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Capítulo 42
Já aproximava-se das dez horas da noite quando Ethan, Amy e Forrest
observavam a entrada milenar da Cidade de Ecruteak, de onde era possível ver a
silhueta da Torre do Sino, iluminada pelas luzes da cidade. Após andar o dia
inteiro, eles mal viam a hora de chegar no Centro Pokémon, reservar um quarto e
poder descansar para prosseguir viagem.
— Eu tô tão cansado que eu sinceramente não vou ligar de dormir com os
fantasmas hoje... — Bocejou Ethan.
— Acho que nunca andei tanto na minha vida... — Reclamou uma Amy
exausta.
— Mas, pelo menos, conseguimos chegar em Ecruteak sem ter que acampar
na estrada... — Disse Forrest, coçando o olho.
Eles bem que queriam correr, mas seus corpos mal se aguentavam em pé.
Ethan, cansado, sequer reparou numa pedra que estava em sua frente, fazendo-o
tropeçar e cair para frente, batendo com força no chão.
Amy e Forrest correram para socorrê-lo.
— Ethan, você está bem? — Perguntou o moreno.
— Ai... Eu tô legal. Só meus joelhos que doem...
Os joelhos de Ethan sangravam. Não parecia nada de muito grave, apenas
um arranhão causado pelo impacto no chão de terra.
— Vamos tentar nos apressar! Podemos colocar um curativo nesse
machucado lá no Centro Pokémon. — Disse Amy.
Os garotos concordaram. Ethan levantou do chão com o auxílio de seus
amigos, e se apoiou em seus ombros para completar o resto do caminho. No
entanto, algo chamou sua atenção. Um brilho prateado saia por detrás das
árvores da Rota 38, se escondendo rapidamente ao notar que havia sido
descoberto.
— Ei, gente, pera aí... Aquilo ali é um Pokémon? — Perguntou o garoto,
apontando para uma das árvores próximas.
— Pokémon? Onde? Eu não tô vendo nada, Ethan. — Respondeu Amy,
semicerrando os olhos para ver se conseguia enxergar alguma coisa naquele breu.
— É, também não estou vendo nada... — Disse Forrest em seguida,
tentando, sem sucesso, ver algo a olho nu no meio da mata escura.
O barulho de algo se movendo na grama deu a certeza de que Ethan não
estava maluco. Realmente havia algo ali observando os garotos.
— Muito bem, acho que chega de brincadeira. — Ethan pegou a PokéBola de
Quilava. — Me ajuda aqui, amigão. Ember!
O Pokémon Vulcão saiu de sua PokéBola e atirou chamas de sua boca na
direção que seu mestre apontava. O fogo que surgiu assustou a criatura que se
escondia ali. Ela então apareceu perante o grupo, pronta para se defender. Era
uma criatura de metal flutuante que fez Ethan soltar uma exclamação, visto que
havia enfrentado o mesmo Pokémon como oponente na luta contra Jasmine, bem
recentemente.
— É um Magnemite selvagem!
— Ethan, você tem certeza que vai lutar contra ele? Você precisa cuidar
do seu joelho... — Disse Amy para o garoto, num tom de voz preocupado.
— Não se preocupe, Amy, eu dou conta do recado. Além do mais, se esse
Pokémon for selvagem, será uma ótima aquisição para a equipe, já que estou cada
vez mais próximo da Liga Pokémon. O destino às vezes nos dá oportunidades que a
gente não pode perder! Muito bem, Quilava! Flame Wheel!
O Pokémon de Ethan envolveu-se em chamas e disparou contra o oponente.
Quilava já havia enfrentado um Pokémon da mesma espécie antes. Mas hoje ele
tinha certeza de que o resultado daquela luta seria diferente. Ele se
esforçaria para sair vencedor.
Magnemite foi atingido em cheio. Foi super-efetivo. Mas ele nada disse.
Parecia estar estudando seu oponente. Mesmo que Quilava tivesse vantagem, ele
era resistente. Então, ele atacou. Rápido, utilizou seu Tackle para
atingir Quilava.
— Lava, você está bem? — Perguntou Ethan, obtendo resposta positiva de
seu Pokémon logo em seguida. — Excelente. Tá na hora de botar pressão. Quick
Attack!
Quilava ergueu-se do chão. Veloz, correu por trás de seu treinador para
pegar velocidade e partiu para cima de Magnemite, derrubando-o no chão.
— Ember! — Exclamou Ethan.
Aproveitando a vantagem que tinha por Magnemite estar no chão, Quilava
lançou chamas de sua boca, que voltaram a atingi-lo.
O Pokémon de Ethan retornou à posição de combate. Encarava atentamente
seu oponente, aguardando qualquer movimento que ele pudesse utilizar em resposta.
Mas, Magnemite levitou e encarou Quilava de maneira séria. Chacoalhou
seu corpo magnético para livrar-se da terra que o sujava e continuou a analisar
seu oponente.
— Bzzzz bzzz bzzz bzzzz... — Dizia ele enquanto carregava de
seus imãs uma poderosa corrente elétrica. Num piscar de olhos, Quilava foi
atingido pelo grande choque elétrico do ThunderWave. O Pokémon de Ethan não
sentia mais seu próprio corpo.
— Quilava! — Exclamou o garoto.
— Ele está paralisado! — Avisou Forrest.
— Mas que droga! Eu preciso pensar em alguma coisa, bem rápido...
Quilava encarou Magnemite. Seus olhos se encaravam. O Pokémon de Ethan
estava furioso por estar sendo dominado daquela maneira. Seu oponente o
encarava com curiosidade, quase como se tentasse ler a mente de Quilava para prever
qual seria seu próximo movimento.
— Lava, eu sei que você ainda não desistiu dessa luta. Vamos sair
dessa! Flame Wheel! — Gritou Ethan para seu Pokémon.
Quilava sacudiu a cabeça e tentou concentrar-se. Aquela paralisia não
podia, e não seria maior que ele. Então, envolveu seu corpo nas maiores chamas
que conseguia produzir e partiu para cima de Magnemite, que não recuou.
Atingido, foi arremessado com violência para o tronco de uma das árvores
próximas.
Ethan abaixou-se para abrir a mochila e procurar uma PokéBola vazia. Ele
soltou uma exclamação baixinha quando viu que só tinha uma sobrando. O garoto a
pegou, concentrou-se e arremessou em Magnemite, que foi sugado para dentro da
cápsula.
Ela começou a se mexer violentamente. Vibrava e balançava para todos os
lados possíveis. Magnemite não era um Pokémon fraco. Ethan torcia para que
aquele Pokémon não escapasse.
Um estalo alto foi ouvido.
— Bzzzzz... — Era o barulho ameaçador que Magnemite fazia,
encarando os humanos e Quilava.
— Ethan, acho que agora você o provocou... — Sussurou Amy para o amigo.
Surpreendentemente, Ethan sorriu.
— Eu apanhei de um Magnemite de uma amiga muito poderosa e consegui
derrota-lo. Não vai ser pra você que a gente vai cair. Quick Attack!
Quilava disparou para cima de Magnemite. Mas a sua paralisia o fez
parar alguns metros à frente. Faíscas saíam de seu corpo. A corrente elétrica continuava
a fazer com que ele perdesse o controle dos movimentos do próprio corpo.
O corpo de Magnemite foi coberto por uma densa corrente elétrica
alaranjada. As faíscas então foram direcionadas para Quilava, que outra vez
recebeu outro golpe elétrico sem poder se defender.
— Ember, agora! — Exclamou Ethan.
Quilava disparou de sua boca chamas bem maiores do que o que costumava
produzir. Ele estava com tanta raiva que todos a sua volta começaram a sentir a
temperatura ambiente subir. O poderoso fogaréu atingiu Magnemite, que caiu
tonto no chão. Aquele fogo era poderoso demais até para ele. E ele reconhecia
isso.
— Amy! Forrest! Preciso de uma PokéBola, rápido! — Pediu o garoto de
forma urgente aos amigos, que começaram a revirar suas mochilas.
Fora Amy que pegou uma cápsula vazia e entregou ao amigo.
— PokéBola, por tudo quanto é mais sagrado, vai! — Ethan a arremessou.
