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Capítulo 44
O corpo de Amy estava esparramado no duro chão de terra da caverna. Aos
poucos, a consciência ia retornando à sua mente e o cheiro de terra molhada ia
dominando seu olfato. Os dedos de suas mãos começavam a responder aos impulsos
elétricos de seus neurônios e sua garganta, seca, gritava de sede. Seus ouvidos, de repente, começaram a
perceber ruídos estranhos. Ao concentrar-se melhor, a garota percebeu que se
tratava de gotas de água caindo sobre uma poça, de forma desregulada. Os minutos foram se passando e Amy relutou em abrir os olhos, talvez
por medo de não estar sozinha naquele local, que ela não sabia onde era. Preferiu ter a certeza de que não havia
ninguém por perto.
Outros bons minutos se passaram. Ainda havia gotas caindo na poça de
água em espaços inconstantes de tempo. E este era o único barulho que
acompanhava o tédio da garota. A paciência era uma das virtudes que Amy mais
fazia questão de ter, fazia parte do treinamento da Equipe Rocket. Os agentes
deveriam ser pacientes. A ansiedade não era permitida em uma missão, podia
atrapalhar toda uma operação gigantesca e até mesmo os agentes mais experientes
podiam passar por isso. Mas não Amy. Ela era esperta.
Mais minutos se passaram. Amy resolveu então abrir seus olhos azuis.
Olhando do chão, percebeu então que estava sozinha ali, não havia nenhum par de
pés próximo a ela. A garota então decidiu levantar-se cautelosamente do chão.
Seus braços e pernas formigavam, parecia que ela tinha ficado dias sem
mexê-los. De fato, ela não sabia quanto tempo havia ficado apagada, só tinha
certeza de que precisava sair dali.
Ela então olhou para os lados e tentou localizar-se. Havia uma grande
poça d’água próxima a ela, das paredes de pedra e terra escorriam finas linhas
de água, o que fez Amy suspeitar de que ela estava debaixo de uma enorme
quantidade de água, seja de um lago ou... Da cachoeira que ela esteve
anteriormente.
Uma luz acendeu na mente de Amy. A garota pegou uma de suas PokéBolas e
liberou sua Venonat. A pequena Pokémon encarou sua treinadora, ansiosa para
ouvir suas ordens.
— Venonat, você por favor poderia localizar pra mim a saída mais
próxima? — pediu Amy, gentilmente.
A Pokémon Inseto prontamente afirmou com a cabeça e concentrou-se. Usou
suas antenas para tentar mapear os caminhos sinuosos e diversos da montanha,
tentando sentir os raios de sol do lado de fora. Seus olhos começaram a exibir
traços e linhas que se assemelhavam a mapas. Amy observou atentamente os olhos
de seu Pokémon, o mapa desenhado ali seria bastante útil para se localizar e
encontrar a saída daquele local. Ela não sabia se Ethan estava bem, mas com
certeza ele seria inteligente para achar o caminho até o topo sem se preocupar
com ela.
A garota e seu Pokémon começaram a caminhar pelos tortuosos caminhos de
pedra e terra, sempre atentos a uma possível surpresa que poderiam enfrentar.
Algum Pokémon selvagem, algum treinador que poderia desafiá-la... Tudo era
possível, mesmo que improvável. O que mais era esquisito, de fato, era que a
caverna e a montanha eram bastante silenciosas. Não parecia haver formas de
vida presentes ali. Amy e Venonat prosseguiam em
silêncio, procurando seguir o caminho dos mapas, subindo o terreno íngreme da
montanha, tentando localizar-se em meio aos mapas que sua Pokémon exibia em
seus olhos, comparando-o com o cenário em que estavam. Logo, a garota voltou a
encontrar a cachoeira que a separou de Ethan e Eusine. Encarando a majestosa queda
d’água do alto, Amy pode ter uma bela visão do local em que estava. Ao passar
os olhos pelos arredores, notou algo que instantaneamente chamou sua atenção: O
boné de Ethan, encostado sozinho em um canto do andar de baixo. A garota soltou
uma exclamação e pegou uma PokéBola.
— Saia, Pidgeot!
A grande ave saiu da cápsula e alargou suas poderosas asas. Amy saltou
nas costas de sua Pokémon e voou para o andar de baixo, onde pulou no chão,
próximo ao objeto. A garota caminhou até o boné e o recolheu cuidadosamente.
Olhou para os lados, tentando ver algum sinal de Ethan, mas só havia ela e seus
Pokémon ali naquele ambiente hostil. Mas ela sentiu uma presença próxima a ela.
Uma aura poderosa arrepiou todos os pelos do corpo de Amy, um arrepio desceu
sua espinha, seu estômago revirou. Próximo a ela, estava um Pokémon que a fez
soltar uma exclamação alta. Com o vento balançando sua juba e um olhar que
demonstrava poder, Entei encarava a garota de forma curiosa, como se esperasse
alguma reação de sua parte.
— Entei!
O Pokémon rugiu. Amy tremeu. Entei virou-se de costas e atravessou o
grande lago do interior da montanha, chegando ao outro lado, onde havia
diversas entradas para grandes túneis. Olhou para a garota, que hesitou. O
Pokémon lendário a encarou profundamente e olhou para um dos túneis da
montanha, prosseguindo por ele. Talvez, ele queria que Amy a seguisse.
A garota deu um passo para trás e, incrédula, pulou de volta nas costas
de Pidgeot, que voou de volta até o outro lado da montanha, onde Amy recolheu
sua Venonat, e dirigiu-se com velocidade para onde Entei havia seguido.
Desembarcou das costas de sua Pokémon, a recolheu para a PokéBola e correu pelo
caminho que estava a sua frente. Ela não sabia onde iria dar, mas ela tinha a
sensação de que Entei não havia aparecido ali à toa, e nem havia feito contato à
toa. Ela tinha certeza de que agora, as coisas estavam em outro rumo.
