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Capítulo 52
— Que dor de cabeça...
Joey, meio zonzo, sentia tudo ao redor girar.
Não por menos: havia acabado de acordar de um sonho esquisito, onde caía em um
poço sem fundo e a aflição que sentia competia com a vontade de morrer.
Morrer, pelo menos no sonho, o faria se livrar
de vez daquele pesadelo.
A consciência aos poucos fora retornando para
sua mente. Pôde sentir o frio do chão cinzento e o ensurdecedor silêncio ao
redor.
Abriu os olhos e viu o escuro dar-lhe as
boas-vindas. Não eram tão acolhedoras quanto ele esperava, mas, pelo menos,
tinha o gosto de vida real que ele procurava sentir.
A cabeça dava umas fisgadas e o fazia prestar
atenção, como se pedisse para que o resto do corpo ligasse sinais de alerta a
fim de pressentir o perigo.
O garoto se sentou no chão e encostou-se na
parede fria. Seus olhos adaptavam-se aos poucos à escuridão do ambiente e seus
ouvidos procuraram quaisquer ruídos que não fossem sua própria respiração
ofegante.
Cof. Cof.
Cof.
Três tossidas e Joey lamentou profundamente
após sua cabeça ter latejado tão forte que seria melhor que ela explodisse.
— Joey? Joey querido, é você? — uma voz cochichou em uma súplica urgente.
Mesmo no escuro, o garoto arregalou os olhos.
Aquela voz conhecida fez Joey ficar de pé em um pulo.
— Gabi? Meu Arceus, Gabi? Eu tô tão feliz de
ouvir a sua voz, gatinha, você não tem nem noção!
A euforia de Joey o fez correr para a frente e
meter a cara nas grades da cela. Mas o garoto não ligou, ouvir a voz da
companheira era tudo o que ele queria.
— Estou aliviada também! Fale baixo, estamos
sendo vigiados, tenho medo do que eles podem fazer conosco se descobrirem que
estamos conscientes.
— Vigiados? Putz, eu não acredito que estamos
ainda naquele rolê da Equipe Rocket... — comentou Joey, enquanto agachava e se
deixava abater pela decepção. — Eu esperava estar sonhando... Eu preferia estar
sonhando. Saber agora que o Ethan se aliou a esses caras me deixa muito bravo!
Gabrielle suspirou.
— Eu também acho... Eu non consigo entender o motivo... Ethan não parece ser do tipo de
pessoa que farria isso...
— Eu vou te dizer, Gabi. Depois da Lyra e do
Ethan, eu vou é parar de confiar nas pessoas... Só tem gente cretina nesse
mundo!
O silêncio prevaleceu por alguns instantes até
a tímida voz de Gabrielle voltar a ecoar na sala.
— Você me acha crretina?
O escuro não permitia ver, mas o rosto de Joey
queimou de vergonha.
— N-não! Você é minha parceira! Jamais
pensaria isso de você. Na verdade, só eu, você e o Rattata somos os únicos
seres inteligentes que merecem viver no mundo, o resto é tudo lixo!
Joey aliviou-se ao ouvir a risada doce de
Gabrielle.
— Fico feliz...
O garoto suspirou e sentou-se ao chão.
Respirou fundo e suspirou com pesar.
— Precisamos dar um jeito de sair dessa
espelunca...
Três fortes batidas na porta de metal fizeram
Joey e Gabrielle tomarem um susto. Do outro lado, a voz grave de um homem dava
ordens.
— Calem a boca, seus moleques! Não me façam
entrar aí!
Os corações batiam tão alto que era possível
ouvir alto e claro. Os dois garotos ofegavam de nervoso.
***
Do outro lado do complexo, Proton depositou
outro prato de comida no chão próximo à Amy e se retirou, fechando a cela
enquanto a encarava com curiosidade. A garota mais uma vez não demonstrava
nenhum interesse em tocar na comida, visto que outros três pratos de refeição
jaziam intocados, já começando a estragar.
Ela se encontrava sentada no chão da cela, abraçando
as pernas. Vestia
um uniforme penitenciário negro, da cor da organização, e encarava o teto
testando sua paciência, como fazia desde que havia chegado ali.
— Você é dura na queda... Vamos ver até quando
você vai aguentar — comentou Proton.
Amy não fez nenhum tipo de contato visual com
o homem.
— Eu não sei por que se preocupa. Se você
fosse fazer alguma coisa comigo, não precisaria que eu ficasse enfraquecida de
fome. Você me viu pelada e virou o rosto. Quem não te conhece, pensa até que
você é decente.
Proton deu uma risadinha.
— Eu te conheço desde pirralha. Não parece,
mas tenho meus caprichos. Não seria nem um pouco cavalheiro da minha parte.
Amy suspirou, ainda encarando o teto.
— Acabou pra nós, Proton. Se bem que eu não
esperava ficar tanto tempo sem ser capturada. Foi um recorde pessoal.
— “Pra nós”? Você é
quem vai ser provavelmente torturada, assassinada e esquartejada. Esse prêmio é
todo seu, eu não tenho nada a ver com isso.
—
Ah, não? Eu estou presa numa cela num baita esconderijo tecnológico a prova de
fuga e você é meu segurança particular, como era quando eu era criança. Você
está preso comigo, também é um prisioneiro. Acho que vai ficar com peso na
consciência pelo resto da vida.
O
Rocket riu.
—
Você acha que me conhece, não é? Que sabe alguma coisa sobre mim e que pode me
tocar com sua sensibilidade de quinta categoria. Mas, você tem razão quando diz
que “acabou pra nós”. Eu tenho muitos planos na vida, e um deles com certeza
não é correr atrás de você. Pelo menos com a sua morte eu vou poder viver em
paz.
Amy
desviou o olhar do teto pela primeira vez e repousou-o em Proton. Ele segurava
com uma das mãos uma das barras da cela enquanto a outra estava dentro do bolso
de sua calça preta. Ele encarava a garota com curiosidade, talvez pelo fato de
estar esperando que ela tirasse algum tipo de truque para escapar, mesmo tendo
a certeza de que ela estava desarmada.
— Eu não sabia que causava em você tamanha
repulsa... — comentou ela.
Proton ergueu o cenho, surpreso com aquela
afirmação.
— Seja qual for o sentimento, acredito que
“repulsa” ainda assim é algo muito pesado. Eu até acabo tendo certa simpatia
por você. Você matou o Giovanni, menina. Eu não queria estar na sua pele agora.
A garota continuou a sustentar o olhar por
mais alguns segundos, refletindo sobre as palavras sinceras que Proton havia
dito. Pensando melhor, ela não o conhecia direito. Aqueles breves instantes de
conversa foram o suficiente para abrir os olhos dela a respeito de muitas
coisas.
