Quarto Ato (Final)

Ah, o Natal. Época mágica em
que todos os corações se abrem para receber doses extraordinárias de amor e de
esperança. Logo pela manhã, as crianças se apressam para abrir os presentes
carinhosamente colocados debaixo da árvore maravilhosamente decorada com bolas
coloridas, laços e pisca-piscas frenéticos que mudam de cor a cada piscada de
olhos. Em alguns lugares, a neve cobria quintais e bonecos enfeitavam cada
esquina. Em outros, o cheiro do almoço sendo preparado impregnava ruas inteiras
e causava ansiedade em adultos e crianças que, em algumas horas, se reuniriam
em família para celebrar uma das datas mais aguardadas do ano.
Menos, é claro, no Polo
Norte, por mais irônico que isso pudesse parecer.
— A Equipe de Resgate dos
Corações de Ouro mais uma vez surpreende a audiência em uma reviravolta
incrível! Se a gente fosse personagem de uma história fictícia, com toda a
certeza essa seria a chamada do nosso filme! — Exclamou Psyduck.
— Ok, apesar de eu realmente
gostar da ideia, sinto informar que estamos em uma situação crítica aqui, amigo
— comentou Magby.
As Jynx assistentes do Papai
Noel corriam de um lado para o outro com as mãos pressionando as têmporas,
completamente desesperadas. O caos já havia se instaurado no local, os
Smeargles reanalisavam cada ficha procurando qualquer tipo de pista do
paradeiro do último Stantler enquanto os Corsolas, responsáveis por abastecer
cada trenó, olhavam-se desolados se questionando aonde foi que haviam errado.
— O Pichu sumiu junto com
Carlos, um dos Stantlers nomeados para fazer as entregas de Natal. Alguém tem
alguma ideia de onde eles podem estar? — questionou Wobbuffet.
— Esses Pokémon não tem
nenhum tipo de localizador tipo GPS? Como é que se sabe que eles não fogem? —
perguntou Bulbasaur.
— Nós já estamos verificando
isso, não se preocupe! — tentou acalmar o Rei Slowking.
— Não tenho tempo sobrando.
Eu quero ir para a Central de Controle — pediu o detetive.
— A Central de Controle? Mas
ninguém pode ir pra lá! — comentou um dos Smeargles.
— Eu estou pedindo — detetive
Wobbuffet pareceu alterar o tom de voz pela primeira vez. — Eu sou a autoridade
aqui e, quando um dos meus some, eu não costumo ser muito ortodoxo nas minhas
atitudes.
A Equipe de Resgate dos
Corações de Ouro arregalou os olhos. Até então, não haviam visto o lado
autoritário do Detetive Wobbuffet.
O grupo de Smeargles começou
a cochichar entre si por alguns instantes. Os olhos arregalavam a cada vez que
checavam uma das listas em sua posse.
— Senhor, temos um
problema... — avisou um dos Pokémon.
Wobbuffet aproximou-se do
grupo.
— Qual é?
— Pelos nossos cálculos...
Pichu e Carlos estão dentro da fábrica!
Os Pokémon arregalaram os
olhos, completamente perplexos.
— Como é?!
— Esses dados estão corretos?
— perguntou Wobbuffet, pegando uma das folhas.
— Absolutamente, senhor. Os
cálculos foram refeitos dezessete vezes. Eles estão em algum lugar dentro da
fábrica de brinquedos!
Wobbuffet olhou para Slowking
com certa urgência.
— E agora, tá precisando do
quê pra que me deixe entrar nessa maldita fábrica de brinquedos? Quer que eu
chame reforços?
Slowking suspirou.
— Muito bem, siga-me.
Os dois caminharam até a
enorme cabeça de Papai Noel de boca aberta que dava entrada para a fábrica de
brinquedos. A Equipe de Resgate dos Corações de Ouro, no entanto, pulou na
frente dos dois mais velhos.
— Nós iremos também! —
anunciou Bulbasaur.
— Nem pensar. Isso é coisa
séria — disse o Detetive Wobbuffet, negando a ajuda.
— Tio, o negócio é o
seguinte: Nosso líder deve estar lá dentro, sozinho, e não sabemos como se ele
está, se está machucado, se está em apuros... Nós somos uma equipe, e mesmo que
eu seja totalmente contra esse tipo de aventura mirabolante, eu não posso
deixar um amigo pra trás. Você não precisa nem autorizar, nós iremos! —
discursou Magby.
— Nós iremos? — repetiu
Psyduck em uma pergunta retórica, claramente contra a ideia. — E se eles
tiverem fantasmas lá, cara?
— Relaxa, você nem toma dano
super-efetivo — comentou Bulbasaur.
— É, arregão, bora lá! Precisamos
salvar nosso companheiro!
— Eu disse que não! — bradou
o detetive. — Esperem aqui.
Bulbasaur, Magby e Psyduck se
entreolharam.
— Desculpa, tio, mas não vai
dar não — disse Magby. — CORRE, NEGADA!
A Equipe de Resgate dos
Corações de Ouro saiu correndo em direção à entrada da fábrica com o Detetive
Wobbuffet ao seu encalço.
— Droga, pirralhos, voltem já
aqui! — gritava Wobbuffet para os pequenos que não cediam.
O grupo de Pokémon se
aproximou da bocarra e Psyduck fechou os olhos antes de passar por ela.
A fábrica de brinquedos era
enorme. Esteiras rolantes carregavam brinquedos prontos e peças para dentro de
câmaras escuras, onde saíam perfeitamente embrulhados. Quase tudo era
automotivo, robôs recolhiam os presentes e os colocavam em diferentes esteiras,
que os levavam para buracos do lado de fora, onde com certeza os Corsolas os
levariam para os trenós. Dava para se ouvir perfeitamente os barulhos das
engrenagens girando ecoando pela fábrica, com certeza havia Kling, Klang e
Klinklangs por perto fazendo funcionar cada peça e robô. Bulbasaur olhou para
cima e não conseguiu ver o teto. Ele era muito alto.
Os corredores que davam para
o interior da fábrica eram divididos por grandes portais enfeitados por
guirlandas natalinas com pisca-piscas coloridos que enfeitiçavam qualquer um
que entrasse ali. Havia quatro passagens que podiam dar para qualquer lugar. Do
fundo da fábrica, sons podiam ser ouvidos, muito diferentes dos produzidos
pelas engrenagens. Pareciam vozes, cantos gregorianos que, de forma
descompassada e até mesmo desafinada, ecoavam pelos corredores, chegando até
onde os Pokémon estavam, na entrada.
O detetive Wobbuffet logo
alcançou o trio de Pokémon, bastante irritado.
— O que vocês estão fazendo?
Vocês estão malucos?!
Mas não obteve respostas da
Equipe de Resgate dos Corações de Ouro. Eles estavam paralisados, olhando para
o nada. Aquele lamento que vinha de algum lugar do interior da fábrica de alguma
forma mexia com eles e os fazia prestar cada vez mais a atenção na melodia
executada.
— Hipnose...? Tapem os
ouvidos, tapem os ouvidos! — exclamava Wobbuffet para a Equipe de Resgate, mas
eles já não ouviam. Correram para caminhos diferentes e o detetive não soube
quem perseguir. Ao olhar para trás, viu que o Rei da Ilha, Slowking, permanecia
parado sem esboçar qualquer reação.
— Eu avisei que ninguém podia
vir até aqui.
Wobbuffet sentiu seu corpo
ser agarrado com força. Quando notou, viu que teias de aranha limitavam seus
movimentos. E essas teias de aranha vinham de cima, de um grupo de Ariados
aliados ao Slowking.
Seus olhos e boca foram
selados e Wobbuffet apenas sentiu seu corpo ser carregado para as profundezas
da fábrica de brinquedos.
***
Havia um imenso templo
construído com grandes blocos de pedra. Degraus de mármore levavam à porta de
madeira, protegida por dois pilares gigantes que se encontravam sob o auxilio
de uma empena manchada e marcada pelo tempo, de onde cipós caíam pela enjunta e
enfeitavam, de uma forma maravilhosamente macabra, a entrada do local,
estendendo-se até um ponto relativamente próximo do chão. Árvores imensas e
virgens mostravam toda a superioridade a natureza selvagem no local. Trepadeiras
invadiam as paredes e mal se podia ver os incontáveis blocos de pedra que a
construíam. O local estava completamente abandonado, com certeza já fazia anos.
O cheiro da grama logo tomou conta do olfato de Bulbasaur, que despertou no
ambiente hostil sem se lembrar de como havia ido parar ali.

Ao levantar-se, olhou para os lados esperando ver alguém, mas estava completamente sozinho. Estava de noite, apesar de ter a plena certeza de que, até poucos minutos, o dia havia acabado de amanhecer.
—
Pessoal? Tio Wobbuffet? Magby? Pichu? Psyduck? — a cada nome
chamado, um eco em resposta. — Onde é que eu estou?
Caminhou em direção à porta à
sua frente. No entanto, uma neblina densa começou a tomar conta do local.
Bulbasaur começou a sentir que estava sendo observado, mas não teve tempo de ter
a certeza. Em sua frente, dois Pokémon apareceram subitamente. Se o Pokémon
fosse um pouco mais corajoso, com certeza teria corrido para bem longe.
