Archive for January 2019
Interlúdio II
Cidade de Goldenrod, Johto, cerca de três meses atrás.
Lyra
caminhava alegremente pelas avenidas da Cidade de Goldenrod. Com seu Marill em
seu encalço, a garota entrava no Centro Pokémon.
— Preciso
recuperar meus bonitinhos, Marill. A última batalha me deixou exausta... — confessou
a menina ao pequeno Pokémon bolha.
As portas da
recepção se abriram. Silver entrara com sua feição séria e encarava com mal
humor a todos que o encaravam.
O rapaz se
dirigiu à Lyra.
— Onde está a
Enfermeira Joy? — perguntou de maneira ríspida.
— Eu estou
aguardando por ela também. Você tá de mau humor? — Perguntou a garota.
— No que lhe
convém? — Perguntou Silver de forma grosseira.
Lyra se
irritou.
— Escuta, eu
nem te conheço e eu não te dei motivos pra você falar assim comigo! Então vê se
fala direito com uma dama! — Exclamou Lyra quase gritando.
Silver a
encarou sério.
— Tanto faz.
De braços
cruzados, um sentou longe do outro. Marill observava aflito a discussão. Se mal
se conheciam, como poderiam ter raiva um do outro assim?
— Humph! Era
só o que me faltava. Já não me bastasse o Ethan, agora eu tenho que aturar
outro babaca.
O ruivo a
encarou com o canto do olho. Ele conhecia o dono daquele nome, apesar de não
fazer a mínima ideia de quem era a garota ao seu lado.
As portas do
Centro Pokémon abriram-se novamente. Stella, Kayla e Kevin conversavam bastante
e tinham uma feição séria. Lyra levantou-se e se dirigiu ao grupo.
— Vocês estão
bem? — Perguntou a garota.
— Ah, olá,
Lyra. A gente tá se recuperando do susto ainda... Que batalha, né? — perguntou
Stella.
— Nem me
fala... — Suspirou Lyra em resposta.
— Fiquei
sabendo que o corpo do Gary foi encontrado jogado em uma rua próxima... Red o
acompanhou até o hospital — informou Stella.
— Caramba! A
Equipe Rocket é mesmo cretina! — exclamou Lyra zangada.
— Você não
tem ideia... — confessou Stella.
— Bem, gente,
acho que tá na hora de seguir pra Azalea. — Disse Kayla.
Lyra
exclamou.
— Vocês não
vão para Ecruteak?!
— Nós já
passamos por lá. O líder quase acabou com a gente, mas pegamos a insígnia — respondeu
Kevin.
Lyra fez uma
expressão tristonha.
— Então vamos
ter que nos separar...
Os três se
entreolharam. Stella segurou os ombros da garota com as mãos.
— Não se
preocupe. Se seu objetivo é a Liga Pokémon, você pode ter certeza que nós ainda
vamos nos encontrar. Se esforce, não se deixe ser derrotada por qualquer um!
Você arrasou na batalha contra os Rockets! — sorriu a garota.
Lyra encarou
a amiga e sorriu.
— Obrigado
gente... E não se preocupem! Eu não vou perder! Nem mesmo pro Ethan! — exclamou
a garota.
Silver que
aguardava a Enfermeira Joy exclamou em silêncio.
— “Ethan”...?
— E buscou em sua memória.
— Você
mencionou um cara chamado Ethan? —
perguntou Silver
Lyra o
encarou com desdém.
— “No que lhe convém?” — repetiu a garota
em tom de deboche.
Silver deu um
sorriso sarcástico.
— Me convém
que ele está com algo que é do meu interesse.
Lyra
arregalou os olhos.
— O Ethan? E
o que seria?
— Não é algo
que crianças devem meter o nariz.
A garota
fechou a cara.
— Eu não sou
criança! Você fala como se fosse adulto, né?
Silver deu
uma risadinha.
— Você fala
como se eu não fosse.
Lyra
continuou de cara amarrada. Em pouco tempo, aquele ruivo tinha conseguido
tirá-la do sério.
Silver
levantou-se. A garota olhou para o ruivo e sentiu-se aliviada por ver que logo
estaria livre daquele incômodo.
— Você não me
é estranha.
Aquela frase
chamou a atenção de Lyra.
— O que quer
dizer com isso?
— Eu não
lembro onde, mas acho que a gente já se viu por aí, em algum lugar.
Os olhos dos
dois se encontraram. E por um instante, suas mentes sincronizaram juntas de uma
maneira que nenhum deles poderia explicar. E, quase como em um passe de mágica,
eles se lembraram.
Cidade de New Bark, um mês antes daquele encontro.
Um barulho de vidro quebrando foi ouvido ao longe. Os
assistentes do professor foram direto ao local do barulho. Elm correu para o
local também enquanto Ethan recolhia Totodile, Chikorita e Cyndaquil que
estavam correndo apavorados na sala. Assim que os retornou, os garotos deixaram
as PokéBolas dentro de uma cabine dentro do PC do Professor Elm e correram para
ajudá-lo.
O misterioso garoto dos cabelos vermelhos então
conseguiu pular a janela. O barulho do choque dos seus pés com o chão chamou a
atenção da Ethan.
— Ethan? O que foi? — Perguntou Lyra ao colega.
— Não... Nada. Acho que estou ouvindo coisas demais...
— Respondeu.
Lyra deu de ombros e voltou a concentrar-se na cabine
de vidro onde as PokéBolas dos Pokémon descansavam. Se certificou que estavam
novamente seladas e seguiu o Professor Elm para outra área do laboratório para
investigar de onde havia vindo o barulho de vidro quebrando.
Ela não viu quando um jovem invasor percorreu o
corredor até o fim e conseguiu encontrar o local onde Elm fazia suas pesquisas.
Ele admirou a estátua dos guardiões e encontrou o local onde estavam guardadas
as PokéBolas.
Lyra viu Ethan correr de volta para a sala de onde
ambos haviam acabado de sair. A garota tentou seguir o garoto, mas Elm a
segurou pelo braço, balançando em negativo a cabeça.
