Archive for February 2019

The Omascar - Coração de Ouro & Alma de Prata



Era a primeira vez que a região de Johto recebia um evento de tamanho porte. Claro, havia a Liga Pokémon que era organizada há anos com toda pompa, mas o evento daquela noite tinha tudo para superar todas as barreiras de um espetáculo fantástico.  Há alguns anos, Canas Ominous, grande empresário das longínquas terras de Sinnoh tenta trabalhar no licenciamento de tal evento, uma noite de gala onde grandes personagens receberiam um prêmio incrível por grandes colaborações feitas à indústria do entretenimento, o Omascar.

Acontece que ninguém parecia interessado em sediar tamanho evento. E os motivos eram diversos: Divergências artísticas entre personagens, empresários que abandonaram o ramo do entretenimento e fecharam seus continentes para qualquer tipo de investimento cultural, regiões, como Hoenn, que passaram por uma imensa reforma em sua infraestrutura e praticamente buscaram recomeçar novas parcerias comerciais para reestruturação de sua administração... Os tempos eram difíceis.

Buscando expandir seus negócios, Dento, revolucionário do agronegócio, procurou certo dia Canas Ominous, que estava de passagem por Johto divulgando seu evento. Os dois se encontraram em uma das mansões de Dento, em Goldenrod, onde colocaram seus objetivos empresariais na conversa e surpreendentemente tal conversa gerou uma grande amizade entre os dois, apesar de claramente se falarem apenas por interesses em comum.

Dento aceitou organizar o Omascar em sua região, Johto, após dois anos da proposta inicial.

A notícia estampou manchetes de jornais e revistas por toda a região no dia seguinte. A euforia popular se mostrou enorme, assim como a ansiedade pela data divulgada: Dezessete de Fevereiro. Pôsteres com as fotos de Canas Ominous e Dento foram espalhadas por vários outdoors e fotos dos dois eram exibidas ininterruptamente nos canais de televisão. Chefes de Estado logo prontificaram-se a aparecer, como o Presidente das Ilhas Federativas de Hoenn — muito a contragosto de Dento, é verdade, já que sempre houve uma briga entre os dois países pelo controle de certos territórios e ilhas — e o presidente da nação vizinha, Kanto — também a contragosto de Dento, afinal, por não serem divididas, Kanto e Johto tendiam a sediar grandes conflitos.

Mas como o evento era de propriedade do senhor Canas Ominous e cabia a Johto apenas sediá-lo, as birras políticas de Dento não seriam levadas em consideração.

***

O Teatro Municipal de Ecruteak, um dos mais importantes e históricos da região de Johto, fora reservado para aquela noite. Milhares de pessoas se aglomeravam próximas ao local, bloqueando ruas e avenidas a quadras de distância. A imprensa compareceu em peso e brigou para conseguir o melhor lugar próximo ao tapete vermelho onde os artistas que compunham o elenco do Aventuras em Johto™ passavam para entrar para o evento. De figurantes a protagonistas, de humanos a Pokémon, muitos deles paravam e posavam simpáticos para as fotos. Outros, visivelmente constrangidos, só queriam sair logo daquele mar de flashes e seguir para dentro do teatro, decorado com luminárias banhadas a ouro, vários ornamentos de prata e, claro, diversas celebridades com acessórios feitos a base de cristal.

Realmente não houve limites para o orçamento investido. Dento conseguiu alianças com diversos patrocinadores para garantir que o evento se concretizasse. Afinal, ele não pagou um único tostão do próprio bolso — pão duro e mão de vaca do jeito que era, dificilmente o evento ocorreria se dependesse única e exclusivamente dele.

Primeiro alarme sonoro, 19h40min.

Aos poucos, todos os convidados foram tomando seus lugares no teatro. Na plateia, os concorrentes e seus convidados. Os Chefes de Estado com seus amigos e família assistiriam dos camarotes, cercados de seguranças que impediriam o acesso de qualquer pessoa de fora.

Segundo alarme sonoro, 19h50min.

Primeiras-damas estavam elegantemente vestidas, com roupas especialmente desenhadas para elas, únicas em todo o Mundo Pokémon, o que causava suspiros de quem estava na plateia quando percebiam suas chegadas. Seus maridos estavam nos camarins, prestes a subir ao palco e iniciar o evento.

Terceiro alarme sonoro, 20h.

Pontualmente às oito horas da noite, as grandes cortinas vermelhas de veludo se abriram. O quase ensurdecedor barulho da ovação da plateia fez vibrar o chão de madeira do enorme palco e arrepiar os pelos do corpo de Canas Ominous, que há tempos sem encarar uma plateia, permitiu-se ficar tímido por um instante e, a passos lentos, dirigiu-se ao pedestal no centro do palco onde um microfone aguardava para amplificar sua voz para todo o teatro.

Caham — Canas limpou a garganta.

Aos poucos, as ovações foram diminuindo. Todos olhavam atentos ao empresário, afilhado de Walter Wallers, campeão por muitos anos da Elite 4 de Sinnoh, talvez a maior de todos os tempos. O terno alinhado, a gravata azul listrada e a barba perfeitamente aparada até disfarçavam que por dentro, o homem tremia como criança.

— Muito boa noite, caros cidadãos de Johto e convidados da noite. Hoje eu trago a vocês um evento que marcou a minha vida. O Omascar é uma celebração que com muito gosto desenvolvi lá em Sinnoh e, durante algum tempo, cogitei levar até outros continentes e países. Há dois anos, fiz minha primeira proposta a Dento, o nobre presidente de Johto, mas as negociações não foram para frente. Hoje, finalmente posso dizer que estou feliz em estar aqui, abrindo este evento maravilhoso.

As palmas do público após o término do discurso de Canas aqueceram seu coração. Lembranças de Sinnoh vieram à sua cabeça. Quantas aventuras ele pôde assistir seus personagens vivenciarem no Aventuras em Sinnoh? Reviver esses pensamentos enquanto ele estava ali, assistindo novas gerações concorrerem àquele prêmio sagrado dava fôlego novo a ele.

— Tenho o prazer de convidar ao palco o grande responsável por essa noite. O senhor Francisco Dento, recebido com uma salva de palmas! — anunciou Canas puxando as ovações.

Dento surgiu no palco com uma coroa feita completamente de ouro e uma longa capa vermelha. Seus trajes reais foram acompanhados de uma intensa salva de palmas, afinal, era aquele homem que trazia felicidade ao povo de Johto. Seu ego era enorme e ninguém questionava as suas excentricidades no governo.

O homem aproximou-se do microfone e agradeceu ao carinho do povo.

— Obrigado, obrigado queridos convidados. Este evento foi realizado, claro, graças a mim. Claro que o projeto é todo do senhor Canas Ominous, mas quem liga, não é mesmo? Hoho — Dento deu uma risada falsa e a plateia gargalhou. — Creio que preciso agradecer...

Dento olhou para Canas, afastou-se do microfone e cochichou ao empresário.

— Preciso mesmo dizer o nome dele em voz alta? Não dá mesmo pra fingir que a ideia foi toda minha? — questionou com um olhar de súplica, rezando para que o dono da festa concordasse.
— Sim. Eles também ajudaram a organizar este evento — explicou Canas.

Dento bufou.