— Mantenha seus amigos próximos e seus
inimigos mais próximos ainda... Esse ditado começa a fazer bastante sentido — comentou
ela.
Proton virou-se e dirigiu-se em direção à
porta.
— Quando a próxima refeição estiver pronta,
farei questão de lhe trazer, pirralha. Vê se não passa fome.
O Rocket passou pela porta de aço e deu um
último olhar para Amy, que continuava a encarar o teto. Olhou para o relógio em
seu pulso, eram duas e vinte e sete da manhã. Num suspiro, fechou-a, trancando
a garota.
***
No laboratório da Equipe Rocket, havia uma
intensa concentração de cientistas e capangas ao redor da PokéBola GS, que fora
colocada dentro de uma grande cúpula onde lasers tentavam cortar o botão
central da cápsula para que ela abrisse. Diversas tentativas foram realizadas
para liberar o Pokémon que havia dentro da PokéBola, todas elas fracassadas.
Silver permanecia impaciente, de braços cruzados assistindo cada nova ideia de
abrir o objeto sem machucar o que estava dentro.
— Se algo acontecer com o Celebi, eu vou matar
vocês — alertou o ruivo sem perder sua seriedade, o que tornava a ameaça ainda
mais macabra.
Forrest, Red e Bruno permaneciam atentos à
tentativa de abertura da PokéBola GS. Pareciam tão ansiosos quanto Silver,
afinal, não é todo dia que se vê um Pokémon Lendário. Ninguém ousava emitir um
único barulho, nem mesmo em pensamento. A concentração ao redor do objeto
lembrava um culto religioso, tamanha a devoção de todos pelo objeto.
Lyra, no entanto, estava entediada. Olhou para
o relógio em uma das paredes que marcava quinze para as três da madrugada. Não
tinha a atenção do namorado e não gostava nem um pouco de ser trocada por uma
PokéBolazinha qualquer. Sentada em uma cadeira próxima, com a perna direita
cruzada sobre a esquerda, apoiava seu braço na coxa enquanto a cabeça jazia
apoiada na mão direita. O tédio fazia a garota dar uns bocejos curtos enquanto
balançava seu pé continuamente. Ariana, em pé ao seu lado, deu uma olhada para
a garota de canto de olho e não escondeu satisfação.
— Tch. Se você está tão entediada assim,
deveria procurar outra coisa pra fazer. Não estamos brincando aqui.
Lyra encarou a ruiva, mas nada disse.
Levantou-se em silêncio e dirigiu-se para a saída do laboratório, em direção às
demais áreas do complexo. Conforme avançava, passava pelos recrutas Rocket que
faziam a segurança do local, tendo a certeza de para onde queria ir.
Ao chegar à parte do complexo onde ficavam as
prisões, notou estar sendo seguida.
— Não sei por que me surpreendi. Deveria
imaginar que na primeira oportunidade que tivesse, você viria atrás de mim — a
garota deu uma risadinha. — O mundo dá voltas mesmo, não acha, Forrest?
O moreno deu um passo para trás, como um gato
pego no flagra pela presa. Forrest começou a suar frio e sentiu seu coração
palpitar cada vez mais.
— Lyra, eu...
— Eu estava esperando por você. Ou melhor, eu
imaginaria que você daria um jeito de se encontrar comigo. Sabe que eu até
fiquei surpresa? Não, sério, dessa vez eu digo: você me surpreendeu.
Forrest permaneceu em silêncio por alguns
instantes, mas Lyra realmente surpreendeu-se quando o viu rir.
— Hahaha, pois é, fomos surpreendidos
novamente. Eu jamais imaginei que da próxima vez que te visse, você seria
aliada de uma organização criminosa. Acho engraçado como a vida é irônica.
Lyra retribuiu o sorriso sádico.
— Eu achei que você fosse continuar sendo
aquele moleque mole que eu conheci há alguns meses. Mas deu pra ver que você se
tornou um cara interessante...
— Você sempre gostou de caras dominantes. Que
bom que me tornei um.
Os dois se olharam. Um sorriso de prazer
sincronizado apareceu em seus rostos e suas respirações ficaram ofegantes.
— Onde você estava indo? — perguntou ele.
— Fui procurar alguma diversão. Mas acho que
encontrei — ela respondeu, aproximando-se de Forrest como uma serpente prestes
a dar o bote.
O moreno olhou para cima e viu uma câmera de
vigilância apontando para os dois. Ele deu uma risadinha e aproximou-se de
Lyra, colocando a mecha de seu cabelo atrás de sua orelha. Lyra mordeu o lábio.
Nenhum dos dois tomava atitudes drásticas. Se observavam detalhadamente, quase
se devorando com os olhos.
— Vem comigo — pediu Forrest, surpreendendo
Lyra.
— P-pra onde?
O moreno deu um selinho nos lábios da garota.
— Você confia em mim?
— Confio.
Sem dizer mais nenhuma palavra, Forrest
segurou na mão de Lyra e a levou na direção contrária do laboratório, para onde
ficavam as celas. Os dois ofegavam, mas o garoto parecia com pressa de chegar
até lá.
— O que nós vamos fazer aqui? — perguntou Lyra.
— Você disse que confiava em mim. Acho que nós
temos satisfações pra tirar com alguém que está lá dentro.
— Quem?
— Joey.
Lyra olhou para o moreno sem entender.
— Que tipo de satisfações eu teria para tirar
com ele?
— Ué, não foi ele que disse que você era uma
fracassada?
A garota arregalou os olhos. Fechou os punhos
com força e começou a tremer. Seu corpo ficou rígido e sua respiração ficou
ofegante. Forrest ficou surpreso com a reação de Lyra.
— Eu achei que você soubesse...
— Q-que história é essa? — o ódio na voz da
menina era ainda mais evidente pela gagueira. — O-o que ele disse?
— Após o Torneio de Caça aos Insetos... Ele
ficou dizendo por aí que você era uma fracassada. Quando vocês terminaram, ele
deve ter ficado com ódio... Como você não venceu a competição, começaram a
acreditar no discurso dele.
Lyra abaixou a cabeça e pareceu lutar para não
chorar.
— E-eu não sou uma fracassada...
— Eu sei disso, meu amor. E justamente por
isso que estamos aqui. Eu acho que você deve mostrar pra ele quem é você de
verdade. Mostre quem é a Lyra por quem eu me apaixonei.
Forrest aproximou-se de Lyra e, com seu dedo
indicador, levantou o rosto da garota e a fez encarar seus olhos puxados.
— Eu acredito em você.
A garota virou para a grande porta de metal do
complexo e sacou seu cartão-passe do bolso da calça do uniforme negro. Ao
passá-lo pelo controle de acesso, a porta em sua frente se abriu, revelando uma
segunda porta com um agente Rocket de prontidão, que acabou se surpreendendo
com a inesperada visita.
