Capítulo 70


 

Chase se encontrava sentado no chão, com a cabeça apoiada nas palmas das mãos enquanto seus cotovelos eram apoiados nas coxas. Sua paciência estava se esgotando, permanecia sozinho no que já se pareciam horas desde que Ethan havia saído para ir atrás de Elaine, que não tinha voltado ainda da tarefa de ir buscar água fresca para preparar o jantar.


 — Que cabeçuda! Eu sabia que ela não tinha condição alguma de sair sozinha, ainda mais com aquele ovo! — comentou furioso com Takara, seu Pikachu, que por sua vez não parecia estar realmente interessado na conversa por estar atento ao que acontecia nos arredores. O céu, que antes ostentava um tom de laranja-avermelhado graças ao sol que aos poucos se escondia por trás das montanhas ao longe, dava boas vindas à noite que ia chegando.


O garoto pegou da mochila um casaco esportivo ao perceber o vento que soprava. Olhou o acampamento que havia montado e percebeu a diferença que fazia não estar com sua irmã e com Ethan, afinal os colchonetes estavam prontos, a fogueira consumia as madeiras, mas não havia como cozinhar nada sem os materiais que Elaine ficou de conseguir.


 — É, então eu vou ter que ir adiantando o serviço. Se você quer uma coisa bem feita, faça você mesmo. Vamos lá, Takara.


 O garoto levantou-se, pegou a mochila e arrumou a alça lateral alinhada ao peitoral antes de dar os primeiros passos em direção ao bosque por onde sua irmã se dirigiu mais cedo. Conforme a tarde ia caindo, alguns Pokémon iam desaparecendo por entre as tocas construídas escondidas por entre os capins enquanto outros, como os Caterpie, iam escalando vagarosamente os troncos das grossas árvores e se escondiam nos galhos por entre as folhas no topo delas; alguns inclusive se penduravam usando suas teias de seda esperando a evolução para Metapod que ocorreria a qualquer momento. Já podia se ver também os Hoothoot se preparando para sair para caçar e logo menos, a Rota 31 seria preenchida pelos já conhecidos pios que cruzavam a noite e, algumas vezes, misturavam-se com pios dos Pidgey durante alguns minutos ao amanhecer permitindo que uma sinfonia fosse ouvida por todas as criaturas que passassem por ali.


Pelo menos quase todas as criaturas que, de alguma forma, estavam naquela floresta naquele momento produziam seus barulhos característicos — até mesmo Chase fazia ruídos enquanto seus pés caminhavam pelo solo carpetado de mato e folhas secas. As orelhas de Takara, como sempre, permaneciam eretas tentando captar qualquer sinal sonoro estranho.


 Mas ele observava sem fazer barulho. Por trás de uma das imensas árvores, metros à frente, misturado por entre o denso bosque, em uma parte engolida pela escuridão e trevas, nem sua respiração era ouvida. Na verdade, ele nem parecia respirar. Os Pokémon que se escondiam naquela parte do bosque também não conseguiam ver seu rosto, coberto com uma tela de computador. Parecia machucado; subestimara seu oponente em sua última batalha — aquilo não aconteceria novamente.


 A figura misteriosa lentamente se deslocou em direção ao garoto e seu Pikachu, agindo como uma sombra, sem ser notado. Seus passos sequer faziam barulho, era como caminhar sob uma colcha de algodão.

Quando Chase e Pikachu perceberam sua presença, já era tarde demais.


 O grito de horror cortou a noite e fez os Hoothoot das árvores próximas e das distantes voarem assustados para longe, evitando o choque elétrico disparado das bochechas de Takara, pego de surpresa. Nenhum deles olhou para trás para ver o que estava acontecendo. Algumas das colônias de Metapod que penduravam-se nos troncos e galhos, no entanto, tiveram sua atenção voltada para o garoto logo abaixo, que tremia dos pés a cabeça enquanto era encarado pela figura misteriosa que permanecia parada a sua frente.


 Chase colocou a mão no peito e sentiu o coração disparar, a respiração rápida e ofegante fez com que o garoto mal pudesse formular uma frase inteira. Faíscas escapavam das bochechas de Pikachu que encarava a misteriosa figura com o semblante sério.


 — Q-quem é você? — perguntou o menino. — Você quase me matou de susto, cara! Qual é o seu problema?


 É claro que Chase não obteve resposta. O ser misterioso o encarava sem dizer uma única palavra. O garoto conseguia observar o reflexo de seu rosto através da tela desligada na cabeça daquela criatura. Agora que estava perto, conseguia ver melhor os detalhes daquela pessoa, sentir o cheiro de ferrugem que ela emanava, como uma máquina antiga abandonada ao relento, encharcada com água e castigada pelo sol e pelo vento. O macacão verde e a blusa azul traziam chamuscados e rasgos que, apesar de grandes, não se era possível ver a pele por debaixo da roupa.


E aquilo, claramente, não era normal.


 O ser anônimo colocou o braço direito na frente do corpo e, com a mão esquerda, puxou a manga que cobria o relógio digital, digitando alguns comandos.


A tela ligou e o reflexo do rosto de Chase fora substituído pelo sorriso sádico do Porygon2. O garoto deu alguns passos para trás e encostou no largo tronco de uma das árvores gigantes daquele bosque.


 Quase como um sussurro horripilante, a voz robótica da criatura misteriosa saiu pelos falantes do monitor que usava como capacete.


 Game. Over.


 O humanoide simulou uma pistola com o dedo indicador e apontou na direção de Chase. Usando o polegar como mira, a figura mecatrônica disparou um raio na direção do garoto que intuitivamente se abaixou e sentiu o ar quente passar rápido por cima de sua cabeça. Chase, no entanto, reparara que um clarão originado pela luz da lua apareceu em sua frente e sentiu um vazio onde poucos segundos antes apoiava suas costas, o que o fez cair para trás — a árvore simplesmente desaparecera.


 A figura misteriosa voltou a apontar o dedo na direção do garoto e se preparou para disparar outro raio. Das bochechas de Pikachu, faíscas fagulhavam de forma ameaçadora. Takara se pôs à frente de seu treinador e os pelos em suas costas estavam eriçados. Mesmo com todos os sinais, o humanoide não temeu, nem mesmo ao vê-lo mostrando as presas. Apontou o dedo indicador para o Pokémon e atirou.


Assim que foi atingido, Takara congelara. Em um piscar de olhos, seu corpo desintegrou-se bem na frente de Chase, sumindo no ar como mágica. O garoto arregalou os olhos completamente aterrorizado, olhando para o vazio de onde segundos antes estava seu Pokémon. Suas pernas paralisaram, não se mexeu nem mesmo ao ver o ser humanoide apontar o dedo indicador em sua direção. Mirando na cabeça do menino, a figura misteriosa se preparou para disparar uma última vez, mas se distraiu quando sentiu uma sombra passar voando sob sua cabeça.


 Havia dois olhos. Dois grandes olhos vermelhos que, sob a luz da lua, encaravam fixamente o alvo abaixo e que, como flechas, voaram velozes e praticamente em silêncio, planando no que pareciam ser duas longas asas brancas como a lua. Tal qual como surgiu, embicou em direção ao solo e com a sua aproximação, pôde-se reparar que os dois olhos faziam parte de um ser maior. As penas esverdeadas só não eram mais chamativas e belas que as cores fortes que adornavam as pontas de suas asas e partes de seu corpo, como a grande crista vermelha no topo de sua cabeça.




 O humanoide deu alguns passos para trás e tentou se esconder atrás de uma das árvores próximas, mas sentiu seu corpo travar.


 — Xatu, Psychic! — gritou uma voz na escuridão.


