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Capítulo 68
Quando amanheceu novamente
em New Bark, Ethan já se encontrava, pela terceira vez, acordando em sua casa.
A última madrugada fora intensa, o encontro com Raikou e todos os eventos que
se sucederam fizeram com que o garoto mal conseguisse pregar o olho. Sentia os
pelos arrepiados como se recebesse uma constante descarga elétrica, mas o que
machucava de verdade era a lembrança de seu Nidoking o esnobando, trocando-o
por outra treinadora. Nem mesmo os sonhos lhe davam uma trégua, atormentando-o
com uma insistência sufocante.
— Bom dia.
A voz de Forrest causou
certa surpresa em Ethan. Ele não esperava que o amigo estivesse acordado tão
cedo.
— Eu te acordei?
— Não. Fiquei rodando na
cama a madrugada inteira. Você não roncou, então imaginei que não tivesse
conseguido dormir também.
— Eu não ronco — rebateu
Ethan.
— Aham... tá bom — riu Forrest de forma debochada enquanto se
levantava do colchão em que passara a noite.
Ethan bocejou no momento em
que o amigo falava e não ouviu a resposta.
— O que foi que você disse? — questionou Ethan levantando-se da cama e abrindo as cortinas que fechavam as janelas do quarto.
— Ah, não foi nada. A
propósito, eu posso pedir uma opinião sua?
—
Claro.
—
O que você acha da Sunny?
Ethan
virou-se para o amigo com os olhos semicerrados, muito por causa da luz solar
que agora entrava através do vidro.
—
Como assim?
—
O que você acha dela, ué.
—
Eu acho ela bonita, cara. Apesar de ainda não ter me acostumado com a ideia de
o Imperador tê-la escolhido como treinadora favorita.
Forrest
deu uma risadinha.
—
Você ainda tá preso nessa história? O seu objetivo era devolvê-lo, lembra?
—
É, mas não é fácil. Imagina eu ter aquele Nidoking na equipe? Não ia ter pra
ninguém na Liga Pokémon!
—
É, mas você tem o Tyranitar. Se tratando de força defensiva, ele é o melhor. Mas
não foi por isso que eu perguntei pra você sobre ela.
Ethan
ergueu o cenho.
—
Então por que foi?
—
Eu acho que ela tá afim de mim — disse o moreno quase em um sussurro
constrangido.
Ethan
cruzou os braços enquanto observava Forrest coçar a cabeça.
—
Então beija ela.
Forrest
imediatamente ficou rubro. Um sorriso sem graça dominou seu rosto e o garoto
desviou o olhar para o chão.
—
Falar é fácil... E se for só coisa da minha cabeça?
—
Você gosta dela?
Forrest
hesitou por um instante.
—
Ah, ela é bonita, né?
—
Cara, isso não responde a pergunta que eu te fiz. Eu acho a Amy uma gata e eu
sou apaixonado por ela, não sei nem como criei coragem de me aproximar... Já a
ladra de Nidokings nunca fez nada pra mim. Exceto roubar meu Nidoking.
—
O Nidoking sempre foi dela, cabeção. E talvez eu possa sentir algo, sei lá...
mas e se ela não quiser nada comigo?
—
Bola pra frente. Ela não é a única mulher no mundo.
—
Parece algo que eu diria pro meu irmão — riu Forrest.
—
Você é meu melhor amigo. Você é a primeira pessoa a quem eu recorro quando eu
preciso de alguma coisa. Eu não gosto dela, já basta a Amy se afastando de mim.
Só não quero que você comece a se afastar também por conta de um rabo de saia.
Forrest
ergueu as sobrancelhas, surpreso.
—
Não precisa de ciúme, cara. Nem você me fez desistir de você mesmo, e olha que
não foi uma vez só — riu o menino.
—
E-eu não tô com ciúme! — bradou Ethan, sentindo o rosto queimar e um frio no
ventre incomodá-lo enquanto tentava engolir aquilo que ele se recusava a
admitir que era, justamente, ciúme.
O
moreno levantou-se do colchão e saiu pela porta do quarto com um sorriso no rosto.
Ethan esperou por alguns segundos ainda com as sobrancelhas franzidas para ver
se Forrest voltava, mas isso não aconteceu.
—
Ô SEU CRETINO, VEM AQUI DOBRAR SUAS COBERTAS! — gritou o garoto zangado.
***
Ethan
desceu as escadas em direção à cozinha ainda bufando ar pelo nariz, no seu mau
humor costumeiro. Sunny reparou a entrada ranzinza do menino, mas Chase, Elaine
e os demais já estavam acostumados com aquele tipo de comportamento que Ethan
só exibia quando sentia que algo o contrariava.
—
Bom dia, filho — cumprimentou
Marieta enquanto colocava mais um prato na mesa farta com todos os visitantes
sentados. Forrest parecia ter sido o último a se servir, pois sua xícara de
café sequer estava na metade.
—
B’ dia — respondeu o menino de forma seca.
Ethan
suspirou e sentou-se na cadeira, servindo-se de leite, café e não tardando a
colocar algumas colheradas caprichadas de açúcar. Sand ajudava Marieta a
recolher os pratos que iam ficando na mesa conforme as pessoas finalizavam as
refeições. Sunny e Elaine comentaram entre si como Sandslash havia ficado fofo
utilizando um avental rosa que Marieta comprara em uma das barracas de
acessórios na feira de sábado.
—
Sand tem sido um excelente Pokémon. Me ajuda bastante em casa e olha que ele só
está aqui há dois dias — comentou a mulher afagando o cocuruto do Pokémon.
—
Parece até que foi feito pra ele — comentou Elaine, fazendo um comentário
silencioso. — Ele nunca deixou de usar esse avental...
—
E falando em compras, precisamos repor o nosso estoque de itens, Ethan. Poções,
Antídotos, Repelentes... Os itens básicos, estamos quase sem — avisou Forrest.
—
Beleza. A gente pega no mercado de Cherrygrove — disse Ethan após bebericar em
sua xícara de café com leite.
Elaine
debruçou-se sobre a mesa e encostou o queixo sob algumas migalhas de pão.
—
Por que nossa estadia em New Bark sempre parece tão curta, Ni?