— Abra a porta — disse Lyra com firmeza.
O Rocket ficou surpreso.
— Mas senhora, eu tenho ordens para não abrir.
— EU MANDEI ABRIR ESSA PORTA.
Lyra chutou as partes íntimas do homem que
caiu no chão segurando a área atingida com suas duas mãos. Lyra agachou e pegou
de seu bolso o cartão de acesso do agente, passando pelo controle de acesso
digital e abrindo a porta de metal que dava para as celas onde os prisioneiros
eram trancafiados. Forrest retirou do cinto do agente as chaves das celas do
interior da sala.
As luzes se acenderam. Joey e Gabrielle
levaram as mãos aos olhos para amenizar a repentina claridade às suas irises,
acostumadas com o breu total. Estalos de PokéBolas liberando Pokémon foram
ouvidos seguido de um berro agudo ordenando um golpe.
— VICEGRIP!
O portão de aço que guardava Joey dentro da
cela fora destruído, cortado como se fosse papel. O garoto tomou um susto
tamanho que brigou com seus olhos para tentar ver o que estava acontecendo
enquanto Gabrielle gritava de medo.
— Lyra?! — exclamou o garoto.
— SEU MERDA! EU VOU MOSTRAR PRA VOCÊ QUEM É A
FRACASSADA!
Lyra correu na direção de Joey e deu um chute
na boca de seu estômago, deixando-o sem ar. O golpe repentino fez a visão de
Joey escurecer e o ar desaparecer de seus pulmões.
— QUE HISTÓRIA É ESSA DE DIZER QUE EU SOU
FRACASSADA? EU VOU MATAR VOCÊ! PINSIR, TIRE A CABEÇA DELE DO PESCOÇO, USE O
VICEGRIP! — berrou a garota para seu Pokémon.
Pinsir abriu suas pinças afiadas e
impulsionou-se para frente na direção de Joey, caído ao chão tentando
recuperar-se do golpe recebido.
O Pokémon de Lyra, no entanto, foi arremessado
para a parede oposta por algo tão rápido quanto um míssil.
A garota olhou com ódio para o local onde seu
Pokémon jazia caído e viu um Heracross se levantando após utilizar seu Aerial Ace.
Ao olhar para trás, viu Forrest aproximando-se
dela e Gabrielle acuada, olhando com cautela para fora da cela, agora aberta.
— O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?! — berrou
Lyra.
— Meu bem, eu acredito em você. Por isso mesmo
eu acho que você está sendo idiota em se juntar à Equipe Rocket, não desperdice
o seu talento — disse Forrest.
Lyra virou-se bruscamente e avançou na direção
do moreno, dando-lhe um soco no rosto. O garoto cambaleou para trás, colocou a
mão no rosto e sorriu.
— Ok, eu mereci essa.
— Você merece que eu te mate primeiro.
As mãos de Lyra agarraram o pescoço de Forrest
e o apertaram. O garoto sentia sua garganta ser cada vez mais comprimida
enquanto seus pulmões lutavam com uma pressão inútil contra a ausência de ar. O
moreno pôs a mão no cinto para pegar uma PokéBola, mas a garota deu uma
joelhada na barriga do rapaz, que deixou a cápsula cair ao chão, rolando até
próximo de Joey, que se recuperava do golpe recebido.
Ao perceber a PokéBola próxima, Joey olhou
para o objeto e viu Forrest tentando se livrar da agressora agarrando seus
pulsos e tentando se desvencilhar de alguma maneira. O garoto percebeu que
conhecia aquela PokéBola.
— Mas... Como?
Forrest soltava grunhidos altos. Seu rosto
estava mais escuro do que o normal e sua visão escurecia. Lyra continuava a
apertar seu pescoço e sua pele rasgava dolorosamente, ardendo conforme as unhas
da garota fatalmente pressionavam, além da traquéia, as veias que passavam por ali.
O agente da Equipe Rocket que fazia guarda do
lado de fora da sala recuperou-se e invadiu o local segurando uma PokéBola em
mãos.
— Eu não sei o que está acontecendo aqui, mas
isso acaba agora! Drowzee!
O Pokémon psíquico surgiu e olhou assustadoramente
para as pessoas ao redor.
Joey arremessou a PokéBola e seu Venomoth
rapidamente surgiu em sua frente.
— Silver
Wind! — ordenou o garoto.
Venomoth bateu suas asas e um poderoso ciclone
prateado surgiu e partiu com velocidade para cima de Lyra, Forrest, Drowzee e o
agente Rocket, separando-os para cantos diferentes da sala. A garganta de
Forrest ardia e o moreno tossia cada vez que o oxigênio chegava aos seus
pulmões, enquanto o agente Rocket jazia nocauteado após bater a cabeça
violentamente contra a parede.
Uma forte explosão fora ouvida vinda de algum
lugar do lado de fora. Um alarme soava incessantemente. Lyra levantou-se em um
salto e procurou recolher seu Pokémon.
— Wrap!
— berrou Forrest.
O corpo de Lyra foi envolvido com tentáculos amarelos,
imobilizando a garota de fazer qualquer tipo de movimento. O moreno levantou-se
e, ainda segurando o próprio pescoço, correu para a cela de Gabrielle onde
entregou-lhe algumas PokéBolas.
— Você vai precisar — avisou o garoto entre
tossidos.
Joey saiu correndo de sua cela e foi em
direção à de Gabrielle.
— NÃO TOQUE NELA! — berrou ele para Forrest.
O moreno olhou para o garoto e estendeu a mão,
mostrando outras cinco PokéBolas.
— Nós estamos lutando por um bem comum. Use
tudo o que puder.
Diversos agentes da Equipe Rocket corriam nos
corredores na direção do laboratório. Forrest recolheu seu Shuckle, que continuava
a impedir Lyra de se mexer, e saiu correndo pela porta.
— Ariados, use Spider Web, ma chérie! — ordenou Gabrielle enquanto arremessava uma
PokéBola para o alto.
Lyra até tentou pegar uma PokéBola, mas as
poderosas teias de aranha de Ariados prenderam seus membros junto ao corpo e a
impediram de levantar-se do chão.
— Eu vou matar
vocês! — gritou Lyra do chão, enfurecida, enfatizando cada palavra.
Joey segurou na mão de Gabrielle e, junto com
Venomoth e Ariados, se retiraram da sala de prisão, dirigindo-se para o lado do
laboratório Rocket.
TO BE CONTINUED...