 O homem com a tela de monitor de computador na cabeça foi erguido do chão e arremessado com força para o interior do bosque. Chase ouviu passos que caminhavam em sua direção e ao olhar para trás, viu uma figura surgir das sombras enquanto Xatu pousava suavemente ao lado do rapaz que se aproximava e parou em uma posição de totem. O que mais chamou a atenção do menino foi a máscara dominó que a outra figura misteriosa vestia, que cobria seus olhos e dificultando a sua identificação. O fraque preto ornava com a gravata branca com babados em seu pescoço e com o terno rosa perfeitamente alinhado, o que lhe fazia irritantemente elegante e, até certo ponto, démodé. O sorriso em seus lábios trazia uma certa malícia. Porém, diferente do que Chase esperava, não era para ele que a segunda figura olhava.


 

— Senhoras e senhores, o grande show de mágica desta noite começará em instantes — anunciou o rapaz em voz alta, com toda pompa. — O primeiro grande ato de um grande artista é a entrada triunfal. O elemento surpresa. 


Por entre as árvores, um raio colorido surgiu em direção ao segundo homem mascarado, mas o Tri Attack bateu de forma seca na frente do rapaz como se houvesse uma parede invisível entre ele e a escuridão, ricocheteou no ar e transformou-se numa nuvem de fumaça. O homem de terno não se mexeu. Passou a mão na franja dos cabelos púrpuros e sorriu de forma maldosa para o nada.

 

— O segundo ato: O truque de mágica. Mr. Mime, por favor.


 Chase não havia percebido, mas havia outra criatura ali próxima a ele. Era um Pokémon que ele nunca havia visto antes, pelo menos não pessoalmente. Seu corpo pequeno, redondo e com esferas em tom de magenta que também da mesma cor de suas bochechas. Não havia nada em suas mãos, mas Mr. Mime caminhava olhando para frente e mexendo os braços como se estivesse fazendo malabarismos.

 


— Você está cada vez melhor — Will aplaudia. — Por favor, apresente as cartas aos nossos espectadores.


 Mr. Mime fingiu tirar do bolso um pacote em um formato quadricular. Aproximou-se do treinador mascarado e simulou abrir o tal caixinha e a entregou para o rapaz que o pegou e, em um estalar de dedos, fez aparecer um baralho em suas mãos. As embaralhou calmamente e não pareceu perceber quando o ser mecatrônico avançou em velocidade impressionante carregando consigo uma fúria enorme, batendo com violência na parede invisível que Mr. Mime havia construído instantes antes.


 O mascarado sorriu.


 — Parece que nosso público está bastante empolgado para participar do nosso espetáculo. Chegou a hora, escolha uma carta.


 O homem misterioso estendeu a mão com as cartas viradas para baixo na direção da figura mecatrônica. O ser com o monitor de computador na cabeça apontou o dedo para o rapaz e disparou mais um raio colorido. O oponente mascarado, como uma sombra, desviou do tiro. Uma segunda árvore fora atingida e um grande buraco abriu em seu tronco.


 Uma das cartas lentamente caiu ao chão e revelou-se o naipe nela presente.


 — Que surpresa! O naipe do Coringa... Se parece comigo. 


Xatu saiu da posição de totem e se colocou ao lado de Chase, ainda em choque sentado ao chão. Mr. Mime também se juntou, se posicionando do lado oposto do garoto.


 — O terceiro e último ato, o grand finale. Precisa ser sempre mais surpreendente que a abertura.


 O homem mascarado pegou uma PokéBola do bolso do fraque e apertou o botão central, iluminando o local por breves segundos quando o raio vermelho que saiu de dentro dela se transformou em um Pokémon alto com três cabeças e que se assemelhava a um coqueiro.



 — Agradeço a presença em nosso espetáculo. Não voltaremos para o bis, mas, deixaremos um gostinho do que estamos preparando para nossa próxima turnê itinerante. Exeggutor, Egg Bomb!


 Das folhas no topo das cabeças do Pokémon, sementes em formato de ovos caíram no chão e explodiram, levantando uma densa cortina de poeira e terra e arremessando a figura mecatrônica alguns metros para longe. Ao levantar novamente, a constatação de que os Pokémon que enfrentava, o ser mascarado e o menino que perseguia já não se encontravam mais ali — sumiram no ar como o Pikachu que ele próprio deletara da existência usando o Teleport de Xatu.


 Aquilo o deixou furioso. Porygon2, de dentro do monitor de computador, soltou um estridente som eletrônico. As frequências foram tão intensas que fizeram os auto-falantes queimaram, silenciando sua voz robótica.

 

***


 A Cidade de Violet era bastante pacata, o destino favorito de muitos que procuravam por paz e tranquilidade. Era onde muitos idosos passavam os últimos anos de sua vida e a cidade se orgulhava da imponente construção da Torre Brotinho e de seus monges que passavam o dia cuidando de seus Bellsprout e meditando. Tinha também uma geografia privilegiada: Saídas para as maiores cidades da região, sendo ponto de passagem obrigatória para todos aqueles que viajavam por Johto; afinal de contas, o Ginásio de Violet era uma ótima chance de treinar as habilidades de qualquer treinador Pokémon.


O povo de Violet também tinha orgulho de pertencer a ela. Talvez fosse por isso que, naquele momento, todas as expectativas estavam nos ombros de Falkner, o Líder do Ginásio local.  Já fazia quase um ano que havia herdado a função de seu pai e nesse tempo as suas responsabilidades só aumentavam. Claro que era um Líder competente — gostava de mostrar as vantagens que só os Pokémon do tipo Voador possuíam —, mas ele também se sentia responsável por cada pessoa, cada Pokémon, cada morador da cidade e sentia que, além de dar Insígnias para treinadores, seu dever era proteger aquelas pessoas.


 E era exatamente por isso que Falkner estava tão estressado aqueles dias. O tic-tac do relógio não amenizava o sentimento de expectativa e ansiedade do rapaz, apenas aumentava a sua irritação.


 — Você fica ainda mais gato quando faz essa cara séria, sabia?


 Whitney encarava Falkner enquanto mordiscava o lábio. Apoiava a cabeça nos dedos entrelaçados, que pressionavam um pouco mais os cotovelos da garota contra a grande mesa de vidro no centro da sala onde estavam. Ela era espaçosa, assim como era a construção do Ginásio de Violet, onde havia liberdade para os Pokémon voarem.Apesar da mesa, não havia muitos móveis fazendo decoração, mas uma janela panorâmica dava visão para a cidade, de onde era possível ver a Torre Brotinho e até mesmo as árvores do Parque Nacional ao longe.


 Falkner suspirou e fechou os olhos que segundos antes olhava para a paisagem. Afastou-se da janela e dirigiu-se à mesa, sentando-se de frente para Bugsy que, por sua vez, estava ao lado direito de Whitney. 


— É, parece que a reunião terá a participação de apenas nós três — comentou Bugsy, sem graça.


— Jasmine está supervisionando as obras de reconstrução do Farol Cintilante e Morty está investigando o paradeiro de Raikou, Entei e Suicune que estão à solta por aí. Não consegui contato com a Clair e Pryce se recusa a sair de casa de cadeira de rodas — numerou Falkner contando nos dedos. — Eu fiquei de receber a resposta do Chuck, mas até agora, nada.


 Um pio seguido de um bater de asas. Um Hoothoot adentrou a sala e pousou diante de Falkner, assustando Bugsy. A ave trazia um envelope pardo em seu bico e o entregou para o garoto de cabelos azuis, que gentilmente acariciou o topo da cabeça do Pokémon. Hoothoot bateu asas e novamente levantou voo, saindo por uma das janelas da sala. Falkner reconheceu a letra quase inteligível do remetente.


 — É do Chuck.


 O rapaz abriu o envelope e retirou uma carta de dentro dele.

