tem escondido na manga com relação a ele.
Agora vem a revanche, finalmente! Hora que o filho chora e a Marieta não vê. Ethan vai ter que suar pra ganhar da Clair, porque mesmo ele tendo treinado e melhorado sua sintonia com a equipe, a mulher agora tá full putaça por causa do ocorrido na cerimônia mais cedo e vai querer descontar no primeiro bobo alegre que cruzar o caminho dela.
Depois do Farol de Olivine e da Toca do Dragão, só falta agora o Ethan derrubar o ginásio de Blackthorn...
Até a próxima! õ/
Yo Shadz!
DeleteÉ muito legal quando esses personagens aparecem com frequência, se movimentando. Acho que significa que a história está chegando no seu clímax, aproximando-se do seu final. Igual ao Eiichiro Oda, eu digo que AeJ tá acabando há pelo menos uns 10 anos. Kkkkk Dá até uma nostalgia ver esses personagens de volta, Lance, a Equipe Rocket... Quer dizer, pra nós, né? Pq coisa boa não deve ser. kkkkk
A Clair, como sempre, cumprindo bem seu papel de parente mais nova que não consegue fingir alegria quando as coisas não são do jeito que ela quer. Não dá pra levar a sério kkkk Mas pelo menos cria caráter. Eu acho.
E A EQUIPE AUMENTA! Eu amo Gligar, eu espero fazer um bom uso dele... A Liga tá logo ali, vamos dar umas inovadas no time, né? A meta é chegar aos 12 membros, pra variar bem... Quem será quem vem aí? Faça suas apostas!
Agora sim, a oitava insígnia! Eu não garanto nada... Meu histórico de zelo pelos patrimônios municipais não é dos melhores kkkkk Mas espero fazer um bom trabalho!
Espero continuar te surpreendendo!
See ya!