— Tá. Então, como eu ia dizendo, eu preciso agradecer a eles... Senhor Shadow Tails, presidente de Hoenn e o Senhor José Killer, da vizinha Kanto... — sorriu forçadamente.

Ambos levantaram-se das arquibancadas sob uma forte salva de palmas. Shadow usava um sobretudo negro por cima das roupas sociais com uma gravata borboleta verde de destaque no pescoço e discretamente acenava à plateia. Killer visivelmente havia tentado se arrumar em cima da hora, mas acenava eufórico para a plateia, emocionado com os aplausos.

— Muito bem, muito bem, vamos começar. Passo a palavra e a apresentação para o senhor Canas Ominous! — voltou a anunciar Dento. — Na verdade, nós queríamos o Silvio Santos, mas ele está de férias em Unova. Canas, você sabe como funciona a apresentação, certo? Então fique a vontade.

Dento e sua coroa se retiraram do palco, sob forte aplauso do público.

Canas, agora o mestre de cerimônia oficial, dirigiu-se até o microfone.

— Bem... Não era bem isso o que estava combinado, mas eu acho que imprevistos fazem parte do show. Bem, preciso dos envelopes com os resultados. Onde estão?

Vivian Chevalier entrou tropeçando na cortina lateral. Segurando envelopes de cor carmim, a garota dirigiu-se nervosa para Canas. Usava um vestidinho rodado de cor vermelha, que fundia quase que perfeitamente com seus cabelos ruivos. Ela esticou as mãos tremidas para o mestre de cerimônia e entregou os resultados da premiação. Canas agradeceu com um sorriso e Vivian tratou de correr para a lateral do palco e se esconder nos bastidores, morrendo de vergonha.

— Muito bem, senhoras e senhores. Tenho em minhas mãos os resultados das categorias votadas por vocês, o público. E para começarmos, vamos descobrir quem foi o melhor protagonista do Aventuras em Johto nessas duas primeiras temporadas! — Canas abriu o envelope e deu um sorriso de canto de boca. — Sinceramente, eu não me surpreendo. O vencedor é Ethan!




O garoto abriu a boca, surpreso. Sob uma intensa salva de palmas — e genuinamente aclamado por Amy e Forrest —, levantou-se da plateia e dirigiu-se ao palco, tremendo de nervoso. A pequena estatueta foi entregue pelas mãos de Dento — agora vestido a caráter — e Ethan aproximou-se do microfone para agradecer o público.

— Obrigado, muito obrigado. Eu realmente não estava esperando sair vencedor hoje, afinal, tem tantas pessoas queridas concorrendo que fico até surpreso de poder ter a honra de ser chamado de vencedor também. Dedico esse prêmio primeiramente à minha mãe, Marieta e, claro, aos meus melhores amigos, Amy e Forrest, que dividiram essa história comigo até aqui. Obrigado também ao meu fã clube que veio em peso e ao público de casa que fez questão de votar. Esse prêmio é de todos vocês — os olhos de Ethan encheram de lágrimas. Os aplausos voltaram a tomar conta do ambiente enquanto o garoto retirava-se emocionado do palco.

Dento aproximou-se do microfone.

— Na próxima categoria, melhor participação secundária, grandes nomes que marcaram ahistória do Aventuras em Johto. Se perguntar pra qualquer um agora, nesse exato momento, várias pessoas darão bons motivos para os indicados dessa categoria sagrarem-se vencedores. Dos rivais Joey e Lyra, que tiveram um desenvolvimento importante nessas duas temporadas e ajudaram a dar uma balançada na história à Silver e Jasmine, que com certeza se destacaram por prover aos protagonistas importantes conflitos psicológicos necessários para amadurecê-los. E, claro, personagens como Vivian Chevalier, que apesar de uma curta participação no final de Alma de Prata, trouxe todo um equilíbrio e leveza para um clímax tão esperado no meio da história. Qualquer um dos nomes aqui citados tem potencial pra levar esse prêmio para casa, então fico muito feliz com qualquer que seja o resultado — Dento abriu o envelope e ergueu uma das sobrancelhas. — A maioria esmagadora dos votos. O fã clube do Ethan faz bastante barulho, mas o desse personagem é avassalador. Joey, o prêmio é seu.




A estrutura do teatro quase veio abaixo, tamanha a ovação pelo rapaz. Com um sorriso convencido, Joey levantou da mesa, alinhou sua gravata e dirigiu-se ao palco, acompanhado de seu Rattata no ombro, enfeitado com uma gravata borboleta. Canas Ominous entregou a estatueta para o garoto, que encarava a plateia orgulhoso.

— Não tenho muito o que dizer, apenas agradeço por estar aqui hoje e a todos os meus fãs que votaram em mim nessa categoria. Tenho certeza que eu ganharia todas as categorias que concorresse, mas sou humilde e, portanto, outros personagens podem brilhar também, apesar de o meu brilho ofuscar demais. Enfim, obrigado a todos.

Joey curvou-se perante a plateia e continuou sendo ovacionado pelo público, até sentar-se novamente na mesa de gala onde estava. De todos os presentes, Ethan era o único que não parecia satisfeito em ver o garoto vencer.

Canas voltou a aproximar do microfone com um terceiro envelope carmim nas mãos.

— Categoria polêmica: Melhor antagonista. Durante a votação, foi uma das categorias que mais ficou dividida, até o resultado final. Os gráficos mostraram muitas poucas variações entre os candidatos. Para fins de comparação, Joey empatou com Red. Apesar dos votos bastante acirrados, foi uma das categorias que mais gostei da briga. Hoje, o prêmio vai para você... — Canas abriu o envelope. — Baoba!




Vaias tomaram o local. Não que Baoba em si fosse ruim, mas o personagem em Alma de Prata causou bastante controvérsia nos dois capítulos que estrelou. Em uma recente pesquisa, comprovou-se que Baoba foi um dos grandes responsáveis por mostrar a direção que o roteiro de Aventuras em Johto tomaria.

— Agradeço os votos recebidos e é uma honra pra mim ter vencido e ser um personagem que marcou os leitores. O resultado deste prêmio só mostra que há espaço para grandes vilões que não precisam tomar a história toda pra si. Obrigado.

Dento entregou a estatueta e Baoba voltou ao seu lugar, sob forte protesto do público.

— A próxima categoria é a de melhor capítulo. Após 50 capítulos, o público teve de escolher entre alguns selecionados por mim como os que mais causaram debates e ainda são mencionados pelos leitores como favoritos de toda a história. Foi uma briga boa, apesar de quase ter dado empate em dois capítulos do mesmo arco, que marcaram a história como a melhor batalha até hoje. Sem mais, notifico o grande vencedor e convido ao palco suas estrelas — Dento abriu o envelope. — Capítulo 39: A Luz da Meia-Noite.




Ethan e Jasmine levantaram das mesas e, antes de subir ao palco, abraçaram-se com ternura. Algumas das pessoas na plateia gritavam “Ethamine! Ethamine”, apesar de eles sempre dizerem que não havia nada entre eles se não uma amizade fraterna. De mãos dadas, passaram pelo corredor que dividia os setores da plateia e subiram as escadas do palco.

Jasmine aproximou-se do microfone, emocionada.

— Eu não tenho nem o que dizer. Estou muito feliz de ter conquistado esse prêmio, e mais ainda por ter o Ethan comigo aqui hoje. Uma vez me disseram que o Aventuras em Johto é dividido entre antes de Olivine e pós-Olivine e fico feliz por ter sido tão marcante nessa história. Agradeço a todos que votaram, mas dedico esse prêmio ao Amphy, onde quer que esteja.