— Não vá, é muito perigoso.
— Mas titio, os Pokémon podem estar em perigo! —
cochichou a garota de volta.
— Não sabemos quantos são e nem se estão armados.
— Mas e o Ethan?
— Nós já chamamos a polícia, temos que torcer para que
tudo dê certo até eles chegarem.
— Mas...
Lyra não conseguiu terminar seu argumento. O invasor
corria em sua direção com uma PokéBola em mãos procurando a saída do
laboratório. Como se fosse em câmera lenta, os olhos de ambos se cruzaram
naqueles breves segundos. Ela reparou em seus olhos tão negros que davam a
impressão de que trevas haviam sugado qualquer tipo de luz que pudesse, um dia,
ter existido nos olhos daquela criança. As olheiras tão escuras quanto sua aura
fizeram a garota, por um instante, soltar um breve suspiro de surpresa. Ele, ao
olhar para ela, ergueu as sobrancelhas por uma fração de segundo, talvez ainda embebedado
por adrenalina. Havia uma tensão no ar que pairou por aqueles micro instantes
de realidade entre os dois. Tão rápido quanto aconteceu, aquela sensação de
câmera lenta se esvaiu. Silver desviou seu olhar do de Lyra, concentrando-se
logo em seguida em focar seu caminho para o lado de fora.
O
garoto passou correndo. Desaparecendo pelo corredor, Ethan só teve tempo de
pegar outra das duas Pokébolas restantes para perseguir o invasor. Passando
pelos corredores, ele se aproximava cada vez mais do rastro ruivo que estava a
sua frente, derrubando os cientistas, vendo o caminho livre para fugir. Ethan
se atrapalhou, tropeçando em um dos cientistas. Elm e Lyra ficaram assustados,
mas Ethan se levantou e saiu pela porta do laboratório perseguindo seu alvo.
Os
olhos dos dois continuavam hipnoticamente grudados. Nem Lyra, nem Silver,
ousavam piscar ou respirar.
A
garota permanecia com a boca aberta.
— Você... Você... É o garoto que... Roubou o Totodile
do titio...
Silver, ainda em transe, nada respondeu.
Abruptamente, virou o rosto, fechou os punhos e deu as
costas para a garota, que, paralisada, não o impediu de se afastar.
A Enfermeira Joy retornara com Chansey para a recepção
e se dirigiu ao ruivo.
— Posso ajudá-lo? — ela perguntou sorridente.
— Sim, pode... Eu vim pegar uma encomenda — respondeu
Silver com um sorriso falso.
— Espera... — foi o que Lyra conseguiu dizer após
alguns segundos, apesar de Silver ter fingido que não ouviu o chamado da
garota, dando as costas e se retirando do Centro Pokémon.
***
Alguns dias se passaram desde aquele encontro estranho
no Centro Pokémon de Goldenrod. Lyra não conseguia tirar aquele garoto ruivo da
cabeça. Apesar de ter tido sucesso em sua batalha de Ginásio no dia anterior,
ela não conseguia se gabar ou ficar feliz. Tinha alguma coisa que a incomodava.
A atenção da garota, felizmente, foi mudada quando
ela, ao virar uma esquina, reconheceu um grupo de pessoas discutindo no meio da
rua. Ela não os chamaria de amigos, mas colegas de viagem que, vez em quando,
cruzavam seu caminho. E, entre eles, um garoto que fazia seu coração bater no
peito furiosamente. Não por motivos de paixão, na verdade, era completamente o
oposto.
Lyra suspirou e sorriu. Pelo menos uma vez na vida ela
estava feliz em vê-lo, afinal, poderia colocar o esforço aonde realmente era
necessário: Detestá-lo.
— Ethan! — ela exclamou.
A garota aproximou-se saltitante do grupo de jovens.
— Chegou por último, né, Ethan? Mulher do padre. — zombou
ela.
Ethan, no entanto, estava tão nervoso que não teve
reação nenhuma.
— Ué... Tá tudo bem? — Lyra observa o garoto de forma
atenta.
— Ele está sim. Só o nível de hormônios dele que estão
um pouco elevados. — Brincou Forrest.
— Vamos indo pro Centro Pokémon. Lá a gente vê se ele
tá bem mesmo. — Sugeriu Joey.
— É uma ótima ideia. Se vocês quiserem, eu os
acompanho. — Prontificou-se Lyra.
— Por que não? Vamos sim! — Concordou Forrest.
— Você ainda não escapou da pergunta, gatinho. — Amy
sussurou discretamente no ouvido de Ethan que paralisou.
Lyra e Joey observaram o trio afastar-se em direção do
Ginásio.
— Você não vai com eles? — questionou a garota.
— Eu não. Eles são merecem a companhia do grande Joey.
— respondeu o outro.
— “Grande Joey”? Você tá mais pra “O pequeno Joey”.
O garoto se irritou.
— Quem você pensa que é pra falar da minha altura?!
Lyra deu um sorrisinho malicioso.
— Pode-se dizer que eu sou superior a qualquer um.
Inclusive ao Ethan.
Joey fez uma expressão curiosa.
— O que quer dizer com isso?
— Segredo feminino. — Disse a garota com um
sorrisinho.
Joey bufou.
— Tanto faz. Mas melhor que eu e Rattata, sei não,
hein?
Lyra olhou para o garoto de cima a baixo e voltou a
dar um sorrisinho sarcástico.
— De que bolso você tira tanta confiança?
Joey cruzou os braços e olhou no fundo dos olhos de
Lyra, que sentiu um arrepio ao perceber o olhar “sedutor” que o garoto fazia.
Na verdade, seus olhos estavam semicerrados e as sobrancelhas se uniam de forma
bizarra, parecendo uma monocelha. O fato de o garoto ser menor que Lyra dava a
impressão de que ele era uma criança fazendo birra para sua irmã mais velha.
Ela riu.
— Agora eu vi... Tá me olhando assim por quê?
— Tô te mostrando a minha confiança.
— Ah, tá.
Lyra virou-se para se dirigir ao Centro Pokémon. Joey
a observou se afastar e deu um sorriso vitorioso.