  

Falkner,

 Não poderei comparecer à reunião. Eu realmente sinto muito, mas as coisas em Cianwood não estão em seus melhores dias. Percebo que as ondas estão mais ferozes e que o mar está muito mais bravio mesmo fora de noites de lua cheia. Neste momento, parto em direção às Ilhas dos Redemoinhos para verificar se tem alguma coisa lá que está influenciando tudo isso — tenho suspeitas desagradáveis. Desculpe por decepcioná-lo.

 O manterei informado. 

— Chuck.

  

— E o que isso quer dizer? — perguntou Whitney após algum tempo refletindo. — A ilha dele vai afundar?

— É mais sério do que isso. Tem alguém, ou alguma coisa, mexendo com o que não devia — respondeu Falkner.

— Isso explica muito... — comentou Bugsy baixinho em um tom de alerta.

— Explica o quê? — questionou Whitney assustada.

— Insetos são sensíveis ao meio em que vivem. Ando percebendo que os Pokémon insetos que moram na Floresta Ilex estão bastante agitados, mais do que o normal. Eu achei que fosse por causa da mudança da estação, muitos deles saindo da diapausa, que é quando seu metabolismo está mais lento, mas... Pode ser que tenha alguma coisa mexendo com o desenvolvimento deles.

— Por que você acha isso? — perguntou Falkner de forma séria.

 

Bugsy sacou uma PokéBola e apertou o botão da cápsula, liberando um Pokémon de dentro dela. Um Pokémon Joaninha voou alegremente pelo ambiente antes de pousar em frente ao seu treinador.

 


— Ledyba? O que tem de errado nele? — Falkner aproximava-se do Pokémon tentando ver seus detalhes.

— As antenas. Vê? Meus estudos indicam que há um diformismo entre machos e fêmeas, as antenas variam de tamanho entre os sexos, mas se vocês prestarem a atenção dá pra ver que as antenas desse Ledyba têm tamanhos diferentes...

— Então basicamente não tem como saber se é um joaninho ou uma joaninha? — Whitney riu da própria piada.

— É muito mais grave do que isso — Bugsy continuou sério. — Alguma coisa está interferindo na forma em que eles se desenvolvem e eu não sei o que é.

 

A fala de Bugsy foi interrompida pelo toque de um telefone que mostrou ser o PokéGear de Falkner. O rapaz pediu desculpas e logo tratou de atender o dispositivo.

 

A expressão de surpresa do Líder de Ginásio chamou a atenção dos colegas.

 

***

 

As paredes brancas não amenizavam a agonia que Ethan sentia enquanto balançava as pernas de forma impaciente. Ele não estava algemado, mas se sentia preso. O estreito corredor da delegacia causava uma sensação de claustrofobia, mas o garoto suava mais por preocupação com Elaine do que por incômodo com aquele lugar. Ele não sabia para onde haviam levado a menina, não sabia como estava o ovo Pokémon que viajava com ele e não sabia se Chase estava bem. Havia deixado parte de seus Pokémon com o menino, mas deixá-lo sozinho na beira da estrada não parecia, agora, ter sido uma ideia inteligente.

 

Quando um dos policiais se aproximou do Ethan, depois do que pareceram horas, o garoto não pareceu aliviado. Era só olhar para o rosto do oficial que podia-se saber que o garoto estava encrencado — era uma expressão de poucos amigos.

 

— Com licença, onde está a Elaine? — perguntou o garoto.

 

Mas o policial, apesar de continuar se aproximando, não respondeu sua pergunta.

 

— Venha comigo, por favor.

— Onde você vai me levar? Eu conheço os meus direitos! Eu quero um advogado!

 

Novamente Ethan foi ignorado, mas levantou-se quando o homem pegou pelo seu braço e praticamente o carregou, sem se importar com os protestos do rapaz. No fim do corredor havia uma porta que, ao cruzá-la, fez o rapaz soltar uma exclamação audível.

 

Falkner estava sentado na mesa de interrogatório enquanto Bugsy e Whitney aguardavam, em silêncio, encostados em paredes opostas. Já pareciam estar esperando o garoto e pareceram estar com certa urgência.

 

— Assim que eu fiquei sabendo que pegaram você, eu corri pra cá. Tinha que ver com meus próprios olhos.

— O que está acontecendo? O que vocês estão fazendo aqui? — questionava Ethan olhando para todos os presentes esperando alguma resposta.

 

Falkner esperou o policial que acompanhava o garoto se retirar da sala. O rapaz apontou para a cadeira que estava na outra ponta da mesa, de frente a ele. Ethan caminhou olhando de forma desconfiada para os três Líderes de Ginásio que o encaravam de volta em silêncio. Sentou na cadeira e estendeu os braços, colocando as mãos entrelaçadas em cima da mesa.

 

— Eu fiquei sabendo que você tinha sido detido pela polícia de Violet e eu confesso que eu demorei pra entender — começou Falkner. — Quando me contaram que pegaram um garoto destruindo uma área preservada e que ele era um treinador famoso, eu não acreditei.

— Falkner, eu não destruí nada! — exclamou Ethan.

— Você não pode provar, né? — Whitney cortou.

 

Ethan ergueu as sobrancelhas e abriu a boca para se defender, mas Bugsy interveio.

 

— Os Beedrill chegaram a atacar você enquanto você estava lá?

— Não! Quer dizer, eu acho que não... Elaine nocauteou alguns, mas eu só pensei em resgatá-la. Eu acho que eles estavam atacando algum oponente que estava batalhando com ela, mas...

— Então eu acredito que não foi você que tenha causado aquilo.

 

Falkner olhou para o colega.

 

— Os Beedrill têm uma tendência a serem violentos.

— Mas, como qualquer Pokémon selvagem, só atacam quando são incomodados. E são inteligentes o bastante para discernir entre um alvo e uma distração.

 

Houve um breve silêncio antes de Ethan o quebrar.

 

— E quanto à Elaine?

— A menina? Ela está bem. Estava em estado de choque, mas conseguimos acalmá-la. Ela já deu o depoimento dela a meus colegas investigadores.

 

O garoto ergueu o cenho.

 

— Faz meses desde que nos vimos pela última vez, quando lhe entreguei a Insígnia Zephyr — continuou Falkner. — Desde então, muitas coisas aconteceram. Coisas ruins.

— Lembra quando você esteve em Azalea e você acabou no Poço Slowpoke, sequestrado pela Equipe Rocket? — questionou Bugsy.

— Eu jamais poderia esquecer disso... — suspirou Ethan.

— Pois bem, eu confesso que havia achado estranho todo o ataque em Azalea... É uma cidade pacífica. Eu conheço cada rua, cada estrada, cada morador... Eu não me convenci de imediato que alguém poderia fazer mal aos Slowpoke que moram lá.

— Até que eu soube da notícia que a Equipe Rocket estava cortando as caudas dos Slowpoke para vender.

 

O tom de voz de Whitney era sério. De braços cruzados, a menina mantinha um semblante fechado, com cara de poucos amigos, muito diferente da moça mimada que Ethan havia enfrentado meses antes no Ginásio de Goldenrod.

 

— Quando aqueles cretinos invadiram e praticamente destruíram a torre da Rádio de Goldenrod, a cidade toda saiu no prejuízo. A Rádio de Lavander começou a retransmitir a programação pra toda área de Johto, mas perdemos patrocínio. Foi quando eu fui cobrar providências da Elite que eu percebi que não era só Goldenrod que estava sob ataque... Bugsy estava lá também, falando sobre o que aconteceu com os Slowpoke... Eles se fortaleceram debaixo do nosso nariz. A polícia encontrou vestígios dos capangas Rocket no subterrâneo da cidade e eu jamais vou me perdoar por não ter conseguido perceber antes... — Ethan se assustou ao ver Whitney socando a parede com força.