***
Rhyhorn encarava o horizonte no topo do Monte Mortar. Ao seu lado,
Rocky, o Steelix, e Graveler, que em silêncio, acompanhavam o líder, perdido em
pensamentos.
“Você acha que o mestre deixou de gostar de nós?”, questionou Graveler.
“Acredito que não. Ele deve ter outras coisas na cabeça. Pelo o que
conheço, ele deve ter alguma razão importante para ter pedido para que não o
seguíssemos”, respondeu.
“Isso aconteceu depois que eu entrei para a equipe... Eu devo trazer
algum tipo de má sorte...”, lamentou-se Rocky.
“Isso não é culpa de ninguém, grandão. Vamos apenas esperar boas
novas”, consolou Graveler.
O trio assustou-se com um repentino movimento por trás deles. Ao
virarem, deram de cara com Sudowoodo e Shuckle caminhando até eles. Cansados,
os Pokémon suspiraram aliviados ao ver os companheiros.
“Como é bom ver vocês...”, disse Sudowoodo, exausto.
“Notícias?”, questionou Rhyhorn.
“Sim. Sudowoodo disse que os amigos do mestre estão aqui”, avisou
Shuckle.
Rhyhorn, Steelix e Graveler soltaram uma exclamação audível e se
entreolharam.
“Então, não estamos sozinhos”, disse Graveler.
Heracross sobrevoou seus companheiros e pousou majestoso na frente
deles. Com um olhar sério e expressão serena, não poupou palavras.
“Encontrei nosso mestre Forrest”.
Os Pokémon começaram a ficar agitados.
“E onde ele está?”, perguntou Shuckle, surpreso.
“Próximo daqui. E parece que ele está acompanhado”, respondeu
Heracross.
“Será que dos amigos do mestre?”, perguntou Rocky.
“Eu não sei quem era, mas o vi conversando com alguém”, tornou a
responder.
Rhyhorn encarou Heracross.
“Leve-nos até ele”, pediu, de forma séria.
O Pokémon acenou afirmativo com a cabeça e voltou a bater suas asas.
Seus companheiros o seguiriam a pé.
***
Os Pokémon selvagens continuavam a agir de maneira estranha. Ethan
continuava enfrentando as criaturas na busca pela saída do Monte Mortar. Suado,
o garoto enfrentava há horas diversos Pokémon que atacavam violentamente, de
surpresa, fazendo com que ele e sua equipe estivessem extremamente exaustos.
O garoto enfrentava vários Geodude e um Graveler utilizando Larvitar e
Nidorino já tinha vários minutos. Seus músculos brigavam com o cansaço, suas
pernas tremiam e sua visão ia ficando cada vez mais embaçada.
— Larvitar, Sandstorm! Nidorino, Water Pulse! — ordenou
Ethan, rouco.
O corpo de Larvitar começou a ser envolvido por areia. Encarou os
oponentes e, utilizando seus braços, controlou a tempestade de areia, fazendo
com que ela engolisse Graveler e seus companheiros, que foram arremessados para
todos os lados. Nidorino então criou uma grande esfera de água na ponta de seu
chifre, e a arremessou na direção dos oponentes, que receberam o golpe
super-efetivo.
Alguns dos Geodude caíram nocauteados, mas Graveler, com esforço,
levantou-se do chão e olhou furioso para Ethan e seus Pokémon. Enrolou-se em
seu grande corpo rochoso e partiu com velocidade na direção deles. Larvitar
saltou na frente e abriu sua boca e liberando uma aura poderosa de cor púrpura,
que transformou-se em grandes círculos negros poderosos, atingindo Graveler. O Dark
Pulse poderoso, no entanto, não foi o bastante para parar o grandalhão, que
continuou avançando com velocidade e atingiu Larvitar em cheio, sem, no
entanto, causar grandes danos.
— Nidorino, Double Kick!
O Pokémon de Ethan correu veloz na direção de Graveler e atingiu-lhe
com dois chutes poderosos no rosto. O oponente finalmente caiu ao chão,
nocauteado.
Os demais Geodude que o acompanhavam ao verem seu líder completamente
estático no chão, rolaram para longe, fugindo assim da batalha.
Ethan passou as costas da mão na testa, secando o suor. O garoto
sentou-se ao chão e se permitiu suspirar e sentir seu corpo agradecer o
descanso.
— Sei que vocês estão cansados... Eu só tenho a agradecer vocês pelo
esforço... Você até aprendeu um golpe novo, Larvitar! Mal vejo a hora de
sairmos daqui, eu acho que estou começando a desenvolver claustrofobia... — comentou
o garoto, acariciando seus Pokémon, que arfavam de exaustão.
Ethan procurou em sua mochila algum frasco de Poção, Super Poção ou
qualquer tipo de remédio que recuperasse a energia de seus Pokémon. No entanto,
o garoto exclamou surpreso quando percebeu que havia apenas um frasco sobrando
com o remédio, e que ele já estava no fim. Ele então olhou para Larvitar e
Nidorino e tentou dividir o que restava entre os dois Pokémon.
— Sei que muito provavelmente não vai adiantar absolutamente nada, mas
pelo menos vocês estarão melhores que eu — e sorriu.
Larvitar e Nidorino olharam para seu treinador preocupados. Sabiam que
ele estava se esforçando além do limite e eles não podiam deixá-lo cair.
— Eu vou ficar bem. Vamos focar em sair dessa montanha, em procurar a
Amy. Vocês estarem bem é o que importa.