Terceiro Ato
Já passava
das dezenove horas quando a Equipe de Resgate dos Corações de Ouro decidiu partir
para o Pólo Norte. Detetive Wobbuffet sabia que todas as pistas e provas
encontradas sempre levavam para Papai Noel — e já que ele vivia no Pólo Norte,
decidiu-se assim partir para lá à procura de alguma prova concreta e definitiva
a respeito do sumiço de Nicolau e o congelamento de Jynx.
Johto, no
entanto, ficava a milhares de quilômetros do lugar. Existia o caminho pelo mar,
onde eles poderiam contar com algum tipo de Pokémon aquático para guiá-los, mas
Psyduck prontamente se recusou a nadar e levar seus companheiros.
— Você tinha
UM SIMPLES trabalho, Psyduck — reclamou Magby com sua característica irritação
de sempre.
— Eu não sei
do que você tá reclamando aí, não. Achei que você seria o primeiro a reclamar
de ter que cruzar um oceano inteiro pra chegar numa ilha congelada — retrucou o
pato.
— Jamais! Eu
sou um detetive agora, eu não tenho o que temer! E outra coisa também, eu nunca
disse que iria com vocês. Eu posso muito bem ajudar o pessoal na delegacia, meu
parceiro — disse Magby com o nariz empinado.
— Eles não
aceitariam você lá — cortou Bulbasaur.
— E como é
que você sabe disso, gênio? — perguntou Magby em tom provocador.
— É que pra
entrar pra policia você precisaria ser, pelo menos, competente — respondeu
Bulbasaur, tirando Magby do sério.
— Ora seu...
— Ao invés de
vocês brigarem, por que é que não ajudam a pensar em como é que a gente vai
chegar até o Pólo Norte? — perguntou Pichu, começando a perder a paciência.
Em frente à
delegacia, a Equipe de Resgate dos Corações de Ouro discutiam, em uma roda, as
melhores alternativas para se chegar até a fábrica de Papai Noel.
— Ninguém
conhece um Lapras que pode levar a gente até lá? — perguntou Bulbasaur.
— Eu conheço
— respondeu Psyduck.
Pichu, Magby
e Bulbasaur o olharam surpresos. Magby, sorrindo, empolgou-se.
— Sério?
— Sim, mas
ele morreu — respondeu Psyduck.
Magby baixou
a cabeça e massageou a têmpora.
— Eu não sei por
que ainda pergunto...
— Bem, a
pergunta ainda está em aberto: Como iremos chegar até o Pólo Norte? — perguntou
Pichu.
— Eu
não acho que vai ser possível chegar lá antes da meia-noite... — opinou
Bulbasaur, pensativo.
— Se
isso não acontecer, não existirá o Natal! — exclamou o líder.
— E
o que você sugere? Que a gente magicamente se teletransporte até o Pólo Norte?
— perguntou Magby de forma irônica.
Wobbuffet
que fumava seu charuto parou abruptamente como se tivesse levado um soco. Franzindo
a testa, olhou para Magby que, assustado, deu alguns passos para trás.
— P-Por
que está me olhando assim, senhor Wobbuffet?
— gaguejou.
— Eu
acho que você me deu uma excelente ideia, rapaz.
Wobbuffet
retornou a delegacia deixando a Equipe de Resgate dos Corações de Ouro sem
entender nada.
***
— Eu
não acredito que essa ideia de jerico realmente está sendo levada a sério.
Alguns
minutos dentro da delegacia, Detetive Wobbuffet conseguiu o contato de um amigo
de muito tempo, Xatu, o Vidente. Tinha poderes místicos, podendo prever o
futuro e até ver espíritos. Estava ali para usar um dos seus poderes mais
incríveis: O de se teletransportar para lugares que nunca esteve antes. Magby,
incrédulo, continuava inconformado.
—
Situações extremas exigem medidas extremas — comentou Wobbuffet.
Um
forte e alto estalo chamou a atenção de todos os Pokémon do lado de fora da
delegacia. Xatu surgira de repente, materializando-se no local. Era um Pokémon
verde que se assemelhava a um pássaro condor, com longas asas brancas com pontas
vermelhas e pretas que cobriam a maior parte da frente do seu corpo. Debaixo
destas asas, inclusive, havia desenhos que lembravam dois olhos vermelhos,
estáticos, que passavam a impressão de estarem enxergando a alma de quem os
encarava. Seus olhos eram amendoados e seu bico era longo e levemente
enganchado na ponta. De trás de sua cabeça, havia duas cristas longas e vermelhas
que davam um toque hippie ao Pokémon,
que mantinha sua expressão calma e serena ao aproximar-se em passos curtos até
o grupo de Pokémon.
— De
onde ele veio?! Ele surgiu do nada! — exclamou Psyduck, surpreso.
—
Acho que é isso o que chamam de teletransporte... — comentou Bulbasaur,
maravilhado.
Wobbuffet
se dirigiu até o Pokémon.
—
Meu grande amigo Xatu, que prazer revê-lo!
—
Tive uma visão de que você precisaria de mim. Logo, aqui estou — a voz de Xatu
era calma e serena, tal qual a sua própria personalidade.
Bulbasaur
aproximou-se de Magby.
—
Sei não... Essas coisas de vidente aí... Eu não acredito muito não.
— Eu
acho que é charlatanismo — concordou o colega.
Psyduck
e Pichu, no entanto, pareciam admirar a figura mística.
O
vidente Xatu repousou seu olhar em Pichu.
—
Pichu, muito bom saber que você está são e salvo!
—
Ué, mas eu tô bem... Você me conhece de onde?
—
Opa, falei muito cedo... Nada, esqueça o que eu falei.
Wobbuffet
ergueu o cenho.
—
Previsão...? — se perguntou o detetive, baixinho.
O
vidente aproximou-se de Wobbuffet.
— Em
que posso ajudá-lo, meu amigo?
—
Xatu, preciso que você me leve até o Pólo Norte, conhece?O lar do Papai Noel.
— Pólo
Norte? Hmm... Difícil. Sei que fica em uma ilha tropical no meio do oceano...
—
Ilha tropical? Acho que você se engana, senhor vidente. A ilha do Papai Noel é
gélida e neva todo dia — contestou Bulbasaur.
Xatu
olhou para o Pokémon de forma serena.
—
Como sabe disso? Você já esteve lá?
—
Claro que não! Mas isso é bastante óbvio, visto que os assistentes dele são
Pokémon do tipo Gelo, como Delibird e Jynx.
Wobbuffet
aproximou-se e apoiou a pata no bulbo do Pokémon.
— Às
vezes, a realidade se distorce perante os nossos olhos — e deu outra tragada em
seu cachimbo.
—
Bem, é possível levá-los até lá. Mas vai ser difícil — alertou o vidente.
—
Faça o que for possível — disse Wobbuffet com firmeza.