—
Sei lá... — suspirou Chase, encarando a mesa.
—
Por que vocês dois nunca comentaram que já estiveram em New Bark antes? —
perguntou Marieta.
Os
irmãos se encararam.
—
É que a gente... A gente não...
—
Quando éramos mais novos nossos pais nos traziam para visitar nossa avó que
morava aqui — explicou Chase, rapidamente. O menino olhava Marieta de uma forma
estranha, como se tentasse ler seu pensamento. A mulher, no entanto, não percebeu.
Distraiu-se tentando lembrar se já tinha visto aqueles dois na vizinhança ou se
eram netos de alguma das vizinhas fofoqueiras, mas elas provavelmente os teriam
mencionado antes.
—
Essa é a vida de um treinador Pokémon, né? É como um andarilho, todo dia um
lugar novo — comentou Sunny.
—
Esse é justamente o motivo de gostarmos de fazer o que a gente faz — concordou
Forrest com um sorriso.
Ethan
olhou para o PokéGear em seu pulso.
—
Oito e quarenta. Se quisermos chegar ainda hoje em Cherrygrove, é melhor irmos
andando.
—
Você fala como se Cherrygrove fosse do outro lado do país — disse Sunny com um
sorrisinho.
—
Vamos levar umas duas horas, no máximo, pra chegar lá — calculou Forrest.
—
Nem isso — complementou Sunny.
— Nem isso. — Forrest
sorriu para a menina. Nenhum dos dois viu Ethan revirando os olhos, o que
arrancou um sorrisinho de Elaine.
***
Elm olhava pensativo para o
computador que agora exibia o descanso de tela animado com alguns Pichu que
dançavam alegremente e piscavam intercalando-se em diferentes cantos do
monitor. O professor passou a mão no gancho do telefone, o posicionou no ouvido
e discou nas teclas os oito dígitos de um telefone que ele sabia de cor por ser
o mesmo há anos. Apesar de Elm não o discar já há dias, era frequente a
manutenção daquele hábito de telefonar para aquela linha em específico.
Chamando. Chamando.
Chamando. Chamando...
O cientista estava
acostumado a tentar algumas vezes para ter algum sucesso. Acabou
surpreendendo-se com a voz da sobrinha do outro lado da linha.
— Oi tio. Tudo bem com o
senhor?
— Lyra! Que surpresa você
me atender tão cedo. Geralmente você é tão ocupada...
— Eu ando tranquila
esses dias, tio...
— Está tudo bem? Já tem
algum tempo que você não me manda mais relatórios da sua PokéDex.
— Tudo sim. Estou em
Olivine agora, resolvi pegar uns dias de descanso, faz bem pros meus Pokémon,
né?
— Ah, a adolescência... Os
jovens vivendo sem a pressa do tempo — riu Elm. — Você está se preparando para
a Liga Pokémon? É em Fevereiro.
— Não vou te
decepcionar, tio! Estarei lá e irei me tornar a nova Campeã da Liga Índigo,
igual a minha mãe!
— Fico feliz em ver você
tão animada, minha querida.
— Preciso ir, tio. Mas
eu ligo logo que puder. Não esqueci da minha tarefa de preencher a PokéDex.
— Estarei esperando
ansioso. Você conseguiu descrições até
mesmo do lendário Lugia! Isso é impressionante!
— Nada que uma
treinadora habilidosa como eu não consiga, não é? — riu a menina.
— Eu não esperaria menos de
você! Como você conseguiu encontrá-lo? Eu fiquei sabendo que ele fugiu após uma
emboscada da Equipe Rocket nas Ilhas Redemoinho. Você e o Ethan não estavam
envolvidos nisso?
— É verdade, tio... Mas
depois eu acabei encontrando-o enquanto seguia pra Cianwood. Eu nunca mais vi o
Ethan depois disso.
— Ainda assim, é realmente
surpreendente que você tenha conseguido esse feito. Meus parabéns!
— Obrigado tio! Eu
preciso ir, mas eu juro que ligo pro senhor assim que possível.
— Tudo bem, minha sobrinha.
Até logo.
— Tchau.
E desligou o PokéGear. Lyra
respirou fundo e voltou a encarar a sacada. No horizonte, dava para se ver a
copa das árvores da Floresta Ilex e a fumaça que saía das chaminés das
fogueiras que queimavam carvão na cidade de Azalea. A menina tirou de um dos
bolsos dos shorts preto — parte do uniforme da Equipe Rocket — um maço de
cigarros. Enquanto apoiava o cilindro de nicotina nos lábios vermelhos,
retirava do outro bolso um isqueiro e guardava o maço. Levou a mão à frente do
rosto e acendeu o isqueiro queimando a ponta do cigarro e tragando-o
profundamente. Sentiu a fumaça penetrar por sua garganta e encher seus pulmões.
De forma suave, dispensou o excesso soprando-o no ar e vendo-a se dissipar no
ar com os olhos.
— Eu diria que você faz bem
o papel de sobrinha exemplar.
— Cala a boca.
Silver, sem camisa,
mantinha um sorriso pervertido no rosto enquanto olhava para a namorada de
costas. O ruivo estava deitado na cama de madeira sob a luz de uma candeia que
permanecia acesa mesmo com a luz natural invadindo o local. O quarto não era
tão grande, mas ao menos era confortável, tinha um guarda-roupa de madeira
rústica, muito provavelmente feita das árvores da floresta dos arredores do
pequeno esconderijo que os dois se encontravam. O piso também era de madeira e
entre as paredes feitas de concreto, quadros decoravam de forma charmosa que
exibiam imagens pintadas de diversos tipos de Pokémon do tipo Grama e Inseto,
como Butterfree, Oddish e até mesmo Pinsir e Yanma. O cheiro da relva perfumava
o ambiente, mas aos poucos, o cheiro do cigarro tomava lugar.
— Sobre o que ele
perguntou? — o ruivo sentou-se na cama e levantou-se, seguindo em direção ao
guarda-roupa.
— Nada que atrapalhe. Mesma
coisa de sempre. Quis saber da minha viagem, do motivo que eu não tô enviando
mais relatórios da PokéDex... — Lyra deu outra tragada no cigarro. — Ele
perguntou do Lugia também.