Jasmine e Ethan agradeceram as estatuetas entregues por Canas sob uma chuva de aplausos. Ninguém reparou, no entanto, quando o garoto discretamente olhou para Joey e fez um olhar soberbo para o eterno rival.

Canas anunciou a próxima categoria.

— Em melhor Pokémon, um resultado pra lá de polêmico. Não questiono a votação, afinal, foi o público que elegeu, mas acredito que outros tinham chance melhor de sagrarem-se vencedores. Apesar de tudo, é como o Dento disse, o público desse personagem é avassalador. Rattata do Joey, você é o melhor Pokémon do Aventuras em Johto até aqui.




Outra ovação que fez o chão tremer. Joey e Rattata eram tratados como popstars, reis de um país importante. O público aplaudia com paixão os dois, que subiam no palco com toda a pompa e importância.

— Mais uma vez, é incrível estar aqui. Falo, em nome do meu Rattata, que estamos gratos pelo público leitor do Aventuras em Johto que tornou isso possível. E, claro, ao Ethan também, por ser esse rival que eu massacro em todas as batalhas. Obrigado.

Ethan ficou vermelho de raiva. Se não fosse por Amy e Forrest o segurando na cadeira, claramente ele correria para cima do palco e socaria o rosto de Joey até quebrar cada um dos seus dentes.

Dento entregou a estatueta para Rattata e posicionou-se em frente ao microfone, com mais um envelope em mãos.

— Agora, a categoria de personagem mais poderoso do Aventuras em Johto. Ethan enfrentou muitos personagens habilidosos que o fizeram usar a cabeça para elaborar estratégias boas o suficiente para enfrentá-los. Não necessariamente essas estratégias o levaram a vitória, por uma série de fatores.  O grande público escolheu o grande personagem poderoso, aquele que demonstrou, sem sombra de dúvidas, quem é o melhor-pior oponente já enfrentado por Ethan ou outros personagens. Aquele que, sem sombra de dúvidas, foi uma pedra no sapato, que fez o público delirar com suas estratégias fantásticas e com habilidades incríveis com seus Pokémon supremos — Dento abriu o envelope, o leu e encarou de forma séria a platéia. — A estatueta do mais poderoso vai para, claro, ele. Red e seu Charizard!




Apesar de estar vestido com um terno luxuoso desenhado para seu corpo com uma gravata vermelha e sapatos sociais perfeitamente engraxados, Red não tirou seu boné — o que causou certos comentários na platéia sobre o look escolhido. No entanto, se Joey era visivelmente o queridinho do público, Red mantinha sua soberania no local. As pessoas o olhavam admiradas, agradecidas por estarem no mesmo ambiente que o lendário treinador. Todos sabiam da sua fama de ser um cara de poucas palavras, então a ansiedade para ouvir seu discurso da vitória era grande.

Canas logo entregou a estatueta para Red. O garoto encarou seu público e liberou Charizard da PokéBola. O Pokémon Dragão rugiu, expelindo chamas de sua bocarra.

— Fico feliz por ter conquistado este prêmio. Muito obrigado ao público que votou em mim.

O rapaz assim como veio, retornou ao seu lugar. Canas Ominous voltou a conversar com a platéia.

— Parece que a fama de Red de ser um rapaz de poucas palavras não é só um mito, não é mesmo? Nossa próxima categoria é o melhor Líder de Ginásio! Como o Dento bem comentou, Ethan passou por diversos desafios nessa jornada e os Líderes de Ginásio, com certeza, foram fundamentais para o seu desenvolvimento como treinador. Não só dele, claro, mas também de muitos outros jovens que sonham em conquistar a Liga Pokémon, como é o caso de algumas figuras aqui presentes, como Lyra, Joey e até mesmo Red, na época em que treinava. O que me surpreendeu, na verdade, foi a esmagadora vitória deste Líder, 80% dos votos. Fico muito feliz por poder presenciar isso.

Whitney levantou de seu lugar e já se dirigiu ao palco para receber sua estatueta.

— O melhor Líder de Ginásio do Aventuras em Johto: Coração de Ouro & Alma de Prata foi você, Jasmine!




Whitney paralisou a ver que Canas não chamou seu nome. Seu sorrisinho convencido e vitorioso apagou-se instantaneamente. Ao perceber que todos a olhavam, sentiu o rosto arder de vergonha e logo começou a chorar, correndo em disparada na direção à saída do teatro. Apesar da situação inesperada, o público não deixou de saudar Jasmine, que timidamente avançou até o palco, sob aplausos intensos. Foi Canas que entregou uma estatueta para a mulher desta vez.

— Eu realmente estou muito emocionada. Eu não esperava sair vencedora, muito menos levar dois prêmios pra casa. Com certeza, hoje é o melhor dia da minha vida!

As lágrimas escorreram pelo rosto de Jasmine, desta vez, de felicidade, comovendo o público que respondia com uma acalorada salva de palmas. Aparada por vários personagens, foi conduzida até seu lugar.

— Uma categoria que gosto muito. Além de todo drama, ação, aventura e romance, sempre existem aqueles personagens que surgem para dar uma aliviada nas tensões. Certas vezes, acabam sendo até mais populares que os personagens principais. Durante o Aventuras em Johto, tivemos alguns casos do tipo e nesta votação, o público demonstrou gostar do poder de um bom personagem simpático. Mas, no caso, são vários personagens simpáticos. O vencedor do miss simpatia é... — Canas abriu o envelope. — O Fã-Clube do Ethan!




Era o motivo que faltava para os velhinhos fazerem uma algazarra. Dentaduras e bengalas eram arremessadas para cima enquanto os idosos vibravam mais do que o público. Os velhinhos, de forma lenta, se dirigiram ao palco, apesar de não perderem a felicidade. Katherine se dirigiu ao microfone após receber das mãos de Dento a estatueta da vitória.

— Estou muito feliz em ganhar esse prêmio. Eu dedico ao Ethan, o maior treinador Pokémon de todos os tempos! É por ele que estamos aqui hoje e é por ele que nós nos tornamos fitness, afinal, cruzar uma região inteira atrás dele não é fácil, não é mesmo? É NÓIS!

Katherine virou-se para abraçar os amigos e, juntos — ainda fazendo a maior baderna —, retiraram-se do palco, fazendo caretas e falando palavrões para o público presente.

— Ai, como eu amo esses velhinhos... — comentou Dento.

Uma bengala atingiu sua testa.

— Velha é a sua avó! — exclamou um dos velhos do fã clube, visivelmente indignado com o comentário do mestre de cerimônias, rapidamente detido por seguranças. — EU SEI DOS MEUS DIREITOS, ME LARGUEM PATIFES, ME LARGUEM!!!

Dento levantou-se com uma das mãos na testa. Havia um galo onde a bengala o atingiu.

— Estou bem. Vamos dar prosseguimento à cerimônia. Começamos hoje falando sobre o melhor personagem principal e agora, temos o melhor personagem revelação. O que me surpreendeu nesse resultado foi que, de alguma forma, a revelação foi ao mesmo tempo um renascimento do personagem, que passou metade da história na sombra de outros. Esse prêmio é a constatação do público do esforço de um personagem que sempre mereceu disputar e brilhar no seu espaço de protagonista. Forrest, o prêmio é seu.