Mas Bulbasaur travou ao se
ver diante daqueles dois Pokémon, que ele não sabia se eram reais ou frutos de
sua imaginação fértil. Dois enormes Houndooms, muito diferente do que se
conhecia, caminhavam devagar para o pequeno Pokémon de Grama, que se encolhia
de medo. Eles, além do tamanho exageradamente maior do que os Pokémon de mesma
espécie, tinham chifres enormes que pareciam feitos de ossos e uma armadura
espinhenta que protegia todo seu corpo. Encaravam Bulbasaur de forma maliciosa,
sedenta, como se há muito tempo estivessem esperando algo do tipo — e isso não
era nada bom, muito pelo contrário.
— Isso não é nada bom, nada
bom... — repetiu Bulbasaur, como se tivesse ouvido o que o Narrador estava
descrevendo.
Uma rajada de sementes foi
disparada entre o Pokémon e a dupla de Houndoom. Uma nuvem de poeira subiu e
tanto Bulbasaur, quanto os Houndoom surpreenderam-se, olhando para os lados
tentando localizar a fonte daquilo.
Um Pokémon saltou de um dos
galhos das árvores, pousando ao lado de Bulbasaur. Era pequena e tinha uma
coloração pálida, com brotos verdes escuros em seu pescoço. Sua cabeça era proporcionalmente
grande em comparação ao resto do corpo e possuía grandes olhos vermelhos. Suas
quatro pernas curtas com um único dedo do pé pregado em cada uma e uma cauda
atarracada. No topo da cabeça, havia uma folha grande e verde que emanava um
aroma suave.
— Se você quer sair vivo
daqui, apenas faça o que eu digo.
Dois cipós saíram das
sementes de seu pescoço e se esticaram para o alto, agarrando em um dos galhos
das tantas árvores imensas aos arredores. Bulbasaur imitou a desconhecida e do
bulbo em suas costas, também lançou cipós em direção aos galhos das árvores.
Os dois Houndoom avançaram
ferozes, tentando morder os dois Pokémon de planta com seu Fire Fang. Os Pokémon rosnavam e latiam e Bulbasaur continuava
tremendo de medo, sem saber o que fazer.
— Não fica aí parado, cara!
Me ajuda aqui! — pediu a Pokémon, mandando algumas Razor Leaves nos oponentes, sem sucesso.
Bulbasaur olhou para baixo e
viu os dois Houndoom olhando de volta para cima pensando em uma maneira de
chegar até ele. Lançou do bulbo vegetal em suas costas um fino pó azul que
levitou suavemente até espalhar-se pelo ar.
Os cães de fogo, no entanto,
não iam ceder tão fácil. De suas bocarras, um poderoso jato de fogo fora
disparado e se uniram em um só Flamethrower,
disparado na direção dos dois Pokémon de grama. As labaredas por pouco não
atingiram Chikorita, que agilmente pulou entre os galhos das árvores,
mantendo-se distante dos inimigos.
A grande vantagem daqueles
Pokémon do tipo Grama era que eles podiam se camuflar por entre as folhas das
copas das árvores. Enquanto Bulbasaur tentava se equilibrar em cima dos galhos,
um dos Houndoom atingiu a árvore em que o Pokémon estava com um Fire Fang, desequilibrando-o e o fazendo
vir ao chão. O enorme oponente preparou um Flamethrower
em sua direção, mas o golpe fora repelido quando Chikorita pulou na frente e
utilizou seu Reflect, fazendo o
ataque se dissipar.
Tantos golpes de fogo logo
fizeram a intocada floresta sucumbir. As chamas rapidamente se espalhavam,
impedindo que tanto Bulbasaur, quanto Chikorita pudessem fugir de alguma
maneira.
— Vocês estão na nossa área,
bebês... Vocês estão fritos! — bradou
um dos Houndoom de forma maliciosa.
— Né por nada não, mas eu
acho que essa é uma péssima hora pra fazer piada. — Repreendeu Bulbasaur.
Os dois cães de fogo
avançaram ferozes para cima dos Pokémon.
— A porta! — exclamou
Chikorita.
Os dois Pokémon desviaram de
seus algozes e correram em direção à porta de madeira que dava de entrada para
o templo. Uma das imensas árvores de grosso tronco caiu ao chão, consumida pelo
fogo, impedindo a passagem de Bulbasaur e Chikorita. A Pokémon pensava rápido,
logo, usou suas vinhas para agarrar-se ao cipó que caía da enjunta branca e
subir agilmente até a empena, alguns metros acima do chão. Já Bulbasaur,
permanecia em pânico demais para conseguir pensar em correr. As chamas imensas
e ferozes já consumiam grande parte dos arredores e mais árvores caíam. Não
havia onde se esconder quando os dois Houndoom avançaram com a bocarra aberta,
mostrando seus dentes afiados prontos para devorar o pobre Pokémon.
Chikorita usou seu Bullet Seed para atingir o rosto de um dos cães de fogo que perdeu o equilíbrio
e caiu por cima do segundo, vindo ambos a cair ao chão.
— CORRE PELA SUA VIDA! —
Bulbasaur nem precisou ouvir duas vezes o berro de Chikorita.
Por ser pequeno, Bulbasaur
conseguia ser ágil para desviar dos galhos incandescentes que caíam em cima de
sua cabeça. Sentiu quando os Houndooms levantaram-se e começaram a persegui-lo.
A única ideia que passou pela sua cabeça foi liberar seu Sleep Powder enquanto corria sem olhar para trás. Usando seus cipós, agarrava-se aos troncos e
galhos das árvores e balançava-se de um lado para o outro tentando
desesperadamente atordoar seus caçadores.
Ao ter coragem de olhar para
trás, viu que o sono havia derrubado os cães de fogo. As chamas continuavam a
queimar cada centímetro de vegetal que conseguia alcançar, logo Bulbasaur
correu de volta para a porta que levava para dentro do templo, onde Chikorita o
aguardava.
Os dois fecharam a porta e
logo a escuridão tomou conta do ambiente. Sem alarde, um castiçal acima da
porta acendeu. E, em um efeito dominó, outros castiçais foram acendendo e
iluminando o corredor que dava para outra porta, alguns poucos metros à frente
da dupla. Bulbasaur mantinha sua respiração exaltada, continuava assustado e
olhava para todos os lados, procurando entender o que estava acontecendo.
— Não se mova. Tem alguma
coisa nos observando — disse Chikorita.
Ao olhar para cima, Bulbasaur
soltou um berro. Um Ariados o encarava com de olhos bem abertos, descendo
devagar apoiado com sua teia.
— Será que esse lugar só tem Pokémon
com vantagem de tipo?! Como que querem que eu me defenda?! — reclamava Bulbasaur.
— A porta, agora! — exclamou
Chikorita, fazendo com que o colega a seguisse com pressa.
Ariados pulou no chão e
avançou contra a dupla de Pokémon de Grama, e teria conseguido capturá-los com
suas presas venenosas por um milésimo de segundo a menos. Deu de cara com a
porta, selada por dentro por Chikorita.
— O que está acontecendo
aqui? Onde eu estou? Quem é você? — perguntou Bulbasaur para Chikorita, de
forma afobada.
— Um cara de túnica verde e
orelha pontuda fez essa mesma pergunta, nessa exata sequência, e eu vou
responder pra você o que disse pra ele: Calma aí, meu consagrado. Relaxa e
respire fundo. Estamos bem agora.
Chikorita andou para frente e
desceu três degraus do enorme coreto feito de ouro. A Pokémon olhou para trás e
observou um Bulbasaur abismado olhando para a sala oval cuja degradação do lado
de fora parecia não ter conseguido penetrar a fortaleza de mármore que a
protegia. As paredes de pedra permaneciam
estáticas e não se ouvia absolutamente nada vindo do interior daquele local, aparentemente
ambos estavam seguros por enquanto.
— Você não vem? Está tudo bem
— comentou Chikorita.
Bulbasaur, ainda desconfiado,
começou a andar em direção ao centro da sala, onde um coreto menor, feito de
concreto, se encontrava. Dentro dele, quatro castiçais enormes faziam a
iluminação do ambiente, com velas que queimavam lentamente. Bulbasaur reparou
que estava de pé em cima de um tapete vermelho que levava até este coreto, onde
uma espécie de elevador aguardava seu próximo usuário.
— Que lugar é esse? —
perguntou o Pokémon.
— Eu não sei. Eu um dia
acordei aqui e desde então, nunca mais consegui achar a saída.
Bulbasaur encarou a Pokémon
de olhos arregalados.
— Meu nome é Chikorita. Eu
serei sua guia turística por este que eu chamo de Templo da Floresta. A viagem
será longa, espero que você não tenha outros compromissos.
— Esse lugar não tem
saída...?
— Pelo o que eu analisei, até
tem sim. Fica debaixo dos nossos pés. Usa-se o elevador para alcançar o piso
inferior — respondeu Chikorita, apontando com sua folha para o elevador no
centro da sala, dentro do coreto de concreto.
Bulbasaur correu até lá.
— Então é fácil, é só a gente
entrar nele e vazar daqui!
— É inútil — respondeu a
Pokémon.
— Por quê?
— Por causa deles.
