Capítulo 53

— Duas e cinquenta e uma da manhã. Vocês estão
atrasados.
Koga permanecia de braços cruzados enquanto
assistia a aproximação dos demais integrantes da Elite 4, liderados por Lance e
Seth, seu Dragonite. Por serem recém-contratados, Karen e Will pareciam
assustados com a primeira missão ser justamente deter perigosos integrantes da
maior máfia Pokémon do mundo. Ela, com seus longos cabelos encaracolados
azul-prateados — mesma cor de seus olhos atentos — andava de forma soturna,
desejando acabar com aquilo o mais rápido possível. Encarava ao redor com um
olhar penetrante e orgulhoso, como um gato que dava cada passo de forma
calculada para não ser surpreendido durante a caça, talvez devido à sua postura
de quem colocava poder e respeito por onde passa de uma maneira sinistra.
Andava com um mix de graça e sensualidade, apesar de isso ser apenas resultado
da extrema confiança em suas habilidades.
Já ele era misterioso. Quase como um duque
recém-saído de um baile, usava uma máscara que cobria seus olhos e o deixava
quase anônimo, o que dava certo charme ao homem que podia até mesmo sair na rua
sem ser reconhecido. Suas roupas extravagantes, no entanto, eram sua marca
registrada, principalmente naquela ocasião oportuna em que faria questão de ser
notado. Seu smoking elegante o fazia caminhar de forma sublime, dando-lhe toda
pompa e elegância de alguém que exalava um ar enigmático. Não se sabia qual
seria o próximo passo que o treinador daria, o que sempre lhe dava vantagem.
Era como se pudesse ler a mente de seu oponente.
— Você reclama por um minuto de atraso. Às
vezes eu acho que você deveria pegar mais leve — disse Lance ao colega.
— Você é o campeão da Liga Pokémon. Não dê
maus exemplos aos novatos — retrucou Koga.
— Estávamos repassando o plano. Acredito que
essa nova dupla, apesar de serem tão opostos um do outro, será de grande ajuda
para a Elite de agora em diante.
Koga examinou os jovens de cima a baixo.
— A jovem guarda caminha junto com a velha
guarda. Ambos se neutralizam, se desafiam e se completam por serem tão opostos,
por pensarem diferente e terem origens tão diferentes, mas... Você queria
formar uma Elite 4 de respeito e acho que conseguiu. Saberemos hoje como serão
os próximos tempos.
Lance sorriu.
— Espero contar com sua ajuda.
Karen e Will se entreolharam e fizeram um
sinal afirmativo com a cabeça.
— Muito bem, é assim que começamos.
O campeão da Elite 4 colocou a mão no bolso de
sua calça e retirou uma PokéBola de dentro dela.
— Contamos com você.
Blue, o Gastly Shiny foi liberado da PokéBola
e encarou os humanos à sua frente.
— Sua mestra está em algum lugar dentro desse
labirinto. Faça como o combinado e auxilie-a no que for possível — pediu Lance.
Blue assentiu com a cabeça e desapareceu.
Invisível, dirigiu-se até a entrada do esconderijo da Equipe Rocket e foi
penetrando por entre as paredes sem ser notado.
— Cinco para as três. Agora, os demais
convidados.
Um carro aproximava-se em alta velocidade. Se
os integrantes da Elite 4 não estivessem esperando, com certeza seria motivo de
suspeita a chegada de tal veículo aquela hora bem próximo daquele grupo de
treinadores experientes.
Ao estacionar ali perto, Líderes de Ginásio
convocados por Lance saíram do interior do veículo e um a um eles foram se
revelando. Dos de Johto, Pryce, Jasmine e a mestra dos Dragões, Clair. A mulher
de longos cabelos azulados que vestia um macacão azul escuro com sua capa negra
esvoaçava magnificamente com o toque do vento. Seu semblante sério não mudou ao
encontrar os olhos de Lance, seu primo, que deu um sorriso.
De Kanto, Brock e Gary Carvalho juntavam-se
aos demais colegas e reuniam-se próximo à entrada do esconderijo Rocket.
— Senhoras e senhores, são três da manhã. É
hora do show — anunciou o Campeão da Elite 4 dando espaço para Seth passar à
sua frente.