O moreno abriu a boca, incrédulo. A ovação da platéia foi imensa, o público realmente parecia concordar com a popularidade do garoto. Amy e Ethan levantaram-se para abraçar e congratular o amigo, visivelmente emocionado. Forrest, vestido a rigor, se dirigiu ao palco com as mãos na boca, questionando se aquilo fazia parte de um sonho. Canas entregou a estatueta para o garoto e logo ele se dirigiu ao microfone.

— Eu não acredito que estou aqui neste momento. Faltam palavras para demonstrar a minha gratidão a todos que votaram em mim, que estiveram do meu lado e que acreditam em mim. Claro que uma história como o Aventuras em Johto é como uma novela, uma obra aberta que vai se adaptando conforme o tempo vai passando e ajustando-se conforme o feedback do público. Apesar de eu saber que eu tenho meus amores e meus desafetos, tenho ciência que o meu personagem causa uma ansiedade enorme nos leitores. Eu não posso dizer muito por questões contratuais, mas na próxima temporada eu vou me esforçar para surpreender cada um de vocês, meus leitores e amigos. Muito obrigado. Esse prêmio eu dedico, claro, à vocês, aos meus amigos Ethan e Amy e principalmente ao meu irmão Brock, que sempre acreditou em mim.

Forrest foi ovacionado pela platéia, apesar de ter ouvido algumas vaias também. O garoto estava feliz pela conquista, nada o abalaria.

Canas aproximou-se do microfone.

— Agora, finalmente, a última categoria da noite. Gostaria de chamar meu companheiro, Dento, para anunciá-la comigo.

Dento aproximou-se de Canas com o último envelope, que continha o último vencedor da última categoria.

— Todos os personagens precisam ter uma química. Isso permite que eles possam ser desenvolvidos e terem apreço do público. Durante o Aventuras em Johto, nós tivemos muitas histórias entre personagens. Histórias de amizades, de rivalidades, de perseguições, de lutas e de tristezas. Claro, muitas histórias de amor aconteceram para satisfação do público. Eu tenho certeza que, na categoria melhor casal, nós temos muitas sugestões potencialmente canônicas.
— Apesar de eu, particularmente, achar Ethamine o maior casal da história, não é isso que os leitores decidiram.

Canas abriu o envelope, mostrou para Dento e ambos anunciaram de forma sincronizada os nomes escritos no papel.

Ethan e Amy!




Os dois se olharam. Ethan morreu de vergonha. Amy deu um sorriso sem graça. Ela estava vestida com um Qipao vermelho — um típico vestido tradicional chinês — que elegantemente desenhava as curvas de seu corpo. Ela entrelaçou o braço direito no esquerdo de Ethan e juntos caminharam até o palco, sobre aplausos e assovios dos presentes.

Canas e Dento entregaram duas estatuetas para cada um. Amy se dirigiu ao microfone.

— Obrigado a todos que acreditam que eu e Ethan somos o melhor casal da história. Eu também acredito — riu ela. — É um prazer poder ser indicada, e vencer já é um sonho realizado. Muito obrigada a todos e em especial ao Ethan, meu eterno parceiro, meu melhor amigo, que venceu junto comigo.

A platéia bradava “Beija! Beija!”, fazendo Ethan suar frio e querer enterrar seu rosto na terra, como um avestruz. Amy riu de nervoso, mas dirigiu-se até o amigo e o roubou um selinho demorado, para delírio do público.

Se Ethan estava vermelho quando subiu ao palco, o tom de sua pele agora podia ser comparado às cortinas carmins que abriam e fechavam o palco.

— Agradeço a todos que vieram prestigiar o Omascar esta noite. Agradeço pelos votos e por todo suporte dado nesses anos de publicação. Muito obrigado! — agradeceu Dento a platéia.
— Foi uma honra pra mim ser convidado a apresentar essa premiação. Eu não sei quando Mente de Cristal irá ser encerrada, mas com certeza outros Omascar poderão ser sediados aqui em Johto, foi muito positivo! Obrigado, senhoras e senhores, e boa noite a todos!

Sob aplausos da platéia, as cortinas se fecharam. Dento e Canas sorriam, satisfeitos, pelo sucesso da apresentação.

***

As palavras do autor, Dento:

Escrever pra mim é algo que vai muito além de colocar palavras no papel. Talvez seja um momento em que eu me desligo da vida real e embarco em um universo que me dá prazer em explorar — apesar da ironia de que nem sempre nesse universo que eu escrevo eu consigo manter o controle de tudo. O Aventuras em Johto é um projeto que me acompanha há dez anos, mesmo que muitos leitores só o acompanhem a um tempo mais curto. Publicar cada capítulo, semanal ou não, é inconscientemente publicar uma parte da minha vida, dos meus paradoxos e pensamentos, e abri-los francamente com você, leitor, que está sempre disponível para enxergar a realidade de cada vírgula, parágrafo e diálogo, mesmo que estas apenas transcrevam um mundo fictício que é baseado em um mundo fictício. Aventuras em Johto: Coração de Ouro/Alma de Prata traz em sua ficção uma verdade que é tão real que as pessoas talvez não acreditem, ou que, assim como eu, apenas preferem embarcar nesse universo cheio de complexidades para esquecer um pouco dos seus próprios complexos. Ethan, Amy e Forrest com certeza já se tornaram personagens que não pertencem mais a mim ou à Johto, mas são parte da vida de várias pessoas que dedicam seu tempo a acompanhar as aventuras desse trio incrível que carrega consigo a responsabilidade de representar cada um de nós em diversas fases da vida, seja na busca da independência, como a Amy, seja no desejo de se reinventar, como Ethan ou até mesmo de seguir seus sonhos, independente de tudo, como Forrest.

Se os personagens são gratos a você, imagina eu.

As palavras do leitor, Canas Ominous:

Eu gosto de assistir cerimônias reais, todo ano vejo cada filme indicado no Oscar e fico elaborando minhas próprias teorias de quem será o vencedor; gosto de discutir com outras pessoas que também curtem filmes, animações e música. Essa ansiedade por descobrir quem será o vencedor é sempre arrebatadora, muitas vezes não é quem gostaríamos, mas se o tiro é certeiro também bate aquela alegria — eu falei, eu falei! Sinto-me um critico de verdade, não que minha opinião seja de muita relevância... *risos* Organizar um evento desses, por menor que seja se comparado aos gigantes da indústria, traz um sorriso ao meu rosto por ver tantos personagens bacanas que tive a oportunidade de acompanhar sendo consagrados, como o Forrest, por exemplo, que começou a tomar forma depois dos vários puxões de orelha que o autor levou. Ele cresceu, e mereceu esse reconhecimento. Mordo minha língua ao dizer que votei nele, porque o desenvolvimento foi ótimo e ele alcançou um novo patamar. Que continue nos surpreendendo!
O Omascar sempre serviu como termômetro para sabermos da reação dos leitores, em quem acertamos e quem merece mais atenção. É recompensador. Se não fosse pelos votos de vocês, essa premiação não seria tão divertida. Isso é até engraçado, porque estamos aqui comemorando a conquista de nossos queridos personagens protagonistas, antagonistas, recorrentes e Pokémon que nos acompanham desde 2015 nessa longa jornada do Aventuras em Johto, mas no fim da noite o prêmio de verdade vai para o autor, que tornou tudo isso real e sempre nos entrega um trabalho de qualidade. Os holofotes são todos deles essa noite, e quem sabe no futuro ainda não tenhamos a chance de assistir Francisco Dento abrindo uma premiação dessas de verdade, não é mesmo?