— Essa menina é minha.
***
A tarde passava lentamente enquanto os garotos estavam
no Centro Pokémon. Lyra contou sobre as batalhas que travara e sobre suas três
insígnias — havia derrotado o líder do Ginásio de Goldenrod no dia anterior. No
entanto, a garota, de pirraça, não contou quais os Pokémon que foram utilizados
pelo líder.
— Quer saber? Eu desisto de esperar! Eu vou lá e vou
chutar o traseiro de quem for que seja o líder do Ginásio! — Exclamou Ethan
irritado, batendo na mesa do saguão onde estavam reunidos e se levantando
bufando.
Lyra gargalhou.
— Ha-ha-ha! Sei... Essa eu pago pra ver!
— Amy, Forrest, vamos nessa. Eu tenho uma batalha pra
vencer — o garoto virou as costas e se dirigiu à saída. Amy e Forrest se
levantaram e deram um rápido aceno de despedida para Joey e Lyra que
permaneceram sentados.
— A gente não devia seguir eles? — Perguntou Joey
abocanhando uma coxinha.
— Sou uma dama, não um carrapato. Não sou obrigada a
seguir ninguém — Lyra respondeu bebericando uma xícara de chá.
Joey a olhou confuso.
— Mas não foi você que sugeriu que todo mundo te
seguisse até aqui?
A garota ergueu a sobrancelha direita e repousou a
xícara na mesa.
— Eu treino Pokémon, certo? Durante batalhas, eles ficam
cansados. Sugeri que viéssemos pra cá não porque eu gosto do Ethan, mas porque
eu precisava recuperar meus lindinhos também, oras.
O garoto terminou de engolir a coxinha e limpou a boca
com um guardanapo.
— Por que não vamos ao Parque Nacional?
— Fazer o quê?
— Sei lá, ver uns insetos?
Lyra terminou de beber o chá e virou-se para olhar
para Joey.
— Você tá me chamando pra sair? Desiste.
— Ué, foi tão óbvio?
— Você precisa saber mais sobre as mulheres.
Ela se levantou e preparou-se para deixar a mesa, mas
Joey segurou em seu pulso gentilmente.
— Então me ensine.
Ela deu uma risadinha em resposta.
— Vou ver o que eu faço por você. Me encontra às 15h.
Lyra se soltou das mãos de Joey e se dirigiu para o andar
superior do Centro Pokémon, onde ficavam as suítes de hospedagem. O garoto a
observou sumir de seu campo de visão com um sorriso de satisfação no rosto.
***
No dia 15 de Fevereiro, a Cidade de Goldenrod sediou o
Torneio Pokémon de Caça aos Insetos, um torneio que mensal cujo objetivo era
caçar Pokémon do Tipo Inseto. Joey e Lyra trataram logo de inscrever-se na competição
apenas para conseguirem, mais uma vez, serem superiores aos seus rivais.
A competição seguiu-se na mais repleta tranquilidade.
A primeira fase foi de capturas e a segunda de batalhas. E foi durante essa
fase que Lyra acabou sendo derrotada por Forrest, o amigo de seu rival Ethan.
— Nããããããão!!!! — berrou Lyra, começando a chorar.
— Bom trabalho, Heracross. Descanse. — Forrest
retornou seu Pokémon e se dirigiu a Lyra para consolá-la.
A garota retornou o Pinsir e deu as costas para o
moreno.
— A derrota é a chave para a vitória, Lyra. — Disse o
rapaz de forma amigável.
— Por quê? — Perguntou Lyra, ríspida.
— Nunca poderemos vencer se não pudermos superar
nossas fraquezas. — Concluiu o rapaz.
Lyra parou por um instante e olhou para Forrest. Com
um suspiro, retirou-se do campo de batalha.
— Você é uma ótima pessoa. Já vi que não é só
bonitinho.
Forrest corou.
A garota sorriu.
— O que você acha de... Marcamos uma batalha qualquer
dia desses?
— Eu... Eu acho ótimo. — Respondeu o moreno sem graça.
Lyra aproximou-se devagar.
— Vou precisar de uma prova de que você vai voltar a
me ver.
A garota tascou um beijo em Forrest, que nunca havia
beijado ninguém e não sabia direito como reagir. Pacientemente, Lyra foi usando
seus lábios para guiar o rapaz que foi, aos poucos, reagindo de forma
carinhosa. Lyra não era daquelas que se apaixonava. Ela gostava de se distrair
e se divertir. Se alguém não lhe trazia esse tipo de coisa, ela tratava de
passar para o próximo.
A garota deu as costas e se retirou da arena, sendo
acompanhada com o olhar por Forrest, que tocava os lábios enquanto tinha um
sorrisinho patético em seu rosto.
Joey foi atrás da moça nos camarins. A garota acabou
humilhando-o, xingando-o de todos os nomes que conhecia, além de terminar seu
breve relacionamento com o rapaz. Ela alegava “falta de interesse”, enquanto
ele tentava argumentar que “os dois eram mais fortes quando estavam juntos”.
Lyra bufou e deu um tapa na cara do rapaz, indo embora
em seguida.
***
A Equipe Rocket invadiu a Torre de Rádio de Goldenrod
logo após a conclusão do Torneio Pokémon de Caça aos Insetos. Ao chegar ao
local, Lyra percebeu Ethan, Amy, Forrest e um treinador montado em Charizard entrarem
no prédio lendário. Não pensou duas vezes e correu para segui-los, mas deparou-se
com membros da organização correndo do interior.
— Olha, mais aliados do Red! — um dos capangas Rocket
anunciou ao ver Lyra aproximando-se.
— Eu não acredito que estamos correndo de pivetes
malditos... — xingou um outro.
— Ela está sozinha, vamos descontar nela! — sugeriu uma
terceira.
Em um piscar de olhos, Lyra se viu cercada por homens
e mulheres da Equipe Rocket armados com PokéBolas. A garota não pareceu
temê-los.
— Por favor, como se um bando de fracassados como
vocês pudessem derrubar uma doce e linda garotinha como eu. Elekid, ThunderShock!