— Eles usavam o dinheiro da venda dos rabos de Slowpoke e se escondiam no subterrâneo de Goldenrod sem levantar suspeitas.  Agindo nas sombras, muito diferente da Equipe Rocket de três anos atrás... — comentou Bugsy.

 

Ethan parecia refletir sobre aquilo o que ouvia. Mas uma dúvida ainda pairava sob sua cabeça.

 

— Mas por que é que eu estou aqui?

— Porque você acompanhou de perto cada tragédia em que a Equipe Rocket teve participação — respondeu Falkner.

— Vocês não acham que eu tenho alguma coisa a ver com isso, né?

— Você tem, sim — disse o líder. — Não do jeito que imagina, mas tem.

 

O garoto levantou-se da cadeira de forma abrupta.

 

— O que você tá querendo dizer com isso? Você não acha que eu estou trabalhando pra eles, né?!

— Você se lembra da nossa batalha de Ginásio, quando você usou seu Cyndaquil? — Falkner, diferente de Ethan, não alterara seu tom de voz, permanecendo com a expressão séria. Apesar disso, o jeito firme com o qual havia se dirigido ao garoto o fez se calar.

 

Ethan respirou fundo antes de responder, tentando não se exaltar novamente.

 

— Como eu já te disse, eu lembro de cada detalhe daquela batalha. Foi minha primeira batalha importante... Foi quando eu ganhei minha primeira insígnia. Foi quando o Quilava evoluiu.

— Esse é o ponto.

 

Ethan olhou para Falkner com a mesma expressão que tinha desde que havia chegado ali — a velha expressão de dúvida. Whitney não pode deixar de soltar uma risadinha.

 

— O que você tem de bonito, você tem de burro. Sem ofensa.

 

Bugsy a julgou com o olhar, mas ela fingiu que não percebeu.

 

— Não foi só seu Pokémon que evoluiu naquela batalha, meu Pidgey também alcançou o seu segundo estágio evolutivo, Pidgeotto — continuou Falkner. — Mas algumas semanas depois eu comecei a perceber que ele estava tendo dificuldades de voo. Como uma ave de repente para de voar? Eu comecei então a tentar entender o motivo disso. As coisas só começaram a fazer sentido quando eu fiquei sabendo que havia aparecido um Gyarados vermelho no Lago dos Magikarp... Logo começaram a dizer que ele foi forçado a evoluir com as radiofrequências da Equipe Rocket e aí eu entendi tudo.

 

Uma mistura de sentimentos crescia dentro de Ethan ao ouvir o relato de Falkner. Tristeza e raiva tomavam conta de seu coração e o garoto apertava os punhos com força.

 

— Eu sinto muito mesmo... — disse por fim.

— Você se tornou um grande treinador, conseguiu derrotar a gente e nossos outros colegas e sabemos como você deve ter noção de como é ter a vida atrapalhada pelos Rockets — falou Bugsy de forma séria. — Nós estamos trabalhando para recuperar nossas cidades das consequências causadas por esses malditos e precisamos de você enquanto isso para impedir que eles voltem a tomar o poder e tornar a vida de todo mundo um inferno.

 

Houve uma hesitação que pairou no ar. Bugsy, Falkner e Whitney encaravam Ethan que não fazia contato visual, preferiu encarar a mesa à sua frente.

 

— Eu não vou conseguir fazer isso sozinho. É demais pra mim.

— Você não vai estar sozinho. Nós vamos ajudá-lo com o que precisar — garantiu Falkner.

— Antes de tomar qualquer decisão, eu realmente preciso ver como está a Elaine...

 

Ethan levantou de supetão.

 

— O Chase! Onde está o Chase? Eu o deixei na Rota 31, junto com meus Pokémon enquanto fui procurar a Elaine!

 

Falkner levantou-se da cadeira.

 

— Eu o levo até ele.

 

 

TO BE CONTINUED...





Capítulo 69

 



Ethan abriu os olhos e despertou antes mesmo de o despertador, marcado às 8 da manhã em ponto, tocar. Com os olhos semicerrados, notou que a luz alaranjada do sol matinal havia penetrado pelas cortinas fechadas da sala onde dormia. Espreguiçou-se e ergueu a cabeça, notando o colchão no chão próximo do sofá em que estava onde Chase e Elaine dormiam tranquilamente, com a menina abraçada com o Snubbull de pelúcia e ele com Takara deitado sobre seu corpo. O garoto levantou-se com cautela, pegou sua mochila no pé do sofá, passou pelos gêmeos e se dirigiu ao banheiro.

O som da descarga chamou a atenção de Forrest, que estava de pé no balcão da cozinha naquele instante, colocando a água do café para ferver.

 

Os dois, acompanhados de Elaine e Chase, haviam passado a noite na casa de Sunny, que havia voltado ao endereço depois de muito tempo. Tuscany havia deixado preparado em casa um jantar especial para comemorar sua vitória no concurso Miss Cerejeira, mas depois de sua derrota, ela não queria nem tocar no cardápio.Acabou cedendo ao apelo dos amigos que insistiram em fazer algo para ela que, como adorava só um pouco ser o centro das atenções, não resistiu.

As horas foram passando como minutos. Joey quase se esquecera de comentar com Forrest a respeito do evento da Batalha da Fronteira que aconteceria em Ecruteak dali a poucas semanas. Ele e Gabrielle decidiram seguir para o Centro Pokémon para passar a noite enquanto Forrest convenceu Ethan a ficar com ele, Sunny e Tuscany — esta última que ofereceu seu quarto, o maior da casa, para a mais nova ficar com Forrest e passou a noite no quarto de hóspedes. Ethan preferiu dormir no sofá ao ter que dividir o quarto com a loira enquanto ela fingiu não ver os olhares de reprovação de Elaine que, curiosamente, fezEthan lembrar de Amy. Era o mesmo olhar reprovatório que ela costumava dar quando ele fazia ou falava algo idiota.

 

Ele andava pensando tanto nela nos últimos dias que a enxergava em cada passo de Chase e Elaine.

 

— Bom dia — cumprimentou Ethan, bocejando, ao sair do banheiro, com a camiseta velha e a calça de moletom substituídas pelo visual de viagem que o garoto costumava usar.

— Bom dia. Conseguiu dormir bem? — perguntou Forrest apontando com o queixo para o sofá.

— Pra quem vai passar as próximas noites dormindo no chão das rotas no caminho até Violet, encarar um sofá não é nada — riu o garoto. — Que horas nós vamos sair hoje?

 

Forrest desviou o olhar e dirigiu-se até um armário próximo, procurando o pó de café.

 

— Cara, eu andei refletindo... Acho que eu não vou seguir viagem com vocês.

 

Um silêncio tomou conta do ambiente, sendo quebrado apenas pelo ronco leve de dos gêmeos que ainda dormiam.

 

— Como assim não vai? Não vai me dizer que é por causa da Sunny.

— Tá bem, então eu não digo.

 

O cheiro de café já perfumava o ambiente e harmonizava com o silêncio ensurdecedor que pairava sobre ele. Ethan fechou os punhos e os olhos, mas, para surpresa de Forrest, nada disse. Respirou fundo e caminhou em direção ao amigo, olhando no fundo dos seus olhos puxados.

 

— Se é o que você quer fazer, você tem o meu apoio. Eu não concordo, mas não posso ser contra uma decisão que você acha que vai ser o melhor pra você.

 

Forrest olhou para o amigo com as sobrancelhas erguidas. De todas as reações possíveis que pensou que Ethan teria, aquela com certeza não estava na lista.

 

— Eu... Fico realmente feliz por ouvir isso de você.

— Eu estaria sendo egoísta se eu não te apoiasse. Mas... Eu não posso ficar aqui. Eu preciso seguir pra Ecruteak.