Silver deu uma risadinha
baixa enquanto terminava de abotoar a camisa que cobria seu peito com
cicatrizes e queimaduras que, como tatuagem, cobriam o peitoral do garoto e
descia até embaixo do umbigo. Só ardiam quando ele se lembrava dos motivos de
elas estarem ali.
— Claro que você ia
conseguir as informações do Lugia. Quem mais poderia fazer isso se não você?
O garoto aproximou-se de
Lyra e a abraçou pelas costas, dando-lhe um beijo no rosto enquanto ela batia
com o dedo indicador no cilindro do cigarro para derrubar o excesso de cinzas
na ponta. Ela suspirou, sem manter contato visual com o namorado.
— Ele é tudo o que sobrou
pra mim. Eu preciso me esforçar por ele.
— É bom saber que, além de
mim, o famoso Professor Elm também se preocupa com você.
Outra tragada no cigarro.
Lyra ainda se mantinha olhando o horizonte cinzento da Rota 33. Nuvens de chuva
se aproximavam de Azalea.
***
Havia pouquíssimas nuvens
no céu azul da Rota 29. Ethan, Elaine e Chase caminhavam juntos já há duas
horas pelos caminhos sinuosos da estrada que ligava New Bark à Cherrygrove
enquanto assistiam Forrest e Sunny caminhando um pouco mais à frente, rindo e
conversando entre si. Vez em quando, eles ainda olhavam para trás para dar
qualquer atenção para os amigos, mas voltavam a rir e a paquerar.
— Quando vocês crescerem, não namorem
— disse Ethan aos gêmeos.
— Como se você não dissesse isso
todos os dias... — respondeu Elaine, levando uma cotovelada de seu irmão.
— Eu sou tão transparente assim? —
perguntou o menino aos irmãos, que riram.
— Só um pouquinho — respondeu Chase.
— Mas você não é assim com a mam... digo, com a Amy?
Ethan parou para refletir por alguns instantes
antes de responder, olhando para cima e apoiando o dedo indicador no queixo.
— Eu acho que se eu andasse desse
jeito com a Amy, ela com certeza iria me matar. E não estou falando de um jeito
irônico.
Os gêmeos se entreolharam. Dando uma
risadinha, concordaram em silêncio com a afirmação do mais velho. Ethan voltou
a comentar sobre o casal à sua frente, quase em um sussurro.
— É que eu acho esquisito eu ver o
Forrest grudado com outra pessoa. Desde o começo da minha jornada éramos nós
dois compartilhando praticamente tudo... Sei lá, é estranho.
Forrest caminhava alguns metros à
frente com Sunny ao seu lado. A jovem, vez em quando, olhava de canto de olho e
via Ethan cochichar com os gêmeos, que percebiam que estavam sendo observados,
ficavam sem graça e desviavam o olhar de volta para o garoto, que não percebia
a situação — era capaz de Ethan cair em um barranco e só se dar conta depois
que tocasse o chão.
— Você acha que o Ethan está chateado
comigo? — perguntou ela para Forrest.
— Eu tenho certeza. Mas não é culpa
sua, ele é assim.
— Mas ele não pareceu assim quando eu
falei pra me devolver o Cherry...
— Eu não acho que o problema seja
você ou o Cherry. Ele é complexo... Já tem um monte de problemas,
principalmente com a namorada dele.
— Problemas femininos? É, eu até
consigo entender — riu ela. — Tem alguma coisa que eu possa fazer pra ajudar?
— Eu não sei... Você tem alguma
ideia?
Sunny parou subitamente.
— Você respondeu minha pergunta com
outra pergunta.
— Eu? Claro que não. Eu apenas otimizei
o tempo emendando o próximo tópico da conversa — riu Forrest.
— Você tem bastante tempo sobrando,
né?
— Pra você eu tenho.
As bochechas de Sunny coraram e ela
desviou o olhar. Ela e Forrest se assustaram quando Ethan aproximou-se deles e
se posicionou entre os dois, apontando para frente com o dedo indicador.
— Vocês viram aquilo?
No caminho à frente surgiram diversas
bandeirolas vermelhas penduradas através de estacas de madeira que começavam
justamente no ponto em que os garotos estavam. As bandeirolas tinham um brasão
com um símbolo do que se podia deduzir ser uma cereja vermelha estilizada. O
vento que soprava de New Bark as agitava e as parecia conduzir pelo caminho
que, justamente, dava para Cherrygrove, alguns pouquíssimos quilômetros à
frente. Já era possível ver as casinhas que eram endereçadas na cidadezinha.
— Sejam bem-vindos ao Festival da
Cerejeira! — bradou uma voz.
Uma moça de longos cabelos loiros
esvoaçantes sorriu para o grupo. Ela se parecia bastante com Sunny, tinha os
mesmos olhos acastanhados e era tão bonita quanto — apesar de não o suficiente
para mudar o humor de Ethan.
— Tuscany! — exclamou Sunny, correndo
ao seu encontro.
— Sun! Que saudades de você!
As duas se abraçaram forte, seus
corações pulsavam na mesma frequência.
— Por onde você andou? Tem tanto
tempo que eu não te vejo! — Tuscany mantinha as sobrancelhas erguidas, e falava
de forma agitada.
— Eu estive trabalhando com o
Professor Elm... E adivinha só quem eu reencontrei?
Sunny sacou uma PokéBola de dentro da
mochila. Apertou o botão da cápsula e liberou Cherry — apesar de agora ser um
nome até esquisito para uma criatura como Nidoking, mas ele não deixaria de ser
um filhote para sua treinadora. Tuscany não conseguiu controlar o queixo, que
batia no tórax.
— CHERRY! É VOCÊ MESMO?! CARAMBA! VOCÊ
TÁ VIVO! — A loira olhava Nidoking por todos os ângulos possíveis, completamente
impactada com aquele Pokémon.
— Ele estava sendo cuidado por ele.
Sunny apontou para Ethan, parado com
Forrest e os gêmeos a alguns metros, observando a cena. Tuscany, meio trêmula,
apontou o dedo para o menino, que ao perceber, tentou esconder-se atrás de
Forrest.
— Você não é o menino que pegou as
oito insígnias e namora uma mafiosa? Eu te vi na TV!