Passos chamaram a atenção de Ethan. O garoto levantou-se com certa
dificuldade e fechou os punhos. Ele recolheu Larvitar e Nidorino e sacou outras duas PokéBolas. Ele
não sabia o que iria enfrentar agora, mas ele não ia desistir fácil.
Suicune apareceu correndo na direção do garoto, que arregalou os olhos.
O Pokémon lendário parou em sua frente e encarou o garoto de forma séria, como
se pudesse ler sua mente. Não parecia que iria atacar, pelo contrário — estava esperando
alguma reação de Ethan, que tremia da cabeça aos pés.
— O que você quer de mim? — perguntou o garoto.
Suicune passou pelo garoto e dirigiu-se até uma das cavernas próximas.
Ethan o seguiu, mas o Pokémon era mais rápido. O garoto sentiu o cansaço o
golpear certeiro, ele não tinha mais força e nem energia para continuar
correndo. Uma dor aguda na lateral do corpo o fez frear, sua respiração
oscilava e sua visão escurecia. Ele sentou-se no chão e respirou fundo,
tentando não perder o controle de sua sanidade.
***
Amy subia um dos caminhos sinuosos que levava para o topo da cachoeira
da caverna. A queda d’água majestosa parecia desafiar a garota jogando água em
sua direção, querendo que ela escorregasse. Mas Amy era, literalmente, dura na
queda, ela não seria derrubada tão fácil. Agilmente, segurava-se nas paredes e
sempre que seu pé vacilava, equilibrava seu corpo novamente com ajuda dos
braços, que agarravam as bordas das paredes e mantinha seu corpo no eixo. A
garota subia agilmente pelas paredes traiçoeiras, e não demorou muito para que
finalmente pudesse colocar seus pés no topo da cachoeira, onde tomou cuidado
para não ser levada pela água. Amy saltou para uma das ilhotas de terra firme
próximas e permitiu-se respirar aliviada.
Mas a garota não teve tempo de descansar. Em grande velocidade, um
vulto percorreu a caverna e voou em direção ao topo da cachoeira, na direção de
Amy. Charizard desviou da garota e pousou há alguns metros dela. Amy fechou os
punhos ao perceber Red descendo das costas de seu Pokémon.
— O que você está fazendo aqui?! — perguntou a garota de forma ríspida.
— Eu ia te fazer a mesma pergunta, mas eu estou com pressa, e imagino
que você também, visto que você já está aqui — disse o rapaz.
— Como assim?
— Vai dizer que não sabe da Equipe Rocket atacando em Mahogany?
A garota ergueu o cenho, incrédula.
— Qual parte de que eu sou uma ex-agente e que, com isso, eu
estou por fora de todos os planos recentes da organização você não
entendeu?! Eu to aqui procurando meu amigo! Se você já terminou com seu
showzinho, me dá licença que eu to bastante ocupada — bradou Amy, irritada.
Red fechou o punho. Amy passou por ele e propositalmente o empurrou,
tirando-o de seu caminho. O garoto massageou o ombro com uma das mãos e com a
outra arrumou o boné.
— Me desculpe — disse ele.
Amy parou de caminhar abruptamente. Achou que havia se enganado.
— O que disse? — Ela virou-se em direção à Red.
— Me desculpe por ainda tratá-la como uma ladra. Estou custando a
reconhecer que você mudou, mas isso já é culpa minha. No passado, nós tivemos
nossas divergências, mas você está se esforçando para mostrar que não é mais
aquela garotinha que eu enfrentei há três anos. Sinto muito de verdade por não
acreditar na sua mudança.
Os olhos de Amy arregalaram-se. Sua boca abriu e ela por um instante
não sabia como fechá-la. Seu coração pulsava tanto que era quase possível
ouvi-lo ecoando pelo interior da montanha.
— Red, eu...
— Você precisa me contar melhor sobre o que está acontecendo pra eu
poder ajudar. Em Ecruteak me contaram que você e seus amigos causaram a maior
bagunça e fugiram pra cá. Você eu sei que causaria algo assim, mas os seus
amigos? — Red recebeu um olhar zangado de Amy e logo caiu na risada — Ok,
aquele papo de que você mudou. Eu ainda estou me acostumando com os fatos.
Acompanhada por Red, Amy prosseguiu a caminhada, contando todos os
detalhes dos últimos dias — que pareciam semanas. A garota não sabia quantos
dias haviam se passado desde que ela e Ethan, acompanhados de Eusine, entraram
dentro do Monte Mortar, mas sentia que havia passado muito tempo ali dentro.
Comentou que encontrou Suicune, que quase morrera afogada e que não havia sinal
de Forrest. Mostrou o boné de Ethan e contou como haviam se separado. Red ouvia
tudo em silêncio, sem tecer nenhum comentário, nem quando a garota parou de
falar.
— Enquanto vocês se mantiveram perdidos aqui dentro, eu continuei
investigando a Equipe Rocket. Após o ataque na Rádio de Goldenrod, eu fiquei me
perguntando o motivo do interesse por radiocomunicação. A resposta me apareceu
quando eu percebi que as pessoas e os Pokémon começaram a agir estranhamente
nos arredores de Ecruteak. Lance também mencionou que os moradores de Mahogany
têm se queixado de que os Pokémon que moram próximos ao lago ao norte da cidade
têm agido de maneira estranha, atacando a todos que passam por ali, se
escondendo em suas tocas.
Amy encarou Red de forma séria.
— O que quer dizer com isso?
— Eles, de alguma maneira, estão controlando Pokémon à distância por
ondas de rádio.
A garota parou de caminhar. Red prosseguiu.
— Nós dois sabemos que o dinheiro é tudo o que importa pra Equipe
Rocket. Depois que Giovanni morreu, eles começaram a agir nas sombras, de forma
imperceptível, como ratos de esgoto. Nem a Elite 4 conseguiu pistas sobre o
atual paradeiro dos agentes... Pelo menos eles sabem por onde você anda.