Aventuras em Ransei


Nobres confrades de reinos distantes e terras ainda não descobertas,

Vos envio esta mensagem informando-lhes que a Warlord Shiny Reshiram desembarcou em sua região, Ransei, onde há relatos de que contará uma história repleta de guerras, intrigas de sangue e paixões proibidas. Convoco a todos os que esta mensagem ouvem para conferir o Prólogo que já se encontra presente em terras que só ouvimos falar em nossos sonhos mais intrigantes!

Espero receber-lhes de espadas empunhadas!


Lord Dento, Imperador do indomável reino da Aliança Aventuras.

Segundo Ato



— A culpa é sua!
— Não, a culpa é sua!
— Cala essa sua boca! Se você não fosse um baita guloso que tem que sair pra comer um lanchinho a cada cinco minutos, o chefe não tinha sumido!
— Você sabe da minha dieta especial! A culpa é sua que, ao invés de ficar protegendo o chefe, fica no refeitório se lambuzando também!
— Ora, seu...!
— Ora, seu...!
— Chega! — a poderosa voz de Arcanine ecoou pela sala.

Snorlax e Lickilicky se encaravam furiosos. O delegado Arcanine, farto de tamanha desordem, bateu na mesa e chamou a atenção dos dois com seriedade.

— Aqui não é lugar para discussões. Vocês estão sendo interrogados para sabermos aonde foi parar Papai Noel. Se não colaborarem, eu vou prender os dois por toda a eternidade, estão me ouvindo? Ótimo, parece que estamos começando a nos entender.

Os dois Pokémon enormes mal se encaravam. Arcanine respirou fundo e voltou a fazer suas perguntas.

— Muito bem, deixa eu ver se entendi. Vocês dois são contratados para protegerem a vida do senhor Nicolau Noel e ele desaparece. Evapora como se fosse fumaça. Como isso é possível?

Silêncio.
— Então, doutor, esse é o problema. Nós não sabemos — comentou Snorlax com um tom de preocupação.
— Ninguém tem acesso à sala do Papai Noel. Ele é uma figura importante, conhecida. Temos ordens expressas para não deixar ninguém se aproximar de sua sala— Lickilicky complementou.
— E só vocês dois guardam a porta ou mais alguém tem acesso ao Senhor Nicolau?

Snorlax e Lickilicky se entreolharam e refletiram por um instante.

— Bem, como qualquer outra pessoa importante, o doutor Noel tem seus amigos, convidados, empregados... Apesar de termos ordens expressas para não deixar ninguém acessar sua sala, existem outras pessoas com tanto acesso quanto nós, mas são funcionários de confiança...
— Veja bem, o senhor Noel trabalha só uma vez por ano na entrega dos presentes... Mas nos outros trezentos e sessenta e quatro dias ele se fecha na fábrica, onde os brinquedos são fabricados.
— Dá muito trabalho, sabe, doutor? Fabricar pecinha por pecinha, olhar a lista de crianças que foram boas e más, ainda por cima ter de fazer passeata em shopping em época de Natal, é bastante cansativo! Precisa-se de muitos ajudantes, que façam agenda de eventos, que verifiquem se o trabalho dos fabricantes dos brinquedos está sendo bem realizado, ler as milhões de cartinhas que chegam todos os anos...
— Sim. Nós somos apenas seguranças, mas existem certos Pokémon que tem acesso livre para que o trabalho possa ser bem realizado e a tempo.

Arcanine coçou o queixo.

— Hmm... Então quer dizer que outros além de vocês também têm acesso ao senhor Nicolau... Quem seriam?
— Depende bastante.
— Bem, tem por exemplo Stantler, que é o chefe das renas, né? Ele precisa dar ao senhor Noel uma espécie de relatório sobre as renas que o carregam durante a noite do dia 24.
— Sim, ele informa, por exemplo, a respeito da dieta que elas estão fazendo, se estão fazendo exercícios...
— Também tem o Delibird, que auxilia justamente com a administração geral. Ele seria como um braço direito do senhor Noel.
— Ele costuma saber de tudo o que acontece no Polo Norte. É função dele.

Arcanine ergueu uma das sobrancelhas.

— Então esse tal de Delibird pode saber por onde anda o senhor Nicolau, certo?
— Acho bastante provável, apesar da gente não o ver muito.
— Por quê? — perguntou Arcanine.
— Bem, geralmente ele não fala com ninguém.
— Ele apenas responde ao senhor Noel, ele é bastante fechado.

A porta da sala de Arcanine se abriu. Por ela, Graveler, acompanhado por dois Pokémon, adentrou e se dirigiu ao delegado.

— Senhor Arcanine, temos novidades a respeito do caso.

Arcanine olhou para Snorlax e Lickilicky.

— Os dois policiais vão terminar de recolher seus depoimentos.

Lickilicky e Snorlax viraram-se e depararam-se com Growlithe e Ledian que os cumprimentaram de forma séria.

Arcanine e Graveler se retiraram da sala.

— E então, o que está acontecendo?
— Um grande problema... — comentou Graveler de forma séria.


***

Em uma das camas da enfermaria o corpo de Jynx encontrado no dia anterior permanecia intocado. Não por falta de competência das enfermeiras Chansey que cuidavam muito bem do Pokémon, mas nenhum tipo de progresso parecia ter acontecido. O Pokémon continuava a olhar para o nada com a mesma expressão de espanto que causava desconforto aos que viam.

A grande pergunta era saber o que tinha acontecido.

A polícia, claro, já suspeitava de que tinha algo a ver com o sumiço do Papai Noel. Descobriu-se que Jynx era uma das empregadas de Noel, responsável por auxiliá-lo no Polo Norte na entrega dos brinquedos. Sendo humanamente impossível fazer em uma única noite uma viagem ao redor do mundo e entrar em todas as casas, uma após a outra, tais assistentes viajavam junto com Noel e também distribuíam os brinquedos debaixo de árvores de Natal. Não estranhamente, existem diversos relatos de crianças que por eventos diversos acabaram surpreendendo as assistentes durante a noite de Natal e no dia seguinte contava aos pais que Papai Noel era uma Jynx.

Claro que isso também, por um lado, ajudava na lenda de Papai Noel. Os adultos, por exemplo, não acreditavam na figura do bom velhinho que distribuía de forma gratuita todos os anos presentes para as boas crianças.

Wobbuffet era um desses adultos. Não porque ele era cético, mas porque não fazia sentido mesmo.

Perdido em pensamentos, ele observava o corpo da Jynx congelada pela vidraça da enfermaria. Diversas suposições e teorias se passavam pela sua cabeça, mas todas chegavam a uma mesma conclusão: Não fazia sentido.

— Mas e se Papai Noel realmente existir? Não vai ficar mais fácil?

Pichu olhava Wobbuffet e, vez em quando, tossia ao inalar a fumaça do charuto.