— Sou... — respondeu o menino
constrangido.
— Pessoal, essa é a minha irmã,
Tuscany — apresentou Sunny.
— Isso explica porque o Cherry tá
fortão desse jeito. Você arrasa demais! Não a toa que você manda na máfia! —
exclamou a loira.
— Tus, ele não manda na máfia... Ele
só namora a mafiosa — disse Sunny, escondendo o rosto atrás da palma da mão
apoiada na testa, deixando Ethan ainda mais envergonhado. A voz sumiu, ele não
conseguiu nem responder. — Ele é o Ethan.
— Vocês são tão lindinhos... — comentou
Tuscany apertando as bochechas dos irmãos.
— Obrigada... — respondeu a menina
sem graça, enquanto massageava o rosto. — Eu me chamo Elaine. E esse é o meu
irmão, Chase.
— E quem é esse moreno sarado que
temos aqui? — Tuscany olhava para Forrest com um sorriso malicioso.
— Forrest. Ele não — disse Sunny de
forma séria, o que foi notado imediatamente por Tuscany.
— Certo. Captei. Vou tentar a sorte
no festival. A propósito, vocês vieram pra isso, né?
— Festival? — perguntaram os gêmeos
em uníssono.
— O nosso Festival da Cerejeira! —
exclamou Tuscany, apoiando as mãos na cintura. — Muito me surpreende que a Sun
não tenha falado nada pra vocês ainda.
— Ela tava meio ocupada — comentou
Ethan, tomando uma cotovelada de Forrest. — Ai!
— Ah, a vida de assistente do
Professor Elm deve ser difícil mesmo... — disse Tuscany olhando para Sunny e
Forrest com um leve tom de deboche na voz. — O Festival da Cerejeira é uma
festa anual que acontece na Cidade de Cherrygrove no meio do inverno onde nós
pedimos para que a primavera seja próspera e possa abençoar a próxima colheita.
Temos música, danças e a parte que eu mais gosto, comida de montão! Eu mesma
estarei participando do concurso Miss Cerejeira para eleger a garota mais linda
da cidade, então vim aqui divulgar. Vocês vão votar em mim, não vão?
— Bem... é que os ingressos para um
evento desses devem custar uma fortuna — comentou Ethan.
— Que nada! É tudo cortesia. Toma um
pra você, pra você, pra você, e pega mais cinco pra distribuir pros amigos.
Inclusive atrás tem o meu número de participante, então não deixem de votar, tá
bem? — disse Tuscany, não perdendo a chance de vender seu peixe. — Ai... Eu tinha
que ficar aqui pra atrair as pessoas a comparecerem no festival, mas já está me
dando uma fome...
A barriga de Ethan roncou. O garoto,
constrangido, não teve como contrariar suas necessidades.
—
É... Acho que eu sei como é essa sensação.
***
As
barraquinhas se aglomeravam em ambos os lados das ruas, paralelas umas às
outras. O aroma no ar era plural — da essência adocicada dos algodões-doces que
atraiam crianças e Pokémon que babavam em grandes filas ao cheiro apetitoso dos
pasteis sendo fritos em enormes panelas de metal que continham óleo
borbulhante, aquecido pelas chamas ardentes de uma equipe composta por um
Cyndaquil, um Slugma e até mesmo um Magby. Para onde quer que se olhasse, algo
chamava a atenção, das barracas de flores onde uma Sunflora demonstrava
habilidade em decorar os vasos, até mesmo o grande palco montado na praça da
cidade, onde um grupo de dançarinos se apresentavam acompanhados de um Hitmontop,
um Mr. Mime e um Jigglypuff que parecia se virar muito bem ao som pesado do hip
hop que tocava nos amplificadores.
Cherrygrove
era sim uma cidade pequena, do interior de Johto, mas uma vez ao ano ela
parecia emanar uma energia mágica que a fazia ficar enorme. Todas as pessoas
que estavam ali mantinham um sorriso no rosto que não era desfeito nem com os
sorvetes derretendo devido ao calor que fazia.
Ethan
abocanhou mais um pedaço do segundo hambúrguer, sentado no banquinho de madeira
debaixo do toldo vermelho com listras brancas de uma das barracas próximas a
uma árvore. Elaine parecia encantada demais com uma pelúcia de Snubbull em uma
barraca próxima cercada de crianças, mas não se achava capaz de conquistar uma
posição entre o Top 3 para garantir uma premiação. Seu irmão, no entanto,
permanecia sentado ao lado de Ethan, com metade de um copo de suco de laranja
gelado em sua frente. Penteava seu Pikachu, que mantinha-se sob o colo do
menino sem resistência.
Após
a última abocanhada, Ethan passou a mão na barriga e a afagou por algum tempo.
Deu um sorriso satisfeito para o teto da barraca, já planejando o próximo.
Chase soltou uma gargalhada.
—
O hamburgão tava bom, hein?
—
Você não faz ideia, cara... — O olhar de Ethan pousou nas costas de Elaine. — O
que ela tá fazendo?
—
Tomando coragem, eu acho — respondeu o menino enquanto escovava o topo da
cabeça do Pikachu.
—
Coragem pra quê?
—
Pra tentar ir lá ganhar aquele Snubbull de pelúcia. Mas ela tem vergonha.
—
Hum... — murmurou em resposta.
Chase
continuou passando a escova nos pelos amarelos de seu Pokémon quando Ethan
levantou-se do banquinho e caminhou até Elaine. A menina tomou um susto quando
viu o rapaz passar por ela, com as mãos no bolso, infiltrando-se entre as
crianças com metade da sua altura que disputavam a atenção de um único homem atendente.
A camisa social preta fechada até a gola no pescoço claramente o fazia suar e
assar com o calor daquela tarde. O homem não esboçava reação alguma, exceto
quando viu Ethan se aproximar. Ele arregalou os olhos e apontou para o garoto,
o que chamou a atenção das crianças que disputavam um lugar na fila. Houve um
silêncio imediato entre o grupo, seguido por cochichos e sussurros curiosos.
—
V-você não é aquele menino que tem as oito insígnias? É um prazer recebê-lo em
minha barraca!
O
garoto deu um sorriso sem graça.