A última coisa que Magnemite viu antes de sentir seu corpo ser sugado
pela esfera vermelha foi Quilava o encarar com um olhar mortal. Magnemite
finalmente havia conseguido o que queria: Um oponente forte o bastante para
testar suas habilidades.
Agora também teria um treinador capacitado para fazê-lo evoluir ainda
mais em batalha.
Então a PokéBola lacrou com ele lá dentro e diminuiu seu tamanho.
Mancando, Ethan aproximou-se da esfera caída e a recolheu. Olhando para
Quilava, sorriu.
— Acho que estou quites com você, não é, amigão?
Quilava correu até seu mestre o começou a lamber seu rosto,
demonstrando seu carinho. A eletricidade estática em seu corpo fez Ethan tomar
um leve choque na mão ao passa-la pelo corpo de seu Pokémon e caiu ao chão,
fazendo Amy e Forrest correrem para auxiliá-lo.
—Quilava realmente ama você! Talvez seja a forma de ele dizer que o que
aconteceu na batalha contra o Magnemite de Jasmine é passado. — Sorriu Forrest.
Ethan levantou-se apoiado nos ombros dos amigos. Com Quilava ao seu
lado, o garoto guardou a PokéBola de seu Magnemite no bolso.
— Nove Pokémon. Quem diria, hein? Será que você vai ter capacidade de
treinar todos eles até a Liga? — Provocou Amy.
— Obrigado pela ajuda, Amy. Por sua causa, eu consegui pegá-lo. Acho
que vou ter que pedir pro Professor Elm guardar mais um Pokémon com ele... Faísca
chegou na equipe. — Sorriu o garoto com os amigos enquanto os auxiliava a
recolher suas bagagens para concluir o trajeto até o Centro Pokémon.
***
— O QUE QUER DIZER COM “NÃO HÁ VAGAS”?! — Berrou o garoto no saguão do
hospital ao dar de cara com um grande aviso.
Ecruteak receberia duas treinadoras excepcionais, que defendiam postos
na lendária Batalha da Fronteira. Um evento desse tamanho, obviamente, traria
diversos treinadores de diversos lugares de Johto para prestigiar. E foi um
detalhe que o grupo se esqueceu de considerar durante o trajeto até a Cidade.
— Poxa vida, e agora? — Lamentou Forrest.
Amy bufou.
— Que ótimo! Agora a gente vai ter que dar uma de andarilho e dormir na
praça! Era só o que me faltava mesmo!
Ethan não havia ainda se dado por vencido. O garoto então se dirigiu ao
balcão da Enfermeira Joy.
— Boa noite, enfermeira. Não tem mesmo nenhum quarto sobrando? Eu e meus amigos viemos de longe e
não temos onde passar a noite...
— Infelizmente não. Todos os nossos quartos e suítes já estão ocupados.
O que eu posso fazer é tentar ligar para o Centro Pokémon mais próximo, que é o
de Olivine.
— Mas nós acabamos de vir de lá.
— Sinto muito, mas é o que temos pra hoje. — Disse a Enfermeira Joy,
exausta. Com certeza Ethan não era o primeiro a mendigar vaga. Então, mesmo sem
querer, ela acabava tratando os treinadores de uma forma levemente ríspida. —
Tem mais alguma coisa que eu possa fazer por você?
— Tem sim... Por favor, preciso que você cuide desses Pokémon pra mim.
— Pediu Ethan enquanto entregava as PokéBolas de sua equipe à jovem enfermeira.
O saguão do Centro Pokémon estava cheio. Os garotos mal conseguiram
lugar para sentar na recepção. Então, para Amy poder cuidar dos ferimentos nos
joelhos de Ethan, os garotos sentaram-se no chão mesmo, encostado em uma das
paredes próximas ao balcão, enquanto Forrest dirigiu-se aos banheiros. O garoto
fazia caretas quando Amy examinava as feridas.
— Se você continuar se mexendo desse jeito, eu não vou poder limpar
isso aí. — Disse a garota, impaciente.
— Desculpa... Ai! É que dó quando você encosta... Ai! — Choramingava
Ethan.
Forrest aproximou-se dos dois com uma vasilha com água mineral dentro.
Agachou-se próximo à Amy e entregou-o para a garota. Com um pouco de gaze
adquirida com a Enfermeira Joy, a garota concentrava-se em limpar o sangue, que
já começava a ficar coagulado, e colocar um curativo em cima.
Alguns poucos minutos depois, os joelhos de Ethan estavam devidamente
medicados.
— Nossa, mas você é boa mesmo, hein? Aonde foi que você aprendeu isso?
— Perguntou Ethan à amiga, impressionado.
— Desde pequena que eu me viro sozinha em tudo o que faço. Tive que
aprender a fazer primeiros socorros se quisesse ficar viva. — Respondeu a garota
de forma tranquila.
Forrest e Ethan se encararam assustados.
— Caramba... Às vezes eu esqueço que você... — Forrest cochichou apenas
para os amigos ouvirem — ...Já foi da máfia.
Chansey foi ao encontro dos garotos. Abaixou sua bandeja e permitiu que
Ethan pegasse suas sete PokéBolas.
— Muito obrigado, Chansey. — Agradeceu o garoto.
— E agora, o que vamos fazer? — Perguntou Amy.
— Primeiro, eu vou mandar um Pokémon ao laboratório. Depois, a gente
sai daqui e pensa numa solução. — Disse Ethan, enquanto levantava-se do chão e
se dirigia a um dos Computadores do Centro Pokémon para ligar para o
laboratório do Professor Elm.
Com Quagsire enviado ao laboratório e com Faísca juntando-se à equipe,
os garotos saíram do Centro Pokémon e se sentaram na calçada. A lua cheia
brilhava no céu estrelado. Ethan, Amy e Forrest sentiam seus corpos implorarem
um lugar para descanso imediato.
— Acho que a melhor solução é a gente voltar para a Rota 38 e acampar
por lá. Pelo menos por essa noite. — Sugeriu Forrest.
— É, tô vendo que vai ter que ser assim mesmo... Me acostumei a ter uma
cama quentinha nos Centros Pokémon e acabei esquecendo como é dormir dentro de
uma barraca. — Disse Amy, visivelmente aborrecida com a ideia.
Um Pokémon aproximou-se do grupo. Ele era quadrúpede, com pernas
esbeltas e patas delicadas, com uma cauda fina bifurcada na ponta. Seu corpo
felino era coberto de um belo e macio pelo lilás. Suas orelhas eram grandes e tinha
olhos roxos com pupilas brancas, com mechas de pelo que saíam de seus ouvidos,
além de uma pequena e brilhante joia vermelha embutida em sua testa.
— Eu sabia que nosso grande guardião traria vocês de volta! — Exclamou
uma voz feminina.
Ao olharem para o lado, o trio deu de cara com uma jovem japonesa,
trajada com seu quimono vermelho com PokéBolas brancas. E por mais estranho que
fosse, ela era muito familiar.
— Desculpe, mas nos conhecemos de algum lugar? — Perguntou Ethan.
— Meu nome é Naoko. Nos conhecemos há algumas semanas, quando a maligna
Equipe Rocket me sequestrou para tentar roubar o nosso amado Lugia, lembram-se?
O trio soltou uma exclamação.
— Então você é aquela guardiã...! — Forrest apontou para Naoko.
— Não apenas eu, mas minhas irmãs também. Desde aquele dia que rezo
para que pudesse me encontrar com vocês para agradecer por terem me ajudado. Arigatou.
— Naoko curvou-se em agradecimento para os garotos. — Serei eternamente
grata.
Os garotos ficaram sem graça.
— Não precisa agradecer... Foi coincidência termos ido parar ali. —
Disse Amy.
— Eu não acredito em
coincidências. E o fato de termos nos reencontrado aqui só prova isso! —
Exclamou Naoko, sorrindo. — O que vocês fazem aqui nesta cidade, uma hora
dessas?
— É que acabamos de chegar de Olivine e descobrimos que não tem vagas
disponíveis para passarmos a noite no Centro Pokémon. — Contou Ethan.
— Quando você chegou, estávamos nos preparando para voltar para a Rota
38 e acamparmos lá. — Completou Forrest.
Naoko sorriu.
— Ora! Mas isso não é problema. Vocês podem passar a noite comigo e com
minhas irmãs! Nós estamos fazendo uma temporada no Teatro da Cidade com nosso
espetáculo de danças tradicionais. Seria uma honra para mim acomodar vocês
conosco.