— Garoto, eu acho que você deveria ser um pouco mais realista. Pensar na hipótese da existência de Papai Noel é algo que não faz sentido nenhum.
— Ao mesmo tempo que faz!
— Tch. Tolice.
— Às vezes, não é porque nós não enxergamos que não exista, titio. A Equipe de Resgate dos Corações de Ouro sabe disso. Um bom detetive não enxerga apenas com os olhos.

Wobbuffet encarou o pequeno com desdém.

— Eu acredito que o Poder da Amizade ainda vai deixar você em apuros um dia.
— Mas ele tem razão. E você deveria saber disso.

Pichu e Wobbuffet olharam para trás e viram o delegado Arcanine e o policial Graveler se aproximando.

— Desdenhar de fatos nunca lhe fará um grande detetive, Wobbuffet. Você tem potencial, mas não consegue enxergar isso em você mesmo.

Wobbuffet voltou a encarar a vidraçaria.

— Um detetive chega à resolução de um crime analisando os fatos palatáveis, concretos. Contos infantis estão bem longe disso.

Pichu ficou em silêncio por alguns segundos antes de voltar a dirigir à palavra ao Wobbuffet carrancudo.

— Tio, você é um Pokémon que fuma e quer se tornar um detetive. Que tipo de veracidade tem isso?
—Hahahaha, é um excelente ponto! —Graveler gargalhou. — Complementaria dizendo que é patético.

Arcanine o repreendeu com o olhar. Graveler imediatamente calou-se. Wobbuffet escondeu o rosto com a aba do chapéu.

— Filho, peço-lhe licença. Agora, os adultos precisam conversar — Arcanine dirigiu-se educadamente à Pichu, que concordou com a cabeça e afastou-se do trio.
— O que se passa? — questionou Wobbuffet, olhando para Arcanine.
— Por que esse garoto está lhe seguindo?

Wobbuffet hesitou por alguns segundos antes de responder.

— Acredito que ele seja uma testemunha importante para descobrir o que aconteceu com a Jynx encontrada congelada. Afinal, ele e os amigos foram os responsáveis por localizá-la, apesar de não saberem nada sobre como esse Pokémon foi parar lá.

Graveler novamente deu um ataque de riso.

— Eu não sabia que agora você estava trabalhando de babá!

Mais uma vez, o olhar mortal que Arcanine soltou em cima de Graveler o fez silenciar imediatamente.

— Olha chefe, vou lhe dizer uma coisa. Eu realmente acredito que esse garoto tenha alguma coisa que possa nos levar a resolver esse caso, apesar de ser novo e... Acreditar nessa coisa de Papai Noel. Só estou seguindo minha intuição.

Arcanine suspirou.

— Talvez o que você precise nesse momento não é seguir a sua intuição, é deixar que a intuição dos outros determine o caminho que você deve percorrer.
— Eu acho que você deveria me dar uma Chansey...

Uma das enfermeiras Chansey que passava pelo corredor se dirigiu até o grupo, como se tivesse sido convocada.

— Sim, pois não, em que posso ajudar? Vocês vieram saber sobre o estado de saúde dessa Pokémon? Eu não tenho boas notícias — comentou ela sorridente.

Graveler, completamente sem graça, massageou a têmpora com a mão.

— Eu devo ter colado chiclete no templo onde Arceus foi selado, não é possível...

***

Pichu preocupou-se ao ver Wobbuffet com um olhar perdido voltar para a recepção da enfermaria, onde ele o aguardava.

— E então, tio, o que aconteceu?

O detetive se sentou em uma das cadeiras próximas e acendeu outro charuto.

—Jynx terá de ser descongelada aos poucos. Ela é um Pokémon de Gelo, não se pode usar golpes como Ember ou Flamethrower, se não ela pode morrer no processo.

Pichu ergueu as sobrancelhas e paralisou.

— Como assim, tio?! E agora?
— Bem, agora será um processo que durará pelo menos mais três dias. O derretimento terá de ser feito de forma lenta e gradual.
— Mas a Jynx não é um dos Pokémon que auxilia o Papai Noel na entrega dos presentes?
— Sim, é. E o que tem?

Pichu pareceu indignar-se pela obviedade e gravidade da situação não terem sido ainda percebidas por Wobbuffet.

— Tio, amanhã é 25 de Dezembro, dia de Natal. Papai Noel sumiu, a Jynx que o auxilia está hospitalizada. Quem vai entregar os presentes ao redor do mundo?

Wobbuffet refletiu por alguns instantes sobre aquilo que Pichu havia acabado de falar. Riu em seguida.

— Hahaha, pivete. Eu acho que é você que não está entendendo a gravidade da situação aqui. O departamento está investigando o aparente “desaparecimento” de um cara que não existe quando na verdade o que deve ser investigado é de onde vem a Jynx e o motivo de ela ter sido congelada.

Pichu fechou a cara.

— Tio, presta atenção. Se o Natal não acontecer, se não tiver ceia, família reunida e, principalmente, presente debaixo da árvore, pode acontecer um desastre! Papai Noel existe, você que não raciocina direito!

Wobbuffet olhou para o rosto de Pichu. Ele realmente ficava fofo quando enfezado.

— Garoto, eu tenho muito trabalho pra fazer aqui. Vá para casa, tudo bem? Nos falamos quando eu precisar de você.

O detetive levantou-se e se dirigiu para o interior da enfermaria, provavelmente retornando para o lado de fora do quarto onde Jynx permanecia internada e congelada. Pichu, com lágrimas nos olhos, saiu correndo em direção à saída.

***

— Vamos entregar os presentes de Natal esse ano!

Bulbasaur, Magby e Psyduck olharam para Pichu, que ofegava na porta. Os integrantes da Equipe de Resgate dos Corações de Ouro nunca haviam lidado antes com uma ideia tão absurda.

— Como assim, Pichu? — perguntou Bulbasaur.
— O Papai Noel sumiu! Vamos entregar os presentes em seu lugar, pessoal! Só precisamos da lista de endereços!

Magby olhou para Pichu e franziu o cenho, confuso.

— Mas pra isso, não precisaríamos ir até o Polo Norte? Afinal, é lá que o Papai Noel mora e deve guardar esse tipo de coisa...
— Eu não sei não... — hesitou Psyduck. — Onde fica o Polo Norte?

O silêncio pairou na sala.

— É verdade... Como a gente faz pra chegar lá? — questionou Bulbasaur.

Pichu refletiu por alguns instantes.

— E se a gente pedir ajuda pra algum Pokémon voador? Ele poderia nos levar até lá.
— Eu não acho muito inteligente. Um Pokémon voador muito provavelmente não conseguiria voar no frio do Ártico, a neve impediria suas asas de bater direito — comentou Magby.
— Pior também é saber que nenhum brinquedo que ganhamos tem o endereço de remetente... Só tá escrito “Made in China", mas eu não acho que o Polo Norte fique na China — comentou Psyduck. — Papai Noel nunca me pareceu chinês.
— Você é patético... — suspirou Magby em resposta.
— E se nós tentássemos perguntar pra Jynx? — sugeriu Bulbasaur.
— Ela está congelada ainda, vai demorar muito pra que ela possa dar alguma pista... Por isso sugeri que a gente fosse entregar os presentes desse ano — explicou Pichu.
— Mas então como nós faremos para poder descobrir o endereço do Polo Norte? — questionou Magby.
— Eu acho que tenho uma ideia.