O Pokémon que Lyra havia capturado pouco antes de
chegar à Goldenrod saiu de sua PokéBola tão rápido quanto o ego da garota era
capaz de subir.
Eletrocutados, os agentes da Equipe Rocket não puderam
sequer reagir, paralisados no chão. A garota correu em direção à torre
procurando alcançar os garotos.
***
Shuckle e Heracross encaravam os oponentes sem demonstrar
medo algum. O experiente Rhyhorn passava segurança para os novatos.
Para auxiliar Quilava, Sandshrew e Scyther dominaram o
campo de batalha. Pareciam que eram os líderes do local que estavam prestes a
enfrentar a gangue rival que invadiu a sua área.
— Não acredito que vocês iam me deixar fora dessa... —
uma voz ressoou pela sala.
Lyra caminhou em direção aos garotos com três
PokéBolas em mãos. Seus três escolhidos pareciam Pokémon com comportamento
bastante duvidoso, como se sentissem os antigos reis do Egito. Herdaram da
treinadora o jeito metido de andar, com os focinhos empinados, demonstrando
segurança e dominância no local.
Ethan sorriu para a garota.
— Acho que chegou a integrante que faltava no nosso
exército.
— Me chame de capitã — disse a garota, retribuindo um
sorriso metido.
Bayleef, Azumarill e Furret encararam seus oponentes
com olhares mortais.
Os Rockets atacaram. Seus grandes Pokémon atacavam
juntos e suas defesas eram quase impenetráveis. Começou um grande falatório,
onde os dois lados se atacavam, gritando golpes e explosões aconteciam. Os
Pokémon se enfrentavam como se aquela fosse a última batalha de suas vidas,
como se elas dependessem disso. Cada Pokémon lutava pela honra de seu
treinador. Eles só parariam quando o último oponente fosse derrotado.
— Sandstorm!
— berrou um dos Rockets ao imponente Tyranitar.
O Pokémon ergueu os braços e deu um rugido tão grande
que poderia ser ouvido há quilômetros. O chão começou a tremer e uma cratera
apareceu quando uma massa enorme de areia passou por ele. A areia espalhou-se
pela sala e parcialmente cegou os treinadores e Pokémon. A maioria dos Pokémon
em batalha era atingida pela areia. Sandshrew, Rhyhorn, Shuckle e o próprio
Tyranitar pareciam não sentir nada.
— Como se isso fosse atrapalhar alguma coisa. Scyther, Wing Attack! Quilava, Ember!
Sand, Swift!
— Rhyhorn, Rock Blast! Shuckle, Bide! Heracross, Brick Break!
— Mega, Magical Leaf! Blue, BubbleBeam! Ota, Fury Attack!
Os Rockets também ordenavam ataques simultaneamente.
— Tyranitar, Dark Pulse!
— Kabutops, Aqua Jet!
— Muk, Mud Bomb!
Foi uma bagunça. Rhyhorn quebrava o chão para
arremessar pedras nos oponentes enquanto Muk arremessava pedaços de seu corpo
tóxico. Tyranitar atingiu Shuckle que resistiu bravamente devido à sua defesa
de ferro e Heracross atingia o crânio do monstruoso Pokémon com um golpe
super-efetivo, deixando Tyranitar tonto. Blue, a Azumarill e Mega, a Bayleef
concentravam seus golpes em Kabutops ao mesmo tempo em que Quilava (que havia,
ao invés de soltar o Ember, envolvido seu corpo em uma roda flamejante – Flame Wheel),
seu parceiro Sandshrew, Scyther e Ota, o Furret derrubavam os outros Pokémon
que estavam no campo de batalha, como os Ekans, os Koffing e também vários
Zubat.
Uma explosão gerada pelos golpes que eram atingidos ao
mesmo tempo gerava uma enorme nuvem de fumaça. Ethan, Lyra e Forrest suavam
enquanto seus Pokémon resistiam bravamente. Tyranitar, que havia sido
criticamente atingido por Heracross, cambaleou para trás quando Shuckle
devolveu com gosto o dobro do dano que a criatura havia causado nele com o Dark Pulse, devido à técnica Bide.
Ethan olhou para Forrest e Lyra avisando que iria
acabar com aquilo naquele instante. Os dois acenaram com a cabeça e olharam
para seus Pokémon.
— Sandshrew, Dig!
— Rhyhorn, Stomp
no chão, agora!
— Mega, Grass
Knot!
Sandshrew cavou um buraco no chão, abalando toda a
estrutura do andar.
Rhyhorn auxiliou na destruição jogando todo o peso de
seu corpo para baixo.
Mega, a Bayleef prendeu as patas dos oponentes,
impedindo-os de fugir.
Todos começaram a sentir um repentino tremor. Um
terremoto chacoalhou toda a estrutura do prédio e o chão partiu-se em dois,
quatro, oito, dezesseis pedaços. Uma enorme cratera abriu-se e todos que
estavam ali naquele andar começaram a cair em queda livre aqueles sete andares
até o solo.
— Vine Whip!
— Exclamou Lyra.
Bayleef, com os cipós em seu pescoço, agarrou-se em
uma das pilastras do andar de cima, firmemente presa. Ethan subia novamente em
direção ao topo graças à Scyther, que voava com o garoto, enquanto Heracross
levava Forrest. Os dois retornavam seus Pokémon rapidamente enquanto voavam.
O poder da gravidade fez Bayleef pegar impulso em uma
das paredes dos andares abaixo que já não existiam mais e se lançar para o
alto, levando Lyra consigo. Em um último movimento, a garota se jogou das
costas de Bayleef e rumou para baixo, recolhendo Azumarill e Sentret, que
estavam em queda livre. A garota só não alcançou o chão porque sua cintura foi
agarrada pelos cipós de Bayleef, que a conduziu de volta para cima.
Lyra, Ethan e Forrest voltaram a se reunir após
recolherem seus Pokémon. Juntos, avançaram pelos escombros com cuidado para não
cair novamente no imenso buraco no meio da sala e dirigiram-se até a saída de
emergência, onde havia escadas que davam para os demais andares, tanto inferiores
quanto superiores. O destino do trio era justamente procurar Amy, que havia
sumido para procurar a Equipe Rocket.