—
É, eu acho que sou eu... Escuta, quanto custa esse Snubbull de pelúcia? —
perguntou apontando para o boneco que, agora que via mais de perto, era tão
grande quanto um original.
—
Quem diria que um finalista da Liga Pokémon estaria interessado por um bichinho
de pelúcia... — zombou o homem, que engoliu em seco ao ver a expressão séria de
Ethan. — Mas não está a venda. Mas... Você pode arriscar a sorte. $10, três
bolinhas, três chances de acertar o anel do Ursaring.
O
menino olhou para o alvo. Era um Ursaring de papelão, de pelo menos um metro e
meio de altura, que tinha um buraco em sua barriga, no meio do círculo dourado
que a espécie real costumava carregar no ventre. Claro que ele não metia medo
em Ethan como um Ursaring de verdade, mas a tensão do momento o fez sentir um
frio na barriga.
Ethan
tirou da mochila sua carteira e sacou uma nota para o homem que a recolheu. Debaixo
da mesa, retirou três bolas que tinham as mesmas cores de uma PokéBola comum e
as entregou para o menino. Ethan encarou o alvo e arremessou a primeira bola
que quicou na parede, longe do buraco do papelão. O garoto respirou fundo e
segurou a bola na frente dos olhos, com o braço esticado, mirando o alvo com o
olho esquerdo fechado.
A
segunda bola atingiu o rosto do Ursaring de papelão. O homem na barraca deu uma
leve baforada e um leve sorriso tomou conta no seu rosto. Ethan mantinha a
concentração. Jogou a terceira bola, que por pouco não atingiu o buraco,
pegando a borda do alvo.
—
Que pena... Não deu.
—
Mais três.
—
$10.
Ethan
pegou mais uma nota da carteira e a entregou para o homem. Mais três
tentativas. Mirou no Ursaring de papelão, curvou-se levemente para frente e, ao
invés de arremessar a primeira bola, ele virou a mão, deixando a esfera
apontada para o teto. Jogando-a de baixo para cima, a bola fez uma curva para o
alto e logo caiu certeira no alvo. Ethan colocou as outras duas bolas em cima
do balcão e deu um sorriso satisfeito.
—
De primeira.
O
homem deu um suspiro e se dirigiu até o Snubbull de pelúcia. Pegou-o da
prateleira e entregou para Ethan, que sorriu e agradeceu.
—
Você ainda tem mais duas chances. Não quer mesmo jogar?
O
garoto olhou para o grupo de crianças que o observava em silêncio. Pegou as
duas bolas em cima do balcão e as entregou para uma das meninas que estava mais
próxima.
—
Já tá pago, boa sorte.
Os
olhos da criança brilharam. Os amiguinhos logo fizeram uma roda ao redor da
menina e copiaram o gesto, copiando a técnica que daria um verdadeiro prejuízo
ao senhor da barraca agora que todos sabiam como levar o prêmio.
Ethan
virou-se em direção à Elaine e entregou a pelúcia a ela. A menina arregalou os
olhos e começou se tremer.
—
Ganhei pra você.
—
E-eu n-não posso aceitar — murmurou Elaine.
—
Não pode o escambau. Eu tô te dando.
Elaine
juntou as duas mãos e olhou para os próprios pés. Mordendo o lábio, a menina se
pegava constrangida, sem saber o que fazer.
—
É que não estou muito acostumada a ganhar presentes...
—
Não? Seu pai é um bobão então. Achei que toda menina tivesse uma montanha de
pelúcias que dá pra se perder lá dentro. Mas se você não gostar dessas coisas,
eu posso dar pra outra criança...
—
NÃO! — gritou a menina, agarrando a pelúcia das mãos de Ethan. — M-muito obrigada...
Elaine
pulou no pescoço de Ethan e o peso o fez se curvar para baixo. A menina o
abraçou com força, em breves segundos que pareceram minutos. O coração de Ethan
encheu-se de ternura e o menino se emocionou — não sabia exatamente o motivo,
mas sentia-se responsável por Elaine e também por seu irmão. Era como se fossem
parentes próximos dele. Sentia-se feliz por ter feito o dia da menina, que
olhava para a pelúcia de Snubbull como se ele fosse o bem mais precioso de sua
vida — e para ela, não deixava de ser.
—
Eu sempre soube que você tinha uma boa mira.
Ethan
reconheceu aquela voz de imediato. Virou a cabeça procurando pelas imediações e
não conseguiu esconder a surpresa ao reparar em Joey e Gabrielle aproximando-se
do rapaz.
—
Vocês? Nossa! Eu jamais achei que ia ver vocês por aqui! — exclamou Ethan abraçando
os dois.
—
Você não achou realmente que eu ia perder uma boa festa, né? Principalmente se
tratando do Festival da Cerejeira na minha cidade natal. É uma ótima
oportunidade de mostrar pra Gabi tudo de bom que Cherrygrove tem a oferecer,
que é quase nada — riu o menino. — E eu vi você na TV, você estava em New Bark.
Imaginei que logo chegaria aqui.
—
É muito bom vê-lo de novo, mon chérie!
— exclamou Gabrielle. Ethan notou uma acentuada no sotaque kalosiano.
—
É muito bom ver vocês também — sorriu Ethan.
—
Cadê a Amy? Eu passei pelo Forrest vindo pra cá. Ele tava acompanhado de uma
amiga minha, estavam indo à praia...
—
Longa história... — comentou Ethan meio embaraçado.
—
Se você o ver primeiro que eu, avisa que eu descobri que a Argenta estará em Ecruteak.
Eu acho que o pessoal da Liga Pokémon tá
querendo chamar bastante a atenção pra cidade, porque já vai ter o Festival de
Ouro e Prata lá, agora a Batalha da Fronteira estará lá... Enfim, quando o
vê-lo, pode dar o recado?
—
Claro que sim! — sorriu o menino.
A
atenção de Joey se voltou para Elaine e Chase, que conversavam na barraca
próxima.
—
Esses dois estão viajando contigo? Eu vi eles na TV, são a tua cara. Parecem
até seus filhos — caçoou o garoto dando cotoveladas de leve no braço de Ethan.
—
Tá doido?! Eu nem tenho idade pra isso, eu nem me casei ainda!