Bulbasaur voltou a encarar o
coreto. Ao aproximar-se do elevador, uma forte ventania tomou conta do local. O
fogo nas velas nos castiçais se apagou.
Uma visão horripilante se
mostrou.
Uma Misdreavus, acompanhada
de Gastly, Haunter e Gengar, que parecia liderar o grupo, cercaram Bulbasaur,
sussurrando em seu ouvido palavrões e maldições e transpassando o corpo do Pokémon.
Os golpes do tipo Fantasma nem eram super-efetivos em Pokémon do tipo Grama,
mas a dança macabra que fazia Bulbasaur ver espíritos, esqueletos e sangue
espalhados pelas paredes, outrora brancas, o fez dar um passo para trás, com um
grito de horror preso em sua garganta. Ao fazê-lo, os fantasmas dispersaram-se
e voltaram a arder como chamas aquecendo os quatro castiçais que iluminavam o
Templo da Floresta.
Paralisado de medo, Bulbasaur
não viu a aproximação de Chikorita.
— Por mais que eu tente, eu
sempre vejo coisas horríveis ao me aproximar desse elevador. Vamos, você tem
muito que ver ainda.
Chikorita cruzou o salão oval
em direção a uma porta lateral. Bulbasaur não se moveu, paralisado de medo e
ainda revendo tais cenas em sua cabeça.
***
— Irmão, fica frio! Tu tá
muito nervoso, meu parça.
— Me chama de irmão de novo
que a tua chapa vai esquentar!
— Irmão, estamos dentro de um
vulcão. Aqui, TUDO é quente, meu parça! A chapa esquentou faz tempo, hahaha!
Magby, se já era um poço de
bom humor e paciência, havia perdido tudo o que lhe restava naquele local
horrível. Acompanhado de um Graveler tatuado que tinha o dobro de seu tamanho,
havia acordado no meio de uma caverna construída dentro de um vulcão. Não havia
saída.
O Pokémon de Fogo havia encontrado
o tal Graveler correndo desesperado gritando por socorro. Claro, a lógica era
que alguém que estivesse ali com certeza saberia o caminho da saída. Em nenhum
momento, passou pela cabeça do Magby que Graveler também poderia estar perdido.
Em trinta segundos de conversa, o Pokémon de Fogo arrependeu-se amargamente de
ter iniciado a conversa. Graveler era tagarela, só falava em gíria e sua voz
grave, apesar de ameaçadora no início, logo começou a despertar enxaquecas no
pobre Pokémon. O Magby irritadiço havia encontrado alguém que lhe irritava mais
do que o pobre Psyduck.
— Assim que eu encontrar os
demais integrantes da Equipe de Resgate dos Corações de Ouro, eu vou me
demitir! É isso, já deu, eu não aguento mais!
— Irmão, relaxa. Tu precisa
desse emprego, meu parça.
E nem adiantava Magby usar
qualquer tipo de golpe no Graveler para assassiná-lo e calá-lo por toda a
eternidade. Ele, sendo do tipo Pedra e Terra, era resistente aos golpes do tipo
Fogo. Nem a lava, espalhada por todos os lados, o machucaria.
***
...Em
algum lugar no fundo do oceano...
—
Eu não aguento mais... — lamentou Psyduck pela centésima vez.
Ao
seu lado, um Pokémon roliço de cor azulada o encarava choroso.
—
VOCÊ NÃO ME AGUENTA MAIS?! COMO ASSIM?! EU SOU SUA NOIVA, SABIA? VOCÊ NÃO PODE
FALAR ASSIM COMIGO!
A dor de cabeça de Psyduck só
ficava mais intensa.
Ele acordou dentro de uma
caverna submarina que era inundada quando a maré subia e retornava ao vazio
quando ela abaixava. No entanto, cada
evento ocorria a cada dezessete minutos e meio e assim permanecia até o
próximo. Agora, a maré estava baixa e a caverna vazia. E o fato de Psyduck não
saber nadar, era um grande problema, afinal, ele ficava boiando submerso até a
caverna esvaziar de novo.
E o ciclo se repetia.
Ao lado de Psyduck, estava
Marill. A Pokémon apaixonou-se imediatamente pelo Pokémon ao vê-lo se afogando
nas águas salgadas do oceano. O que,
convenhamos, é levemente bizarro. Mas Psyduck achava ainda mais estranho o fato
de acordar no fundo do mar, então, ter a companhia de Marill, apesar de ela ser
obsessivamente adorável.
— Marill, eu não me referia a
você na parte de não aguentar mais... Eu falo dessa caverna... — explicou o
Pokémon mais uma vez.
Marill pareceu se convencer.
— Mas... Pense pelo lado positivo.
Poderemos ficar juntinhos. Pra sempre. Por toda a eternidade, só eu e você, no
nosso ninho úmido de amor ♥ — dizia Marill enquanto agarrava Psyduck e o beijava em todo pedaço do
corpo que conseguia alcançar.
— Ai meu Kyogre...
E a maré voltava a ficar alta e encher a
caverna mais uma vez...
***
Detetive Wobbuffet encontrava-se sozinho,
pendurado de ponta-cabeça na ponta de um mastro de um navio que navegava por um
mar de escuridão. Seus olhos já não estavam mais vendados, então ele podia ver
Gastlys flutuando de forma medonha pelo alto, assombrando e amaldiçoando aquele
lugar. Wobbuffet estava amarrado com teias de aranha, que o agarravam com força
o impedindo de se movimentar.
— Parece que o senhor acordou.
Aquela voz grave atiçou a curiosidade de
Wobbuffet. Mesmo sem conhecer a fonte daquela afirmação, o detetive resolveu
responder.
— Golpes Psíquicos não são muito efetivos
em mim.
A risada macabra ecoou por aquele lugar que
já era, por si só, assustador.
— É claro, é claro... Eu deveria saber
disso.
— Você vai me tirar daqui para termos uma
conversa digna entre dois cavalheiros ou continuaremos a brincar de gato e
rato?
Chamas foram disparadas. As teias que
prendiam o detetive queimaram, libertando-o, porém fazendo Wobbuffet cair ao
chão, com força. O detetive levantou-se e mexeu dentro de seu sobretudo.
— Está procurando seu charuto? Aqui é
proibido fumar — retrucou a voz.
Ao olhar para frente, viu em sua frente
Carlos, o Stantler, jogado ao chão. Logo, correu para socorrê-lo.
— Carlos! Carlos, você está bem? — chamava
o detetive.
Stantler murmurava palavras inaudíveis.
— Onde está o Pichu?
— Eu não... Sei... Não me lembro de
nada... Eu só... Acordei aqui...
— Assim como todos que entram na Fábrica
de Brinquedos, ele ficou preso dentro de um mundo construído por mim... Um
mundo dos sonhos, onde todos os meus prisioneiros permanecem enlouquecendo, até
perderem sua sanidade... — a voz ficava cada vez mais alta e próxima.
— Eu sabia que era Hypnosis... Então você também é um Pokémon Psíquico — concluiu
Wobbuffet, enquanto auxiliava Carlos a se erguer. — E deve ser um dos
poderosos.
— Fico feliz com seu elogio.
Os Gastlys que flutuavam começaram a se
juntar em uma enorme bola de gás. Aproximaram-se do deque do navio onde estavam
o detetive e o Stantler e transformaram-se em uma densa névoa de gás de onde um
Hypno surgiu, caminhando lentamente em direção aos dois.
— Vejo que não economizou nos efeitos
especiais — disse Wobbuffet.
— Bem-vindo ao meu mundo, o mundo dos
sonhos de qualquer pessoa: O Polo Norte!
O navio em que aqueles Pokémon estavam
atracou em algum lugar no mar escuro. O detetive olhou para os lados e viu a
paisagem mudar. Flocos de neve começaram a cair e um vento gelado começou a
soprar. Tudo se dissolveu, o Detetive Wobbuffet estava novamente do lado de
fora da Fábrica de Brinquedos.
— Para um Pokémon Psíquico, você não
parece ter medo de fantasmas — disse Wobbuffet para o Hypno.
— Medo? Não. Eu causo medo. Eles são meus
aliados, assim, eu me tornei o Pokémon mais forte do mundo. Me acompanhem, eu
tenho que guiá-los através da minha terra dos sonhos.
Hypno estalou os dedos. A ilusão dissolveu-se
mais uma vez, mas não se sabia se outra havia sido criada em seu lugar. Todos
agora estavam dentro de uma pequena sala escura, sem mobílias, onde apenas
Gastlys continuavam a flutuar com sua dança medonha. A luz era gerada por quatro
castiçais, posicionados nos quatro cantos extremos daquela sala, que emitiam
quatro chamas coloridas.
Ao saírem da sala, um grande panorama dava
visão da sala de Hypno para todos os setores da Fábrica de Brinquedos. Os
grandes maquinários ficavam ainda mais belos de serem vistos da parte superior,
os braços de metal faziam uma dança coordenada em todas as direções,
fabricando, embalando e distribuindo cada brinquedo novo.
— Como vocês podem ver, nossa fábrica
funciona com muita tecnologia. Cada máquina sabe exatamente qual brinquedo
produzir, como embalar e qual Stantler vai levar. É o suprassumo do
entretenimento — explicou Hypno.