O trio correu por dois acessos de escada e adentraram
na sala onde Red, Amy e grande parte dos Rockets se encontravam localizados.
Estavam suados, roupas arregaçadas, arfavam muito, mas tinham um sorriso
inabalável. Um sorriso confiante.
Lyra, no entanto, exclamou baixinho ao encontrar de
novo com o garoto do Centro Pokémon de dias atrás. Seu coração palpitou mais do
que o convencional e ela fechou os punhos com força e por um momento pareceu
hesitar. Nunca antes uma batalha pareceu mexer tanto com seu emocional. O porquê ela não sabia.
Ethan deu um passo à frente e apontou para Silver com
o indicador.
— A gente deu um jeito em uns carinhas pau-mandados de
vocês. Eu não sabia que vocês eram tão fracos.
Silver levantou-se.
— E não somos. Então quer dizer que a Amy trouxe toda
a sua trupe de treinadores trouxas que a protegem junto com ela... Fico
surpreso que vocês tenham chegado até aqui intactos... Eu me surpreendi.
Archer agora era quem aproximava-se curioso daquele
grupo infame.
— Por que vocês estão protegendo ela? Se ela virou as
costas até para a Equipe Rocket quando fazia parte dela, eu imagino que não vai
faltar muito pra ela se virar contra vocês também.
Ethan e Forrest encararam a garota surpreso. Red não
se manifestara.
Amy engoliu o riso. No entanto, não se dirigiu à Red,
Ethan ou Forrest.
— Vocês são tão panacas que adoram reviver o passado.
É por isso que vivem atrás do Celebi... Mas vamos acabar com isso — a garota
sacou uma PokéBola. — Primeape, é com você.
O Pokémon de Amy encarou os velhos conhecidos. Mas ele
mesmo sabia que eles queriam fazer coisas ruins com a sua treinadora e ele não
podia deixar.
Ethan caminhou e foi parar ao lado de Amy.
— Eu não ligo. Eu não ligo se ela virou as costas pra
vocês. Eu não ligo se ela pertenceu ou não à Equipe Rocket. Vocês são nojentos.
Eu imagino que eu faria o mesmo no lugar dela — o garoto ergueu uma PokéBola
para frente. — Quilava.
Um brilho intenso iluminou a sala quando Quilava
marcou presença ativando as chamas em suas costas. Encarava seus oponentes com
um olhar sombrio.
Rhyhorn e Azumarill tomavam a frente. Cinco ferozes
Pokémon encaravam a Equipe Rocket de forma assustadora. Porém, nenhum dos
executivos ou agentes demonstravam ter medo. Pareciam apenas aguardar alguma
coisa.
O rádio no bolso de Petrel deu a resposta. A voz grave
de Giovanni ressoou.
— Está feito. Avançar.
As paredes da sala explodiram. Uma grande nuvem de
fumaça tomou conta do lugar. Os membros Rocket fugiam dali por várias saídas
improvisadas da explosão. O prédio fora totalmente esvaziado.
Red fez menção em segui-los, mas Amy segurou com força
em seu braço. Apontou para os reféns presentes na sala. O garoto entendera.
A polícia chegou minutos depois, mas não conseguira
deter nenhum dos agentes. Os reféns foram levados ao Centro Pokémon para serem
curados enquanto Red, Amy, Ethan, Lyra e Forrest permaneciam sentados em uma
calçada do outro lado da rua onde ficava o prédio, agora destruído, da Torre de
Rádio.
— Você sabe que eles ainda não desistiram, não é? —
Perguntou Red à Amy.
A garota suspirou.
— Eles nunca desistem.
Ethan, que permanecia calado, se virou para a garota.
— Então quer dizer que você era agente da Equipe
Rocket, aquela PokéBola bizarra que você carrega consigo pra cima e pra baixo
contém um Pokémon lendário e agora nós estamos sendo perseguidos pela máfia?
Amy ficou em silêncio por alguns segundos, mas, sem olhar
para o garoto, respondeu.
— Sim.
A garota levantou.
— Obrigada por vocês terem viajado comigo todo esse
tempo. Eu não vou mais atrapalhar.
Forrest soltou uma exclamação.
— Mas como assim?!
— Eu vou seguir viagem sozinha.
Foi a vez de Ethan se levantar e encarar Amy com um
olhar sério.
— Escuta aqui. Eu nunca vou deixar você sair por aí
sozinha, me ouviu bem? Cê tá maluca? Quer morrer? Você vai continuar seguindo
viagem com a gente!
Amy olhou zangada.
— Você não manda em mim.
— Você tem razão. Mas eu tenho atitude o suficiente
pra falar isso pra você. Eu te sigo até o Polo Norte se você insistir nessa
maluquice.
Os dois se encararam de forma intensa. No entanto, Amy
acabou cedendo.
— Está bem então. Mas saibam que vocês vão precisar se
fortalecer muito para a próxima batalha contra eles.
— Não é problema. Temos o cara mais poderoso do
continente seguindo a gente. A retaguarda tá protegida. — Sorriu Ethan.
— Não se preocupe. A gente dá conta. — Disse Forrest.
Red também sorriu.
— É, gatinha... Acho que você tá em boas mãos. E a
propósito, adorei o gosto do seu batom. Morango, né? Mas eu adoro uva. Fica a
dica pra próxima vez.
Charizard fora convocado da PokéBola. Red o montou e
decolou rumo ao horizonte.
Lyra suspirou.
— Vocês só causam problemas... Eu vou seguindo pra
Cidade de Ecruteak. A gente se vê.
A garota deu as costas e foi andando pelo caminho que
dava à Rota 36, que seguia para a próxima cidade.
Ela se aproximava da saída de Goldenrod quando viu
Silver de relance. Os cabelos vermelhos não traziam qualquer dúvida. A
palpitação em seu peito voltou a incomodar, com um frio na barriga que ela
nunca havia sentido antes. Ela podia dar meia-volta e chamar a polícia, que
permanecia ainda a alguns bons metros de onde ela estava agora.