— Olha, agradecemos o convite, mas não queremos atrapalhar vocês. —
Disse Amy.
— Por favor, senhorita, eu insisto! Não atrapalharia em nada! E tenho
certeza que minhas irmãs pensam o mesmo! Elas querem conhecer meus heróis!
Ethan, Amy e Forrest trocaram olhares envergonhados.
— Mas nem somos heróis... — Cochichou Ethan.
— Por favor! Eu e Espeon insistimos! — Disse Naoko, curvando-se
novamente perante os garotos.
— Tudo bem, nós iremos. — Concordou Forrest, com um sorriso.
Ethan sacou a PokéDex.
— “Espeon, um Pokémon Sol. É a forma evoluída de Eevee. Usa o pelo
fino que cobre o corpo para sentir as correntes de ar e prever coisas como o
tempo ou o próximo movimento do inimigo.” — Informou o dispositivo.
O trio seguiu Naoko e seu Pokémon através das ruas de Ecruteak. Não
demorou muito para que a fachada do grande teatro, que mais parecia um palácio,
aparecesse majestosa perante eles. Sua arquitetura antiga combinava com as
demais construções da lendária cidade, com colunas imensas que sustentavam a
grande fachada do prédio.
O grupo deu a volta pelo quarteirão e seguiu em direção a uma típica
casa de Ecruteak, que ficava ao lado do teatro. O que o teatro tinha de grande
e imponente, o local de onde os jovens se aproximavam era uma simples
tradicional casa japonesa, revestida por madeira antiga. Naoko abriu a porta de entrada que, assim como todas as outras portas
daquela casa, deslizava e era feita de madeira e papel, sendo então portátil e
facilmente removível. Um hall de entrada dava boas-vindas aos visitantes. Naoko
pediu para que Ethan, Amy e Forrest removessem seus calçados e os colocassem em
um grande armário de madeira próximo à porta de entrada.
O piso da casa era levemente erguido do chão, o que evitava a umidade e
a inundação no caso de fortes chuvas.
— Onee-san, tadaima. — Naoko anunciou, em voz alta e em japonês,
sua chegada da rua.
— Oh, Naoko! Ainda bem que você chegou! Você demorou, onee-chan. Estava
ficando preocupada já! — Disse a irmã, abraçando a mais nova. Não
se sabia se elas eram gêmeas, ou se era devido ao fato de serem japonesas, mas
nem Ethan, nem os amigos, souberam diferenciar quem era quem. A irmã de Naoko
era uma cópia fiel de sua parceira fraterna. A diferença era que a irmã de
Naoko, ao invés de vermelho, tinha o quimono azul com grandes PokéBolas
brancas. Um Pokémon a acompanhava. Ele era uma criatura quadrúpede com
três dedos pequenos em cada pé e almofadas de pata azul escuro nos pés
traseiros. Seu corpo era azul claro com contornos azuis escuros em torno de sua
cabeça e numa espécie de crista em suas costas, além de uma cauda que lembrava
as das sereias. Tinha uma espécie de gola branca em volta do pescoço e três
barbatanas ao redor de sua cabeça de cor cremosa.
Ethan pegou sua PokéDex e apontou para o Pokémon.
— “Vaporeon, um Pokémon Jato de Bolhas. É a forma evoluída do Eevee.
Quando suas
barbatanas começam a vibrar, é um sinal de que a chuva virá dentro de algumas
horas. Ele prefere lindas praias. Com células semelhantes às moléculas de água,
ele pode ficar invisível na água.” — Informou o dispositivo.
— Eu estou bem, Kuni. Acabei encontrando com eles, os heróis que me
salvaram aquela vez na luta com o guardião Lugia. — Disse Naoko, apontando para
os acompanhantes.
— Foram vocês que salvaram minha irmã e o guardião Lugia?! Oh, mas que
enorme satisfação recebe-los em nossa residência! Irmãs, por favor! — Kuni saiu
chamando as outras tão depressa que Ethan, Amy e Forrest não tiveram nem tempo
de cumprimenta-la.
A terceira irmã chegou, cautelosa. Era idêntica as outras duas. Seu
quimono, porém, era da cor preta com as estampas de PokéBola brancas. Ao seu
lado, um Pokémon com um elegante corpo preto com quatro pernas esbeltas e olhos
vermelhos. Haviam dois pares de dentes afiados saindo de sua boca, um par na
mandíbula superior e outro na parte inferior. Tinha orelhas longas e uma cauda
espessa, e elas tinham um círculo amarelo ao seu redor. Sua testa e pernas tinham
anéis amarelos sobre eles.
— “Umbreon, um Pokémon Luar. É a forma evoluída de Eevee. Quando
agitado, este Pokémon protege-se pulverizando suor venenoso de seus poros.
Quando a noite cai, os anéis de seu corpo começam a brilhar, colocando medo nos
corações de alguém próximo.” — Informou a PokéDex de Ethan.
— Eu me chamo Zuki. É um prazer conhece-los, viajantes. — E curvou-se
em cumprimento.
As outras duas irmãs vieram juntas, guiadas por Kuni. Uma, com quimono
verde acompanhada de um Pokémon quadrúpede com o corpo coberto de pelos curtos
e avermelhados, com orelhas compridas, olhos escuros e um pequeno nariz preto.
O fofo pelo amarelo formava um pequeno topete no topo de sua cabeça, e formava
sua cauda espessa e uma juba ao redor do peito e do pescoço.
— “Flareon, um Pokémon Chama. É a forma evoluída de Eevee. Ele
armazena um pouco do ar que inala em sua bolsa flamejante interna, o que o faz
aquecer numa temperatura superior a de 1.700°C, fazendo-o afofar sua juba para
esfriar a temperatura do corpo”.
A última irmã trajava um quimono roxo e seu Pokémon, também quadrúpede,
era coberto de pelos amarelos com uma franja espinhosa em torno de sua cauda e
uma crista branca em volta do pescoço. Suas orelhas eram grandes e pontudas, e
seus olhos e nariz eram pretos.
— “Jolteon, um Pokémon Relâmpago. É a forma evoluída de Eevee. Concentra
as baixas cargas elétricas emitidas por suas células e lança cruéis raios elétricos.
Todos os pelos em seu se arrepiam se ele for carregado com eletricidade.”. —
Informou pela última vez a PokéDex.
— Boa noite. Eu sou Miki. — Apresentou-se a irmã do quimono verde.
— E eu sou Sayo. É um prazer conhece-los. — Curvou-se a última, junto
com as outras.
— Prazer em conhece-las! Eu me chamo Ethan. E estes são meus amigos,
Amy e Forrest. Sentimos muito por estarmos incomodando vocês esta hora da
noite.
— Irmãs, estes são aqueles que me salvaram das mãos da Equipe Rocket.
Os trago aqui para que eles possam passar a noite conosco, visto que estão
cansados da viagem que fizeram. — Anunciou Naoko.
Ethan, Amy e Forrest apenas ficavam em silêncio. As quatro irmãs
conversavam entre si, em japonês, encarando o grupo. Aquela sensação era muito
desconfortável. Naoko acompanhava os convidados e também não dizia nada.
Foi Zuki quem encerrou a discussão e aproximou-se do trio.
— Muito obrigada. Sem vocês, eu não consigo imaginar o que seria de
Johto. — E curvou-se perante eles.
— Como assim? — Perguntou Forrest.
— Somos nós as guardiãs de Lugia e Ho-Oh. A cada geração, zelamos e
cuidamos para que os guardiões vivam em paz, como as lendas dizem. Aquele dia,
Naoko foi sequestrada por um dos Rockets... E eles a levaram para o esconderijo
de Lugia e o fizeram aparecer. Naoko comentou que não conseguiram levar ele, e
que isso só aconteceu graças a vocês. — Explicou a mais velha.
Os garotos se entreolharam.
— Que isso, nós não... — Começou Ethan.
— Devido a isso, seremos eternamente gratas a vocês. E creio que nossos
guardiões também. Sintam-se a vontade, fiquem o tempo que acharem necessário. —
Sorriu Miki.
Naoko olhou para os garotos e sorriu gentilmente.
— Venham, vou leva-los até os quartos.