Xatu
assentiu com a cabeça e caminhou alguns passos curtos para frente. Concentrou-se
tentando visualizar o local desejado e uma aura contornou seu corpo.
Magby
olhou para Bulbasaur com a expressão incrédula ainda estampada em seu rosto.
—
Como é que ele vai se teletransportar pra um lugar que nunca esteve antes?
Um
solavanco no estômago fez a Equipe de Resgate dar um grito. O chão desapareceu
por alguns instantes e tudo ao redor começou a girar.
Aqueles
curtos segundos foram o bastante para fazer Psyduck vomitar assim que sentiu
terra firme sobre suas patas.
— Urgh...
— Magby encarou o companheiro com uma expressão de nojo. — Nem morto eu chego
perto de você... Literalmente.
—
Você está bem? — perguntou Pichu, aproximando-se do companheiro.
—
Estou bem... Foi só a minha enxaqueca que deu uma piorada...
—
Cuidado para não soltar seus poderes psíquicos e explodir a cabeça de todo
mundo! — exclamou Bulbasaur.
A
grama verde e o cheiro litorâneo chamaram a atenção do Detetive Wobbuffet. O
sol ainda se despedia do céu, apesar de já ser noite quando o grupo deixou
Johto. A Equipe de Resgate dos Corações de Ouro olhava aos arredores sem
entender nada, afinal, como podia existir Natal sem neve? Tudo o que viam eram
revoadas de Pidgey que cruzavam o céu alaranjado em direção ao oeste, um suave
vento que tocava as plantas das árvores espalhadas por toda a extensão daquela
ilha.
—
Mas esse é o PÓLO Norte! Deveria ter neve por toda parte, os pólos da Terra são
massas de gelo! — protestou Bulbasaur, indignado.
— Na
verdade, esse é o PÓLO INDUSTRIAL Norte, onde o Papai Noel construiu sua
fábrica de produção de presentes — explicou Wobbuffet.
—
Então existe o Pólo Industrial Sul? — questionou Magby, interessado.
—
Sim. É onde o Coelho da Páscoa fabrica os ovos de chocolate.
— A
Ilha da Páscoa também é uma mentira?! — Bulbasaur arregalou os olhos em choque.
—
Jamais saberemos. Ela é envolta por ondas eletromagnéticas tão poderosas devido
aos Probopass que vivem lá que repelem qualquer poder psíquico de teletransporte
— comentou Xatu.
Wobbuffet
tinha razão. Diversas Jynx trabalhavam de um lado para o outro empurrando
caixas e carregando embalagens de presentes enquanto diversos Stantler
galopavam de um lado para o outro. O ambiente esquisito chamou a atenção de
Wobbuffet, que acendeu um charuto novo e respirou fundo.
—
Quando a gente acha que não tem como ficar mais esquisito...
O
detetive caminhou pela grama até o grupo de Jynx, mas uma voz o impediu de
prosseguir.
—
Senhor, por favor, não se aproxime mais. Esta é uma área restrita.
A
voz calma e serena acabou surpreendendo Wobbuffet, que olhou para o lado e viu
um Pokémon aproximar-se dele com os braços para trás. Os passos lentos e a
expressão serena no rosto harmonizavam com a grande concha que trazia presa na
cabeça, como uma coroa onde, após uma boa analisada, o detetive notou que era
um Shellder estranhamente maior do que aqueles que costumava ver. Era um
Pokémon rosa de focinho amarelo pálido e barriga escamada. Ao redor de seu
pescoço, uma gola gorgeira espinhosa com listras vermelhas e brancas alternadas
que dava todo um ar pomposo à figura. O Shellder em sua cabeça tinha uma forma
espiral com dois chifres perto da base e uma gema vermelha brilhante no centro
de seu corpo.
—
Muito prazer em conhecê-lo. Eu sou Wobbuffet, detetive particular. Trabalho
para a polícia Pokémon.
—
Polícia? Hum... Isso não é bom... Ou melhor, é bom. Céus, que confusão... — disse
o outro Pokémon, levando as mãos à cabeça. — Eu sou o Slowking, rei do Pólo
Norte. Coisas estranhas têm acontecido aqui.
—
Estou aqui para investigar justamente essas coisas estranhas... Estes são meus
assistentes, a Equipe de Resgate dos Corações de Ouro. Podemos conversar em
algum lugar?
—
Claro. Por favor, acompanhe-me.
Xatu
aproximou-se de Wobbuffet.
—
Preciso ir. Meu trabalho por aqui terminou.
—
Obrigado, meu amigo. Nos falamos em breve.
O
vidente acenou em positivo com a cabeça e levou a ponta da asa até sua testa.
Em um piscar de olhos, desapareceu.
Detetive
Wobbuffet, acompanhado da Equipe de Resgate dos Corações de Ouro, começou a
seguir Slowking, caminhando solene pela ilha tropical. Um dos Stantler, no
entanto, encarou de forma desconfiada aquele grupo de Pokémon recém-chegados
até a ilha.
***
Slowking
vivia numa caverna de frente ao mar. Apesar de todo o luxo que sua vida de rei
poderia trazer, ele abdicou tudo em busca do que ele chamava de “Conhecimento”,
com “C” maiúsculo, após o encontro com um Pokémon alienígena chamado “Beheeyem”.
O estranho encontro no meio da noite se deu quando o rei da ilha caminhava
perdido em pensamentos pelas areias da praia que banhava a ilha. Uma forte luz
pairou sobre ele e Beheeyem surgiu perante ele.
— Leve
a minha mensagem para a Terra, rei Pokémon. Busquem Conhecimento. Com C
maiúsculo.
Bulbasaur
encarava incrédulo o Pokémon.
—
Cada vez que eu me dou conta, essa história fica cada vez mais bizarra...
—
Nem me fala... Eu estava feliz só em ter de lidar com o Psyduck... — concordou
Magby.
Wobbuffet
tragava lentamente seu charuto.
—
Então quer dizer que você abdicou de toda sua riqueza para poder viver como um
ermitão aqui?
—
Isso mesmo. Eu percebi que não adiantava ter dinheiro se isso não me trouxesse
Conhecimento. E como rei desta ilha, eu preciso ter Conhecimento.
Pichu
e Psyduck encararam Slowking encantados.
—
Como rei da ilha, você deve ter percebido que Papai Noel desapareceu, não é? —
perguntou Wobbuffet tentando retomar o foco da conversa para a investigação.
—
Oh, sim, é verdade... Eu ouvi que ele desapareceu logo depois de sua Jynx
assistente sumir também. Oh, céus... O mais triste disso tudo é que amanhã é o
Natal e se ele não for encontrado, será um desastre...
Wobbuffet
respirou fundo, dando uma última tragada em seu charuto.