Amy arregalou os olhos.
— Quer dizer então que eu estou sendo monitorada?! Eu não acredito que
além de me esconder de um grupo de mafiosos, vou ter que lidar com o governo
pegando no meu pé também! — Gritou a garota, irritada.
— Amy, me escuta! Eu sei que você tem alguma coisa que a Equipe Rocket
quer, e muito. Você precisa deixar eu te ajudar. — Red avançou até Amy,
segurando-a pelo pulso.
— Me solta! — Exclamou ela, tentando se soltar.
De sua bolsa, um estampido alto. Um brilho invadiu o local. Red apertou
ainda mais o pulso de Amy, sentiu um soco na boca do estômago e sentiu tudo girar
ao redor. Sua visão escureceu e uma contínua freqüência aguda invadia seus
ouvidos.
Então, tudo desapareceu.
***
Red abriu os olhos. Um cheiro de carvão invadiu suas narinas sem pedir
permissão. O garoto tossiu e levantou-se, e sentiu a cabeça girando. Ele levou
a mão aos olhos e os esfregou, tentando fazer sua visão embaçada voltar ao
normal. Sentia calor. Ao recobrar os sentidos, percebeu que estava deitado na
grama fofa, e que havia um Pokémon lhe observando, curioso. A criatura era rosa
e lembrava uma salamandra, com olhos vazios que pareciam encará-lo sem de fato
estar olhando para Red. Suas orelhas eram enroladas e tinha um sorriso estúpido
em seu focinho arredondado. O garoto soltou uma exclamação e levantou-se.
Procurou por Amy e logo a viu sentada ao pé de uma árvore, de olhos fechados e
cenho franzido, como se estivesse dormindo profundamente e enfrentando um
pesadelo. Red correu até ela e chamou por seu nome até obter um sinal de
consciência de Amy, que acordou assustada, olhando arregalado para o garoto.
— Você está bem?
— Estou... Meio zonza, mas acho que não quebrei nada.
Red auxiliou a garota a levantar. Ao olharem para o lado, viram
diversos Slowpoke caminhando. O lugar estava repleto desses Pokémon, vivendo
soltos. Com certeza, eles estavam longe do vazio e imenso Mt. Mortar.
O quente sol de Outono não impedia que uma brisa gelada arrepiasse a
pele de Red e Amy. O céu azul, sem nuvens, permitia uma maravilhosa visão de
uma grande revoada de Pidgeys e Pidgeottos sendo liderados por um imenso
Pidgeot, grupo que era acompanhado de longe de um bando de Spearow e Fearow. Caterpies,
Butterfrees, Weedles e Beedrills caminhavam e voavam tranquilamente ao redor
dos garotos e, no tronco das árvores, Kakunas e Metapods descansavam
tranquilamente. O local era cercado por montanhas e árvores e o ar era tão puro
que até os pulmões de Red estranhavam, o fazendo dar leves tossidas.
— Onde é que nós estamos? — Perguntou Red.
— Eu não faço idéia... Há poucos instantes, nós estávamos dentro do Mt.
Mortar.
— E o pior é que não parece que estamos fora dele. Pelo menos,
esse lugar não parece ser a Rota 42.
Os dois ouviram passos aproximando-se deles. Sacando PokéBolas, Red e
Amy viraram-se em direção às visitas que chegavam.
Duas pessoas caminhavam a passos lentos na direção da dupla. Carregando
pilhas de carvão vegetal, os dois rapazes estavam acompanhados de dois Pokémon,
Scyther e Farfetch’d. Enquanto um auxiliava no carregamento do material, o
outro, carregando um alho-poró no bico, marchava alegremente ao lado dos
humanos. Amy pareceu sentir que conhecia aqueles dois Pokémon de algum lugar. E
teve mais certeza ainda quando os dois rapazes pararam para conversar com eles.
— Olá, treinadores! Por favor, guardem as PokéBolas, nós não somos
agressivos. — Sorriu um dos rapazes, de cabelos roxos, que vestia uma roupa
verde de escoteiro e uma gravata amarela. Bugsy estava acompanhado de outro
rapaz, mais velho, barbudo, de feição carrancuda e músculos definidos.
Uma gota de suor escorria pelo rosto de Red. Amy tentava pensar em
alguma solução rápida para aquela situação inesperada.
— Muito prazer em conhecê-los, meu nome é Bugsy, líder do Ginásio da
Cidade de Azalea. E este é meu amigo, Elton.
Red assustou-se ao finalmente perceber que ele não havia sido
reconhecido. Uma luz acendeu-se na cabeça da garota.
— Meu nome é Amy. E o do meu amigo aqui, é Red. Nós somos da região de
Kanto.
Bugsy soltou uma exclamação.
— Oh! É um prazer conhecê-los! Espero que aproveitem a estadia na
cidade. Se precisarem de algo podem me encontrar no ginásio. Ou na carvoaria,
que é onde eu costumo estar também. — Disse o simpático Líder de Ginásio,
apontando para a grande construção a alguns metros deles.
— Combinado então! Muito obrigado pela atenção, senhor Bugsy! —
Agradeceu Amy, com um sorriso forçado.
— Não precisa me chamar de senhor — sorriu ele, despedindo-se. — Até
logo!
Quando ficaram sozinhos, os dois se encararam. Foi Red que quebrou o
silêncio.
— Como assim eles não me reconheceram?
— Agora não é o momento para estrelismos. Precisamos descobrir o motivo
de estarmos aqui.
A garota começou a caminhar, mas Red ficou observando-a.
— Amy, o que é que está acontecendo aqui?