— E eu vou preparar o jantar. — Anunciou Zuki, se retirando daquele
cômodo, sendo seguida por seu Umbreon.
— Eu te ajudarei, onee-san! — Exclamou Sayo, seguindo a irmã com
Jolteon ao seu encalço.
***
Não havia nada melhor depois de uma viagem cansativa do que um banho
tomado e satisfazer a fome com um banquete especial. Ethan, Amy e Forrest
sentiam-se aliviados pela sorte de terem encontrado Naoko e mais ainda por suas
irmãs serem tão receptivas. Os garotos contavam as histórias de sua viagem
enquanto degustavam deliciosas receitas tradicionais japonesas preparadas pelas
garotas. Havia, por exemplo, pratos como sushi, ramen, takoyaki e muitas outras
derivações de pratos. As horas foram se passando rapidamente. A conversa, a
comida, a tradição de sentar-se sobre os joelhos, histórias sobre Johto e
Ecruteak... Tudo era tão bom que quando os bocejos começaram a se tornar
frequentes, o grupo desejou ser forte para poder lutar contra o sono e o
cansaço.
Os amigos se arrumaram no pequeno quarto de hóspedes das irmãs.
Colchonetes foram espalhados pelo piso de madeira, as mochilas foram colocadas
próximas à porta e o silêncio da cidade era mais aconchegante do que
assustador. De repente, Ecruteak não era tão assombrada assim.
Não demorou muito para que Ethan, Amy e Forrest pegassem no sono.
***
Quando amanheceu, os garotos prontamente foram despertados às oito
horas da manhã, quando Sayo veio acordá-los. Eles então arrumaram suas coisas,
enrolaram os colchonetes e foram se despedir das irmãs. Haviam combinado de
irem tomar café da manhã no Centro Pokémon, assim, não se atrasariam para o
evento que ocorreria mais tarde. Eles agradeceram pela noite anterior, pela
hospedagem e pela recepção, despediram-se dos Pokémon com um cafuné na cabeça
cada um e seguiram para o hall de entrada da casa, onde pegaram seus calçados,
vestiram e saíram pela porta. Mais uma vez, estavam felizes. As coincidências
daquela estadia os livraram de uma fria.
Ao chegarem no Centro Pokémon, o grupo se dirigiu ao refeitório, que
para a sorte deles, não estava tão cheio. Àquela hora da manhã, provavelmente,
grande parte dos treinadores hóspedes ainda não tinha acordado.
O grupo então serviu-se de pão, café, leite, cereais e muitas outras
coisas que haviam disponíveis no refeitório. Devido a presença de muitos
treinadores naquele dia, havia um número maior de alimentos para serem servidos
ao público.
Ao terminarem as refeições e darem-se por satisfeitos, os garotos
decidiram ir até o centro da cidade para comprar PokéBolas — Ethan já não tinha
mais nenhuma consigo. E,
sem pressa nenhuma, os três caminharam pelas ruas e avenidas de Ecruteak, se
dirigindo ao PokéMart. Ao chegar, os garotos abasteceram o necessário,
pagaram os produtos e fizeram o caminho de volta para o Centro Pokémon, onde os
garotos passaram o resto da manhã conversando e treinando seus Pokémon, em
batalhas contra treinadores.
Após o almoço, os garotos, seguidos
por diversos treinadores, seguiram do Centro Pokémon até o centro da cidade,
onde o evento estava marcado para acontecer. Na praça de Ecruteak, os
treinadores foram se organizando ao redor da praça da cidade, onde havia um
palco que devia medir uns cinco metros de largura, mas não havia ninguém nele.
Murmúrios e cochichos começaram a ser produzidos pelo público ansioso, que mal
via a hora de a palestra sobre a Batalha da Fronteira começar.
Uma limusine aproximou-se do lugar.
As atenções foram desviadas para o grandioso carro preto que vinha com
velocidade. Quando estacionou atrás do palco montado na praça e as portas se
abriram, o público ovacionou as duas mulheres que de do carro saíram, cercadas
por seguranças. A mulher mais jovem, Dahlia, era morena, com longos cabelos em dread, pintados de azul nas pontas, com um
lindo sorriso largo e olhos azuis enormes, o que a permitia ser carismática sem
dizer uma única palavra. O piercing em seu umbigo, que brilhava sempre que
refletia a luz do sol, era visível pois a moça vestia umaa blusa cropped
amarela bem curta, com um babado na cor branca costurado nas mangas e no colarinho da blusa. Seu look estiloso
terminava com uma calça legging azul e saltos altos amarelos, da cor de sua
blusa, que parecia querer competir com a cor do sol.
Sua acompanhante, por sua vez,
apesar de ser mais velha, não deixava de ser tão estilosa quanto a companheira,
mesmo que mais recatada. Tinha a pele pálida e as marcas em seu rosto denunciavam
a idade avançada que tinha. Ao contrario de Dahlia, Argenta tinha um olhar mais
desafiador, com olhos vermelhos que combinavam com o conjunto que estava
vestindo: uma jaqueta de couro e uma bermuda de mesmo material. Usava uma blusa
branca de gola alta por baixo, uma meia calça roxa, botas pretas de cano alto e
enormes brincos redondos e azuis. Sua bota com salto mostrava poder, uma
atitude de superioridade. As luvas completavam o estilo aviador que possuía no
geral, como uma verdadeira exploradora. Ela removeu os óculos escuros e
dirigiu-se às escadas traseiras do palco para subir nele e cumprimentar o
público junto à parceira.
Ambas pegaram os microfones e
saudaram os admiradores.
— Boa tarde, jovens treinadores e
treinadoras! Eu sou Dahlia, e esta é minha parceira, Argenta! Nós somos
integrantes da renomada Batalha da Fronteira! — Disse Dahlia, de forma bastante
enérgica.
O público a ovacionou. Eles
realmente estavam alvoroçados de verem aquelas duas mulheres ali. O maior
empolgado parecia ser Forrest, que não tirava os olhos de Argenta, fazendo Ethan
e Amy ficarem trocando sorrisos maliciosos. Ele realmente não mentira quando
disse que Argenta era sua ídolo.
— Agradeço a todos. Viemos em nome
da Organização BF para convidar à todos vocês a participarem da Batalha da
Fronteira, que ano que vem terá temporada sediada em Johto. — Anunciou Argenta,
com um sorriso.
Um coro maciço de exclamações e
palmas se misturava às aclamações do público. Aquilo realmente era uma notícia
e tanto. E Forrest era o que se empolgava mais com a noticia. Ele já estava
pensando em estender sua viagem em Johto apenas para ter a oportunidade de
enfrentar Argenta na Batalha da Fronteira.
Dahlia levou o microfone à boca.
— A Batalha da Fronteira é composta
pelo maior time de treinadores que o mundo já viu. Muitos de nós somos mais
habilidosos que muito membro da Elite 4 por aí! — E sorriu de forma debochada.
— E o melhor de tudo é que vocês não precisam de insígnias e enfrentar o
campeonato da Liga Pokémon para nos enfrentar. É só chegar! Mas cuidado... Nós podemos
massacrar cada um de vocês rapidamente, e isso não é um blefe.
Os treinadores começaram a encarar as duas
mulheres de uma maneira mais séria agora. A ovação geral, aos poucos, começava
a diminuir. O olhar daquelas duas mulheres experientes agora hipnotizava a
todos que as assistiam.
— Nós levamos batalha Pokémon muito
a sério. Nenhum Cérebro de Fronteira pega leve com desafiante nenhum. E vamos
mostrar isso na prática. — Disse Argenta, pegando uma PokéBola do bolso da
jaqueta.
De dentro da cápsula, um Pokémon
assustador saiu e materializou-se ao lado de sua treinadora. Com um corpo que
se parecia muito com um esqueleto, ele tinha uma cabeça em formato de disco meia-lua,
com dois pequenos olhos voltados para frente. Seu corpo tinha uma caixa torácica
cinza claro com uma concha marrom em suas costas que se assemelhava a uma
espinha dorsal visível, contendo três costelas que se projetavam para cada lado
de seu corpo e uma cauda grossa e afiada. Não tinha mãos ou patas, mas duas
grandes e afiadas foices cinzas. Suas pernas eram castanhas e finas, com pés
pequenos acopladas com duas grandes garras cinzentas. Ethan olhou atônito para
aquele Pokémon. Sacou sua PokéDex para descobrir seu nome.