— Amanhã
é o dia de Natal. Nós precisamos entregar os presentes, tio — Pichu encarava
Wobbuffet de forma séria. — A Equipe de Resgate dos Corações de Ouro não pode
deixar o Natal passar em branco!
O
rei Slowking juntou as duas patas e soltou um suspiro aliviado.
—
Vocês realmente fariam isso? Ficaria extremamente grato!
—
Claro que sim! Não existe um problema que não possamos resolver! — exclamou
Pichu, determinado.
Bulbasaur
pareceu refletir por alguns instantes.
—
Não sei não... Acho que não temos tanto tempo assim... Eram quase oito horas da
noite quando olhei para o relógio da última vez, dar a volta ao mundo em poucas
horas até a meia-noite não parece ser algo muito lógico...
—
Não se preocupe com isso! Os Stantler que vivem aqui são treinados para viajar
através do globo em uma super velocidade! Além do mais, possuem poderes
psíquicos capazes de driblar qualquer tipo de imprevisto, vocês não seriam
vistos! — afirmou Slowking, empolgado.
Wobbuffet
balançou negativamente a cabeça.
—
Não temos tempo pra isso. Devemos é encontrar o Papai Noel.
—
Nós sabemos que você tem a capacidade de fazer isso sozinho, tio. Nossa
prioridade é fazer com o que o Natal aconteça, a sua é descobrir quem congelou
a Jynx — disse Psyduck.
Magby
abriu a bocarra.
—
Bicho, essa foi a primeira coisa inteligente que você disse na sua vida
inteira.
—
Obrigado, eu acho... — respondeu Psyduck sem graça.
— É uma
ótima oportunidade de você investigar a fábrica de presentes, senhor
Wobbuffet... Pode haver pistas! — exclamou Bulbasaur.
Wobbuffet
cobriu os olhos com seu chapéu fedora e respirou fundo.
—
Bem, cada um com sua prioridade então.
A
Equipe de Resgate dos Corações de Ouro pulou de felicidade e logo correu para
abraçar o detetive, que ficou visivelmente constrangido.
Slowking
parecia ser o mais empolgado de todos.
—
Viva! Viva! O Natal não será cancelado!
O
rei da ilha levou a Equipe de Resgate dos Corações de Ouro até a entrada para a
Fábrica de Presentes do Papai Noel onde algumas Jynx se reuniam com os
Stantlers.
—
Oh, minhas caras Jynx! O Natal está a salvo! Esses pequeninos se comprometeram
a realizar a entrega dos presentes deste ano!
As
Jynx encararam Slowking com surpresa e em seguida encararam os pequenos Pokémon
da Equipe de Resgate dos Corações de Ouro. Entreolharam-se entre si e deram um
grito conjunto de alegria.
—
Cada Jynx é responsável por auxiliar Papai Noel com a entrega dos presentes.
Sob a posse delas está a lista das crianças que foram boas e ruins, as que
merecem presentes e as que não. Elas guiarão vocês nesta entrega!
Um
trio de Jynx aproximou-se dos baixinhos e os encararam como se os avaliasse.
Comentavam entre si como senhoras idosas faziam enquanto observavam a
vizinhança, até que sorriram simpáticas e acataram a ideia de ter os pimpolhos
como integrantes da equipe de entrega de presentes.
— As
titias adorarão ter vocês conosco na
entrega dos presentes! — sorriu uma das assistentes abraçando Pichu e o
espremendo entre os fartos seios.
Magby
deu três passos para trás.
— Sem
contatos físicos... Prefiro manter minha integridade física e mental intacta...
O
grupo seguiu para a Fábrica de Presentes e deparou-se com uma construção enorme.
A cabeça de Papai Noel com a boca aberta saudava os visitantes e, vindas da sua
garganta — fato este que fez Psyduck imediatamente ter uma ânsia de vômito —
diversos Pokémon, entre outras Jynx, Smeargle e Corsola — caminhavam carregando
caixas e mais caixas de presentes e conferindo listas. Os Smeargles conferiam
as listas, checando se tudo estava em ordem, os Corsolas iam colocando os
presentes em esteiras que rolavam até as Jynx, que finalmente os colocava nos
grandes sacos vermelhos que iam nos trenós presos nos Stantlers. E então, os
Smeargles conferiam as listas, os Corsolas colocavam os presentes nas esteiras
que chegavam até as Jynx que arrumavam no saco vermelho que estavam nos trenós
presos aos Stantlers, fazendo com que os Smeargles checassem outro item da
lista.
O
trabalho se repetia na medida em que o progresso avançava.
—
Bastante discreto, não acham? — comentou Bulbasaur olhando para a estrutura.
— A
Fábrica de Presentes não tem seguranças? Tudo tem livre acesso? — questionou
Wobbuffet.
—
Vocês são as primeiras pessoas a alcançar o Pólo Norte, então não tem ninguém
pra barrar — explicou Slowking.
—
Então se existe alguém culpado pelo congelamento da Jynx e o sumiço de Papai
Noel, esse alguém é de dentro... — deduziu o detetive.
— Quem
são vocês? — uma voz austera ecoou com grande volume.
—
C-Carlos?! — exclamou Slowking.
Um
dos Stantlers aproximou-sedo grupo, encarando-os de forma séria.
— Eu
sou Carlos, o líder dos Stantlers de Papai Noel. Exijo saber o que fazem aqui.
Wobbuffet
aproximou-se.
— Eu
sou o Detetive Wobbuffet, da Polícia. Estou investigando o sumiço de Papai Noel
e o congelamento de uma das Jynx assistentes dele. Muito prazer.
Carlos
encarou Wobbuffet e franziu o cenho.
— Eu
não confio na Polícia.
—
Quem não deve, não teme. Você sabe de alguma coisa, senhor Carlos? — perguntou
Wobbuffet sério.
O
Stantler hesitou por alguns segundos antes de voltar a responder, seco.
—
Tch. A única coisa que sei é que essa bagunça toda vai nos impedir de fazer as
entregas hoje à noite. Já estamos atrasados...
Uma
das Jynx aproximou-se de Carlos.
— Os
garotos se prontificaram a ajudar. Acho que nós conseguimos, se começarmos logo
as entregas!
O
Stantler a encarou com um olhar de fúria.
—
Nós temos ordens explícitas de só permitir que o senhor Nicolau faça essas
entregas.
Slowking
aproximou-se.
—
Acima do Nicolau, apenas eu. Eu autorizei a entrega, pode fazê-la.
Carlos
olhou para o rei da ilha e caminhou até sua direção.
—
Mas senhor, o senhor sabe que...
—
Não importa o que eu sei. Apenas faça o que ordeno — falou Slowking com
autoridade que nenhum dos Pokémon havia visto até então.