— Eu não estou interessado na sua
tecnologia. Eu quero saber de três coisas: Aonde está Papai Noel, por que uma
das Jynx assistentes foi congelada, aparecendo há milhares de quilômetros daqui
e, o mais importante, aonde está Pichu, um dos meus assistentes?
— Muitas perguntas, muitas perguntas... —
sorria Hypno. — Por que você mesmo não faz essa pergunta pra ele?
Ao olhar para trás, Wobbuffet viu Pichu
aproximando-se devagar. Ele estava estranho... Diferente da figura alegre e
saltitante de antes, este estava cabisbaixo, andando devagar, quase se
arrastando.
Pichu encarou o detetive. Seus olhos não
tinham pupilas, estavam dominados por uma cor púrpura. Faíscas saíam de suas
bochechas e a voz que saiu de sua boca arrepiou a espinha do Detetive
Wobbuffet.
— Vá embora!!!
O Pokémon atacou com Thundershock e o detetive prontamente rebateu com Mirror Coat, rebatendo o golpe e o jogando
contra Pichu.
— Olha só, parece que nosso amiguinho
parece estar levemente rebelde — disse Hypno de forma irônica.
Wobbuffet se virou para ele de forma
furiosa.
— O que você fez com ele?!
— Não se preocupe, ele está bem. Ele está
sob meu controle, em um sono profundo. Sua mente produz imagens que o fazem
achar que está em algum lugar por aí... Você estava em cima daquele barco, não
é? Cada Pokémon tem seu próprio sonho.
— Maldito! O que você fez com os outros?!
— Eles estão trabalhando. Todas as
crianças que se intrometem em assuntos dos adultos viram minhas escravas. Veja,
detetive, suas crianças não são lindas quando estão ocupadas trabalhando?
Um novo olhar para baixo fez Wobbuffet
soltar uma exclamação alta. Como zumbis, Bulbasaur, Psyduck e Magby trabalhavam
ao lado das máquinas, pegando os brinquedos que eram trazidos até eles pelos
braços mecânicos e levando-os até as esteiras que levavam para o interior da
fábrica. Ao lado deles, um Smoochum, também hipnotizado, supervisionava o
trabalho do trio.
— Como você ousa?! — bradou Wobbuffet.
— Acalme-se, detetive. Você está muito
exaltado.
Carlos atacou Wobbuffet pelas costas
usando o Astonish. O detetive sentiu
uma enorme pressão que o derrubou violentamente no chão. O golpe super-efetivo
o desestabilizou, seu equilíbrio pareceu ser afetado. As coisas estavam rodando.
— C-Carlos? Você também está sob o efeito
da Hypnosis? — perguntou Wobbuffet,
tonto.
Leeca
— Carlos é meu braço direito. Detetive,
deixe-me contar uma história... Muitos anos atrás, esse local era comandado por
Papai Noel, o senhor Nicolau. Eu era seu Pokémon... Mas, eu acabei percebendo
que eu ganharia muito mais se não cumprisse as ordens dele. Então, eu
hipnotizei a todos com meus incríveis poderes e fiz todos de mascote. Claro que
todo plano incrível requer algum tempo de construção. Então, eu fiz nos últimos
anos, Nicolau conquistar a antipatia de todos os Pokémon que vivem na ilha...
Carlos me ajudou a espalhar a noticia e agora, estou aqui, criando um novo e
fantástico mundo onde todos estão felizes. Sequer reclamam! Tudo bem, eles
estão hipnotizados, mas o que interessa é que dominaremos não apenas o Natal,
mas o ano inteiro!
Wobbuffet avançou em Hypno, mas o mesmo
estalou os dedos. A porta de sua sala se abriu com violência e os Gastlys que
estavam nela saíram, partindo para cima do detetive. Os gases começaram a
sufocá-lo e ele caiu ao chão.
— Engraçado como, por mais que você seja
um aliado da justiça, está sendo dominado feito um fantoche. Você não é muito
diferente desses seus mini-assistentes... Não resista, você vai acabar ajudando
o Grande Hypno a construir seu império enorme! Muahahaha!
Hypno avançou devagar na direção de
Wobbuffet e cuspiu em seu rosto.
— Ah, a resposta para a sua última
pergunta... A Jynx congelada foi uma surpresa. Sabe aquela Smoochum que está
ali em baixo? Ele é filha dessa Jynx, a congelada. Ela queria ser assistente do
Papai Noel, mas sua mãe não deixou. A função dela, como um Pokémon de Gelo, era
usar seus poderes numa máquina que temos, que faz nevar por todo o planeta... A
ganância dela foi sua ruína... Ela acabou congelando a própria mãe... Para
sempre.
— Ou será que não? — ressonou uma voz
poderosa.
Ao olhar para baixo, Hypno viu o delegado Arcanine
entrando com vigor dentro da fábrica, acompanhado por um verdadeiro exército de
Pokémon.
— Parado em nome da Lei! Você está preso!
— anunciou Graveler.
Mais um estalar de dedos. Os Gastly que
sufocavam o detetive Wobbuffet o largaram e partiram para cima de Arcanine e
sua equipe. Um agente Umbreon pulou à frente do esquadrão e usou seu Pursuit para atacar os Pokémon
fantasmas, que recuaram. Hypno estalou os dedos mais uma vez. Os Pokémon que
estavam trabalhando na Fábrica de Brinquedos — incluindo a Equipe de Resgate
dos Corações de Ouro —, se viraram contra a força policial.
— Senhor, nós temos um problema... —
comentou Graveler para Arcanine.
— Então daremos a solução. Esses Pokémon
estão enfeitiçados. Dominem-nos, porém não os machuquem. Há muitos inocentes
por aqui.
Logo, os Pokémon da fábrica começaram a
enfrentar a polícia. Hypno tentou fugir, mas Detetive Wobbuffet logo foi atrás
dele. Carlos, o Stantler, tentou esgueirar-se pelos corredores e sumiu de vista
enquanto o tumulto acontecia.
Wobbuffet usou seu Selo das Sombras* para
impedir que Hypno conseguisse deixar o local.
— Você não vai pra lugar nenhum — disse o
detetive. Apesar de machucado, ele fazia o possível para manter o Hypno longe
de qualquer porta que pudesse fugir.
— E quem é que vai me impedir? — apesar de
visivelmente sem saída, Hypno não se daria por vencido.
— Eu.
A voz de Pichu surpreendeu até mesmo o
próprio Hypno.
— Moleque! Como você...?
— Milagre de Natal — respondeu o Pokémon
usando seu Thundershock no Pokémon.
Wobbuffet socou o Pokémon no rosto. Ser
atacado o fez perder a concentração por algum tempo, o suficiente para que a
hipnose em conjunto fosse interrompida.
Os Pokémon sob o domínio do Hypnosis despertaram de seus sonhos.
Bulbasaur, que estava próximo a uma das
esteiras, voltou à consciência. Olhou para os lados e não lembrava como havia
chegado até ali. Não estava mais dentro do Templo da Floresta e não tinha mais
Chikorita a seu lado. O cheiro de grama não estava mais no ar.
— Chikorita? — chamou o Pokémon.
— Bulbasaur! — respondeu uma voz.
O Pokémon se virou esperançoso, mas era
Magby que corria em sua direção. Bulbasaur não escondeu a expressão de
decepção.
— Cara, você tá bem? Você não faz ideia de
como é bom te ver de novo!
— É, eu te digo o mesmo... — suspirou o
Pokémon. — Cadê o Pichu?
— Sei lá... Você viu o Psyduck?
— Negativo.
Uma explosão foi ouvida. Milhões de cacos
de vidro foram espalhados pelo andar de baixo devido à destruição do andar
superior onde ficava a sala de Hypno. Pichu e Wobbuffet batalhavam contra o
Hypno, que usava seus poderes para contra-atacar. Bulbasaur e Magby se olharam
e correram para o centro da confusão. A polícia invadiu a fábrica e começou a
atacar e destruir cada equipamento e a resgatar os Pokémon que despertavam do
transe.
Magby e Bulbasaur logo chegaram ao
destino, a área abaixo do local onde acontecia a luta mais séria.
— Esse seria um excelente momento pra
gente fazer a nossa Posição de Resgate número 17, mas... CADÊ O PSYDUCK?! —
perguntou Magby, bravo.
— Calma, pessoal, tô chegando!
Psyduck vinha correndo na direção dos
amigos. Arfava de cansaço, como sempre, e tropeçava nos seus pés de pato, que o
fazia andar desengonçado. A surpresa, no entanto, era uma Marill que parecia
estar seguindo-o.
— Aí, quem é essa mina? — perguntou Magby.
— Longa história... Eu conto depois...
Posição 17... Né? — perguntou Psyduck, suado e cansado.
— Quem são esses aí? Como assim você não
vai me apresentar direito? Você tem vergonha de mim? VOCÊ TEM VERGONHA DE MIM?!
— perguntava a Marill, chorando.
— Xiii... Deu ruim — disse Bulbasaur.
Psyduck usou seu Confusion para levitar Magby até o andar superior, fazendo o mesmo
com Bulbasaur em seguida. Usando seus cipós, o Pokémon foi içado também.
A Equipe de Resgate dos Corações de Ouro
estava novamente reunida.