A Equipe de Resgate dos Corações de Ouro olhou para trás e viu Wobbuffet na porta.

— O que você está fazendo aqui, tio? — perguntou Pichu.
— Me redimindo. Eu acho que você pode ter razão. Amanhã é dia 25 de Dezembro, dia de Natal. O que você falou, sobre catástrofes acontecerem... Tem um ponto de verdade. O que eu não entendi ainda é porque ninguém parece se preocupar com isso...

Pichu o encarou curioso.

— Como assim, tio?

Wobbuffet retirou seu chapéu fedora e entrou na pequena cabana em que a Equipe de Resgate dos Corações de Ouro fazia de Base Secreta e de morada. Dirigiu-se até a mesa de madeira, puxou uma das cadeiras e sentou-se, repousando os cotovelos na mesa, colocou um charuto na boca e o acendeu com o auxílio de um isqueiro, usando as duas mãos para acendê-lo.

— Nenhum Pokémon que a polícia interrogou parecer dar importância para o fato de amanhã ser Natal — o detetive deu outra tragada profunda no charuto. — E isso é o que mais me deixa intrigado.
— Faz sentido... — comentou Bulbasaur.

Psyduck pareceu refletir por alguns instantes.

— Será que alguém quer acabar com o Natal?

Magby deu um tapa no cocuruto da cabeça de Psyduck.

— Não seja burro! Quem é que teria vontade de fazer algo assim?
— É um excelente questionamento, Psyduck — disse Wobbuffet, para surpresa de Magby que olhou o detetive completamente confuso.
— Tá falando sério? — perguntou o Pokémon.
— Com certeza. Existe louco pra tudo — respondeu Wobbuffet dando outra tragada no charuto.

Magby encarou Psyduck e permaneceu incrédulo.

— Tio, você já tem alguma ideia de quem pode estar querendo boicotar o Natal? — questionou Pichu.

Wobbuffet deu uma última tragada e apagou a bituca na mesa de madeira. Bulbasaur franziu o cenho ao ver a fina fumaça subindo de onde a mancha em forma de cicatriz marcada na mesa ficaria.

— Eu não sei quem é ainda. Mas eu tenho uma ideia de quem possa saber.

***

A tarde já estava se transformando em crepúsculo quando a Equipe de Resgate dos Corações de Ouro, acompanhados do Detetive Wobbuffet, chegaram à porta de entrar de um estabelecimento visivelmente suspeito. As paredes já estavam com a tinta descascada, onde os tijolos, podres, se exibiam nus. A enorme porta cinza não tinha maçaneta, e era guardada por uma Granbull carrancuda que não parecia ter muitos amigos. O beco estreito que dava para o local não tinha postes de luz. A noite era um breu total, o que o fazia ser totalmente evitado por demais Pokémon que passassem nas ruas paralelas. Aquele endereço só era frequentado por aqueles que queriam estar ali.

Wobbuffet se aproximou de Granbull.

— Wobba... Eu jamais pensei que o veria novamente por aqui — a voz de Granbull soou rouca e pesada.
— Sabe como é, né? Às vezes precisamos relembrar de nossas raízes.

Granbull olhou por cima do ombro do detetive e deu um sorrisinho debochado.

— Desde quando você virou babá?
— Digamos que na verdade eles são... Meus assistentes juniores.
— Sei... Você deveria saber que a entrada deles é proibida, né? Apenas Pokémon a partir da segunda forma evolutiva podem entrar aqui, sabe disso.
— Sei. Acontece que eu estou aqui por medidas oficiais. Tenho um suspeito na mira e ele pode estar aí dentro.

Granbull o encarou com os grandes olhos enrugados e ergueu uma das sobrancelhas.

— E como você pode ter tanta certeza de que seu suspeito está aqui?
— Ora, Bull... Todo mundo está aqui, não é?

Granbull soltou uma risada rouca. Os Pokémon da Equipe de Resgate dos Corações de Ouro deram um passo para trás, pegos de surpresa pela risada quase maligna da Pokémon.

— Claro, claro. Você tem razão. Pode entrar — Granbull deu três violentos tapas na porta de aço. — Abre aí, Fera!

Quando a porta abriu, um imenso Feraligatr mal humorado apareceu. Seus olhos vermelhos encararam os visitantes com rancor, num breve e bem dado recado de que eles não eram bem-vindos naquele local.

— Eu não sei o que todos vêm fazer aqui, mas com certeza eles não são nada felizes... — cochichou Magby para Bulbasaur.

De cabeça baixa, a Equipe de Resgate dos Corações de Ouro seguiram Wobbuffet, que cumprimentou Feraligatr com um breve aceno de cabeça. Um arrepio percorreu o corpo daqueles Pokémon quando, com ignorância, Fera fechou a porta, batendo-a com violência.

As paredes escuras do bar davam ênfase ao breu que fazia companhia aos Pokémon que ali frequentavam. Uma densa nuvem de fumaça de algum Smokescreen de algum Pokémon espalhava-se pelo ambiente, tornando-o sombrio. O barulho dos grunhidos e conversas dos Pokémon logo preencheram os ouvidos dos recém-chegados, que sentiam um leve arrepio na espinha a cada passo que davam para o interior do estabelecimento. Luzes a meia-luz davam um clima até que romântico ao ambiente, cercado dos mais diversos tipos de Pokémon, dos mais miúdos aos poderosos e fortes. Dos que dançavam em uma pista de dança improvisada no centro do pequeno lugar, afastando as mesas e cadeiras e criando um espaço circular quase perfeito, enquanto ouviam um Murkrow fazer seu show aos carrancudos musculosos que não saíam de suas mesas no bar, sempre sendo servidos por atraentes Miltank garçonetes que curiosamente trajavam pouca roupa.

— Por que essas Miltank tão quase peladas? — questionou Magby.
— Olha esse lugar... Ainda não é óbvio? — Bulbasaur perguntou de volta.

O Pokémon de fogo olhou ao redor e refletiu por alguns instantes antes de chegar a uma conclusão.

— Não — respondeu Magby.

Bulbasaur deu um suspiro para demonstrar sua impaciência.

— É entretenimento adulto. Adultos vivem com pouca roupa. Ou, pelo menos, vivem tirando elas.

Psyduck arregalou os olhos, espantado.

— Por quê? Eles não trabalham? Deveriam ganhar dinheiro o bastante para comprarem roupas que cubram seus corpos inteiros...
— A maior diversão dos adultos só pode ser feita se eles estiverem sem roupas.

Wobbuffet, Pichu, Magby e Psyduck olharam para Bulbasaur.

— E qual seria essa diversão que só pode ser feita se eles estiverem sem roupas? — questionou o detetive.
— Tomar banho depois de um dia cansativo no trabalho, oras. Achou que fosse o quê? — Bulbasaur não acreditou que um detetive tão inteligente quanto Wobbuffet não soubesse daquela resposta tão óbvia.

O detetive riu.

— Desculpe pela minha ignorância, jovem.
— Tá tudo bem. Nem todos podem ter a minha inteligência — disse Bulbasaur em um tom convencido. — Mas bem, senhor... O que viemos fazer aqui mesmo? O senhor disse praquela senhora que todos vêm aqui, mas quem exatamente nós estamos procurando?

Wobbuffet apontou para o lado do local onde os Pokémon sentavam-se para beber.