Por algum motivo estranho, Silver sabia que ela não
faria isso. Ele não conseguia desviar os olhos da garota e sentia sua
respiração ficar cada vez mais pesada. A sensação hipnótica e eletrizante que
ele sentia ao encará-la começou a aflorar ainda na torre, quando ele a viu
entrar pela porta. Ela era poderosa, utilizava seus Pokémon muito bem. Apesar
de aparentemente ser aliada de Amy, não era repulsa que ele sentia por ela. Na
verdade, ele não sabia o que sentia por aquela desconhecida.
E ela não sabia o que era aquilo que sentia por aquele
ladrão.
Silver não se moveu quando viu Lyra se aproximar.
Nenhum deles tinha controle sobre o próprio corpo. As pernas dele não se
moviam, paralisadas. As dela caminhavam sozinhas na direção do ruivo, sem
ordens dela, quase inconscientemente. Os olhos dos dois não piscavam, como se
tivessem medo de, ainda que por um milésimo de segundo, perder de vista o que
enxergavam.
O ruivo não conseguia dizer uma única palavra. Sua
garganta, seca, impedia que a boca emitisse qualquer tipo de som exceto pelo
balbuciar dos lábios do rapaz.
— Seu nome... É Silver, não é? — as palavras escaparam
da boca de Lyra sem que ela tenha pensado em dizê-las.
Silver deu alguns passos para trás, sem tirar os olhos
fixados na garota.
— Fique longe de mim. Por favor, fique longe de mim.
— Mas eu não... Eu não quero te fazer mal. Eu não vou
contar pra ninguém que você roubou o laboratório do meu tio, eu só... — ela
hesitou.
— Por favor, fique longe.
O garoto novamente conseguiu forças para virar o rosto
e quebrar a hipnose causada sobre ele por Lyra. Virando as costas, sumiu por
entre as árvores do bosque que dava início à Rota 36. Ela, ainda em transe, só
conseguiu ver Silver se afastar para cada vez mais distante até perdê-lo
completamente de vista, mais uma vez.
— O que é que eu estou fazendo...? — disse ela para si
mesma.
***
Março ainda estava em seus primeiros dias quando Lyra
entrou pela primeira vez em Ecruteak. Sua jornada Pokémon começou a perder a
graça, ela já não encontrava mais motivações para continuar treinando Pokémon. Nem
mesmo a recente evolução de seu Ekans, um pouco antes do previsto, a deixou
animada. Desde o último encontro com Silver há algumas semanas, ela havia
mudado. O ruivo não saia de seus pensamentos e, por mais que ela odiasse
admitir por sempre ter tido medo desse tipo de coisa, ela resolveu assumir que,
por algum estranho motivo, estava apaixonada por ele. O destino havia aprontado
e feito com que ela sofresse do mesmo mal que causava a outros garotos, como
Joey e mais recentemente, Forrest.
Perdida em pensamentos, nem reparou quando, ao
aproximar-se da entrada do Centro Pokémon, três conhecidos deram de cara com
ela.
— Lyra! O que faz aqui?! — Perguntou Ethan surpreso.
— Tentando ganhar minha quinta insígnia — respondeu a
garota indiferente.
— Caramba, incrível! Cinco insígnias?! — questionou o
rapaz impressionado.
— É. A última foi na Cidade de Olivine — Lyra
dirigiu-se até o balcão, ignorando aquele trio.
Forrest aproximou-se da garota com a intenção de
beijá-la. Lyra virou o rosto.
O moreno ficou sem graça e afastou-se.
As portas do hospital abriu-se novamente. Red
aproximava-se com Pikachu em um dos ombros chamando a atenção de todos. Amy fez
uma cara de quem não gostou da surpresa.
— Olá a todos. — Cumprimentou.
— Red? Você também está por aqui? — Questionou Ethan
surpreso.
— O que você quer, Red? Veio encher outra vez? —
Perguntou Amy de forma agressiva
— Boa tarde para a senhorita também. Nem vim encher.
Fiquei sabendo que a Equipe Rocket está aprontando em Ecruteak e vim
investigar. — Falou o garoto.
— Equipe Rocket? — Perguntou Lyra.
— Sim. Uma organização criminosa que rouba Pokémon para
vendê-los no mercado negro por um preço muito alto. — Explicou Red.
— É... Eu ouvi falar deles na minha viagem... Eles são
tão maus assim? — Perguntou Lyra.
— É a maior facção existente atualmente. Eles roubam
Pokémon e não hesitam em matar para conseguir seu objetivo. — Disse Red.
Lyra arrepiou-se.
“Será que foi
por isso que Silver pediu para que eu me afastasse dele? Mas não faz sentido...”,
pensava ela.
— Você disse que a Equipe Rocket está em Ecruteak? —
Perguntou Forrest interessado.
— Ah, sim. Eu tive uma impressão sobre isso e obtive a
informação posteriormente. Então, estou indo checar. Você não sabe de nada, não
é, Amy? — Perguntou Red sério.
— Não te interessa. O que eu fiz ou deixei de fazer
não interessa a ninguém. — Disse a garota, ríspida.
— Certo, certo, não vamos brigar. Vamos para Ecruteak.
Se a Equipe Rocket estiver mesmo lá, podemos ajudar você, Red. — Disse Forrest.
— Não tem problema eu ir com vocês, tem? — Perguntou
Lyra.
Red encarou Amy.
— Não. Na verdade, quanto mais pessoas forem, melhor.
***
Red guiou o grupo para a Torre do Sino onde a Equipe
Rocket ocupava o topo. A polícia já cercava o local e tentava fazer os curiosos
não se aproximarem da entrada da torre. Oficial Jenny, com um alto-falante,
tentava fazer com que a Equipe Rocket se rendesse.
— Vocês estão cercados! Não têm para onde ir! Se
retirem da torre agora, Equipe Rocket! — gritava ela.