—
Cê tá ligado que não precisa casar pra fazer filho, né? — retrucou de forma
maliciosa.
Joey
veio ao chão quando sentiu a coronhada que recebeu de Gabrielle.
—
Você não tem nem tamanho pra falar dessas coisas. Fique calado.
Ethan
não pôde esconder uma risadinha.
Os
gêmeos aproximaram-se de forma tímida. A moça deu um belo sorriso ao ver o
Snubbull de pelúcia da garota.
—
Beau! Espero que você esteja cuidando
bem dele. Meu nome é Gabrielle.
—
O meu é Elaine. E esse é o meu irmão, Chase.
—
Esse Pikachu não é forte demais pra uma criança do seu tamanho carregar ele por
aí fora da PokéBola?
Chase
fechou a cara.
—
Takara é o meu melhor amigo, ele jamais faria mal pra mim! — O menino olhou
Joey de cima a baixo. — E nós dois temos praticamente o mesmo tamanho!
—
E daí? Eu sou mais velho que você!
—
E daí? E o que tem a ver?
—
E daí que você tem que me respeitar!
Os
dois mostraram a língua um para o outro. Ethan e Gabrielle interviram para
evitar uma discussão ainda mais calorosa. Joey, no entanto, sacou uma PokéBola
e a apontou em direção à Chase.
—
Então eu te desafio pra uma batalha! Vou te mostrar a capacidade de um
treinador com oito insígnias!
—
Eu também tenho oito insígnias. Se esse for o caso, quem vai lutar com você sou
eu — disse Ethan, tomando a frente.
—
Eu posso lidar com isso. Ele me provocou! — exclamou Chase, nervoso.
—
Então vamos fazer uma batalha em duplas — sugeriu Gabrielle.
—
Batalha em duplas? — questionou Ethan.
—
Uma luta entre duplas com quatro Pokémon sendo comandados ao mesmo tempo. É uma
sensação em Kalos e também um modo de batalha presente na Liga Pokémon de Hoenn
— explicou Gabrielle.
—
Região de Hoenn... Me parece um lugar bem interessante... — comentou Ethan,
levando a mão ao queixo.
—
Temos quatro treinadores com vontade de batalhar. Eu acho que é uma boa — disse
a jovem.
—
Eu acho uma excelente ideia! — Joey parecia empolgado com a ideia. — Eu vou
poder aproveitar a oportunidade pra derrotar o meu maior rival.
Ethan
sacou uma PokéBola e a estendeu na direção do garoto.
—
Não conte com isso, Joe.
***
Um
dos principais pontos turísticos de Cherrygrove era, com certeza, sua praia a
oeste da cidade. Apesar de ser bastante conhecida ao redor do país, a praia não
atraía tantas visitas quanto o litoral de Olivine, por exemplo, mas era o palco
ideal para o espetáculo que estava prestes a acontecer. Ethan, Joey, Chase,
Gabrielle e Elaine conversavam entre si enquanto afastavam-se consideravelmente
do centro urbano da cidade, pegando a trilha que levava ao mar. A praia de
Cherrygrove era tão tranquila quanto as águas que beijavam sua orla, visto que
apenas pequenas embarcações costumavam navegar por ali, muitos deles, barcos de
pesca a procura de algo além de Magikarp selvagens, como tesouros presos por
entre os corais de Corsola por debaixo da baía.
Foi
Joey quem sugeriu que caminhassem descalços pela areia, muito pelo fato do
garoto não querer sujar seus tênis — mania muito parecida com a de Ethan. A
areia fofa massageava as solas dos pés dos jovens e o barulho das ondas do mar
causava até mesmo um certo frio na barriga para Chase e Elaine, que ainda não
tinham visto o mar tão de perto, mesmo que aquele nem se comparasse com o
oceano que banhava as rotas marítimas de Hoenn ou Alola. O sol não estava tão
quente, o que fazia os garotos se sentirem a vontade e bem dispostos. Logo que
encontraram um bom lugar, mais ou menos no meio da praia, dividiram-se em
duplas. Joey e Gabrielle de um lado e Ethan e Chase de outro.
—
As regras são simples. Cada um de nós só pode usar um único Pokémon, sem
substituições. A dupla que tiver os dois Pokémon derrotados, perde — explicou
Gabrielle.
—
Eu e a Gabi estamos sempre praticando nessa modalidade... É um treino a mais
pra Liga Johto! — exclamou Joey. — Vocês não vão ficar com medo, né?
Chase
puxou Ethan pela manga da camiseta. O garoto abaixou e ouviu o sussurro secreto
que o menino emitiu em seu ouvido, o que chamou a atenção de Joey e Gabrielle.
O garoto concordou e colocou a mão no bolso do shorts, sacando uma PokéBola.
—
Estamos prontos! — exclamou Ethan, apontando a cápsula bicolor na direção dos
oponentes.
Joey
e Gabrielle se entreolharam sorrindo e fizeram um breve aceno de cabeça.
—
Muito bem, lá vamos nós! — bradou Gabrielle arremessando a PokéBola para o
alto, em um movimento copiado por Joey e pelos oponentes do outro lado do
campo.
Um
breve segundo de apreensão se sucedeu antes de o forte brilho que emanou das
esferas se dissipasse e revelasse quatro criaturas prontas para o combate. Do
lado de Ethan e Chase, havia Takara, o Pikachu, e a armadura escarlate de
Scizor que encaravam os dois oponentes do campo de batalha de Joey e Gabrielle.
O Pokémon do garoto era um roedor bípede de pelos alaranjados e bochechas
amarelas e um rabo, cujo formato da ponta era um grande raio elétrico. Seu
parceiro era um pequeno Pokémon de pelagem branca com triângulos vermelhos e
azuis ao redor do corpo. Ele também tinha um longo pescoço longo e um par de
asas nas costas que lhe davam um ar angelical, apesar de encarar os oponentes
com um olhar sério.
Ethan
sacou sua PokéDex e apontou para os Pokémon em sua frente, mas antes de prestar
atenção em qualquer informação vinda da voz robótica, não deixou de se
surpreender com a PokéDex que Chase retirou da mochila. Parecia até mesmo um
pequeno diário. O garoto o virou na vertical e abriu a capa do caderno, que se
revelou ser um pequeno computador de mão, que logo revelou a imagem de Raichu
na tela.