Stantler
deu um passo para trás e afirmou com a cabeça, apesar de visivelmente a
contragosto.
—
Sim, senhor... — e virou-se de costas dirigindo-se para voltar à fila dos
Stantlers.
A
Equipe de Resgate dos Corações de Ouro se entreolhou. Eles estavam incomodados
e confusos, se perguntando o motivo de a situação ficou tão tensa de repente.
— Eu
não gosto desse Carlos... Ele não me parece ter uma boa índole — cochichou
Bulbasaur.
—
Talvez o que ele precise é apenas entender que nós queremos ajudar. Não fica
difícil se a gente conversar com ele — opinou Pichu.
—
Falar com ele? Me inclua fora dessa, eu tô de boa aqui sem tomar esporro —
Magby cruzou os braços e virou o rosto, deixando clara a sua posição de recusa.
—
Talvez se eu usar meus golpes psíquicos pra fazer uma lavagem cerebral nele,
possa ficar mais fácil — sugeriu Psyduck.
—
Força bruta nunca é a solução — cortou Pichu.
—
Baixinhos, hora do trabalho — a voz de Wobbuffet logo cortou o raciocínio do
grupo.
O
grupo se assustou.
—
Não foram vocês que tiveram a ideia de entregar os presentes? Se apressem, os
Stantlers estão esperando.
A
Equipe de Resgate dos Corações de Ouro se entreolhou e assentiu com a cabeça. O
grupo se dirigiu para a fila onde os Stantlers se encontravam reunidos sendo
equipados pela equipe de Jynx. Cada um dos quatro ficou com um Stantler
diferente e Pichu acabou ficando com Carlos, ainda sobre a ideia de fazê-lo
mais sociável.
Ao
término da checagem do equipamento, os Stantler logo se prepararam para sair em
viagem. Pichu e os demais receberam instruções das Jynx que os acompanhariam na
viagem. As carruagens eram levitadas pelos poderes psíquicos das assistentes
que também faziam espessas nuvens de gelo no céu para ninguém conseguir ver as
carruagens voando.
Em
alta velocidade, os cinco integrantes da Equipe de Resgate dos Corações de Ouro
partiram em direções diferentes para iniciarem os trabalhos. Sobrevoavam o
oceano e, ao longe, viam as luzes do continente dando as boas vindas. Logo que entraram
em terra, os trenós começaram a espalhar-se ainda mais pelo continente, em direção
às residências espalhadas por endereços e cidades.
O
Stantler que levava Psyduck parou em frente a uma residência enorme, cujo
terreno da casa se estendia pela rua inteira. Os muros e portões altos impediam
qualquer um de pular para acessar o interior da casa. O Pokémon olhou para a
Jynx que conferia uma lista e pegava as encomendas dentro do saco de presentes.
—
Com licença, como é que eu posso entrar nessa casa?
Jynx
o encarou como se a resposta fosse a mais óbvia do mundo.
—
Você é um pato, não é? Patos voam. Use suas asas.
Psyduck
a encarou de volta como se aquela resposta fosse a coisa mais óbvia do mundo.
—
Você tem razão.
Psyduck
correu até o outro lado da avenida. Abriu os braços, encolheu a pança e correu de
forma desengonçada, pegando velocidade e batendo suas asas para alçar voo pelos
céus.
O
Pokémon, porém, não era do tipo Flying, e, portanto, não sabia voar. Na
tentativa frustrada, chocou-se pela janela da sala de estar, quebrando-a. O
barulho ecoava pela casa de uma forma espalhafatosa enquanto Psyduck jazia
largado no chão ainda tentando entender o que havia dado errado.
Passos
apressados foram ouvidos. Imóvel, Psyduck não esboçava reação.
— O
que foi isso?
—
Crianças, voltem para o quarto, agora!
— É
um Pokémon?
—
Será que está morto?
—
Crianças, obedeçam seu pai e voltem para o quarto!
—
Olha lá, ele tá se mexendo!
—
Letícia! Volta aqui, já!
—
Pedro, eu não vou falar de novo!
Psyduck
foi revirado com a barriga para a cima. Encarou duas crianças, muito parecidas,
que o olhavam com certa curiosidade. A menina era mais velha, tinha cabelos
castanhos e olhos de mesma cor. Seu irmão era quase idêntico, tirando o fato de
que seus cabelos eram mais curtos.
Seus
pais continuavam encarando Psyduck com um visível olhar de reprovação.
— Eu
vou ligar para o Controle de Pokémon Selvagens.
—
Ele pode estar com carrapato, querido.
— UM
POKÉMON DE PRESENTE! — as crianças gritaram simultaneamente e correram para
abraçar os pais.
Psyduck
levantou-se com dificuldade e pôs-se de pé de frente pra família. Devido ao
stress, sua dor de cabeça atacou, fazendo o Pokémon colocar as duas patas na
cabeça.
— Psy... Duck? — questionou o pato.
A
mulher adulta, mãe das crianças, dirigiu-se até o interior da residência.
— Eu
vou pegar o inseticida.
***
Bulbasaur
se encontrava parado já há alguns minutos na frente de uma casa simples, com
apenas uma janela que dava para o interior da residência e uma porta que dava
para a rua — provavelmente sendo a porta principal. Sua missão era simples:
Entrar na residência e entregar os presentes, mas o grande problema era que havia
pessoas fazendo a ceia de Natal ainda, portanto, não havia jeito de entrar na
casa sem ser notado.
—
Meleca, como é que eu vou resolver isso? — O Pokémon começou a olhar para os
lados procurando alguma solução.
Jynx,
a assistente, aproximou-se com o saco de presentes.
—
Está precisando de ajuda? — questionou a Pokémon.
—
Não, eu estou bem. Estou apenas pensando como é que eu posso acessar uma
residência cheia de pessoas sem ser notado. Os humanos não dormem não? Deveria
ter algum tipo de lei que obrigasse todo mundo a dormir antes da ceia de Natal!
— praguejou Bulbasaur, visivelmente incomodado.
Ao
voltar sua decoração para os arredores, o Pokémon notou o quanto eram bonitas
as decorações natalinas que enfeitavam portas e casas. As guirlandas coloridas
eram o que mais chamavam a atenção de Bulbasaur, que percebeu um certo padrão entre
as residências: Todas elas faziam questão de ter guirlandas e pisca-piscas
iluminando entre a decoração de Natal. Não havia neve, então o encantamento se
dava por meio de tais enfeites que se destacavam na noite escura e festiva.
Bulbasaur
observou alguns arbustos enfeitados de forma natalina próximo à porta de
entrada da casa. Uma ideia passou por sua cabeça.
—
Bem, já que eles não dormem por bem... Eu vou ter de dar uma ajudada, hehehe...