— Meninos, isso é assunto de gente
grande... — disse Wobbuffet ao notar a presença dos pequenos, sem esconder um
sorrisinho de canto de boca.
— Aí, tio, o resgate chegou. Dá um espaço
aí pra gente chutar a bunda desse cara! Tu tem noção que eu fui parar DENTRO DE
UM VULCÃO com um Golem muito louco? Cara, eu preferiria estar com o Psyduck,
que é mais tolerável! — reclamou Magby.
— Equipe de Resgate dos Corações de
Ouro... Hora de atacar! — ordenou Pichu.
O Vine
Whip de Bulbasaur agarrou o corpo de Hypno enquanto Pichu, Psyduck e Magby
combinaram um poderoso ataque em conjunto, onde o Thundershock fusionou com o Water
Gun e formou, junto com o Fire Spin,
uma versão alternativa e mais poderosa do Tri
Attack. O Selo das Sombras de Wobbuffet impedia que Hypno escapasse, o
acerto foi inevitável.
Hypno caiu para o andar térreo, onde foi
cercado pela polícia.
— Perdeu, perdeu. Você tá preso — anunciou
Graveler.
Hypno não se moveu.
A Equipe de Resgate dos Corações de Ouro
se abraçou. Os integrantes arfavam cansados, mas deram um sorriso satisfeito.
— Cara, como é bom estar de volta! —
exclamou Magby. — Nunca mais eu vou dormir outra vez!
— Nem me fale! A realidade é muito melhor
— completou Psyduck.
— É, verdade... — suspirou Bulbasaur,
triste.
— Que foi, cara? — perguntou Magby.
— Nada, nada... Tá tudo certo! — respondeu
o Pokémon, forçando um sorriso.
— Ei! Já te disseram que você é péssimo
mentindo? — gritou uma voz feminina do andar inferior.
Bulbasaur arregalou os olhos ao ver
Chikorita. O Pokémon logo correu para descer e ir falar com a Pokémon.
— Chikorita, você está bem!
— Claro que eu estou. Você acha que eu sou
o quê? Eu sobrevivi aquele templo escuro um tempão! A realidade não ia me
quebrar assim tão fácil.
O Pokémon sorriu envergonhado.
Magby fechou a cara.
— Ah lá, cara. Flor nova no jardim, o
Bulba já ficou todo, todo — reclamou para Psyduck.
— Relaxa, cara. Você ainda tem a mim —
sorriu o companheiro.
— COMO É QUE É?! VOCÊ JÁ ME ESQUECEU?!
— Salve, meu irmão! Tá escondido aí, meu
parça?
A Marill e o Golem também estavam no andar
inferior, olhando para os dois Pokémon. No entanto, diferente de Bulbasaur, nem
Magby, nem Psyduck, pareceram felizes de reencontrar os “companheiros”.
— Pichu, seguinte, você dá um choque na
gente e a gente finge que morre, tudo bem? — cochichou Magby ao líder. — Pichu?
Magby foi ignorado. O Pokémon elétrico
caminhava em direção ao Detetive Wobbuffet, que permanecia estático olhando
Hypno ser levado para a cadeia.
— A gente pede um favor pro cara e é
ignorado desse jeito! Eu juro como eu vou procurar outro emprego!
Wobbuffet acendia um outro charuto. Ao ver
a aproximação de Pichu, o apagou.
— Bom trabalho, guri.
— Bom trabalho, tio. Foram dias bem
loucos. Não é?
— Com certeza.
Silêncio. Pichu tossiu.
— Cof...
Então... O senhor não quer entrar pra nossa Equipe de Resgate?
Wobbuffet desviou o olhar do Hypno e o colocou
em Pichu.
— Como é?
— É... Fazer parte do nosso grupo.
— Olha garoto, eu trabalho sozinho. Foi
mal.
Pichu arregalou os olhos e sentiu seu
rosto corar. Wobbuffet sorriu.
— Você não precisa de mim. Seu faro investigativo
é ótimo. Você me superou nessa investigação... Detetive.
Pichu olhou para Wobbuffet e seus olhos
brilhavam. O Pokémon abraçou o detetive com força.
— Por favor, não se esqueça de mim.
Wobbuffet pegou seu chapéu e depositou na
cabeça do pequeno.
— Leve com você. Venho buscar qualquer dia
desses.
O detetive caminhou em direção às escadas
para o andar inferior sem olhar para trás.
***
As crianças pareceram decepcionadas.
— Mas eu queria tanto que eles
trabalhassem juntos... — suspirou a menina.
— E no final das contas, o Hypno e todos
os Pokémon malvados que estavam com ele foram presos — concluiu o pai.
— Mas... E o detetive Wobbuffet? —
perguntou a menina.
— Detetive Wobbuffet foi promovido à
agente da Polícia, mas ele resolveu ficar como detetive — explicou a mãe.
— Fizeram um Wobbuffet pra ele! — Mais uma vez, os trocadilhos do pai fizeram as
crianças rirem.
— Mas e o Delibird? A Jynx? E a Equipe de
Resgate dos Corações de Ouro?! O Papai Noel apareceu? — quis saber o menino.
— O Delibird foi perdoado, porque ele
estava enfeitiçado pelo Hypno do mal. A Jynx foi descongelada e deu uma surra na
sua filha por tê-la enganado. A Equipe de Resgate dos Corações de Ouro foi
parabenizada. Estátuas foram construídas para cada um dos integrantes.
— Quanto ao Papai Noel... Bem, ele foi
encontrado dormindo dentro da Fábrica. Ao ser despertado, ele logo correu para
entregar o resto dos presentes.
— E como ele fez isso?! — perguntaram os
irmãos de forma sincronizada.
O casal se olhou e sorriu.
— Graças ao Celebi! — responderam os dois.
Os irmãos se olharam e sorriram.
— Que demais! — exclamou a menina.
— Bem, agora durmam antes que eu chame o
Hypno para hipnotizar vocês também! — ameaçou a mãe.
As crianças se encolheram de medo.
— Não se preocupem! O Wobbuffet do papai
sempre estará aqui para proteger vocês do Hypno malvado!
THE END
*Nota: Selo das Sombras se refere à Ability Shadow
Tag.
C A S T
PICHU..............................................Pichu
MAGBY..........................................Magby
PSYDUCK....................................Psyduck
BULBASAUR............................Bulbasaur
WOBBUFFET......................................Wobbuffet
DELEGADO..........................................Arcanine
GRAVELER.........................................Graveler
RECEPCIONISTA DA DELEGACIA.......Furret
HYPNO..........................................Hypno
DELIBIRD...................................Delibird
GARÇOM................................Pidgeotto
BULL........................................Granbull
SEGURANÇA.....…………….…….Feraligatr
SEGURANÇA....…………….…….Machamp
SEGURANÇA..........……….…….Primeape
DANÇARINAS............................Miltank
ENFERMEIRAS.........................Chansey
PAI.............Protagonista misterioso #1
MÃE..........Protagonista misteriosa #2
FILHO.........Protagonista misterioso #3
FILHA.........Protagonista misteriosa #4
CORSOLA..................................Corsola
SMEARGLE............................Smeargle
UMBREON.............................Umbreon
SMOOCHUM......................Smoochum
GUEST STAR
SNORLAX....................................Snorlax
LICKILICKY................................Lickilicky
JYNX.................................................Jynx
PAPAI
NOEL........................Nicolau Noel
XATU...............................................Xatu
REI DA ILHA.............................Slowking
ET BILU.................................Beheeyem
CARLOS.....................................Stantler
CHIKORITA..............................Chikorita
GOLEM.......................................Golem
MARILL........................................Marill
Os demais personagens são figurantes e
ninguém liga pra eles.
PRODUCERS
Leeca
Jolly Enderman
Dark Grovyle
Sir Naponielli
Donnel
Shiny Reshiram
EXECUTIVE PRODUCERS
ALIANÇA AVENTURAS
Dento
Canas Ominous
Shadow
A EQUIPE DE RESGATE DOS CORAÇÕES DE OURO
Pichu
Bulbasaur
Magby
Psyduck
NINTENDO
Shigeru Miyamoto
Eiji Aonuma
GAME FREAK
Satoshi Tajiri
Junichi Masuda
Ken Sugimori
Shigeki Morimoto
THE POKÉMON COMPANY
Tsunekazu Ishihara
SCRIPT:
SCRIPT:
Dento
Canas Ominous
Leeca
Based on POKÉMON,
by NINTENDO/GAME FREAK/CREATURES INC.
Based on AVENTURAS
EM JOHTO, by Dento
Based on THE
LEGEND OF ZELDA: OCARINA OF TIME, by NINTENDO
DIRECTED BY
Dento
Canas Ominous
A Equipe de Resgate dos Corações de Ouro
©1995-2019 Pokémon/Nintendo/GAMEFREAK/Creatures
Inc.
©2019 Aliança Aventuras
©2019 PIKACHU THE MOVIE ϞϞ(๑⚈ ․̫ ⚈๑)∩
©2019 PIKACHU THE MOVIE ϞϞ(๑⚈ ․̫ ⚈๑)∩
©2019 A Equipe de Resgate dos Corações de Ouro
Todos os direitos reservados.