 

Forrest riu.

 

— Muitos treinadores estariam preocupados essa hora de treinar pra Liga Pokémon. Você realmente está focado nela... — Ethan deu um sorriso sem graça.

 

Conforme o cheiro do café e o som do impacto das frigideiras nas grades do fogão iam tomando conta da casa, os demais foram se reunindo na cozinha. Primeiro, Elaine e Chase, que fizeram questão de guardar os colchões em que dormiram e dobrar os cobertores antes de irem usar o banheiro e se arrumar antes de se alimentarem para seguir viagem.Em seguida, Tuscany, que desceu as escadas descabelada e com cara de poucos amigos. Ethan até se perguntou como aquela criatura poderia ser tão bonita em um dia para amanhecer daquele jeito no dia seguinte. Resolveu não expressar o pensamento em voz alta para não perder os dentes da frente com um provável soco que levaria da moça. Ela pareceu não ter notado. Logo desapareceu, aparecendo completamente diferente exatos vinte minutos depois, com os longos cabelos perfeitamente arrumados e um belo vestido xadrez. Ela até mesmo saiu para ir à padaria comprar complementos para a refeição.

 

O cardápio estava variado —ovos mexidos, bandejas com mortadela, presunto e mussarela e outros frios em geral—, já fazia muito tempo que Chase e Elaine não tinham uma refeição como aquela, afinal, mesmo no Centro Pokémon, as opções de café da manhã não costumavam ser tão fartas. Sunny assou duas dúzias de pão de queijo, sem falar na variedade infinda de pão francês, italiano, de forma, integral e sovado.

 

Ethan fora o primeiro a terminar de comer. Ativou o mapa na sua PokéGear e começou a elaborar com Forrest o melhor caminho a ser feito para a próxima cidade.

 

— Siga pelas Rotas 30 e 31, quando alcançar Violet continue seguindo o percurso pelo leste e Ecruteak estará logo após a Rota 37. Na Rota 36, você pode seguir para Goldenrod pelo sul de novo, se você quiser — explicou o moreno.

— Certo, eu entendi — respondeu Ethan, preferindo não questionar como saberia que estava indo para o leste ou para o sul. Era Forrest quem costumava tomar conta dos mapas e trilhas feitos pelo grupo. Ele olhou para os gêmeos e os apressou. — Partimos quando vocês estiverem prontos.

— Eu só preciso trocar de roupas — comentou Elaine de boca cheia após dar a última mordida no pão com margarina.

— Eu já estou pronto — respondeu Chase, ajustando o boné na cabeça.

 

Forrest soltou uma risadinha.

 

— Confesso que já estou com saudades de vocês.

 

Elaine quase se engasgou com o achocolatado.

 

— Por que você está dizendo isso? Você não vai com a gente?

— Você diz como se fosse um adeus, é mais um “até breve”. Preciso resolver umas coisas aqui.

 

A menina olhou para Ethan como se procurasse algum suporte da parte do garoto, mas o rapaz só se levantou da mesa com um prato vazio e uma xícara em cima e se dirigiu à cozinha.

 

— Daqui a pouco nós seguimos viagem.

 

Elaine olhou para o irmão que também não disse nada. Como sempre, Chase era do tipo que nunca se manifestava, mesmo quando lhe era solicitado.

 

***

 

Com um breve aceno de cabeça, Ethan se despediu de Forrest, que permanecia parado na frente da porta ao lado de Sunny e Tuscany. O garoto virou-se de costas, em direção à estrada, e caminhou alguns metros, sem olhar para trás para ver o aceno dado pelas moças. Elaine hesitou por um instante, mas Chase arrumou o boné em sua cabeça e virou-se para o trio na porta.

 

— Muito obrigado por nos deixar passar a noite. Espero vê-los de novo algum dia.

 

Elaine olhou para Forrest ainda com a expressão incrédula.

 

— Você realmente vai ficar, tio? Por quê?

 

O rapaz olhou para a menina e sorriu.

 

— Acho que nós precisamos de uma pausa.

— “Nós”?  — repetiu Elaine.

— Eu acho que ele não está falando da gente — disse seu irmão.

 

Forrest confirmou com a cabeça.

 

— Eu preciso ficar para acertar algumas coisas.

— Você não pode acertar enquanto viaja com a gente? — insistiu Elaine.

— Não é um adeus, Elaine, é um até logo.

— Mas, mas...

 

Chase segurou na mão da irmã e a puxou para junto de si. Elaine permanecia olhando para Forrest que a encarava ainda com um sorriso terno no rosto enquanto via os irmãos se afastarem da casa.

 

— Você tem certeza de que quer ficar? — perguntou Sunny, tocando o rosto do garoto.

— Tenho. Preciso de um tempo só pra me entender comigo.

— Você pode ficar o tempo que quiser.

— Eu agradeço — respondeu o moreno dando um selinho na moça.

 

Tuscany olhou para os dois com certo desprezo.

 

— Se você lavar a louça todo dia, eu até deixo você ficar mesmo.

— Tus! — Repreendeu Tuscany.

— Ela está certa. Eu posso até fazer o almoço, se vocês quiserem.

— Não precisa...

Agora você está falando a minha língua, cunhado! — exclamou Tuscany, passando o braço atrás dos ombros de Forrest e o levando para dentro da residência.

 

Ethan caminhava em silêncio, a caminho da saída da cidade de Cherrygrove. Segurando as alças da mochila, aproximava-se do PokéMart da cidade, o grande mercado de telhado azul que, curiosamente, estava cheio de clientes, muito provavelmente por causa do festival que acontecera no dia anterior — o local costumava receber uma parcela muito menor de treinadores em dias convencionais.

 

Elaine não parecia nada contente. Enquanto Ethan pagava os itens de uma lista escrita por Forrest que, entre os itens, constava PokéBolas, Poções, Repelentes e Cura-Paralisia, a menina permanecia emburrada, de braços cruzados, do lado de fora do local.Chase fazia um chamego no cocuruto de Dunsparce e parecia não perceber o mau humor da irmã.

 

Ethan saiu do estabelecimento com duas sacolas cheias na mão. Agachou para arrumar os itens dentro da mochila e reparou na expressão da menina.

 

— Vocês brigaram?

— Eu não tenho nada a ver com isso — respondeu Chase, rapidamente.

— Então o que tá acontecendo?

— Você ainda pergunta? — bufou a menina. Como que você pode estar tão tranquilo com o Forrest querendo ficar em Cherrygrove?

 

Ethan não respondeu. Tirou a incubadora com o ovo Pokémon de dentro da mochila para conseguir mais espaço e o entregou para Elaine.

 

— É mais fácil aceitar do que me perguntar o motivo. O Forrest não foi o primeiro a querer ir pra outros caminhos... A Amy, a menina de quem comentamos sempre, já tinha decidido seguir viagem sozinha. Eu tive uma Pokémon, Flaaffy, que também decidiu ficar com a Líder do Ginásio de Olivine e ajudá-la no farol que tem lá. Todo mundo tem seus motivos.

 

O rapaz terminou de arrumar as compras dentro de sua mochila. Levantou-se após fechar o zíper e olhou para os irmãos, arrumando a alça da mochila nos ombros.

 

— Eu mesmo não sei até quando vocês dois vão seguir viagem junto comigo. Eu não sei lidar com despedidas, mas eu vou me esforçar pra não ser egoísta o bastante pra impedir alguém de fazer o que lhe deixa feliz.

 

Elaine olhou para Chase e baixou a cabeça, constrangida.

 

— Me desculpe...

— Você não tem com o que se desculpar — sorriu Ethan. — Está tudo bem. Só preciso saber se vocês vão comigo ou se pretendem ficar também.