Ding dong...
A
campainha tocou. A barulheira era imensa. Carlos Roberto cantava na televisão
em mais um de seus especiais anuais arrancando suspiros das tias e avós que
assistiram. As crianças corriam ao redor da mesa cheia de comida, cujo cheiro
fazia salivar a todos os que permaneciam próximos a ela. Do meio do tumulto, uma
mulher de estatura baixa de meia-idade que mal seria vista se não fosse tão
querida por sua família saia pedindo licença para os familiares. Apesar da
dificuldade, a mulher logo alcançou a porta — apesar de ter tido de ficar na
ponta dos pés para poder girar a maçaneta, cena bastante comum.
Ao
abrir a porta, ela não viu ninguém. Olhou para a direita, para a esquerda e deu
de ombros. Mas, antes de fechar a porta, reparou que ao pé da porta havia um
vaso de plantas com uma linda semente bulbosa verde que emanava um maravilhoso
aroma. A mulher encantou-se com aquilo e, antes de pegar, checou novamente se havia
alguém por perto. Talvez o remetente do presente... Como a resposta fora
negativa, ela pegou aquele vaso — levemente mais pesado do que ela poderia
imaginar a primeira vista — e o carregou de volta para dentro da casa.
Sua
voz estridente tentou chamar a atenção dos presentes que, ou estavam
conversando em voz alta, ou cantando junto com Carlos Roberto na televisão ou
correndo com as demais crianças. Aos poucos, quem ia percebendo suas frustradas
tentativas de chamar a atenção dos familiares, ia ajudando a transformá-la no
centro das atenções.
—
Tia Mirtes, o que aconteceu? — um dos sobrinhos adultos aproximou-se da mulher.
—
Vocês não ouviram tocar a campainha — perguntou a mulher, recebendo uma
resposta negativa da família. — Enfim, o que acontece é que tocaram a campainha
e ao abrir a porta, eu vi esse vaso de plantas lindo lá fora. Cheiroso que é
uma beleza! Sintam só!
A
família concentrou-se em sentir o cheiro do perfume daquele bulbo incrível.
Todos começaram a ficar encantados e a comentar uns com os outros sobre o
delicioso aroma vegetal que agora impregnava a casa e deixava todos relaxados.
—
Nossa, mas o perfume dessa planta dá um sono, né?— comentou uma das sobrinhas.
Ela
tinha razão. Quanto mais o perfume se impregnava, mais sono todos sentiam. Um a
um, os membros da família foram caindo no sono.
No
fim, a única voz no ambiente era a de Carlos Roberto cantando na televisão.
O
bulbo no vaso de plantas começou a se mexer. Bulbasaur saiu de dentro e se
espreguiçou, esticando todas as patas e alongando seu corpo.
—
Hehe, Sweet Scent com Sleep Powder. Eu sou um gênio.
O
Pokémon se dirigiu até a porta e a abriu. Jynx esperava do lado de fora com
Stantler em seu encalço.
— E
então, o que achou?
— É,
foi inteligente. Perigoso, mas inteligente. Vamos, temos trabalho a fazer.
Bulbasaur
só se prendeu no elogio. “Foi inteligente”. Era o suficiente.
***
—
MAS NEM A PAU QUE EU ENTRO NUM NEGÓCIO DESSES!
No
topo de um telhado a metros do chão, Magby discutia com a Jynx assistente que o
auxiliava na entrega dos presentes. Ele estava perante uma chaminé que saia
fumaça, então visivelmente havia fogo na lareira. O plano de Jynx era que Magby
descesse a lareira para fazer a entrega dos presentes.
—
Deixe de escândalo, nem é uma tarefa tão complexa!
—
Ah, mas é claro que é simples, não é a sua bunda que vai queimar!
—
Magby, você é um Pokémon de fogo. Você não vai se queimar.
Magby,
que estava de cara fechada, imediatamente mudou sua expressão. Arregalou os
olhos, surpreso com aquela afirmação. Pareceu refletir por um instante.
—
Você tem razão... Mas, ainda assim, eu não vou fazer. Eu prefiro entrar pela
porta.
Stantler
se irritou.
— Eu
vou fazer você cumprir o combinado.
Magby
foi arremessado de forma certeira para dentro da chaminé pelo Stomp de Stantler. O membro da Equipe de
Resgate dos Corações de Ouro caiu de cócoras no fogo da lareira que ardia àquela
hora da madrugada.
O
Pokémon saiu da lareira aos xingamentos. O barulho alto chamou a atenção do
morador daquela casa, que estava bebendo água. Quase se engasgou ao se assustar
com o estrondo. Correu até a sala e tossiu pela fumaça negra que se espalhava e
tentava, de forma quase frustrada, enxergar o motivo da bagunça. O rapaz,
vestindo seus pijamas azuis com estampas de PokéBola, com seus cabelos loiros
desarrumados e meias gastas, cujo par esquerdo estava furada, permitindo que o
dedão ficasse a mostra, soltou uma exclamação surpresa ao ver um Magby
irritadiço sair por sua lareira.
—
Oi, amigo. Como foi parar aí?
Magby
encarou o humano e, sem que ele esperasse, arremessou uma embalagem pesada de
presente em sua cara, nocauteando-o imediatamente.
—
Humpf. Tá entregue seu presente— bufou o Pokémon, sem paciência.
***
Apesar
dos percalços, a noite foi passando e a entrega dos presentes fora sendo
concluída. Após darem a volta ao redor do planeta, assim que os primeiros raios
do sol da manhã foram surgindo no horizonte, a Equipe de Resgate dos Corações
de Ouro retornava para a Fábrica de Presentes no Pólo Norte. Cada integrante,
acompanhado por uma Jynx assistente e um Stantler, fora chegando em sequência,
sendo Bulbasaur o primeiro com Psyduck em seguida. O terceiro a chegar fora
Magby.
Assim
que desceram dos trenós, o trio de Pokémon logo notou algo estranho. Uma
inquietação pairava sobre os outros Pokémon que ali viviam, outras Jynx
choravam, Smeargles checavam e rechecavam anotações e, principalmente, Detetive
Wobbuffet aparentava estar tenso.
O
grupo se aproximou dele.
—
Oi, tio. O que aconteceu?— perguntou Psyduck.
—Olá,
meninos! Ainda bem que vocês chegaram. Recebemos informações que milhares de
casas não receberam suas entregas de presentes...
—
Como isso é possível?— questionou Bulbasaur. — Nós fizemos tudo certinho!
— Eu
não sei... ¼ dos presentes não foram entregues.
— ¼?
Que engraçado, somos em quatro... Então, fica parecendo que um de nós não
entregou os presentes — comentou Psyduck, rindo.
Os
demais se entreolharam.