Todos os treinadores sacaram suas PokéBolas e convocaram
seus parceiros mais poderosos.
***
Uma forte explosão fora ouvida vinda de algum
lugar do lado de fora. Um alarme soava incessantemente. Lyra levantou-se em um
salto e procurou recolher seu Pokémon.
— Wrap!
— berrou Forrest.
O corpo de Lyra foi envolvido com tentáculos
amarelos, imobilizando a garota de fazer qualquer tipo de movimento. O moreno
levantou-se e, ainda segurando o próprio pescoço, correu para a cela de
Gabrielle onde a entregou algumas PokéBolas.
— Você vai precisar — avisou o garoto entre
tossidos.
Joey saiu correndo de sua cela e foi em
direção à de Gabrielle.
— NÃO TOQUE NELA! — berrou ele para Forrest.
O moreno olhou para o garoto e estendeu a mão,
mostrando outras cinco PokéBolas.
— Nós estamos lutando por um bem comum. Use
tudo o que puder.
Diversos agentes da Equipe Rocket corriam nos
corredores na direção do laboratório. Forrest recolheu seu Shuckle, que
continuava a impedir Lyra de se mexer, e saiu correndo pela porta.
O moreno atravessava o corredor com pressa,
esbarrando vez em quando em agentes da Equipe Rocket que corriam para o
laboratório, de onde parecia se originar a maior parte do caos. Forrest olhava
de um lado para o outro procurando algo que ele sabia que estava ali, mas que
não conseguia ver. Um suspiro de alívio tomou o corpo do garoto quando viu
Blue, o Gastly Shiny que pertencia à Amy aparecendo alguns metros à frente
sinalizando para ele por onde ele deveria seguir.
A porta que dava para a sala onde Amy era
mantida presa estava aberta. Forrest viu Proton caído desmaiado ao chão. Gastly
o sufocou, conforme previamente combinado. A garota não pareceu surpresa em ver
o moreno cruzar a porta e pegar a chave de sua cela no cinto do Rocket.
Forrest abriu a cela e entregou as PokéBolas
de Amy. A garota as recolheu e saiu da sala com o moreno em seu encalço, na
direção do laboratório.
A Elite 4, com o auxílio dos Líderes de
Ginásio, derrubavam agentes e Pokémon da Equipe Rocket conforme invadiam o
quartel-general da organização. Brock lutava com Omastar enfrentando Rockets
que insistiam em cercá-lo com Crobats, Raticates e até mesmo Alakazam enquanto
Clair usava seu Kingdra contra Ariana, que golpeava-o utilizando certeiros
golpes de Gelo comandados por sua Murkrow.
Gary batalhava junto com Red e Charizard,
usando seu Blastoise para derrubar agentes e Pokémon. Jasmine e Skarmory davam
suporte ao velho Pryce e seu Sandslash de gelo, que iam impedindo que
integrantes da Equipe Rocket acabassem tentando escapar do bunker.
Petrel, sozinho, encarava Will e Karen, que
tentava desconcentrá-los desviando sua atenção.
— Vocês são novos por aqui? Cuidado para não
se machucar, crianças, hehe. Weezing, Smog! Raticate, Crunch!
— Umbreon! — chamou Karen
— Exeggutor, querida! — clamou Will.
— Evasiva! — disse a dupla, simultaneamente,
como se um conhecesse o próximo passo que o outro daria.
Os dois Pokémon pularam para direções opostas,
evitando o ataque de seus oponentes.
Archer enfrentava Lance. Seth, o Dragonite,
encarava Beliel, o Houndoom.
— Tenho que admitir que você até que é
habilidoso — provocou Lance.
— Você deveria ter vergonha de brincar em
serviço, cavalheiro. Beliel, acabe com isso. Dark Pulse!
O Houndoom abriu a boca, liberando uma aura
negra que atingiu em cheio o peito do dragão.
Seth, no entanto, pareceu nada sentir. Sua
resistência era absurda.
— Adorei a brincadeira, mas tenho coisas mais
importantes a fazer. Outrage.