— Nossa meta é Ecruteak — respondeu Chase. — Vamos com você.

— Isso é ótimo. Então é melhor começarmos a andar porque a viagem é longa.

 

***

 

As horas foram passando. Junto com a tarde, o vento frio do auge do inverno vinha junto, anunciando que o mês de agosto se aproximava. O céu estava colorido com um tom laranja-avermelhado, cores que só aquela época do ano podia produzir. Johto continuava sendo uma região muito bela, mesmo com as baixas temperaturas teimando em dar as caras. Como sempre, Ethan parecia não se incomodar, visto que andava de bermudas e com a mesma blusa de frio fechada até o topo do tórax, caminhando com as mãos no bolso.

Elaine permanecia olhando o ovo do garoto e cuidando dele como a coisa mais preciosa do mundo — deu até um jeito de amarrar o Snubbull de pelúcia na mochila para que continuasse a carregá-lo mesmo com a incubadora nos braços. Chase até se permitia achar engraçado o fato de que aquela pelúcia encarava o caminho pelo qual passavam como se usasse um Scary Face, fazendo com que alguns Pokémon pequenos que moravam por entre as vegetações daquelas rotas sequer cogitassem em se aproximar.

 

— Vamos dar uma pausa? Daqui a pouco anoitece e eu estou ficando com fome... — suspirou Ethan. — Andamos uma boa parte do caminho, amanhã chegamos em Violet antes do almoço.

— Por mim tudo bem — concordou Chase. — Vamos precisar montar o acampamento.

— Geralmente o Forrest que monta, né? Por onde ele começava? — Elaine parecia tentar puxar da memória a resposta da própria pergunta.

— Podemos começar recolhendo material pra cozinhar. Eu sei que tem uma lagoa aqui perto...

— Eu posso ir buscar água! — Exclamou Elaine. — Queria passar mais um tempinho com ele.

 

A menina abraçava a incubadora. Chase a encarava com certo desdém.

 

— Eu não acho que seja muito inteligente você ficar sozinha com esse ovo.

— Por quê? Pra sua informação, eu posso cuidar muito bem de qualquer Pokémon que eu quiser! — E mostrou a língua.

— Tá legal, tá legal, vamos acalmar os ânimos... — Ethan tentou intervir. — Preciso de ajuda pra procurar madeira. Elaine, você cuida da água que usaremos pro ensopado.

 

O menino pareceu contrariado. Elaine, no entanto, abriu um sorriso de uma ponta a outra dos lábios.

 

— Ok! Pode contar comigo!

 

A menina pegou uma das panelas cedidas por Ethan e colocou dentro de sua mochila. Elaine agarrou a incubadora e saiu praticamente saltitando em direção à lagoa que ficava por entre as margens da Rota 31. Ethan não pode deixar de soltar uma risadinha ao ver a cena.

 

— Você acha mesmo tudo bem da minha irmã sair sozinha com um ovo Pokémon nas mãos? — Chase parecia realmente preocupado.

— O que pode dar errado? — Ethan deu de ombros. — Vamos, precisamos encontrar lenha pra fogueira.

 

***

 

Elaine permanecia agachada na beira da lagoa, cantarolando canções desafinadas. A menina fez questão de colocar a incubadora confortavelmente em cima de algumas folhas secas que encontrou ali próximo.  Ela colocou a panela dentro do lago e a encheu com água até mais ou menos metade. Ouviu passos e, ao se virar, tomou um susto.

No lugar da cabeça, um monitor de computador. Vestia um macacão verde que era largo, frouxo a ponto de esconder todo e qualquer traço de seu corpo, o que dava àquela figura um status ambíguo que contribuía mais ainda com o seu mistério. Aproximava-se lentamente, em um passo marcado, exagerado, de forma maniqueísta, de forma que Elaine, a princípio, achou engraçado.

 

Art by: Diego Chinatsu

A figura com cabeça de monitor aproximava-se devagar. Podia-se dizer que estava até encarando a menina, mas Elaine não sabia se a pessoa enxergava alguma coisa atrás da tela, não era possível enxergar seu rosto.

 

— Quem é você? — Era a única pergunta que Elaine poderia fazer naquele momento.

 

A figura não respondeu. Arqueou a cabeça de forma curiosa e a menina sentiu que estava sendo observada.

 

— Você não é de falar muito, né? — A menina riu sem graça. — Mas eu gostei muito do seu cosplay. Foi inspirado em que personagem?

 

A atenção daquele ser foi desviada para a incubadora que estava ao lado.

 

— Você gostou? Esse ovo é do meu pai. Ele me deixou cuidar enquanto ele monta o acampamento. Eu me pergunto qual Pokémon vai nascer dele...

 

A pessoa por detrás daquela fantasia aproximou-se da incubadora e a pegou no colo.

 

— Ei, isso é meu! — Exclamou a menina, levantando-se imediatamente.

 

O indivíduo saiu correndo de maneira cômica, arqueando as pernas de forma ágil e seguindo em direção à entrada da cidade de Violet, alguns poucos quilômetros de onde estava. Elaine saiu em perseguição e sacou uma PokéBola do bolso dos shorts. Eevee saiu da cápsula e não tardou a acompanhar a treinadora na perseguição.

 

— Vera, Buzzy Buzz!

 

Os pelos da Eevee da menina se eriçaram. A energia estática transformou-se em um poderoso choque elétrico que foi arremessado na direção da figura que corria com a incubadora nos braços. Atingido, o ser tropeçou no gramado e caiu para a frente quando sentiu os músculos de seu corpo travarem. A incubadora atingiu o chão e a sua tampa se abriu e o ovo que se encontrava dentro, rolou para fora. Elaine correu para tentar salvá-lo, mas a criatura mascarada agarrou um dos pés da menina e fez com que ela caísse para a frente, empurrando o ovo para a borda do barranco onde ambos estavam. O ovo rolou e, aos poucos, foi ficando cada vez mais veloz, até que saiu de controle e acelerou para dentro do bosque, desaparecendo por dentro das árvores. Vera, a Eevee de Elaine, saiu correndo para tentar impedi-lo de ir muito longe, também desaparecendo por dentro do bosque.

Apesar da tela de computador ter rachado com a queda, Elaine não se preocupou em ver qual era a face daquela pessoa que tentou roubar o ovo de Ethan. A menina apenas chutou aquele ser e, ao sentir seu pé ser solto por um breve momento, se jogou em direção ao barranco e, tal qual o ovo, saiu rolando em direção ao bosque.

 

...

 

A luz do sol era coberta pela densidade das folhas das árvores gigantes que faziam parte daquele ambiente. Não era possível sequer ver o solo, visto que o chão estava completamente coberto pelas folhas que caíram das centenas de árvores próximas. Elaine sentiu seu joelho arder, e ao olhar para as pernas, viu os machucados causados pela queda. Canelas raladas e cotovelos feridos, mas aparentemente, apesar dos hematomas, ela não havia quebrado nada ou feito algum machucado mais sério. A menina se levantou com certa dificuldade, escorregando devido à falta de atrito entre seu tênis e o solo coberto pelas folhas e tentou estudar o ambiente ao seu redor. Não havia sinal nas proximidades de Eevee ou do ovo. O frio na barriga tomou conta da menina que sentiu o coração palpitar, mas respirou fundo e tentou manter a calma; o sol ainda não havia se posto, então havia ainda a chance de Elaine encontrar o ovo de Ethan. Sabia que Vera iria proteger o ovo, mas precisava encontrá-la antes que algum Pokémon selvagem atacasse.

 

— Vera? Onde você está? — perguntou a menina, quase em um sussurro. Tinha medo de fazer barulhos que denunciassem a sua localização para prováveis Pokémon selvagens que certamente a devorariam na primeira oportunidade.