—
Quando a eletricidade se acumula dentro
de seu corpo, fica mal-humorado. Também brilha no escuro — leu Chase. — É a
forma evoluída do Pikachu? É a primeira vez que eu vejo um Raichu de perto...
—
Que PokéDex esquisita essa sua — comentou Ethan, conferindo o seu próprio
dispositivo.
—
Raichu, o Pokémon Rato. É a forma
evoluída do Pikachu. Quando seus níveis de
eletricidade aumentam, seus músculos são estimulados e ele se torna mais
agressivo do que o de costume. Se as bolsas elétricas em suas bochechas ficarem
totalmente carregadas, ambas as suas orelhas ficarão em pé. — informou o dispositivo.
Ethan
o apontou para o segundo Pokémon.
—
Togetic, o Pokémon Felicidade. É a forma
evoluída do Togepi. Dizem que aparecerá diante de pessoas bondosas e atenciosas
e as encherá de felicidade. Fica desanimado se não está com pessoas gentis. Ele
pode flutuar no ar sem mover suas asas.
— Togetic e Raichu contra Pikachu e Scizor. Essa batalha vai ser bem
interessante... — comentou Joey para Gabrielle.
Scizor,
no entanto, não parecia estar interessado tanto assim na batalha. Olhava para
os lados, batia suas asas e movia-se de um lado para o outro de forma
hiperativa. Usava suas pinças para socar o ar em sua frente, tentando chamar a
atenção de Togetic para toda sua força. Takara, o Pikachu de Chase, encarava o
colega sem entender o que estava acontecendo.
—
Parece que seu Pokémon está bem disposto, hein? — observou Joey para Ethan.
—
Um pouco até demais... — respondeu Ethan meio sem graça. — Acho que ele ficou
muito tempo lá no laboratório e deve estar querendo desenferrujar.
Gabrielle
soltou um suspiro impaciente.
—
Vocês falam demais. Togetic, ma chérie, comece
com o AncientPower no Scizor!
O
Pokémon da jovem criou uma bola de energia prateada na frente de seu corpo e a
arremessou na direção de Scizor, que prontamente desviou voando para cima.
Pikachu, no entanto, foi atingido por estar próximo do alvo.
—
Takara! — exclamou Chase, surpreso.
—
A regra número um de uma batalha em duplas é estar sempre atento ao que
acontece no campo de batalhas — comentou Gabrielle. — A sintonia é importante.
— Tipo assim. Raichu, Quick Attack! — ordenou Joey.
— Togetic, Yawn!
Raichu
disparou em uma investida veloz contra Pikachu, que conseguiu desviar por pouco
ao ouvir o grito de seu treinador, jogando seu corpo para o lado direito. O
Pokémon de Joey levantou uma nuvem de areia quando errou o ataque.
—
Scizor, avance com Metal Claw! —
exclamou Ethan.
Um
rastro veloz espalhou areia para cima e para os lados, impedindo a visão geral.
Togetic flutuava no ar tentando captar a presença do oponente. Foi surpreendida
quando Scizor apareceu em sua frente com suas pinças brilhando em um tom cinza-metálico,
atingindo-a com um ataque direto, fazendo-a voar atordoada alguns metros para
cima.
—
Raichu, Thunder no Scizor! — exclamou
Joey.
—
Takara, Zippy Zap! — gritou Chase por
de trás da nuvem de poeira.
As
bochechas de Raichu acenderam em meio à nuvem de areia. Takara percebeu e
disparou em direção ao oponente, com o corpo coberto por eletricidade. O
oponente foi empurrado alguns metros para trás e, naquele instante, perdeu a
paciência e a concentração, fazendo o Thunder
falhar. Aquele Pikachu era mais irritante do que ele pensara.
Togetic
bocejou em um ataque Yawn bem no
rosto de Scizor, que foi pego de surpresa. O Pokémon de Ethan balançou a cabeça
e deu um sorriso para sua oponente. Ele realmente
não a estava levando a sério.
—
Bullet Punch! — exclamou Ethan.
—
Evasiva, mon chèrie! — gritou
Gabrielle.
—
Thunder Wave! — ordenou Joey.
—
Electro Ball! — pediu Chase,
apontando para Raichu.
Scizor
atingiu um soco no rosto de Togetic, que não conseguiu desviar a tempo. No entanto,
foi atingido pelo raio elétrico de Raichu, que paralisou seu corpo. O Pokémon
escarlate sentiu seus músculos travarem, mas uma moleza tomou conta. Seus olhos
ficaram pesados e ele caiu para frente. O Yawn
o botou para dormir.
O
Electro Ball de Pikachu atingiu o
rosto de Raichu. Togetic parecia abalada, mas se posicionou imponente no ar,
diante de seu único oponente disponível: O pequeno Takara.
Pikachu
encarou Raichu e Togetic de forma séria, sem dar para trás.
—
Scizor, isso não é hora de dormir! Scizor! — chamava Ethan para o Pokémon que
dormia tranquilamente apoiando a cabeça em cima de uma de suas pinças.
—
Dois contra um é covardia! — exclamou Chase para Gabrielle.
—
Não é uma batalha de dois contra um. Tem dois Pokémon no campo, mas que pena
que só um está disponível pra batalha... — sorriu a garota de forma maliciosa.
— Togetic, Metronome!
—
Agility! — Exclamou Joey para seu
Pokémon.
Raichu
disparou veloz, correndo com auxílio de suas quatro patas, e começou a girar ao
redor de Pikachu, tentando confundi-lo e ganhando tempo para o Metronome de Togetic carregar. Takara não sabia para onde
olhar. De onde viria o ataque, da Togetic voando na sua frente ou do Raichu que
viria com um ágil ataque rápido?
— Scizor, acorda! —
implorava Ethan, sem resposta.
— Takara, Thundershock no Scizor! —
— O quê?! — exclamou o mais
velho. — O que você tá fazendo, Chase?