— “Kabutops, um Pokémon Marisco. É um Pokémon pré-histórico evoluído do
raro Kabuto. Na água, ele dobra seus membros para tornar-se mais compacto,
então ele se contorce em sua concha para nadar mais rápido. Com garras afiadas,
este Pokémon feroz e antigo rasga suas presas e suga seus fluidos corporais.” —
Informou o dispositivo.
— Sinistro... — Comentou Ethan,
assustado.
Argenta sorriu maliciosamente.
— Este Pokémon não terá piedade de
vocês. Ele está disposto a cortar seus queridos Pokémon ao meio, caso
necessário. E, como uma oportunidade única, estou lançando uma proposta aqui.
Quem de vocês tem coragem de vir aqui e me enfrentar?
Um silêncio tomou conta do ambiente.
Era de dia, mas parecia que tudo na cidade ficou calado. Nem as avenidas
movimentadas pareciam produzir sons do trânsito local. Todos começaram a se
olhar, desconfortáveis. Aquilo era realmente algo que pegou a todos de
surpresa. Quem seria louco o bastante para aceitar o desafio de uma das
treinadoras mais habilidosas do mundo que utilizaria um Pokémon assassino,
ainda por cima?
— Eu aceito o desafio.
Todos olharam para trás. Incrédulos,
queriam ver quem foi o suicida que disse “sim” ao desafio mortal proposto por
Argenta.
Ethan e Amy olharam para Forrest com
os olhos arregalados. Pessoas próximas cochichavam umas às outras, quando viram
que o garoto estava com a mão direita estendida para o alto, olhando fixamente
para Argenta.
— Forrest, você tem certeza? Aquele
Pokémon pode te fazer em pedacinhos! — Exclamou Ethan.
Forrest sorriu.
— Eu nunca desperdiçaria a
oportunidade de enfrentar Argenta. Como fã dela, eu sei o que me aguarda.
— Boa sorte... — Desejou Amy para o
amigo, apertando firme seu ombro.
O moreno começou a caminhar em
direção ao palco. A cada passo que dava, o público abria o caminho para sua
passagem. Argenta o encarava curiosa.
— Vejo que você é um rapaz bastante
corajoso... Diga-me seu nome, treinador. — Disse ela, quando Forrest subiu ao
palco.
— Meu nome é Forrest. E eu sou seu
maior fã! — Exclamou o garoto, tremendo de emoção da cabeça aos pés.
Argenta deu um sorrisinho.
— Tch. Meu fã? Que sorte a minha...
Então eu acho que você deve ser alguém especial. Você coleta insígnias?
Disputará a Liga Pokémon?
— Não. Eu estou viajando em
treinamento para poder assumir o Ginásio de Pewter, de meu irmão Brock.
Argenta ergueu uma das sobrancelhas,
intrigada.
— É a primeira vez que eu ouço algo
assim... Ginásio de Pewter, em Kanto, certo? Que utiliza Pokémon do tipo
Pedra... O meu tipo...
— Exato.
— Entendo... Bem, parece que eu irei
testar seus poderes, meu jovem. Eu o avaliarei e, como mestra nos Tipo Pedra,
direi se você é digno de assumir tal responsabilidade. O que acha da ideia?
Os olhos de Forrest brilharam.
— Seria maravilhoso, senhora! Por
favor, eu estou pronto para o seu desafio!
Argenta fechou os olhos e sorriu.
Fazia tempo que ela não via alguém tão determinado assim. Talvez ele realmente
era seu fã. Mas, como seu fã, ele não poderia ser menos do que um ótimo
treinador. Ainda mais utilizando Pokémon do mesmo tipo que ela.
A mulher olhou para Dahlia que deu
alguns passos para trás.
— Senhoras e senhores. Tenho a honra
de apresentar a batalha entre a Dama do Salões, Argenta contra Forrest, o
treinador! Forrest, por favor, escolha seu Pokémon. A batalha será um contra
um. O primeiro que perder, está fora. —
Disse Dahlia.
Forrest sacou sua PokéBola.
— Uma batalha especial requer um
Pokémon especial. Conto com você, Rhyhorn!
O companheiro de longa jornada de
Forrest saiu da PokéBola e alongou seu poderoso corpo. Depois de um bom tempo,
ele estava de volta para lutar.
— Comece. — Pediu Argenta.
— Muito bem então. Rhyhorn, Take Down!
Rhyhorn saiu em disparada em direção
ao oponente, pegou impulso e saltou, caindo em cima de Kabutops. O ataque,
porém, também machucou Rhyhorn.
Mas Argenta pareceu não se
incomodar.
— Night Slash. — Disse ela de uma maneira tão calma que parecia até
desdenhar.
As poderosas lâminas de Kabutops
ergueram o pesado Rhyhorn e o arremessaram para cima. Com uma velocidade
impressionante, o Pokémon fóssil partiu para cima do oponente cortou sua pele
dura com suas foices afiadas, arremessando-o para fora da arena.
— Rhyhorn! — Exclamou Forrest. —
Erga-se! Use o Rock Blast!
— Waterfall.
Kabutops envolveu seu corpo com uma
poderosa rajada de água. Então ele moveu seus braços e partiu o chão em dois.
Um poderoso gêiser surgiu do buraco e atingiu em cheio Rhyhorn, que caiu
nocauteado.
As pessoas na plateia prenderam a
respiração. O resultado da batalha foi muito rápido... Aquilo nunca havia sido
visto por nenhum olho humano. A força de Kabutops era sobrenatural.
Forrest retornou seu Pokémon e ouviu
Argenta se aproximando.
— Eu derrotei você com apenas dois
golpes. Dois. E você ainda se considera um treinador dos tipos Pedra? —
Questionou para o garoto.
— Eu... — Forrest ia tentar se
explicar, mas foi interrompido por Argenta, que aproximou-se de seu ouvido.
— Se eu soubesse que iria perder
tempo com alguém como você, eu teria escolhido outra pessoa para lutar em seu
lugar. Você nunca irá assumir o Ginásio de Pewter se você continuar pensando
como um treinador medíocre.
Forrest olhou para Argenta com os
olhos cheios de lágrimas.
— Argenta, eu...
— Garoto, você diz que é meu fã, mas
nem parece se inspirar em mim. Espero que da próxima vez que o encontrar, você
pelo menos consiga aguentar mais de cinco minutos numa batalha Pokémon.
— Forrest! — Chamavam Amy e Ethan da
plateia.
Argenta deu de costas e voltou a
sorrir para o público.
— Essa é a verdadeira força de um
Cérebro de Fronteira. Claro que isso ficaria mais evidente se eu tivesse a
oportunidade de batalhar com um treinador poderoso de verdade. — A mulher
encarou Forrest, que fechou os pulsos e olhou para o chão, morrendo de
vergonha.
— Espero que vocês treinem pesado e
venham nos desafiar na Batalha da Fronteira na temporada do ano que vem. Eu e
nossos outros companheiros estaremos esperando vocês. — Sorriu Dahlia,
despedindo-se do público.
Ela e Argenta desceram as escadas e
entraram na limusine, que partiu rapidamente dali.
Dentro do carro, Argenta voltou a
colocar seus óculos escuros.
— Você não acha que pegou pesado
demais com aquele garoto? — Perguntou Dahlia, séria.
— Eu não tenho culpa alguma se ele
não conseguiu ser páreo pra mim.
— Eu não me referi à batalha.
Argenta olhou para a companheira e
depois encarou o céu azul de Johto.
— Eu estou velha demais para agir
com delicadeza. Não ganho pra isso. A carismática é você, Dahlia.
Enquanto o carro sumia no horizonte,
Ethan e Amy tentavam consolar o amigo, que não dizia nada.
— Forrest, está tudo bem... Perder
pra um treinador poderoso é comum... — Disse Amy, apoiando as mãos no ombro do
amigo.
— Sim, cara... Sei que você vai dar
duro agora para poder ficar melhor e... — Ethan foi cortado quando Forrest
abruptamente deu um passo para trás.
— Eu sou um lixo. — As lágrimas no
rosto do garoto agora escorriam descontroladamente.
— Não, Forrest, você não... — Tentou
consolar Amy.