Elaine ouviu passos e, ao olhar para trás, viu a figura misteriosa aproximando-se com velocidade. Tratou de se esconder atrás de um tronco grosso enquanto tentava abafar a respiração para não chamar a atenção da pessoa com um monitor na cabeça que protegia sua identidade. Olhou para um lado e para o outro e não viu sinal de Elaine. Optou por seguir sua intuição e caminhar para o lado oposto do qual a menina estava escondida. Elaine respirou aliviada e, após confirmar que a figura misteriosa se encontrava já distante, por meio da mata, a menina disparou em frente, tentando encontrar algum sinal de Vera e do ovo. Ela começou a observar o ambiente e notou uma situação estranha; havia casulos e crisálidas penduradas nos galhos das árvores e tais casulos eram dispostos em fileiras organizadas em tamanhos diferentes. A menina abriu a boca, mas não saiu som algum.

Com um pouco de observação, chegou-se à conclusão de que as crisálidas e os casulos eram Kakuna e com certeza aquele era o ninho deles. Então, se havia Kakuna, com certeza haveriam...

 


O zumbido do bater de asas de um Beedrill passou a metros de onde Elaine estava escondida, mas por sorte, a menina não foi notada. Agora ela se encontrava tão nervosa quanto havia chegado. A garota pegou uma PokéBola e, tentando fazer o maior silêncio possível, saiu na ponta do pé apoiando-se nos grandes troncos ao redor para não escorregar. Não conseguiu evitar, no entanto, o som dos galhos secos que quebravam no chão enquanto a menina caminhava. Ao longe, alguns pios do que Elaine supôs serem de Pidgey, mas era óbvio que nenhum Pokémon selvagem iria encarar um enxame inteirode Beedrill. Talvez por estar adentrando o bosque, Elaine começava a sentir um arrepio no corpo quando o vento frio que soprava da Rota 31 a tocava. O sol continuava seu caminho natural de se esconder atrás da Caverna Escura e a menina já começava a ficar ainda mais apreensiva com o fato de se perder na floresta. Ela tentou apertar o passo, mas quanto mais andava, mais barulho fazia e o medo de chamar a atenção dos Kakuna aumentava e isso a fazia perder o equilíbrio. O ciclo se repetia cada vez mais intensamente.

Mas não foram os passos de Elaine que despertou o enxame.

 

Metros à frente de onde a menina estava, um berro que ela reconheceu. Um clarão cortou por entre as árvores e fez Elaine cobrir os olhos. Os pelos de seus braços arrepiaram. Um forte zumbido começou a tomar conta do ambiente e logo Elaine percebeu que os Kakuna pendurados nos galhos e nos grossos troncos das árvores daquele bosque começaram a brilhar e seus corpos começaram a se transformar. Asas cresceram de suas costas, seus abdomens rasgaram-se e de dentro de suas entranhas, saíram ferrões afiados. Os casulos caíam aos montes enquanto um enxame de Beedrill ia se formando ao redor de Elaine e formaram uma grande e ameaçadora sombra em cima que cobria a garota de forma assustadora. Ela segurou a PokéBola com força e levou o dedo indicador até o botão central, até quea atenção fora desviada quando percebeu uma das enormes árvores logo à frente caindo ao chão. Elaine saiu correndo enquanto os Beedrill voavam atordoados tentando se proteger do perigo iminente.

 

Uma clareira havia se formado onde Elaine havia visto o clarão à primeira vez. Havia fuligem nas raízes do que havia sobrado de árvores naquele trecho do bosque, muito provavelmente consequência do Buzzy Buzz que Eevee havia usado para se defender. Mas o foco da menina estava bem à sua frente: Vera encarava a figura misteriosa que tinha parte de um monitor de computador que cobria sua cabeça e que, apesar de ainda não revelar seu rosto por completo, podia-se ver que estava bastante irritado. Elaine percebeu que Vera protegia o ovo, mas a pressão da menina quase caiu quando ela notou uma grande rachadura em sua casca, provavelmente oriunda da queda de mais cedo.

 

— Não, não, não, não, não... — repetia Elaine em desespero.

 

A figura misteriosa sacou uma PokéBola de um dos bolsos do macacão azul. Ao apertar o botão da cápsula, um Pokémon curioso materializou-se no ar. Ele era redondo, cor-de-rosa e tinha uma espécie de bico achatado na cor azul, mesma cor da parte debaixo de seu corpo. Elaine rapidamente sacou sua PokéDex.

 


Porygon2, o Pokémon Virtual. Esta versão atualizada do Porygon foi projetada para exploração espacial. Mas não pode voar— informou o aparelho.

 

A figura misteriosa puxou a manga do macacão e revelou um pequeno teclado de pulso dentro de um relógio inteligente. Digitou alguns comandos e Porygon2 começou a se dividir na frente de Elaine, que deu um grito.

 

— Que tipo de Pokémon é você?! — gritou a menina.

 

O Pokémon foi sugado para dentro do relógio inteligente da figura misteriosa. A tela do monitor em seu rosto acendeu e logo um sprite do Pokémon que segundos antes estava materializado no mundo real surgiu.

 

Elaine então ouviu uma voz disfarçada por um filtro robótico falar com ela em uma mistura proposital de timbres graves e agudos, distorcendo-a.

 

Game. Over.

 

Da ponta do dedo indicador do seu oponente começaram a sair fagulhas de luzes coloridas que circulavam ao redor do dedo em três cores diferentes, amarelo, azul e vermelho. Rapidamente, as fagulhas transformaram-se em partículas e tais partículas dividiram-se em seus grupos de respectivas cores, aglomerando-se e se reunindo em um piscar de olhos. O ser mecatrônico levantou o polegar rente ao indicador e o utilizou como mira, fixando a pontaria bem no meio da testa de Elaine. A menina arregalou os olhos e jogou seu corpo para o lado na direção de Vera enquanto a figura misteriosa acionava o gatilho, baixando o polegar. O Tri Attack atingiu em cheio o tronco da árvore que Elaine estava escorada, abrindo um enorme buraco no centro.

 

A menina guardou a PokéBola que segurava de qualquer jeito dentro do bolso dos shorts, agarrou Vera pelo tórax com uma mão e com a outra, segurou o ovo Pokémon rachado com firmeza, saindo em disparada para dentro do bosque. Os disparos do Tri Attackeram constantes e por muito pouco não atingiam Elaine, que fazia o possível para não escorregar no chão coberto de folhas úmidas.

 

No entanto, a menina veio ao chão quando um dos raios disparados pelo seu perseguidor a atingiu no pé direito, congelando-o imediatamente e fazendo a garota gritar de dor. O ovo mais uma vez escapou dos braços dela e rolou alguns metros até parar debaixo de uma das árvores do bosque, deixando um rastro de cascas por entre as folhas no chão. Elaine ouviu os passos da criatura misteriosa aproximando-se com rapidez e, ao olhar novamente para ele, viu que o Porygon2 ainda se mantinha na tela, como se tomasse para si a identidade de seu algoz.

 

Elaine rapidamente tentou buscar alguma saída para a situação em que se encontrava. Ouvia a massa sonora que o zumbido do bater das asas do enxame de Beedrill, metros adentro do bosque, ela não tinha para onde correr. Até mesmo em uma árvore próxima havia um Kakuna pendurado por um fio de teia em um galho. A menina começou a se arrastar para trás, para longe da figura misteriosa, mais próxima do ovo Pokémon e cada centímetro que a menina se afastava, a pessoa— ou o Porygon2? — aproximava-se o dobro.Elaine sentiu quando suas mãos encostaram em um galho relativamente grande e o agarrou com força. Sem pensar duas vezes, a menina o arremessou na direção da figura misteriosa, que desviou. O galho voou e atingiu o exato local onde o casulo de Kakuna estava pendurado, derrubando-o no chão.