Capítulo 55

Pela
primeira vez em muito tempo, tudo andava muito bem. Já fazia duas semanas que
Ethan, Amy e Forrest haviam chegado na cidade de Mahogany e o mundo ao redor
deles quase entrou em colapso. Mas, pelo menos, a Equipe Rocket já não dava
sinais de vida, o que era um alivio para Amy e mais ainda para Ethan, que agora
a tinha oficialmente como namorada e preocupava-se em dobro. Claro, nem ele e
nem Amy fizeram um pedido formal como manda o figurino, apenas decidiram em
ficar juntos, ponto final. Nada era mais importante pra Ethan agora do que a
recuperação plena de Amy. Para o garoto, a organização ainda era um empecilho,
mas ele sabia que dessa vez havia a esperança de que a Equipe Rocket não
causaria problemas por algum tempo.
Para ela,
só o fato de ter sobrevivido já era o suficiente. O que importava era o
presente, havia feito uma promessa para si mesma que o passado não iria mais
interferir em sua vida. Com Ethan ao seu lado, tinha certeza de que ficaria
mais fácil do desejo se realizar.
Durante os
dias que a garota ficara internada no hospital, Ethan dividia seu tempo entre
visitar Amy e Pryce no hospital e encontrar-se com Forrest e os membros da Liga
Pokémon, da Elite 4 aos Líderes de Ginásio que participaram do ataque ao
quartel-general Rocket. Lance o informou que Clair era seu próximo desafio de
Ginásio e Ethan lamentou que não pode marcar seu desafio, a mulher havia ido
embora pouco tempo depois da operação, como era de seu feitio. O garoto também
conheceu o irmão de Forrest, Brock, Líder do Ginásio de Pewter, que o fizera
uma série de perguntas sobre a viagem do irmão. Era estranho, no entanto, ver
Forrest agindo de maneira tão ativa, visto que, durante a viagem, o garoto
acostumou-se a ter o amigo sempre sendo alguém passivo. Forrest nunca tomava as
rédeas da situação. Por um lado, Ethan gostava de ver o amigo dessa maneira,
visto que isso agregaria bastante em jornada — e com certeza seria ainda mais
útil na proteção de Amy.
Por outro
lado, parecia que Forrest era outra pessoa, diferente daquela que Ethan
conhecera meses atrás na cidade de Violet. Fazia tempo que ele não o via sorrir
— o que havia mudado nos últimos dias com a presença de seu irmão mais velho,
Brock..
O mundo ao
redor ia mudando e só agora, com outra cabeça, Ethan havia percebido.
No dia em
que Amy estava para receber alta, recebeu a visita de Forrest. Ethan já estava
presente no quarto quando o moreno entrou, meio sem jeito, e aproximou-se do
amigo, cumprimentando-o com um leve aceno de cabeça. Aproximou-se da cama onde
Amy repousava e a cumprimentou com um leve sorriso.
— Que susto
que você nos deu, hein, Amy?
A garota
sorriu.
— Eu jamais
imaginaria que você iria iniciar uma conversa comigo falando assim. Até parece
que não me conhece.
Forrest
dirigiu-se até um dos sofás que o quarto no hospital do Centro Pokémon
oferecia.
— E então,
como está a Elite 4? — questionou a garota.
— Te
parafraseando, eu jamais imaginaria que você iniciaria uma conversa comigo
começando com essa pauta. Bem, as investigações sobre a Equipe Rocket não
pararam, ainda há bastante coisa a se fazer... Mas, com o sumiço dos
integrantes da organização, a prioridade é localizá-los antes que eles possam
se reencontrar.
Amy pareceu
refletir por um instante antes de prosseguir.
— Quais as
probabilidades de a Equipe Rocket contra-atacar?
— Bem, você
mesma sabe que não estamos falando de bandidos comuns. Integrantes de máfias
poderosas não se dão por vencidos muito fácil. Se fosse assim, eles teriam se
dizimado anos atrás quando Red os derrotou.
— Ou
melhor, levou os créditos pelo feito, não é? — riu a garota.
Ethan se
manifestou pela primeira vez.
— Então nós
temos que tomar mais cuidado, não é? Afinal, a Equipe Rocket pode pegar no pé
da Amy de novo...
A garota
sorriu para o rapaz.
— Não se
preocupe, meu bem, eu vou ficar bem.
Forrest
sorriu.
— Ah, é.
Ele me contou sobre vocês, eu fico bem feliz em saber que vocês estão juntos.
Apesar de eu ter um pouco de inveja por eu estar solteiro ainda.
— Mas o que
vamos fazer agora? A gente vai se esconder? — perguntou Ethan.
Forrest
levou a mão ao queixo, perdido em pensamentos.
— Forrest,
o que você quer fazer? Você é quem está mais por dentro das informações
confidenciais da polícia. O que sugere? — Quis saber Amy.
— Olha, eu
vou ser sincero... Pelo o que eu andei ouvindo, é muito mais fácil pra Elite 4
manter controle sobre você caso haja alguma manifestação da Equipe Rocket pra
se vingar... Mas, eu acho que se estamos há tanto tempo em jornada e, apesar
das tentativas, a gente ainda não morreu, então eu não gostaria de esperar um
Slowpoke fazer chover... Vocês entendem a metáfora?
— Então
acha que a gente deve continuar viajando fingindo que tá tudo bem e sem se
preocupar que provavelmente a gente pode levar um tiro de uma gangue de malucos
que foram enganados duas vezes por alguns pirralhos? — ironizou Ethan.
— Bem, se
você não tem outra ideia melhor, então, sim — respondeu o moreno.
— Todo
mundo acreditou que vocês haviam me traído para poder ganhar a confiança da
Equipe Rocket. E eu sei que nesse meio tempo, você ficou bem poderoso, Forrest.
A conclusão que eu chego é que, se conseguimos passar a perna em todo mundo uma
vez, vamos conseguir fazer isso quantas vezes forem necessárias.
Ethan
bufou.
— Então tá
bem, façam como bem entenderem.
Forrest
olhou para o amigo.
— Você está
quase com oito insígnias, cara. Quer mesmo parar por aqui?
O garoto
encarou o moreno e suspirou.
— Na
verdade, eu nem sei o que eu quero...
— Falando
na Liga Pokémon, e como está o Pryce, Ethan? — perguntou Amy.
Ethan e
Forrest se encararam e uma feição preocupada tomou conta de seus rostos.
***
Amy
terminava de arrumar suas coisas no quarto no Centro Pokémon. Era seu último
dia na cidade de Mahogany e também o último dia da existência de Amanda Green,
a fugitiva da Equipe Rocket. Ela estava disposta a encarar sua nova vida,
começar de novo aceitando que não se podia alterar o passado, mas que poderia
fazer um novo futuro. Havia comprado novas roupas: Uma regata longa preta e
shorts jeans, substituindo a saia vermelha que a acompanhou durante tanto
tempo. O chapéu que usava para tentar esconder sua identidade foi guardado
dentro da bolsa amarela, agora assumia seus cabelos castanhos que cobriam suas
costas. Ao se olhar no espelho, viu seus olhos azuis refletirem uma nova
pessoa, uma nova menina que reaprendia a viver e uma nova mulher que estava
disposta a lidar com a vida da melhor maneira que conseguiria. Respirou fundo e
permitiu admirar-se por alguns instantes. Com um sorriso, se retirou do quarto
e desceu até a recepção do Centro Pokémon, onde Ethan e Forrest aguardavam. Ao
vê-la se aproximando, Ethan se engasgou com a própria saliva e Forrest abriu a
bocarra. Eles não estavam esperando encontrar Amy de forma tão diferente. Não
que ela não fosse uma moça bonita, mas havia rejuvenescido anos só de ter
mudado o visual — ela estava linda.
![]() |
Art by: Diego Chinatsu |
Amy até
ficou um pouco sem jeito ao ver as expressões de seus amigos.
— O que
foi? Ficou tão ruim assim? — ela sorriu.
— Você tá linda...
Quer dizer, mais do que já é... — comentou Ethan, sem graça.
— Arrasou!
— exclamou Forrest.
— Fico
feliz de ter acertado no figurino... Estou me sentindo uma pessoa nova.
Forrest
sorriu.
— Talvez
porque agora você realmente seja uma pessoa nova.
Ethan
aproximou-se de Amy e deu nela um selinho.
— Bem, acho
que antes de irmos embora em definitivo de Mahogany, temos uma última coisa a
fazer — disse ele aos amigos.
***
O Ginásio
da cidade se mantinha imponente como sempre. Grande parte dos visitantes da
cidade tinha seu endereço em mente e não perdia tempo: a única coisa que
importava era desafiar Pryce, seu líder, para conquistar a Insígnia Glacial, um
passo adiante no glorioso sonho de chegar à Liga Pokémon. Imbatível, era assim
que ele se definia. Apesar de não ser nem um pouco modesto, era verdade, no
entanto, que ele e seu Sandslash feito de gelo causavam dores de cabeça para
qualquer treinador desprevenido.
Mas, Pryce
olhava para o campo de batalha sentindo uma enorme tristeza dentro de si. Havia
recebido alta do hospital há poucos dias, mas o motivo de alegria logo foi
substituído por uma notícia que abalou o velho: Ele passaria o resto de seus
dias em uma cadeira de rodas. Logo ele que sempre se gabava pela sua
vitalidade, estava acabado. Ao proteger sua cidade dos vermes da Equipe Rocket,
a explosão que se sucedera o deixou paraplégico, pois a força com que ele
atingiu o chão foi tamanha que partiu sua coluna. O Líder de Ginásio que já
tinha fama de ser rabugento e antipático agora tinha motivos o bastante para
não ter mais alegria em sua vida.