— Eu não aguento mais ficar pra
trás. Desde que comecei minha viagem eu nunca tive um desafio de verdade, como
vocês dois. Eu estou sempre na sombra de alguém. Nem a Lyra quis ficar comigo!
Já chega disso, chega! Eu vou seguir viagem sozinho a partir de agora! — Gritou
Forrest.
— O quê?! Como assim?! — Exclamou
Ethan.
— Eu vou dar um jeito de voltar pra
casa. Eu não tô pronto ainda pra ser um treinador. E nunca vou realizar o sonho
de assumir o Ginásio de Pewter. Eu estou só gastando o meu tempo e dinheiro
nessa porcaria de viagem inútil! Eu nunca mais quero saber disso de novo. Nunca
mais! — Berrou o moreno, saindo correndo dali.
Amy e Ethan tentaram correr atrás de
Forrest, mas o garoto sacou uma PokéBola e liberou Graveler.
— Magnetude!
Graveler com seus dois pares de
poderosos braços musculosos quebrou o chão embaixo de Ethan e Amy, criando um
terremoto poderoso. Ethan se jogou para cima de Amy, na tentativa de evitar que
ela se machucasse. Os dois caíram ao chão e perderam a consciência, enquanto
Forrest continuou correndo em direção do Centro Pokémon.
***
Já era noite quando Ethan acordou na
cama do Centro Pokémon. Sua cabeça estava enfaixada. Também estava com uma tala
em seu braço, que doía bastante.
Ao olhar para os lados, viu Amy
sentada numa poltrona no quarto. A garota tinha um curativo na têmpora esquerda
e um na bochecha direita. Tirando isso, ela parecia não ter se machucado. Ela o
encarava de forma séria.
— Amy... Que bom que você está bem.
Eu fico feliz. — Sorriu o menino, fazendo-a corar.
— Sou eu que fico feliz em ver que
você acordou. E vivo. — Ela sorriu. — Obrigado por ter feito aquilo... Por ter
quase se sacrificado por mim. Te devo uma.
Ethan ficou sem graça.
— Hehehe... Não foi nada. Você não
me deve nada. — E mudou sua expressão. — E o Forrest? Algum sinal dele?
Os grandes olhos azuis de Amy
mudaram de expressão. Ficaram preocupados. Mas Amy continuava intrigada.
— Ele sumiu, Ethan. E deixou os
Pokémon dele pra trás.
Ethan soltou uma exclamação.
— Como é?!
— Quando desmaiamos, ele veio até o
Centro Pokémon e pediu para a Enfermeira Joy cuidar de Rhyhorn. Deixou todos os
Pokémon com ela e... Não voltou pra busca-los.
Ethan a encarou incrédulo.
— Eu não acredito nisso!
— E tem mais. Ao ficarem sabendo, os
Pokémon dele decidiram sair do Centro Pokémon e ir atrás de Forrest. Ninguém
conseguiu pegá-los. Eles ameaçaram a Enfermeira Joy e quem tentava impedí-los.
Ethan estava estupefato. Como aquilo
podia ter acontecido?
— Então a gente tem que ir atrás
dele! — Exclamou o garoto.
— É impossível. Não sabemos onde ele
está.
— Mas tem a Butterfree! E você tem a
Pidgeot! A gente pode procurar pelo céu e...
— Ethan, não! — Amy exclamou. A
garota chorava. — Eu amo você. Eu amo o Forrest. Mas, por favor... Deixe ele ir
embora.
Ethan a encarou surpreso.
— Amy...
— Nós não vamos obriga-lo a ficar
conosco. Deixe ele ir embora, pra sempre, se quiser! Eu só... Eu só quero que
ele... Fique bem...
Amy caiu aos prantos. Ethan levantou-se
de sua cama e, mesmo com o corpo doendo a cada movimento que o garoto fazia,
ele resistiu e foi até a garota, abraçando-a e chorando também.
— Por que, Amy? Por quê? — Ele
perguntou aos prantos.
Após uma batalha contra sua maior
ídolo, Forrest decidiu terminar sua viagem Pokémon. Abandonando toda sua equipe
no Centro Pokémon de Ecruteak, o paradeiro do garoto é desconhecido. Ninguém
sabia para onde ele havia ido, nem se havia voltado para casa, na Cidade de
Pewter, em Kanto. Seus Pokémon, a fim de procurar por seu mestre, também
desapareceram. E agora, Amy e Ethan, sozinhos, encontram forças para continuar
sua viagem sem seu melhor amigo.
TO BE CONTINUED...
Capítulo 41
Amanhecia
em Olivine. Como em qualquer cidade litorânea que se preze, o sol insistia em
dar bom dia de forma tímida, atrás de cinzas nuvens. A chuva, mesmo que
bem-vinda, não era uma frequentadora assídua do litoral de Johto.
Os últimos dias haviam sido bastante
incomuns. Amphy, o mascote do Farol Cintilante, morrera de câncer. Sua
treinadora, Jasmine, também Líder do Ginásio local, isolou-se completamente nas
24 horas que sucederam o triste acontecido. Mas, talvez a maior surpresa para
os habitantes locais, fora acordar naquele começo de Maio e, ao olharem
pelas suas janelas, não verem o famoso Farol Cintilante. Várias perguntas se
passavam pela cabeça de muitas pessoas. Logo, uma aglomeração de curiosos
começava a se formar na frente das ruínas do antigo farol, onde tratores e
guindastes começavam a chegar para limpar o entulho.
Próximo dali, no Centro Pokémon, Ethan,
Amy e Forrest despertavam de seu sono noturno. Mesmo que o trio tivesse dormido
mal nos últimos dias, os acontecimentos da noite anterior fizeram com que eles,
enfim, pudessem descansar. Sem preocupações. Sem pensamentos ruins. Apenas uma
boa noite de sono para recuperar a energia do grupo.
— Bom dia. — Desejou Ethan aos amigos
enquanto bocejava no quarto de hotel.
Forrest continuava deitado, com o braço
direito embaixo da cabeça e a mão esquerda em cima da barriga enquanto Amy
estava sentada na cama alongando-se.
— Bom dia, parceiro. Parece que você
acordou de bom humor hoje. — Sorriu o moreno.
— É que os últimos dias foram bem
intensos. E eu acho que consegui me resolver com o monstro que tinha dentro de
mim. Com ajuda de vocês e da Jasmine. — Disse Ethan, suspirando.
— Eu fico aliviada com isso. No fim das
contas, você e ela superaram uma barra pesada. — Comentou Amy.
Ethan sorriu. Levantou da cama,
atravessou o quarto e deu uma boa olhada no horizonte. O sol começava a sair
por entre as nuvens.
— Acho que esse é o nosso último dia
aqui, não é? Vamos aproveitar ao máximo! — Exclamou o garoto.
Forrest e Amy se olharam e sorriram.
O trio desceu para o saguão do Centro
Pokémon, onde dirigiram-se para o refeitório e tomaram um café da manhã
reforçado. Em seguida, Ethan seguiu até o balcão da Enfermeira Joy, onde havia
deixado suas seis PokéBolas na noite anterior. Apresentou-se, as recolheu e
guardou-as na mochila. Antes de colocar a última, no entanto, olhou para seu
reflexo na esfera e respirou fundo.
Amy e Forrest sabiam de quem era aquela
PokéBola. Assim como também sabiam o motivo do garoto estar tão reflexivo.
— O que você vai fazer? — Perguntou
Forrest.
— Prometi pra Jasmine que recomeçaria
tudo, junto com ela. Mas eu acho que... Eu não posso fazer isso.
Amy hesitou.
— Por que Ethan? Ainda a pouco você
estava tão feliz...
O garoto sorriu. Os amigos se olharam
confusos.
— É que essa promessa não é apenas
entre mim e a Jasmine...
Ethan agradeceu a Enfermeira Joy e
seguiu em direção às portas do Centro Pokémon. Amy fez menção de segui-lo, mas
Forrest tocou em seu ombro e impediu que a garota prosseguisse.
— Acho que isso é algo que ele quer e precisa
resolver sozinho. — Disse o moreno.
Amy hesitou. Suas sobrancelhas
levantaram e seus olhos azuis cheios de preocupação acompanharam o amigo até
ele sumir ao passar pela saída. Ela suspirou e sentiu Forrest apertar seu
ombro.