Ela fechou os olhos, respirou fundo e tentou se acalmar. Mesmo que a
presença de Red não fosse desejada por ela, seria pior se ele continuasse a não
saber o que estava acontecendo ali.
Amy virou para o garoto e o observou de forma séria com seus grandes
olhos azuis.
— Voltamos no tempo.
Red a encarou, incrédulo.
— E como isso é possível?
A garota respirou fundo mais uma vez.
— Quando você lutou contra o Giovanni três anos atrás, ele quase caiu
em depressão. Ver a Equipe Rocket derrubada por um bando de garotos não foi
algo bem aceito naturalmente por ele. O que eu sei é que, de alguma maneira,
ele mandou buscar um Pokémon que o fizesse voltar no tempo e impedir sua queda.
E esse Pokémon está dentro desta PokéBola, Celebi.
Amy tirou a PokéBola GS da bolsa e mostrou para Red, que continuava a
encarar a menina sem entender nada.
— Então quer dizer que esse tempo todo ele dominou um Pokémon que pode
viajar no tempo? Amy, isso é perigoso! — Exclamou ele.
Amy sorriu de forma cínica.
— Eu sei disso. Mas ele nunca conseguiu liberar Celebi de dentro dessa
PokéBola.
— Não? Por quê?
— Ninguém sabe. Ela ficou muito tempo sendo pesquisada pelos cientistas
da organização. Mas como era só questão de tempo até eles descobrirem como
abri-la, resolvi levá-la comigo no dia em que eu fugi.
Red por um instante pareceu aliviado. Mas uma questão não deixou de
passar por sua cabeça.
— Mas o que você pretende fazer com esse Pokémon que volta no
tempo?
Pela primeira vez, Amy parou. Aquela pergunta a incomodou de um jeito
como nenhuma outra havia feito até então. Ela precisou de alguns segundos para
poder refletir.
— Sinceramente, eu não sei. Eu só não queria que o Giovanni fizesse
outras coisas ruins.
Red arregalou os olhos, surpreso com a resposta. Realmente, Amy não era
mais uma integrante Rocket. Seu comportamento dizia que, mesmo ela mantendo a
pose séria de uma agente de alto-nível, seu coração não era, então, de pedra.
O garoto resolveu mudar o assunto.
— E então, como nós vamos abrir essa PokéBola pra pedir pra esse
Pokémon levar a gente de volta?
Amy pareceu pensar por alguns segundos até ter a resposta definitiva.
— Eu não faço idéia.
***
Red e Amy caminhavam pela Cidade de Azalea tentando procurar alguma
solução. Depois de muito insistir, o garoto conseguiu convencer a companheira
de ceder a PokéBola GS para que ele tentasse invocar Celebi de dentro dela.
Todas as tentativas, no entanto, falharam. Amy já estava perdendo a paciência,
quando algo lhe chamou a atenção. Um homem alto que caminhava como uma sombra
no meio das ruas da cidade. Ele vestia um sobretudo negro e uma chapéu que
escondia seu rosto. Aquilo chamava a atenção de todos que cruzavam por ele. Amy
e Red não pensaram duas vezes e, disfarçadamente, começaram a segui-lo de
longe. Ele agia estranho, tentando se desvencilhar das pessoas, como se
estivesse fugindo de algo ou alguém, tentando se esconder enquanto tentava não
chamar a atenção de forma suspeita.
Os garotos o seguiram até uma área mais residencial da cidade. Ali,
árvores de Apricorn se misturavam com as árvores da Floresta Ilex, e diversos
Pokémon faziam moradia em suas copas. Red e Amy continuavam a seguir o
misterioso homem, que parecia não notar a presença deles. Ele não parecia
perdido, parecia se dirigir com convicção a uma das casas presentes naquela rua
de diversos arvoredos, repleta de ramalhetes. A casa em específico era simples,
feita de madeira, como as demais naquele local, com um telhado feito de palha e
forragens. Aquilo era curioso, visto que por mais que as outras casas tivessem
a mesma estrutura, aquela era a única da rua cujo telhado não fosse feito com
telhas convencionais.
Amy e Red trataram de se esconder atrás do muro de uma das residências
próximas quando viram que o homem misterioso aproximou-se da grande porta de
madeira da casa em que se dirigia e deu três batidas. Após alguns instantes
esperando, um homem velho, carrancudo, baixinho, calvo com cabelos prateados e
nariz grande abriu a porta e soltou um raro sorriso ao ver o visitante. Amy
exclamou ao reconhecê-lo como Kurt, o velho fabricante de PokéBolas.
— Oh! Senhor Pokémon! Que honra recebê-lo em minha residência! — Exclamou
o velho Kurt tão alto que os garotos, escondidos, conseguiram ouvir.
O Senhor Pokémon ficou visivelmente sem graça. Conversou baixinho com
Kurt, que logo cedeu espaço para ele entrar em sua residência.
Amy e Red tentaram chegar mais próximo da casa para ouvir a conversa em
seu interior, mas um novo estampido da PokéBola GS surpreendeu os dois.
Novamente, a tontura e a falta de ar tomaram conta da dupla, o chão sumiu e
tudo ao redor desapareceu.
Quando abriu os olhos, Amy notou que estava a poucos metros de onde
estava quando desmaiou. Procurou pro Red, que levantava-se do chão, e logo
percebeu que não parecia que eles haviam viajado no tempo. Exceto por algumas
Apricorns espalhadas pelo chão, tudo estava exatamente igual.
Foi Red que percebeu duas pessoas fazendo guarda próximo da casa de
Kurt. Ao ser avisada, Amy reconheceu: Eram Mari e Leo, os dois agentes da
Equipe Rocket que já foram seus subordinados.
— O que é que eles estão fazendo aqui?! — perguntou a garota.
— Eu não sei... Mas parece que não perceberam nossa presença... Vamos
nos esconder.