Katherine
ficou observando o homem perdido em pensamentos por alguns instantes antes de
respirar fundo e caminhar até ele.
— Pryce,
você tem visitas.
— Você
ainda não foi embora, mulher? Eu não preciso de ninguém, eu estou acabado. Não
quero visitas — ele respondeu sem olhar para ela.
— Eu não
preciso receber ordens suas. Eu estou aqui porque eu quero estar, você querendo
ou não. Lembre-se de que você já foi casado comigo e, se me lembro bem, você
costumava dizer que me amava.
Pryce
demorou alguns segundos para responder.
— Eu te
amei até o momento em que eu descobri que você preferiu trocar nosso casamento
por um lugar idiota.
— Esta não
é uma boa hora para discutirmos isso pela bilionésima vez, seu velho imbecil.
Azalea nunca será uma cidade idiota, ela sempre será o lugar onde formamos
nossa família, quer você queira ou não. Eu prefiro mil vezes estar lá, próximo
da Floresta Ilex do que aqui, no topo de uma montanha isolada no mapa vivendo
solitária e ranzinza como você fez a vida inteira! Agora receba sua visita
idiota e arrume essa sua cara feia, eu vou preparar o almoço.
Katherine
saiu bufando da sala enquanto Pryce virou-se para ela pela primeira vez.
— Eu já
disse que eu não quero receber visitas!
O humor do
velho Líder de Ginásio não mudou ao ver a chegada de Ethan, Amy e Forrest.
— Olá,
senhor Pryce. Como o senhor está? — perguntou Amy.
— Como você
ainda tem coragem de perguntar como eu estou, sua pirralha insolente? Eu estou
ótimo, não está vendo? Eu estou em uma maldita cadeira de rodas e a culpa é de
vocês, todos vocês! Amaldiçoo o dia em que vocês apareceram na minha vida!
Amy ficou
constrangida. Ethan tentou a sorte.
— Senhor
Pryce, sentimos muito pelo o que aconteceu. Será que tem algo que podemos fazer
para que o senhor se sinta melhor?
— Sempre
tem. A principal delas: Sumam da minha cidade e não voltem mais! Eu já tive o
bastante de vocês e olha a minha situação! Se eu ver vocês de novo em minha
frente, quem vai ficar numa cadeira de rodas são vocês! Sumam, sumam!
Pryce
colocou os garotos para correr. Ao se retiraram do campo de batalha, deram de
cara com Katherine, que ouvia tudo escondida no corredor.
— Sentimos
muito... — lamentou Forrest.
— Não
precisam se preocupar... Ele nunca vai mudar. Eu o conheci assim e só ficou
pior com o tempo... Bem, agora a situação tende a ficar insustentável.
— Mas, como
ele ficou um mala desse jeito? — perguntou Ethan, logo percebendo a besteira
que havia falado. — Quer dizer, não foi o que eu quis dizer, é...
Katherine
riu.
— Tudo
certo, meu filho. As coisas começaram a ficar ruins quando nosso filho morreu
de tuberculose quando criança. Pryce sempre gostou de Pokémon do tipo Gelo e
deve se culpar até hoje por isso... Você me lembra ele, Ethan. Vocês se parecem
muito, por isso que eu criei um fã-clube seu, assim eu posso sempre torcer por
ele enquanto torço por você.
Os garotos
se olharam sem saber como reagir.
— Sentimos
muito... — disse Forrest.
— Nos
mudamos para Azalea para tentar mudar de vida, esquecer, recomeçar... Mas não é
tão fácil. O coração de Pryce é essa cidade, Mahogany. Mesmo com a morte de
nosso filho, essa cidade nunca deixou de ser a cidade dele. Ele quis mudar para
cá diversas vezes, mas eu não nunca suportei a ideia de morar aqui novamente...
Sei que é difícil pra ele, mas eu sempre vou estar presente pra ele e por ele.
Acho que só eu que conseguirei eternamente lidar com ele, sei que ele precisa
de mim. E quanto ao que ele falou, nem se preocupem, eu sei que ele é bastante
grato por vocês terem ajudado a expulsar os Rockets daqui. Só que o orgulho e a
chatice dele jamais irão permitir que ele agradeça vocês, mas me permitam dizer
muito obrigada.
Katherine
abraçou o trio e os deixou constrangidos.
— Não
precisa agradecer... — disse Amy.
— Eu
estarei torcendo por vocês. E me aguarde na Liga Pokémon, Ethan! Você é meu
neto favorito, não conte pra Vivian.
O garoto
riu.
— Não sou
nem louco!
***
A Cidade de
Mahogany ficava cada vez mais distante a cada passo que Ethan, Amy e Forrest
davam pela Rota 44. A Caverna de Gelo mostrava-se cada vez mais próxima, Amy
dava um passo após o outro, cada vez mais determinada a cruzar a caverna e
chegar até o próximo destino, Blackthorn. Ethan, por sua vez, estava preocupado
com a hipótese de que Amy pudesse ter algum tipo de recaída e caminhava
segurando sua mão. Forrest analisava um mapa adquirido no Centro Pokémon que
indicava a rota a ser tomada dentro do local e lia em voz alta sobre os Pokémon
que habitavam ali, o que deixou Ethan bastante empolgado. Um Pokémon do tipo
Gelo viria a calhar, já que o Ginásio de Blackthorn utilizava Pokémon do tipo
Dragão — informação valiosa dada de presente por Lance a Ethan como forma de
pagamento pelo auxílio em Mahogany, e o garoto não havia em seu time de Pokémon
nenhuma arma para utilizar em sua batalha. Mas Ethan não estava preocupado,
afinal, tudo acabaria bem no fim das contas.
O caminho
feito pelo trio para chegar à Caverna de Gelo era o convencional, que passava
por dentro da Rota 44 e que dava para a entrada da caverna onde uma barraca autorizada
alugava blusões de frio para que os treinadores que adentrassem o local não
congelassem e que eram devolvidos quando os usuários chegavam ao outro lado da
caverna, quase na entrada da Cidade de Blackthorn. Ethan fez questão de pagar o
aluguel do de Amy e certificou-se que a namorada estava bem agasalhada. A tarde
já estava quase no fim, então provavelmente a temperatura cairia ainda mais
dentro da caverna.
Forrest
guiava os amigos pela rota dentro do local e achava engraçado como era Ethan
quem temia uma recaída de Amy enquanto a mesma continuava caminhando e rindo
com a preocupação de Ethan. O garoto, morrendo de vergonha, aproximou-se da
namorada.
— Posso
pegar na sua mão?
Agora era
Amy quem sentiu o rosto arder de vergonha.
— C-claro
que não! Isso é muito cafona.
Ethan deu
uma risada sem graça para disfarçar o fora que levou.
— Hahahaha,
verdade, né? Perdoa minha ideia idiota.
Ele
continuou caminhando ao lado de Forrest e Amy parou, refletindo um pouco. Ela
se abrigou melhor dentro do grosso casaco que vestia e deu um sorriso que
admitia estar apaixonada. Avançou na direção da dupla de amigos e pegou na mão
de Ethan, entrelaçando seus dedos nos do garoto, que sentiu um arrepio na
espinha. O coração do menino bateu ainda mais veloz quando ela encostou a
cabeça em seu ombro enquanto caminhavam.
Forrest não
escondeu uma risada ligeira.
— É, dona
Amanda... Quem diria que um dia eu veria você apaixonada — comentou o moreno,
entrelaçando os dedos atrás da cabeça.
Enquanto
caminhavam, o trio passou pelo mesmo caminho que Amy tomara da última vez que
estivera ali. Sem querer, todas aquelas memórias da tentativa de interromper a
própria vida passaram por sua cabeça. Diferente de Ethan, que estava
visivelmente nervoso, a garota estava tranquila.
— Foi aqui
que você me reencontrou — disse ela a Ethan.
Ethan
olhava apreensivo para o local onde Amy apontava.
— Foi dali
que você tentou se jogar? — perguntou Forrest, obtendo uma confirmação
silenciosa da amiga.
— Quando
tudo estava perdido, eu quis apenas ter a certeza de que eu iria me encontrar,
de uma forma ou de outra. A solução dos meus problemas nunca foi fugir deles,
mas encará-los de frente... Só depois que eu fui salva pelo Ethan foi que eu
entendi que nem tudo na vida é do jeito que a gente quer, mas do jeito que a
gente precisa que seja, mesmo contra nossa vontade. E você, Forrest, também me
ajuda a enxergar bastante coisa que eu mesma não sabia que podia ser possível.
Se eu nunca falei isso antes, muito obrigada. Você mudou a minha vida.
Com o outro
braço, Amy abraçou o moreno pelo pescoço e mantinha Ethan e ele presos juntos
enquanto dava risada.
— Acho que
as nossas aventuras estão começando agora... — ela comentou.
— Mas elas
já não estão acabando? Depois dessa caverna maldita, a última batalha de
Ginásio me aguarda... — perguntou Ethan.