Ethan caminhou até a praça que ficava
de frente ao Centro Pokémon e sentou em um dos bancos disponíveis. Ele olhou
para onde antes ficava o Farol Cintilante e viu as colinas das montanhas de
Johto. Só que, pela primeira vez naquela praça e naquele banco, ele sorriu.
Sorriu por ter se reencontrado. Sorriu por ter conseguido dar mais uma chance a
si mesmo. E principalmente, sorriu por saber que não seria culpa sua fazer a
escolha certa.
Ainda com a PokéBola em mãos, o garoto
a encarou pela última vez e liberou então Ampharos da esfera multicolorida, que
encarou seu treinador com uma expressão curiosa.
— Acho que temos algumas pendências
entre nós pra resolvermos, não é?
Ampharos olhou para o mestre.
— Eu vou disputar a Liga Pokémon. E eu
quero que você fique aqui em Olivine.
O rosto de Ethan não esboçou nenhum
tipo de expressão ao dizer tais palavras. Ampharos até pensou que seu mestre
estava maluco.
Ela tentou argumentar, em sua própria
língua. Mas em vão.
— Ver a Jasmine chorando foi uma das
coisas mais doloridas que eu passei nessa viagem. E sei que foi uma barra muito
pesada pra ela e pra você terem de lidar com a morte do Amphy.
E o garoto sorriu.
— Independente da situação, vocês
acabaram se tornando muito amigas, né? — E olhou para Ampharos.
O calor do sol aquecia aos poucos a
cidade. Os dois observavam a praia de Olivine atrair cada vez mais banhistas
para o mar. Crianças, adultos e Pokémon brincavam na areia e a suave brisa
balançava os já rebeldes cabelos de Ethan.
— Quando eu comecei a minha jornada
Pokémon, eu não imaginava que eu passaria por tanta coisa. Sinceramente, eu só
queria uma desculpa pra deixar New Bark pra trás. Mas sabe... Às vezes eu sinto
falta de lá. Da mamãe me acordando pra tomar café... Da escola... Sinto falta
até da Lyra me enchendo a paciência. — O garoto, com um leve sorriso, levou as
costas da mão direita para secar os olhos marejados. — O mais engraçado é que
essas lembranças jamais sairão de mim, por mais que sejam da minha vida pacata
de interior, que me incomodava tanto...
— Grrrawrrr... — Grunhiu
Ampharos.
— Eu quero que você fique aqui. Não
porque eu não gosto de você, ou não valorize você como deveria... Mas, por te
amar tanto, eu acho que eu tenho que pensar mais em você do que em mim...
Pensar na Jasmine e nos meus sentimentos por ela. Você é uma Pokémon
maravilhosa. Ela é uma amiga fantástica. E eu acho que... Não, eu tenho certeza
de que você prefere ficar aqui do que continuar na estrada comigo. Sempre
prometi que ia levar você pra casa. Talvez seu lar não fosse mesmo lá nas
Ruínas de Alpha, mas aqui, em Olivine. Talvez o Amphy estivesse só esperando
você chegar pra poder descansar em paz. Duas almas que se encontram pra se
tornar uma só, que nem a história que a mamãe me contava quando eu era criança...
Ethan suspirou e olhou para a praia.
Sua paz interior o fazia continuar com um sorriso no rosto, enquanto deixava
memórias tomarem conta de sua cabeça. Ampharos olhou para seu treinador e em
seguida, encarou o mar. O grande e profundo oceano azul que ela via no topo do
farol, agora demolido por seu mestre e sua tutora. E, aos poucos, foi começando
a ouvir a história que Ethan começava a contar.
° ° °
Certa vez, há muito tempo atrás, bem antes das
torres de Ecruteak serem construídas, ainda quando Johto era um continente bem
maior e suas ilhas iam bem além de onde os olhos podiam ver, existiu um casal
de idosos que, caminhando por uma praia, encontrou duas crianças, gêmeas,
feridas, caídas próximas à beira-mar.
Então, o casal as socorreu e as levou até sua humilde casa.
Passaram-se os dias e com os cuidados dos bons e
amáveis senhores, as crianças recuperaram a saúde.
Elas não sabiam seu nome, não sabiam de onde vinham
e nem como foram parar ali. No entanto,
o casal, que não tinha filhos, as adotou. Os gêmeos então ganharam nomes: Anni,
para a menina e Aeon para o menino.
Tempos passaram-se. Um dia, um grande Pokémon
ergueu-se dos mares, coberto por fúria, e destruiu a ilha, separando e
afundando várias das longas terras de Johto. Para proteger seus pais adotivos, Anni
e Aeon transformaram-se bem na frente dos olhos do casal de idosos em duas
criaturas místicas e mágicas que acalmaram o grande Pokémon, fazendo-o retornar
para o oceano.
O povo celebrou o acontecido. No entanto, prevendo
que o Pokémon pudesse retornar futuramente, os dois irmãos uniram-se em uma
esfera prateada, onde colocaram suas almas, transformando-a na Joia da Alma,
que foi entregue para seus pais com a promessa de que eles retornariam para
eles em algum futuro.
Desde então, a Alma de Prata de Anni e Aeon passou
a representar a promessa feita por duas pessoas que estão conectadas de uma
forma mágica pelo universo e que são predestinadas a se encontrar em vidas
futuras.
° ° °
Ampharos estava extasiada. Olhou para
Ethan que continuava a sorrir, agora de uma forma ainda mais cativante.
Maravilhada, grunhiu para seu mestre.
— Grawrrrha!
— Que bom que você gostou! Eu amo essa
história. Mas pra mim, ela tem um significado ainda maior, sabe? Acredito que
nada é por acaso... Todos nós estamos predestinados a encontrar alguém. Não no
sentido amoroso, claro, mas no meu coração eu acredito que não foi por acaso
que eu encontrei Amy e Forrest... Nem mesmo o Joey ou você. Todos estamos
conectados de alguma maneira e eu sei que minha função é dar o melhor possível
para fazer a diferença na vida de cada pessoa que está comigo, assim como eu
permito que essas mesmas pessoas façam a diferença na minha vida. Talvez as
suas Almas de Prata sejam o Amphy e a Jasmine. E eu apenas fui um
instrumento pra que vocês, enfim, pudessem estar juntos, finalmente.
Ethan deixava que o vento tocasse seu
rosto. O barulho do mar tocando a areia da praia fazia a trilha sonora daquele
momento. Ampharos apenas acompanhava seu mestre, percebendo que ele via naquele
belo cenário muito mais do que apenas um paraíso. Ele enxergava o que ela não
podia ver: O infinito e todas as possibilidades imprevistas que existiam nele.
Talvez, sim, ela devesse ficar em
Olivine e se permitir encontrar-se com o verdadeiro propósito de sua vida, que
talvez não fosse batalhar ao lado de seu mestre, mas ajudar a guiar todas as
vidas que chegavam e partiam de Olivine, assim como seu amado Amphy fazia.
Reflexiva, Ampharos olhou para o chão.
Sentiu a mão de seu treinador pesar sobre sua cabeça e acarinhá-la, surpreendendo-a.
— Eu não sei se Anni e Aeon realmente
voltaram a encontrar com os pais... Mas eu tenho certeza que a gente se
reencontra. — Disse o garoto com a voz embargada.
Ethan e seu Pokémon abraçaram-se com
força, como se quisessem que suas almas se abraçassem e se enlaçassem pela
última vez. Um abraço que durou um longo tempo, que não foi calculado por
nenhum dos dois.
O garoto se levantou, sorriu pela
última vez e enxugou a lágrima que escorria do rosto de Ampharos.
— Seja feliz pra sempre! — Desejou o
rapaz.
Ampharos sorriu e olhou Ethan de uma
forma intensa, como se estivesse desenhando um retrato seu para guardar
eternamente em seu coração. Ela então se virou e correu na direção das ruínas
do Farol Cintilante.
Ao entrar de novo no Centro Pokémon,
viu Amy e Forrest atravessarem correndo o saguão para vir ao seu encontro.
— E então, o que aconteceu? — Perguntou
Amy.
E a resposta de Ethan soou tão natural
que ele nem se importou de chorar depois.
— A coisa certa.