A dupla seguiu para próximo das árvores e observaram. Enquanto Mari
bisbilhotava pela janela, Leo permanecia de guarda, alerta para qualquer
aproximação indesejada. Red tentava achar alguma brecha para que ele e Amy
pudessem se aproximar da casa, mas foi a garota que bolou um plano. Convocou
Blue, seu Gastly e fez Red surpreender-se com o pedido feito ao Pokémon
fantasma que colocou um sorriso maligno e desapareceu perante os dois, voando
invisível na direção do casal Rocket.
Mari, atenta ao que acontecia dentro da casa, começou a se sentir
sufocada. A respiração ficou mais difícil de repente, o oxigênio fugiu de seus
pulmões e sua garganta fechou. A jovem começou a transpirar de agonia e sua
visão escureceu. Ela perdeu a consciência segundos depois.
Leo correu para socorrer a namorada. Não pensou duas vezes, pegou seu
corpo nos braços e saiu correndo dali o mais rápido possível, abandonando a
missão. Amy sorriu de forma travessa e Red a encarava incrédulo.
— E eu começando a achar que você era boazinha... Mandar Gastly sufocar
aquela moça foi assustador... Foi inteligente, mas muito assustador.
— A gente tem que pensar rápido em situações como essa. Vamos logo com
isso.
Os dois dirigiram-se até a casa de Kurt. Ao olharem pela janela, viram
a PokéBola GS sobre a mesa, um Senhor Pokémon bastante eufórico e um Kurt que
gesticulava muito. Amy e Red aproximaram os ouvidos das paredes para tentar
ouvir a conversa.
— Essa PokéBola é bastante poderosa, uma das melhores que criei.
Confesso que quando você chegou daquela vez com as penas de Lugia e Ho-Oh eu
pensei que seria impossível! Mas você me conhece, sabe que eu adoro um desafio!
— Kurt apertou o ombro de seu amigo, rindo alto.
— Muito obrigado, Kurt! Isso vai auxiliar muito em minhas pesquisas.
Deixe só os outros pesquisadores ficarem sabendo que criamos a PokéBola mais
poderosa de todas!
Kurt mudou a expressão.
— Cuidado com o que você fala. Muitas pessoas poderiam fazer loucuras
para conseguir uma PokéBola assim... Lembre-se da Master Bola, na Silph Company
há algumas semanas!
Senhor Pokémon mexeu-se incomodado na cadeira.
— É verdade... Acho que não devemos fazer alardes. Eu sinceramente não
sei como não fomos descobertos ainda.
Red e Amy ouviram um som alto e forte aproximando-se das árvores. Os
dois correram para tentar se esconder e não serem vistos. Os dois exclamaram
alto quando viram diversos agentes Rockets surgindo e correndo em direção à porta
de Kurt. A maior surpresa, no entanto, fora a presença do próprio Giovanni, em
pessoa, acompanhado por Ariana, Archer, Proton e Petrel. Amy gelou. Red fechou
o punho com força. Os dois viram os Rockets invadirem a casa de Kurt e, após
alguns segundos tensos, saírem de lá com a PokéBola GS em mãos.
Red saiu em direção aos Rockets, mas a PokéBola GS que estava com eles
soltou mais um estampido. Pela terceira vez, tudo desapareceu.
Os dois acordaram com uma enorme explosão. Assustados,
os garotos correram rapidamente para o bosque próximo para se esconder atrás
das árvores. Notaram um grande furdunço alguns metros a frente. Era Amy,
cercada por capangas da Equipe Rocket. A garota, cansada, olhava furiosa ao
redor, tentando pensar em alguma solução para sair dali.
Red tentou novamente partir para cima dos Rockets, sacando uma
PokéBola, mas Amy o puxou pela manga da camiseta.
— Espera! Eu me lembro desse dia! — Exclamou a garota apontando para
logo mais adiante.
Red olhou e surpreendeu-se ao ver Ethan e Forrest, que aproximavam-se
correndo.
— Rhyhorn,
vai! — Forrest lançou sua PokéBola.
— Quilava,
Sandshrew, eu escolho vocês! — Disse Ethan imitando Forrest e jogando suas
PokéBolas.
— Eu começo.
Vou fazer esses idiotas tropeçarem. Rhyhorn, Earthquake!
Rhyhorn
correu na frente e jogou seu peso no chão. Um terremoto começou a espalhar-se e
os capangas da Equipe Rocket começaram a cair desequilibrados.
— Quilava, Ember! Sandshrew, Rapid Spin!
Quilava
disparou brasas de fogo de sua boca e Sandshrew enrolou-se em torno do próprio
corpo e saiu girando para a frente atingindo capangas da Equipe Rocket que se
levantavam. As chamas de Quilava os faziam gritar de dor.
— Caterpie, String Shot! — Exclamou Ethan.
Caterpie
lançou-se na frente do treinador e lançou um jato de fios de sua boca. Os
capangas da Equipe Rocket que estavam no chão se contorcendo de dor por causa
das queimaduras foram todos amarrados e presos na seda de Caterpie. Amy olhou
para trás ao ver que não estava mais sendo seguida e encarou Ethan.
— Amy! —
Ethan exclamou e correu até a garota.
— E...
than... — Suspirou e desmaiou nos braços do garoto.
— Forrest!
Temos que fazer alguma coisa agora! — Berrou para o amigo.
— Rhyhorn,
venha aqui! — Gritou para o Pokémon.
O rinoceronte
chegou correndo e parou ao lado de Ethan.
— Coloque-a
no Rhyhorn. Vamos levá-la até o Centro Pokémon de Azalea.
— Tá. — Disse
colocando a menina no lombo do grande Pokémon cinza.