— Pois é...
Não é engraçado? — retrucou ela contente.
— Sabe de
uma coisa? Que bom que estamos começando a nossa aventura agora, significa que
estamos mais experientes — disse Forrest.
— Eu nunca
vou te perder, Amy. Vou fazer de tudo pra te proteger, seja nessa jornada, seja
nas próximas. É uma promessa — afirmou Ethan para a garota, que deu um doce
sorriso.
— Eu confio
a minha vida a vocês.
O tempo ia
passando e o trio ainda caminhava pela caverna. Vários Pokémon atraíam a
atenção dos treinadores, mas nenhum em especial despertava o interesse em
Ethan. Ele já tinha muitos Pokémon em sua posse e queria um que pudesse ser
útil em sua batalha de Ginásio, não poderia desperdiçar PokéBolas. Ao continuar
caminhando, uma criatura fez o garoto parar. Um Pokémon bípede que se
assemelhava a um gato preto com três penas vermelhas brilhantes na cauda e uma
na orelha esquerda enquanto sua outra orelha era curta e pontiaguda e encarava
Ethan com seus olhos vermelhos. Na testa e no peito havia marcas amarelas e
ovais. Tinha olhos vermelhos com manchas pretas nas bordas. Garras afiadas e
retráteis em suas patas das mãos e pés brilhavam ameaçadoramente enquanto o
gatuno espreguiçava-se alongando seus membros longos. Era um Sneasel, cuja
evolução, Weavile, Ethan havia enfrentado em sua última batalha de Ginásio, era
perfeito.
O garoto
sacou sua PokéDex.
— “Sneasel,
o Pokémon Garra Afiada. Suas patas escondem garras afiadas. Se atacado,
repentinamente estende as garras e assusta seu inimigo. De natureza cruel,
afasta Pidgey de seus ninhos e apanha todas as sobras que encontrar.” — informou
o dispositivo.
— Essa cara
aí não me assusta. Tá na hora mesmo de eu ter uma boa batalha! Lava, eu escolho
você!
Ethan
arremessou sua PokéBola na caverna, mas ela não se abriu.
— Hein? O
que tá pegando, Lava?
O garoto
aproximou-se da PokéBola no chão de gelo e a pegou. Olhou para a cápsula,
apontou-a para Sneasel e apertou o botão central que a desbloqueava. Ela se
abriu, uma forte luz vermelha saiu dela, mas logo cessou, fechando a PokéBola
mais uma vez. Quilava se recusava a sair.
Amy fez uma
expressão preocupada.
— Não é
esquisito o Quilava não querer sair da PokéBola?
— Vamos,
Lava, eu preciso de você! — insistia Ethan, tentando convocar seu Pokémon, sem
sucesso.
— Ethan,
talvez Quilava não queira lutar... Tente outro Pokémon — sugeriu Forrest.
O garoto
olhou para o amigo e, mesmo contrariado, acatou a ideia. Guardou a PokéBola de
Quilava no bolso e escolheu outra.
— Muito
bem, Sand, eu escolho você!
Ethan
arremessou a PokéBola e, desta vez, Sandslash surgiu em campo.
— Vamos lá,
Sand, use o Crush Claw!
Sandslash
não se moveu. Cruzou os braços e ficou encarando seu oponente. Ethan fechou os
punhos, sem entender.
— Sand, eu
pedi pra você atacar. Vamos lá, amigão, colabora!
Sneasel
cansou de esperar e atacou com suas garras afiadas. O Fury Swipes
atingiu em cheio o Pokémon de Ethan, que nada fez para se defender.
— O que
está acontecendo? Por que seus Pokémon não estão te obedecendo? — questionou
Forrest preocupado.
— Eu não
sei... Isso nunca me aconteceu antes... — respondeu o garoto, paralisado.
— Primeape,
preciso de você! — convocou Amy arremessando uma PokéBola.
Diferente
dos Pokémon de Ethan, Primeape parecia bem-disposto a lutar. Forrest
imediatamente descartou a hipótese de a própria Caverna de Gelo ser causadora
do mal-estar de Quilava e Sandslash.
— Isso só
pode significar que, por algum motivo, seus Pokémon estão conscientes de que
estão te desobedecendo, Ethan... — comentou o moreno.
— O quê?
Mas por quê?! — questionou o garoto de forma indignada.
— Primeape,
Karate Chop!
Primeape
partiu em direção ao oponente e o atingiu com a mão aberta no ombro com um
golpe de karatê. Sneasel deu um grito de dor, mas não se renderia tão fácil.
Avançou em Primeape tentando surpreendê-lo com um Faint Attack, mas o
Pokémon de Amy era mais ágil e desviou com maestria ao perceber o oponente
atrás de si.
— Seismic
Toss!
Primeape
agarrou Sneasel e saltou para cima, dando voltas ao redor do próprio eixo antes
de arremessar o oponente com violência no chão congelado abaixo. Sneasel caiu nocauteado.
— PokéBola,
vai! — Amy arremessou uma cápsula bicolor no Pokémon ao chão que não resistiu à
captura.
Ethan não
havia prestado atenção. Estava perdido em pensamentos, tentando entender o que
havia acontecido.
— Sneasel
não pode contra Primeape, imagino que fosse um Pokémon de um nível até baixo...
Seja com Quilava, seja com Sandslash, você tinha chance contra esse Pokémon,
meu bem... Mas o que será que aconteceu? Por que seus Pokémon não te obedecem?
— perguntou Amy encarando a PokéBolade Sneasel.
Ethan não
fez nenhum tipo de contato visual. Apenas encarava seu reflexo no chão de gelo.
Respirou fundo antes de responder à namorada.
— Eu acho
que me tornei um oponente para meus próprios Pokémon...
10 anos de HeartGold e SoulSilver
Essa é uma daquelas datas que não se pode deixar passar em branco. Hoje é quinta-feira, o mesmo dia que eu costumo lançar capítulos novos do Aventuras em Johto. Mesmo tarde da noite, eu tirei um tempo depois do trabalho de professor de música para, de forma até simples e isolada, comemorar o lançamento do par de jogos que, pra muitos, é o melhor remake e, pra mim, acaba sendo o melhor par de jogos de toda a franquia Pokémon. HeartGold & SoulSilver foram lançados no Japão em 12 de Setembro de 2009, eu devia estar dividindo meu tempo entre a escola, os cursos de música e assistir Pokémon na RedeTV!. O único acesso à internet que eu tinha era por uma lan house (hoje uma loja de conveniências, dos mesmos donos árabes) onde eu passava parte dos meus dias entre fazer um trabalho da escola e pesquisar as coisas sobre Pokémon — incluindo assistir pela milésima vez Pokémon Heroes no YouTube, meu filme favorito. Apenas no fim do ano eu fui conseguir meu próprio computador — que deu problema na placa-mãe 15 dias depois (não comprem nada pela internet rs) e passei a me aprofundar mais. Pokémon pra mim começou na Record, no Programa da Eliana. Fui retomar o amor pela franquia nas reprises da RedeTV!, como já mencionado, e com isso, comecei a fazer os primeiros esboços de uma fanfic. Johto sempre foi a minha saga favorita do anime, principalmente na fase Pokémon Chronicles. Foi ali que eu conheci o meu primeiro protagonista, Forrest, o irmão de Brock. Começava ali os primeiros esboços do que hoje é o AeJ e com o lançamento de HGSS em solo americano, o amor por Johto só cresceu. Comecei a frequentar fóruns de Pokémon e lá, comecei postando os primeiros rascunhos da famosa "Coração de Ouro e Alma de Prata" com Ethan já de protagonista. E foi nesse fórum que eu conheci a Amanda, uma grande amiga e crush virtual que era marrenta, genial, morava no nordeste brasileiro e utilizava de foto de perfil o char da Green, de Pokémon Adventures. Um resumo dessa história eu já publiquei aqui no blog já tem uns anos... Então, escrevi uma história com Forrest e Amy, publiquei no Nyah!, desisti, depois peguei o Ethan, misturei com Amy e Forrest e, depois de não conseguir entrar na Aliança lá em 2012, postei essa história no Nyah! de novo, até desistir... Alguns anos mais tarde, em 17 de Dezembro de 2015, estreamos o nosso querido AeJ, em definitivo, que se encontra, no momento em que essa postagem é escrita, quase em seu capítulo 60. É muita coisa! Enfim, todo esse texto, essa hora da noite, só pra comemorar uma década de lançamento de um jogo... Mas esse jogo é marcante pra mim. Por causa dele, eu fiz amigos, criei histórias que marcaram pessoas e graças à ele, surgiu o Dento. Não consigo diferenciar o usuário da internet do ser humano real, acho que quem me conhece pessoalmente sabe disso. Eu tenho muito mais a comemorar do que a GameFreak eu acho, mas sinceramente espero que quando Pokémon HeartGold e Pokémon SoulSilver estiverem comemorando 20 anos, Ethan tenha vencido a Liga Pokémon... Que eu não desista até lá!
Ah, e é claro, à você que leu essa postagem aleatória até aqui e com certeza acompanha o Aventuras em Johto, meu muito obrigado. Sem você, Ethan, Amy e Forrest não chegariam tão longe.
TO BE CONTINUED...