Pikachu olhou para o seu
treinador por um instante. Chase mantinha a seriedade que transmitia confiança
ao Pokémon. Não precisou de muito mais; de suas bochechas, faíscas elétricas escapavam
enquanto os pêlos amarelos pelo corpo de Takara se arrepiaram. Pikachu
curvou-se e disparou um poderoso choque elétrico na direção de Scizor, que foi
atingido em cheio e despertou, berrando de dor. Olhou furioso para Pikachu, mas
sua atenção foi desviada quando da boca de Togetic, saiu um Solar Beam mirado na direção de Scizor.
Raichu se lançou na direção de Pikachu, atingindo-o em cheio com o Quick Attack, fazendo-o com que Takara
desse um grito e viesse ao chão com violência. Scizor foi atingido pelo golpe
de Togetic.
Os dois Pokémon, do lado de
Ethan e Chase, ficaram visivelmente machucados. Levantaram-se com dificuldade,
sua respiração era pesada. Os músculos de ambos Pokémon tremiam, mas a vontade de
vencer os fazia querer ficar em pé.
— E-Ethan, me desculpe por
ter acertado o Scizor, eu não pensei...
— Tá tudo bem, Chase. Você
foi bem inteligente.
Chase olhou para o rapaz de
forma surpresa.
— Acha mesmo?
— Bem... O Scizor acordou
não foi? — e deu um sorriso. — Vamos dar nosso melhor. A gente pode até cair,
mas vamos causar bastante dano neles.
Chase assentiu com a
cabeça, em afirmação. Gabrielle soltou uma bufada de ar pelo nariz e um
sorrisinho tomou conta de seus lábios.
— Parece que eles não vão
desistir tão fácil.
— É assim que eu gosto. Não
esperava menos do meu rival.
— Let’s Go, Pikachu! Pika Papow!
— Scizor, Metal Claw!
— Togetic, Hyper Beam!
— Raichu, Thunder!
Scizor
colocou as pinças a frente de seu corpo e enrijeceu sua armadura escarlate
feita de aço e então saltou para frente, partindo veloz em direção à Togetic
que disparou o Hyper Beam ao mesmo
tempo em que o Thunder de Raichu e o Pika Papow de Pikachu se encontravam no
ar.
A
explosão que se sucedeu foi surreal. A grossa camada de ar fez subir uma parede
de areia que se espalhou em uma violenta onda de poeira por todos os lados,
quase fazendo com que o boné de Ethan saísse voando. Os quatro treinadores
tossiam e tentavam proteger os olhos com os braços. Podia-se ouvir um intenso
falatório que ia aumentando aos poucos. Demorou alguns instantes para que a
poeira cessasse e todos pudessem ter claramente um resultado.
Do lado
de Ethan e Chase, Pikachu e Scizor permaneciam caídos ao chão, inconscientes.
Do lado
de Gabrielle e Joey, Togetic e Raichu também estavam caídos inconscientes.
Uma
ovação foi ouvida. Os quatro treinadores perceberam que estavam sendo
assistidos pelos moradores e visitantes de Cherrygrove. Ethan e Chase olharam
um para o outro e coçaram a cabeça, constrangidos, em um movimento idêntico e
completamente intuitivo.
— Foi uma
bela batalha. E com um resultado incrível!
Forrest aproximava-se
com Sunny ao seu lado. Os dois sorriam.
— Vocês
sumiram. Bom ver vocês de novo — cumprimentou Ethan enquanto retornava seu
Scizor para a PokéBola.
— Ei,
Forrest! Eu tenho algo pra falar pra você — disse Joey aproximando-se do
moreno, guardando a PokéBola de Raichu no bolso.
— Por que
não passamos no Centro Pokémon para recuperar os Pokémon de vocês? Depois dessa
batalha, eles mais do que precisam de cuidados — sugeriu Sunny.
— Você
tem razão — concordou Gabrielle. — Acho que todos prrecisamos de um descanso.
Ethan
reparou que Chase olhava para a PokéBola de Takara com certa melancolia. O
rapaz ajoelhou-se para ficar mais ou menos na mesma altura que o mais novo.
—
Aconteceu alguma coisa?
— Eu acho
que atrapalhei tudo...
— Você
foi incrível, cara! Honrou as suas insígnias. Com certeza o Takara tem sorte de
ter você como treinador.
Chase
olhou para Ethan com os olhos brilhando.
— Acha
mesmo?
— Joey
tem oito insígnias. Com certeza treina aquele Raichu dele há bastante tempo.
Takara tomou uma surra, mas conseguiu mostrar que não se brinca com os
baixinhos.
Em um
momento de impulso, Chase abraçou Ethan, quase derrubando-o ao chão. Ao
perceber, o menino largou rapidamente e ficou rubro.
— M-me
d-desculpa...
— Tá tudo
certo. É bom receber um abraço de vez em quando... — disse Ethan, visivelmente
sem graça.
Elaine
que assistia a tudo a alguns metros de distância, abraçando firme seu Snubbull
de pelúcia, deu um sorriso meigo.
— Tô com
fome... Será que podemos deixar nossos Pokémon com a Enfermeira Joy e ir
comprar um hambúrguer? — perguntou Joey massageando a barriga.
— Eu me
junto a você. Tô sem comer nada tem um tempo também — disse Forrest olhando
para Sunny. — O que acha?
A garota
entrelaçou seus dedos da mão esquerda na mão direita de Forrest.
— Eu acho
que vou comer uns dois hambúrgueres — e riu.
Ethan
ergueu-se novamente.
— Puxa,
seja lá o que vocês dois andaram fazendo, com certeza devem ter gastado uma boa
energia. O que estamos esperando? Vamos logo!
O grupo
de amigos virou-se na direção da cidade e caminharam conversando em voz alta em
direção ao próximo destino, o Centro Pokémon. Houve queima de fogos, danças
tradicionais e um espetáculo com tambores que vibravam na batida do coração,
conforme Tuscany prometera — ela só não
conseguiu se divertir tanto depois de perder as finais do concurso Miss
Cerejeira para uma garota oito anos mais nova. Cherrygrove podia ser uma cidade
pequena, mas com certeza cabia uma enorme diversidade de aventuras dentro dela.
Quais serão as próximas histórias a serem contadas e vivenciadas nessa cidade
florida?
TO BE CONTINUED...