Um Pokémon sentava-se sozinho com uma taça de bebida à sua frente. Parecia isolar-se de todos ao redor, apesar de, à primeira vista, essa ideia parecer tosca. Afinal, para onde se olhasse, havia outros Pokémon ao redor.

O detetive aproximou-se da mesa. O Pokémon, de costas para o grupo, não o viu chegar.

— O que o traz aqui, senhor Delibird? O último lugar que eu esperaria encontrar o braço direito de Papai Noel seria este.

Delibird olhou para trás e caiu da cadeira. A mesa em que o Pokémon estava virou e derramou sua bebida no chão.

— O-o que v-você q-quer comigo?! — exclamou o Pokémon.
— Seu drinque derramou... É melhor Pidgeotto...

Um garçom aproximou-se ao ouvir seu nome ser chamado.

— Quer outro Martini, batido, não mexido, senhor? — ofereceu o Pidgeotto, já com a bandeja na mão onde outra taça de vidro estava colocada.

Delibird levantou-se correndo e derrubou o Pidgeotto garçom no chão. A movimentação começou a chamar a atenção dos presentes, que olharam curiosos a confusão. O Feraligatr que atuava como segurança apareceu pelos fundos e logo Wobbuffet notou que, de demais cantos, surgiam Primeape e Machamp, de óculos escuros e mal-encarados.

— Equipe de Resgate, não o deixem fugir! — exclamou o detetive.

Pichu, Bulbasaur, Psyduck e Magmar passavam com facilidade por debaixo de pernas e patas dos Pokémon que ou tentavam pegá-los ou se atrapalhavam no meio da confusão. Os pequenos tentavam não perder Delibird de vista, que pulava por cima das mesas e tentava voar, mas sempre se atrapalhava devido aos enormes lustres que iluminavam o local.

Os seguranças avançaram para cima de Wobbuffet, que os repeliu utilizando o Counter, jogando os trogloditas para os lados com violência. O detetive avançava com dificuldade tentando cercar Delibird dando a volta no salão, espremendo-se entre outros Pokémon que aglomeravam-se pelos cantos, curiosos, assistindo a toda confusão. Os Pokémon que faziam a segurança logo recuperaram a consciência e levantaram-se, procurando Wobbuffet por entre as cabeças espalhadas pelo local. O detetive se abaixou e orientou-se pelos voos curtos que seu suspeito fazia.

— A gente precisa dar um jeito de deter esse cara! — exclamou Pichu
— Me deixa tentar uma coisinha... — pediu Bulbasaur mirando nas costas de Delibird.

Cipós saíram do bulbo das costas do Pokémon de grama e agarraram Delibird pela cintura, derrubando-o no chão. O Pokémon ergueu-se de joelhos e foi engatinhando para a porta de saída de emergência próxima de onde estava.

Delibird viu uma enorme sombra erguer-se sobre ele e parar na frente da porta, como se quisesse impedir que fosse aberta. O Pokémon correu para tentar abri-la de qualquer maneira, mas a sombra o repeliu e o arremessou para trás de forma agressiva.

— Não há pra onde fugir, Delibird. O Selo das Sombras* não vai deixar — Wobbuffet aproximou-se e o encarou com um olhar mortal.

Feraligatr, Machamp e Primeape logo alcançaram o grupo.

— Não é aqui que vocês vão causar baderna! — exclamou Feraligatr, furioso.
— Calma aí, jacaré. Eu sou da polícia, e é melhor você baixar o tom de voz — Wobbuffet abriu o sobretudo e tirou um distintivo dourado de dentro dele. Os seguranças se entreolharam e deram um passo para trás.
— Não fui eu, eu juro... Não fui eu! — Delibird tremia da cabeça aos pés e suava frio.
— Ora... Mas eu nem falei o que eu queria com você... Do que está se defendendo? — Wobbuffet apoiou um dos joelhos no chão e apoiou o braço na outra perna, sorrindo de forma cínica. — Não tente mentir pra mim.

As sirenes policiais podiam ser ouvidas do lado de dentro do clube. O clima de tensão tomou conta do ambiente, mas Wobbuffet não pareceu se incomodar.

— E agora, tio, o que faremos? — perguntou Pichu.

O detetive levantou-se, mas não tirou os olhos de Delibird, que o encarava como se o mesmo fosse algum espírito pronto para levá-lo aos confins do inferno.

— Agora nós faremos justiça.

***

O relógio no pulso de Wobbuffet batia dezoito horas e trinta e dois minutos. Apoiava as duas mãos na mesa de madeira, iluminada por uma luminária redonda que refletia nas paredes cinzentas. Da vidraça instalada na sala, apenas se podia ver reflexos de quem estava presente, apesar de suspeitar-se de que outras pessoas assistiam a tudo do outro lado da parede. Delibird encarava a mesa e continuava tremendo. Apesar de todas as respostas do Pokémon, o detetive ainda não estava satisfeito.

— Você era o principal aliado de Papai Noel, certo? Papai Noel some. Você diz que não sabe do paradeiro, é encontrado bebendo em um endereço barra-pesada e tenta fugir quando me vê. Eu ainda não acredito na sua inocência.

Delibird começou a gaguejar.

— M-mas e-eu r-realmente n-não s-sei o-onde e-ele e-está...!
— Você tem medo do Papai Noel?

Delibird arregalou os olhos.

Na sala ao lado, o delegado Arcanine, acompanhado de Graveler assistiam ao interrogatório.

— O que ele está fazendo? — questionou Graveler.
— Eu não sei, mas temos que esperar pra ver. O suspeito tem álibis muito bons, mas sei que Wobbuffet deve ter algum truque na manga — respondeu Arcanine sem tirar o olho do vidro.
— Acha mesmo que o Wobbuffet pode estar certo?
— Acredite ou não, mas... Ele tem potencial. Está tudo sob controle. E se alguma coisa sair do controle, nós temos reforços.

Graveler olhou para o delegado e deu um suspiro.

— Se o senhor está dizendo... — e voltou sua atenção para o interrogatório.

Wobbuffet encarava Delibird no fundo dos olhos, como se tentasse enxergar a alma do Pokémon.

— Tem cinco minutos que eu perguntei e você ainda não respondeu, só gagueja. Então, eu vou perguntar de novo: Você tem medo do Papai Noel?

Delibird hesitou por alguns segundos. Sem olhar diretamente para Wobbuffet, encarou a mesa a sua frente, até fechar os olhos e respirar fundo.

— Papai Noel não é uma pessoa “adorável”. Ele não é nem um pouco a figura bondosa que todos pensam ser.

Wobbuffet ergueu a sobrancelha direita.

— Hmmm... E por quê?
— Não ficou claro ainda o porquê ninguém parece se importar com o sumiço dele, senhor detetive? É que ninguém se importa. Eu mesmo sou o responsável direto por assessorar o Nicolau e tem alguns anos que ele vem dizendo que iria se aposentar, na mesma época, inclusive, que ele começou a tratar mal seus funcionários. Devia estar de saco cheio – e isso não é uma piada — Delibird encarou Wobbuffet pela primeira vez.

O detetive colocou as duas mãos nos bolsos do sobretudo e deu uma última encarada para o Pokémon à sua frente.

— Eu nunca disse que era uma piada — e virou-se em direção à porta que dava para a saída da sala de interrogatório.





*Nota: Selo das Sombras se refere à Ability Shadow Tag


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