Ethan e
Forrest retornaram seus Pokémon e montaram em Rhyhorn que partiu correndo para
onde Forrest apontava: A entrada da cidade de Azalea.
Amy e Red
observavam Ethan e Forrest sumirem com Rhyhorn e a Amy do passado e logo
notaram a chegada de mais pessoas. Era Silver, que incrédulo, viu seus capangas
da Equipe Rocket feridos e amordaçados por fios de seda.
— O que está
acontecendo aqui? Cadê a Amy? — Perguntou para um dos Rockets.
— Nós a
estávamos perseguindo. Mas eu acho que demos de cara com amigos dela que nos
pegaram desprevenidos... — Respondeu.
— Vocês têm
Pokémon para quê? Idiotas! — Exclamou Silver nervoso.
O ruivo
refletia sobre a informação que acabara de ter. Amy fora resgatada por... Amigos?
— “Amigos”
você disse? Mas a Amy não tem amigos... Pra que lado eles foram? — Perguntou
Silver novamente.
— Acho que
eles estavam indo para Azalea... — Disse outro dos capangas.
— Azalea?
Hum... Mudança de planos. Todos vocês, retornem para a base. — Disse o ruivo.
Todos os
capangas, ainda amordaçados, começaram a se entreolhar.
— Idiotas...
Croconaw, Scratch.
Croconaw usou
as garras para cortar toda a seda que prendia os capangas Rockets. Assim que
todos foram soltos, Silver deu um passo à frente e começou a falar.
— Voltem para
a base. Esqueçam o que o Giovanni falou.
Os capangas
começaram a olhar nervosos entre si.
— Mas Silver,
é loucura desobedecer a uma ordem do Giovanni! — Exclamou um.
— Somos
loucos, meu caro. Amy está indo para Azalea. Não se preocupem, Proton dominou a
cidade. Estamos com agentes escondidos por todos os cantos. Logo, meu pai terá
a Amy, que tornou-se a queridinha dele também. Nunca o vi tão fissurado por
algo quanto agora... — Disse o ruivo aos agentes.
— Então
Giovanni vai pegá-la em Azalea? — Perguntou outro Rocket.
— Sim. Por
isso quero que vocês voltem para a base e avisem-no. O resto é comigo.
— Certo! —
Disseram os capangas se retirando da rota.
Silver, com
um sorriso sádico, retornou seu Pokémon e caminhou em silêncio para a entrada
de Azalea. Amy olhou para Red, fez um sinal afirmativo com a cabeça e,
espreitando-se pelo bosque, seguiu Silver com Red em seu encalço. O ruivo
passou pela entrada da cidade e calmamente, andando com as mãos nos bolsos,
prosseguiu pelas ruas sem notar que estava sendo seguido. Logo, chegou em
frente ao Centro Pokémon da cidade e o encarou de cima a baixo.
Archer aproximou-se
do ruivo.
— Podemos?
— Devemos.
Os Rockets
liberaram seus Pokémon. Em um coordenado ataque em massa, atingiram a estrutura
do hospital, fazendo as portas de vidro quebrarem e cacos voarem para todos os
lados no interior do local. A energia do Centro Pokémon caiu, então Silver
entrou calmamente. Os demais Rockets faziam a vigilância do lado de fora,
impedindo a aproximação de qualquer pessoa que fosse. Red e Amy não tiveram
escolha, se não esperar.
Minutos
depois, barulhos e explosões do lado de dentro do Centro Pokémon eram audíveis
do lado de fora. Forrest e a Enfermeira Joy já estavam fora do hospital e as
sirenes das viaturas da Polícia anunciavam sua chegada. Ethan e Amy cruzaram
correndo as portas quebradas do Centro Pokémon, sendo seguidos por Silver e
Croconaw, que atacava tudo e todos em seu caminho. Seus poderosos Water Gun pifavam os motores das
viaturas e chegou a nocautear o Quilava de Ethan.
— Quilava! —
Exclamou o garoto.
— Pokémon do
Tipo Fogo são fracos contra golpes do Tipo Água! — Disse Forrest.
— Vai,
Caterpie! String Shot! — Disse Ethan
lançando o Pokémon em batalha.
O verme fez
sair fios de seda de sua boca, prendendo e imobilizando Croconaw.
— Tackle!
Caterpie
correu até Croconaw investindo-lhe no estômago. O golpe pareceu surtir efeito,
mas Silver logo olhava para o Pokémon.
— Bite! — Disse o ruivo.
Croconaw
mordeu os fios de seda rompendo-os e logo em seguida, mordeu a cabeça de
Caterpie.
— Caterpie! —
Berrou Ethan.
Da boca de
Croconaw, Caterpie começou a brilhar. Seu corpo estava mudando de forma e
começava a ficar maior. Caterpie estava evoluindo.
— Metapod, um Pokémon Casulo. É a forma
evoluída de Caterpie.Dentro do casulo, é mole e fraco. Ele permanece imóvel
nesse casulo. Ele se prepara para a evolução pelo endurecimento de seu casulo,
fazendo assim uma defesa para seu corpo mole. — Registrou a PokéAgenda.
—
“Endurecimento”? Heheh... Metapod, Harden!
— Disse Ethan.
Metapod
emitiu um forte brilho. Croconaw fazia um esforço visível, mas não conseguia
partir a cabeça de Metapod. O esforço foi tanto que Croconaw acabou quebrando
um dente.
— Sand, vai!
Ajude o Metapod! — Disse Ethan lançando sua PokéBola.
Sandshrew
saiu da PokéBola e mirou em Croconaw. Girou ao redor de si mesmo e um raio em
forma de estrela saiu do corpo e dirigiu-se ao inimigo.
— Sandshrew
aprendeu um golpe novo? — Perguntou Ethan.
— É o Swift! — Exclamou Forrest.