Segundos depois, um Pokémon roxo com duas cabeças que
soltava fumaça tóxica por buracos em seu corpo começou a cair da Torre. Uma espécie de Pokémon Morcego, com uma
mandíbula enorme e uma língua gosmenta que pendia para o lado de fora de sua
boca voava na frente de Weezing soltando um raio quase imperceptível a olho nu
na multidão ao pé da Torre.
Jenny sentiu uma forte enxaqueca repentina. O Confusion Ray, misturado com o tóxico Smokescreen, a fez ficar tonta e,
segundos depois, desmaiar. A mesma coisa aconteceu com o público que fazia
prontidão.
Enquanto Weezing e Golbat atacavam a cidade, o grupo
liderado por Red chegava à torre. Ao olharem para cima, viram os agentes
Rockets monitorando tudo das janelas e correram para a entrada do local.
— Com aqueles dois atacando vai ser difícil invadir a
Torre... — analisou Red.
Amy olhou para o helicóptero pousado nas proximidades.
Ela sabia que apenas um membro Rocket usava helicópteros para se locomover. E
ele estava dentro da Torre.
A garota saiu correndo sacando uma PokéBola da bolsa.
— Amy, não vá! — gritou Ethan.
— Vai, Gyarados! Hyper
Beam! — disse a garota sacando a PokéBola.
Gyarados soltou um poderoso raio da boca atingindo
Golbat e Weezing nocauteando-os. O raio atingiu uma das paredes da torre,
demolindo-a e fazendo-a tremer.
Ethan e Lyra saíram correndo atrás da garota,
desviando dos capangas da Equipe Rocket e de pedaços da estrutura do prédio que
caíam sob suas cabeças. Alcançando as escadas que levavam aos andares
superiores, os dois corriam pulando degraus para alcançarem mais rápido cada
piso dos andares. Ethan só pensava em proteger Amy e Lyra se perguntou por um instante
se Silver estaria no topo da torre.
— Amy! — chamou a voz de Ethan.
O garoto, seguido de Lyra, alcançava o patamar de
escadas onde a conversa se desenrolava.
— Ethan! O que faz aqui? Por que me seguiu? — Amy
ficava cada vez mais irritada.
— Sinto muito, mas não acho que você seja capaz de
chutar o traseiro desses idiotas aí sozinha. Viemos auxiliar.
— Vocês não podem enfrentá-los! Saiam já daqui! — aquelas
palavras saíram em um berro só.
— Eu não vou embora sem você, Amy. Flaaffy, vai! — Ethan
jogou uma PokéBola.
— Vai, Elekid! — Lyra também arremessou uma PokéBola.
— Tch. Eu não tenho tempo para brincadeiras — disse
Amy voltando seus olhos para cima.
A garota retornou Gyarados e pulou para frente. Archer
e Ariana não conseguiram pegá-la.
— Vocês vão se arrepender por nos atrapalhar... Arbok!
— Ariana arremessou uma PokéBola, sendo seguida por Archer.
— Elekid!
— Flaaffy!
— ThunderShock!
— bradaram os dois simultaneamente.
Os dois Pokémon combinaram seus golpes e um poderoso
choque elétrico foi disparado na direção dos Rockets. Arbok e Houndoom
imediatamente jogaram-se na frente de seus mestres e receberam o ataque. Apesar
de saírem machucados, ambos os Pokémon encararam seus oponentes com um olhar
maligno.
— Vamos ensinar as crianças que não se deve nunca se
meter em assuntos de adulto. Beliel, Fire
Fang.
— Arbok, Crunch!
Os dois Pokémon dispararam com violência na direção
dos oponentes. Arbok abriu sua bocarra e envolveu o corpo de Flaaffy com uma
mordida poderosa. O Crunch fez a
Pokémon de Ethan soltar um grito de dor enquanto Beliel atingia Elekid com
outra mordida, dessa vez flamejante. Suas presas ardiam em fogo ardente e o
Pokémon de Lyra sentia não só sua pele ser quase estraçalhada pelos dentes
afiados do Houndoom, mas também ser queimada em brasa, o que com certeza traria
uma cicatriz eternamente gravada no Pokémon como uma tatuagem.
— Flaaffy, você está bem?! — exclamou Ethan ao
Pokémon, que, apesar de sentir o corpo dolorido, acenou positivamente a cabeça.
— Ótimo! Detone tudo com ThunderShock de
novo!
— Elekid, Low
Kick!
Elekid avançou diretamente contra Beliel, dando-lhe um
chute na barriga enquanto Flaaffy disparou seu poderoso golpe elétrico em
Arbok, que sentiu seu corpo paralisar. Ethan e Lyra vibraram, a garota
sentiu-se novamente feliz por aquele momento. Talvez ela estivesse recuperando
seu fogo por batalhas. Até se esquecera de Silver por alguns instantes.
Archer quebrou o clima alegre com uma risada maligna.
— Hahahaha, as crianças fizeram vinte pontos, Ariana!
Fantástico, fantástico! Infelizmente... — o executivo mudou o tom de voz para
um sussurro macabro. — ...chegou a hora das crianças dormirem. Beliel, Faint Attack.
— Arbok, Glare!
Os olhos de Arbok brilharam em um tom avermelhado. Ethan,
Lyra e seus Pokémon paralisaram de medo ao sentirem-se penetrados pelo olhar da
serpente, preparada para dar um bote certeiro e fatal. Houndoom correu para
frente e desapareceu num piscar de olhos. Surgiu como uma sombra nas costas dos
oponentes e, com suas garras, derrubou-os no chão, nocauteando Flaaffy e Elekid
imediatamente.
Uma explosão imensa do lado de fora do prédio,
fazendo-o tremer completamente. Lyra e Ethan já estavam semi-nocauteados no
chão, junto a Flaaffy e Elekid, que já estavam desmaiados. Ariana e Archer
venceram rapidamente a batalha e torturavam os garotos. A torre começou a
desmoronar e Ariana, com ajuda de Archer, corria para se salvar, deixando Ethan
e Lyra no chão, sem forças para se proteger dos escombros que caiam sobre eles.