 

A menina podia garantir que aquele Porygon2 sorriu para ela de forma maligna.

 

GAME. OVER. TURN OFF. THE POWER. — A voz robótica do Porygon2 ecoou pelo bosque de forma medonha.

 

No entanto, algo chamou a atenção da figura mecatrônica possuída pelo Pokémon Virtual. Um clarão de luz iluminou o local que já estava ficando escuro devido ao pôr do sol. Ao se virarem para o foco de luz, testemunharam o Kakuna que caiu da árvore transformar-se aos poucos em uma abelha gigante. O Beedrill surgiu do que antes era o Kakuna e seus ferrões foram apontados ameaçadoramente para os dois humanos à sua frente. O Beedrill avançou para atacar, mas a figura mecatrônica controlada pelo Porygon2 apontou seu dedo novamente para o Pokémon selvagem e da ponta do indicador saiu um raio tricolor, o que afugentou o Beedrill para dentro do bosque.

 

O ser mecatrônico se virou para Elaine e apontou o dedo para o rosto da menina. Ainda saía a fumaça do último ataque. Vera rosnou e avançou em direção à figura misteriosa, mordendo seu braço, mas foi arremessada para próximo de onde Elaine jazia deitada. O Porygon2 voltou a fazer uma expressão macabra; dentro da tela daquele monitor de computador ele demonstrava ter tudo sob controle — o que era óbvio, afinal, Porygon2, acima de tudo, era um programa de computador. O dedo foi apontado mais uma vez para o rosto de Elaine e o polegar foi erguido, servido como mira para o Pokémon Virtual poder calcular com precisão o tiro que não iria errar desta vez.

 

Sua concentração, no entanto, foi interrompida com um barulho ensurdecedor. Um zumbido que foi crescendo e foi engolindo o espaço e se tornando cada vez maior, em uma onda sonora que aumentava — e assustava — a cada segundo. Do meio das árvores, centenas de Beedrill voavam em disparada e se colocaram ao redor de Elaine e da figura misteriosa que controlava — ou era controlada por — Porygon2. A menina arregalou os olhos. O medo era maior do que a dor lancinante no tornozelo.

Raios foram disparados do dedo indicador da figura com capacete de monitor, mas eram tantos Beedrill que seus ataques não funcionavam. Elaine tentava escapar dos ferrões mortais dos Pokémon Abelha, mas o enxame parecia mais concentrado em atacar o Porygon2 dentro do ser mecatrônico do que atacar a menina. Elaine, no entanto, foi pega de surpresa quando um Beedrill voou com velocidade em sua direção, com o ferrão do rabo apontado para ela. A menina fechou os olhos e encolheu o corpo. Vera correu para defender sua treinadora, jogando seu corpo contra o Pokémon que conseguiu apenas quebrar o gelo que prendia o tornozelo da garota quando um de seus ferrões dianteiros o atingiu quando Eevee o acertou.

 

Não se podia ter um número exato de quantos Beedrill circulavam dentro daquela clareira. Elaine se jogou em cima do ovo Pokémon para protegê-lo com seu corpo enquanto Vera, apesar de seu corpo pequeno, se colocava diante do enxame pronto para defender sua treinadora a qualquer momento.

 

— Vera! Nós não praticamos muito esse golpe ainda, mas... Eu acho que é o único jeito de sairmos daqui com vida...

 

A Eevee concordou com a cabeça, já sabendo onde sua treinadora iria chegar.

 

— Use o Freezy Frost!

 

Vera concentrou-se enquanto sentia seus pelos se arrepiarem. As unhas em suas patas se fincaram no chão e um vento frio começou a emanar de seu corpo, cercando em rodamoinho os arredores. As pupilas da Eevee ficaram brancas e o ar cristalizou-se em flocos de neve. Vera fez com que estalagmites de gelo se formassem no chão a sua frente, mas eram pequenas demais para acertar um único Beedrill, já que o enxame voava alto e descia sorrateiro apenas para continuar atacando a figura misteriosa, que se debatia para tentar afastar os Beedrill sem sucesso. Vera não escondeu a expressão de decepção.

 

— Não pode ser... — murmurou Elaine, visivelmente preocupada. — Vera, Buzzy Buzz!

 

A Eevee se recompôs e mais uma vez se colocou em posição de combate. Seus pelos se eriçaram e, novamente, um choque elétrico foi disparado da energia estática que se formou, dessa vez derrubando algumas dúzias do enxame no chão da floresta. Elaine rapidamente sacou uma PokéBola, decidindo impulsivamente capturar cada um dos Beedrill para que o ataque cessasse, mesmo consciente de que ela não tinha PokéBolas o bastante para isso. Arremessou a primeira cápsula em um Beedrill próximo de onde ela estava. Curiosamente, ele era bem maior do que os demais da mesma espécie e, talvez pelo seu tamanho, tenha tomado os maiores danos para defender seu grupo. O Pokémon foi sugado pelo raio vermelho e a PokéBola mal se moveu: a captura tinha sido um sucesso. Se preparava para pegar a segunda cápsula quando, de dentro do bosque, ouviu seu nome sendo chamado.

 

Stone Edge!

 

O chão se rasgou. Um urro ensurdecedor cobriu o zumbido formado pelo bater de asas do enxame de Beedrill. De dentro do solo, uma massa sólida de pedra e terra formou grandes pilares que avançaram com violência em direção ao centro do conflito, atingindo em cheio os Beedrill e a figura misteriosa que estava entre eles. Elaine deu um grito agudo, mas o susto foi maior quando viu Tyranitar derrubar as árvores com a mesma facilidade com a qual se abre uma janela em um dia ensolarado. Logo atrás dele, Ethan apareceu completamente afobado.

 

— Elaine! — Exclamou o rapaz, correndo em direção à Elaine

— O ovo! O ovo! — Gritava a menina para ele, enquanto se desesperava vendo a casca se desfazer aos montes.

 

Ethan pegou Elaine no colo e gritou para seu Pokémon. Tyranitar colocou Vera cuidadosamente em um de seus ombros e segurou seu treinador, que continuava a segurar Elaine nos braços, com segurança nos seus próprios braços, rapidamente se dirigindo de volta por onde vieram, deixando o enxame de Beedrill atordoado e sem notar o treinador com seu Porygon2 que aos poucos iam perdendo a batalha contra eles.

 

Assim que a estrada da Rota 31 foi tocada, Tyranitar colocou seu treinador no chão com cuidado. Ethan ainda segurava Elaine com certa apreensão, a menina ainda estava em estado de choque e soltava palavras desconexas, olhando para o ovo Pokémon que mantinha a sua casca se esfarelando.

 

— O ovo... O ovo... Eu quebrei o ovo, eu... — Elaine não parava de chorar.

— Ei, tá tudo bem, Elaine, você não... — Ethan tentou acalmar a menina, mas foi interrompido quando uma massa sonora o cortou. Não era de asas do enxame de Beedrill o perseguindo. Eram sirenes e motores de carros em alta velocidade que vinham de todos os lugares.

 

Os carros da polícia os cercaram. Quando as portas abriram, rosnados dos Growlithe e Arcanine acompanharam o grupo de dezenas de oficiais vestidos com jaquetas vermelhas que foram para cima dos dois, circulando-os.

 

— Como uma Pokémon Ranger em serviço, estou informando que vocês estão presos por invadir e destruir uma área preservada!

 

Como se não bastasse o choque de Elaine em ter quebrado ovo de Ethan e com certeza matado o Pokémon que havia nele, ser atacada por um desconhecido e por um enxame de Beedrill selvagem, os problemas agora chegaram em um outro patamar. Ethan mal conseguiu reagir. Como que eles iriam sair dessa?

 

 

TO BE CONTINUED...


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