Croconaw caiu
nocauteado. Metapod olhou para Ethan e caiu desmaiado também.
— Retorne,
Metapod! — Disse Ethan retornando o novo Pokémon.
Amy e Red
viram Proton pegar uma PokéBola e jogá-la para cima.
— Poison Gas.
Uma fumaça tóxica
começou a impregnar o local. Todos ali presentes começaram a tossir e desmaiar.
Amy observou escondida seu eu do passado cair ao chão, desmaiada, sendo seguida
por Forrest e Ethan, logo após retornar seu Pokémon. Pouco a pouco, todos os
civis eram intoxicados e perdiam a consciência. A Equipe Rocket, rindo,
recolhia os corpos inconscientes e levavam-nos para um poço-caverna próximo
dali, o famoso Poço Slowpoke.
Amy e Red
continuavam observando aquilo, atônitos.
— Acredite,
estar ali é bem pior... — confessou a garota.
Os corpos
foram removidos dali rapidamente, sendo amontoados dentro do poço. Silver e os
administradores Rocket foram os primeiros a descer e, aos poucos, eram seguidos
pelos demais capangas. Os minutos foram passando e Red continuava refém da
adrenalina. Ele queria fazer alguma coisa, mas Amy sempre lembrava-o que aquilo
era o passado, e que tudo havia se resolvido. Mas o sentimento de impotência o
irritava, e essa irritação ia aumentando conforme o tempo ia passando, cada vez
mais devagar. Do poço, ouvia-se vozes. E o murmúrio foi aumentando cada vez
mais. Até que berros começaram a ser emitidos. Red não aguentou e levantou-se
furioso, seguindo em direção ao poço e sacando uma PokéBola. Amy não conseguiu
segurá-lo e foi atrás do colega.
— O que você
ta fazendo? Eu falei pra você não se meter!
— Já chega,
Amy! Eu não posso ficar vendo essas coisas acontecerem e não fazer nada! Mesmo
no passado, a Equipe Rocket me enoja! E é covardia tudo isso o que eles
fizeram! — O garoto liberou seus Pokémon. — Venusaur, Blastoise, Lapras, conto
com vocês.
Um jato
d’água surgiu da superfície e começou a alagar a caverna. Depois disso, pedras
de gelo começaram a cair feito meteoros reduzindo bruscamente a temperatura do
local.
— O que é isso? — Perguntou Ariana assustada.
— Devem ser ataques de Pokémon... — respondeu Silver.
— Hydro Pump e Ice Shard. — Forrest disse de repente do
chão. — Baseado na potência da água, ela pode ter origem de dois grandes
canhões... Possivelmente, é um Blastoise que está fazendo isso. Agora, já o Ice Shard, eu não posso dizer, já que muitos Pokémon aprendem esse
ataque.
— Pode ser talvez de um Lapras. — Disse Amy que dissera alguma
coisa após muito tempo calada.
Silver e os outros dois capangas da Equipe Rocket se entreolharam.
Eles sabiam de quem aquele Blastoise e aquele Lapras pertenciam.
Da
superfície, Amy viu que não teria outro jeito se não ajudar.
— Porcaria...
Dewgong, Take Down!
A garota
liberou seu Pokémon. Dewgong pulou em cima do poço, causando um grande abalo
sísmico no interior do local.
Um terremoto
começou no local. Ethan correu até Kurt e conseguiu solta-lo das cordas que o
mantinham preso em uma parede. O chão ainda tremia violentamente.
— Kurt, você
sabe onde fica a saída? — Perguntou Ethan.
— Sei, é por
ali... — Disse o velho apontando para perto de onde a água e o gelo vinham cada
vez mais fracos, cessando.
— Forrest,
cuida da Amy, — Disse Ethan ao amigo que estava junto da garota.
— Pode
deixar. — Disse Forrest.
Ethan mal deu
dois passos e uma forte onda de sono surgiu do nada. Kurt pesou sobre seus
ombros e ele viu Forrest e Amy se ajoelharem.
— Sleep Powder! — Exclamou Ethan não
aguentando mais e caindo já adormecido.
Do lado de
cima, Red pedia para que seu Venusaur cessasse o golpe. Alguns membros da
Equipe Rocket remanescentes tentavam sair do Poço Slowpoke, mas a saída estava
começando a se deteriorar pelo golpe de Dewgong. Foi Croconaw que conseguiu
arrombar o buraco e fazer com que os Rockets saíssem de lá.
Quando Silver
alcançou a superfície, deu de cara com Red. A Equipe Rocket pareceu temer o
olhar que ele dava. Até mesmo Ariana sentiu um calafrio na espinha ao olhar os
olhos vermelhos do garoto. Silver encarou Red e, ao ouvir as sirenes dos
reforços policiais, correu em direção ao bosque da cidade, desaparecendo junto
com os comparsas.
Amy
aproximou-se do garoto.
— Acho melhor
a gente dar o fora daqui.
Mais um
estampido alto e os corpos de Amy e Red desapareceram. Quando a polícia chegou,
não havia mais ninguém do lado de fora do Poço Slowpoke. Os soldados agilizaram
o resgate dos corpos adormecidos no interior do local, removendo-os e
transferindo-os para o Centro Pokémon. Apesar de ter sua recepção parcialmente
destruída, os equipamentos e quartos não foram danificados. A energia foi
restaurada e o trabalho de reanimação das vitimas começou a ser feito.
Na escura
caverna do Mt. Mortar, Red e Amy voltavam à consciência. Ao levantar-se, Amy
deixou a PokéBola GS cair ao chão. O objeto rolou pelo piso irregular
construído de pedras, parando ao lado do corpo de Ethan, desmaiado. Os dois
correram para auxiliar o garoto, desidratado e fatigado.