As chamas do lado de fora eram fortes. Ardiam como
nunca. A Torre do Sino sofria do mesmo castigo de sua irmã, séculos atrás. O
helicóptero veio ao chão e capangas da Equipe Rocket tentavam apagar o fogo que
o consumia de forma voraz. Havia um risco muito grande de haver uma nova
explosão devido o tanque de combustível da aeronave estar cheio.
Ariana e Archer chegaram do lado de fora da Torre.
Membros da Equipe Rocket berravam e tinham uma expressão de pavor no rosto.
Ariana dirigiu-se à Petrel que estava metros de distância do helicóptero,
imóvel como uma estátua vendo os destroços do helicóptero.
— Ele estava lá... — Disse apenas.
Ariana começou a chorar. Olhou para cima e viu o
semblante de Amy olhando para o estrago que havia causado.
— RETIRADA! — Berrou Silver, com seus olhos inchados e
vermelhos.
Os membros da Equipe Rocket não queriam sair de perto
do helicóptero onde Giovanni jazia morto.
— EU MANDEI RETIRAREM-SE! AGORA! — O ruivo berrou de
novo.
Os Rocket entraram na van preta e os executivos no
helicóptero que estava na praça da cidade, partindo em seguida.
O helicóptero em chamas explodiu, fazendo a Torre do
Sino, aos poucos, vir ao chão. Giovanni, o grande líder da Equipe Rocket havia
sido assassinado. Amy estava vingada.
Ethan e Lyra, quase inconscientes, engasgavam-se com a
fumaça preta do incêndio da Torre. Amy permanecia no topo da mesma enquanto
Forrest encontrava-se perdido no meio da confusão, não estando ciente de que
seus amigos encontravam-se em perigo. Red havia desaparecido.
Eles caíram inconscientes e não perceberam quando foram resgatados.
***
Lyra acordou após alguns dias no quarto da UTI do
Centro Pokémon com Forrest ao lado de sua cama. E ainda que ela soubesse o
quanto o moreno gostava dela, e que naquele momento o fato de ele estar ali só
comprovava isso, a garota sabia que não era ele
quem ela queria que estivesse ali.
— Por favor, me deixe sozinha.
Forrest ergueu as sobrancelhas, surpreso.
— Mas eu...
— Por favor — repetiu Lyra com mais firmeza.
O garoto abaixou a cabeça e fechou os punhos.
Atendendo ao pedido da garota, retirou-se do quarto.
***
Após alguns dias, Forrest e Lyra aguardavam do lado de
fora do quarto onde estava Ethan no Centro Pokémon. O garoto estava internado
há três semanas devido aos acontecimentos ocorridos na Torre do Sino. O
silêncio entre os dois era constrangedor. Lyra, concentrada em seu PokéGear,
não puxava assunto e Forrest estava tão sem graça que havia perdido a habilidade
de falar.
Vez em quando, o moreno olhava a garota com um olhar
de súplica, tentando fazer com que Lyra dissesse o que estava acontecendo.
Afinal, ela estava tratando-o diferente do que costumava.
Foi quando ela levantou-se abruptamente e dirigiu a
palavra à Forrest pela primeira vez.
— Chegou a nossa vez de entrar no quarto — disse sem
fazer contato visual. Forrest a seguiu.
A porta fora aberta. Os dois entraram no quarto e
viram Ethan e Amy sozinhos e o garoto fazendo uma careta estranha. Forrest
ficou com uma expressão de dúvida.
— Atrapalho alguma coisa? — Perguntou.
— Não. Estava vendo se o Ethan estava bem. E está
muito bem. Até melhor do que era. — Sorriu Amy.
Lyra olhou para o garoto.
— Não morra, Ethan. Você será meu oponente na Liga
Pokémon, até lá, mantenha-se vivo.
Lyra saiu do quarto tão rápido quanto entrou. Forrest
ficou encarando a porta por onde ela saiu com a esperança de vê-la voltar.
Ela se retirou do Centro Pokémon e caminhou para a
saída de Ecruteak.
— Liga Pokémon... — suspirou Lyra, perdida em
pensamentos, enquanto olhava no horizonte o que restava da Torre do Sino.
Um barulho próximo chamou a atenção da garota. Um gemido
baixinho em um soluço abafado que Lyra não sabia de onde vinha, mas tinha a
certeza de ser um choro. De um Pokémon, talvez? Ela deu de ombros e continuou
sua caminhada em direção à saída da cidade.
Mas os soluços abafados continuavam a incomodá-la.
— Ok, pode ser algo importante... Ainda que eu não
tenha nada a ver com isso.
Deixando-se guiar pelo som, Lyra entrou no bosque que
contornava toda a Rota 38 e os arredores de Ecruteak, terminando em um lindo
jardim que se encerrava atrás das torres gêmeas da cidade. A garota soltou uma
exclamação audível ao ver Silver sentado no chão, encostado em um dos troncos das
centenas de árvores espalhadas abraçado às duas pernas, com a cabeça apoiada
nos joelhos, chorando copiosamente.
Lyra perdeu o ar como se tivesse levado um soco no
estômago. Ela não fez questão nenhuma de ocultar sua presença, e nem poderia,
visto que arrastava os pés no chão. Ela só queria chegar perto dele.
Silver olhou para trás e a viu se aproximando. Ele
ergueu as sobrancelhas em total espanto e fez menção de se levantar, mas Lyra
correu para abraçá-lo.
— Por favor, não vá embora de novo...
— Eu não sei o que fazer... Eu não consigo sair daqui.
Meu pai morreu e eu não pude nem me despedir dele... — Silver continuava a
colocar sua frustração para fora em forma de lágrimas e soluços.
Lyra o abraçou carinhosamente, abrigando-o em seus
braços e envolvendo-o em ternura.
— Eu prometo que nunca mais vou deixar nada de ruim
acontecer com você.
A tarde continuou a passar. Silver continuou a se
permitir ser envolvido pelo abraço de Lyra assim como ela se permitiu ser
abrigo de cada soluço que rasgava o peito do ruivo.
A dor de um coração só pode ser curada por um amor bem
maior que ela.