Sentiu os amigos o abraçarem. Fazia
tempo que os três viajavam juntos, mas era a primeira vez em muito tempo que
eles se permitiam ser abrigo um para o outro. E, com isso, relembraram que eles só tinham um
ao outro. Consolar Ethan foi, enfim, a prova que faltava para se perceber que,
de fato, a lenda da Alma de Prata era, sim, verdadeira.
***
Com as coisas arrumadas nas mochilas,
Ethan, Amy e Forrest desciam as escadas que levavam dos quartos ao saguão do
Centro Pokémon para retomar viagem. A próxima parada era a Cidade de Ecruteak,
por onde os garotos passariam para poder seguir viagem em direção à Cidade de
Mahogany, onde Ethan disputaria por sua sétima Insígnia.
Antes de sair, Ethan foi até o PC,
ligou para o Professor Elm e preencheu o espaço vago em sua equipe com
Butterfree, um de seus primeiros Pokémon e que não via há algum tempo. O garoto
respirou fundo e olhou para os seus amigos, que sorriam para ele, passando
confiança. No fim das contas, estava tudo bem.
Os três deram uma última olhada no
lugar que serviu de morada nos últimos dias. Juntos, cruzaram as portas e
deixaram se preencher pelo vento que soprava e pelo som do mar. Sem pressa,
eles caminharam pelas ruas em direção ao norte da cidade, onde ficava a saída
para a Rota 39.
Com o sol do litoral ficando cada vez
mais quente, Ethan, Amy e Forrest começavam a lutar contra os desejos de
ficarem mais um pouco em Olivine e irem descansar na praia, que começava a
ficar para trás, junto com as casas e prédios da cidade. Mas, os três tomaram
um susto quando uma sombra passou por cima deles, rápida como um jato. A
criatura pousou poucos metros à frente e fez os garotos ficarem receosos quando
viram dois passageiros descendo das costas daquele Pokémon prateado.
Ethan arregalou os olhos quando
percebeu Jasmine o encarando séria, com os braços cruzados, acompanhada de
Ampharos, do seu lado.
— Eu não acredito que você ia embora
sem se despedir de mim. Você destruiu o meu farol, colocou minha vida de cabeça
pra baixo e ainda tem a coragem de ir embora deixando seu próprio Pokémon pra
trás? Quem você pensa que é?!
Ethan a encarou. Sentiu seus amigos o
olharem pelas costas, mas ele não desviou o olhar de Jasmine, que continuava
agressiva.
— Eu ainda estou tentando descobrir. —
Ele respondeu.
A Líder de Ginásio suavizou a expressão
zangada. Ela franziu o cenho, visivelmente confusa com a resposta.
— Como assim? — Ela perguntou.
— Essa é a resposta pra sua pergunta.
Eu ainda estou tentando entender quem sou eu... O que eu estou fazendo aqui. Mas,
você me ajudou a encontrar o caminho certo pra eu encontrar essa resposta.
Jasmine se calou. Ethan agachou-se no
chão, abriu a mochila e pegou seu estojo de Insígnias. O garoto então olhou
para cada uma dos emblemas e os mostrou para a jovem.
— Acabei percebendo que as Insígnias
não demonstram o quanto um treinador é bom. Elas representam a evolução a cada
batalha, do treinador e do Pokémon. E Jasmine, você foi fundamental pra eu
entender que a maior batalha que eu preciso enfrentar não é contra uma pessoa.
É contra mim mesmo. E eu agradeço você por isso.
Jasmine esboçou um sorriso.
— Isso é uma das coisas mais bonitas
que alguém já falou pra mim.
Ethan aproximou-se da Líder de Ginásio.
— Eu não me despedi de você porque eu
sei que a gente vai se encontrar logo. E eu sei que Ampharos precisa mais de
você do que de mim. Meu coração me diz que você vai cuidar dela muito bem.
Jasmine abraçou o garoto, deixando-o
vermelho.
— Ethan... Eu te amo! — Disse ela,
sorrindo feito criança, dando um beijinho no rosto do garoto.
Ethan ficou sem reação. Amy ficou
vermelha. Forrest ficou de queixo caído.
— Eu... Te amo também. — Respondeu ele,
com um singelo sorriso, que deixou ainda mais evidente o rubor envergonhado das
bochechas do garoto.
Jasmine afastou-se de Ethan e
dirigiu-se até seus amigos.
— Obrigada, por tudo. Se não fosse por
vocês, nada disso teria dado certo.
Forrest sorriu em agradecimento. Amy
coçou a cabeça, sem jeito. A Líder de Ginásio a abraçou subitamente, a deixando
sem graça.
— Eu sei de tudo. É por você que ele se
esforça, só não notou isso ainda. — Ela cochichou no ouvido de Amy, deixando-a
mais rubra.
— Eu... É... Eu... — Gaguejou ela.
Jasmine gargalhou.
— Você devia tentar usar um Pokémon
Metálico na sua equipe. Você é durona igual a eles. Mas eu bem sei que seu
coração se derrete fácil!
Forrest nunca viu Amy tão envergonhada
antes na vida. A garota estava sem graça pela situação e mais constrangida
ainda por estar sendo observada daquele jeito.
Jasmine tirou do bolso do casaquinho
três envelopes brancos e grossos. Neles, havia os nomes de cada um dos garotos,
escritos com a caligrafia desenhada da Líder de Ginásio. Surpresos, o trio
pegou com cuidado cada envelope conforme foi sendo entregue por ela e encararam
com curiosidade o presente.
— Eu espero que vocês gostem. — Ela
sorriu.
Ao abrirem os envelopes, o instantâneo
encantamento. Era um lindo desenho, feito à mão, da Cidade de Olivine, com o
Farol Cintilante e Amphy em destaque. Jasmine fez uma cópia do desenho para
cada um, cada uma desenhada e pintada por ela.
— Essa é a coisa mais bonita que eu já
vi... — Comentou Amy, emocionada.
— Isso tá lindo, Jasmine! Foi você que
fez?! Poxa vida, você tem talento! — Exclamou Ethan.
— Eu não sabia que além de Líder de
Ginásio, você também era uma artista! — Elogiou Forrest.
Jasmine sorriu envergonhada.
— É só um hobbie. Não é algo que eu
queira fazer. Cuidar de Olivine ainda é o meu dever.
Os garotos olharam para o desenho e
sorriram. Era incrível cada detalhe, cada traço, trazia consigo um pouco da cidade
real. Os Murkrow que voavam migrando para o oeste, as montanhas, o clima
aconchegante... A única coisa que faltava no desenho para ele ser uma cópia fiel
da vida real era o cheiro e o barulho do mar saindo daquela obra, que era
impossível de se colocar. No entanto, o maravilhoso desenho era tão perfeito que
permitia que o trio pudesse imaginar o cheiro do mar, o vento suave e a
temperatura da areia ao tocar nele.
Aquele desenho era mais real do que o
registro de qualquer foto.
— E o Farol Cintilante? Você vai
reconstruí-lo? — Perguntou Forrest, com um sorriso.
— Sim. É um recomeço pro Farol também. Sei
que Amphy iria gostar disso. — Disse a garota sorridente, olhando para o céu.
— Grawr. — Concordou Ampharos.
Após um último abraço, Ethan, Amy e
Forrest despediram-se de Jasmine e seguiram a caminhada pela entrada da Rota 39.
— Nunca se esqueça de mim! — Gritou ela
após já ver o grupo se perdendo no horizonte.
O garoto olhou para Amy e para Forrest,
então virou-se para a saída da cidade, onde Jasmine permanecia de pé, acenando
e sorrindo radiante.
— Nunca se esquece dos amigos!
Principalmente dos melhores! — Ele gritou em resposta.
Ethan se despede de Ampharos, de sua
amiga Jasmine e da Cidade de Olivine, partindo com Amy e Forrest. Ele não sabe
quais pessoas encontrará no caminho, mas tem a consciência de que a estadia no
litoral de Johto não será esquecida nunca mais. Entre promessas cumpridas,
destinos cruzados e laços de amizade cada vez mais fortes, nossos personagens
sabem que nunca estarão sozinhos. Sempre haverá pulsando no céu uma estrela
brilhante que mostrará o caminho e os lembrará para sempre de suas aventuras
Pokémon.
TO BE CONTINUED...