Dragonite envolveu-se em uma aura vermelha e
sua feição mudou. Uma fúria indomável tomou conta de seu ser. Seth partiu com
violência para cima de Beliel, arranhando-o com ira, impedindo-o de se
defender. Suas garras arranharam seu rosto e feriram os olhos do Houndoom, que
urrou de dor. Um pedaço da garra de Seth fixou-se no focinho de Beliel, tamanha
a violência do ataque.
Silver tentava escapar da confusão, procurando
fugir dali o mais rápido possível. Cada vez que achava uma brecha,
propositalmente algum treinador acabava atingindo um ataque próximo a ele,
impedindo-o de se mover. O ruivo mantinha a PokéBola GS em mãos que, após
frustradas tentativas, não conseguira ser aberta.
Red tentou se aproximar de Silver, mas um
capanga da Equipe Rocket foi corajoso o suficiente para parar em sua frente,
impedindo-o de continuar.
— Primeiro capturamos a Amy. Agora vamos
capturar você, o maior treinador Pokémon do mundo. Aposto que serei promovido
depois de conseguir sua cabeça — sorriu maliciosamente.
— Eu estou feliz com a minha cabeça no lugar.
Charizard, Flamethrower! — Ordenou
Red.
Um jato de fogo saiu da boca de Charizard,
queimando a pele de alguns capangas Rocket que estavam perto demais.
— Eu já disse o quanto eu adoro uma confusão?
— gritou Gary do outro lado da sala para Red, que deu um sorrisinho.
Forrest e Amy chegaram juntos ao epicentro da
grande batalha. Com PokéBolas em mãos, a dupla procurou se defender dos agentes
que tentavam agarrá-los e derrubá-los. Ethan e Sandslash abriam caminho entre
Rockets e Pokémon para alcançar os dois.
Archer, Petrel e Ariana já estavam sem seus
Pokémon, nocauteados pelos poderosos treinadores. Os demais agentes agora eram
quem faziam a guarda dos executivos. A Elite 4 e os Líderes de Ginásio eram
poderosos, mas os Rockets ainda eram maiores em número. Ao ver Amy, no entanto,
Ariana pareceu perder a concentração. Fechou os punhos com força e uma têmpora
se contraiu.
— Como foi que a Amy...?
Archer, irônico, respondeu com a resposta mais
óbvia do mundo.
— O tempo todo, Ariana. O tempo todo.
Silver olhou para a executiva e a temeu por um
instante. Ariana não aceitava ser passada para trás.
— Eu me recusava a pensar que você falharia
Silver. Você nos fez confiar nas pessoas mais erradas que eu tive o desprazer
de conviver. Você entregou de bandeja a nossa ruína, meu filho. A culpa é totalmente
sua.
O garoto paralisou. Ouvir aquelas palavras
fora um choque.
— Cessar fogo! — bradou Ariana.
Imediatamente os agentes da Equipe Rocket
recuaram, surpreendendo a Elite 4 e os Líderes de Ginásio.
Lance sorriu vitorioso.
— Vocês se rendem?
— Jamais! — a voz de Ariana ressonava como um
trovão. — Giovanni não morreu pra desistir de seus planos. Ele morreu para
cumpri-los! E você o assassinou, sua garotinha miserável.
Os olhos azuis de Amy encaravam os olhos rubros e
furiosos da mulher.
— Graças à Amy que agora nós os capturamos. Desde a
morte de Giovanni nós tivemos a certeza de que vocês seriam incapazes de se
moverem sozinhos — disse Lance, ainda com seu ar de soberba. — Aliados da
Equipe Rocket? Nunca houve!
Silver sentia o rosto queimar de vergonha. Nunca fora
tão humilhado na vida. Quando foi que havia perdido o controle da situação?
— Não acho que Silver tenha culpa... Ele queria apenas
demonstrar que podia dar continuidade aos trabalhos do pai. Claro que se
preocuparia em fazer alianças com pessoas poderosas... Fico agradecido por ter
sido considerado parte de seu plano — comentou Red.
— Entregar Amy foi apenas uma maneira simples de
chegar até vocês. E vocês caíram como um Psyduck — complementou Lance.
Petrel deu uma risada sarcástica.
— Hahaha, quer dizer então que a Amy tava por dentro
do esquema esse tempo todo?
A garota deu um sorriso convencido.
— Todos nós. Mesmo Ethan, Forrest, Red... Todos
aqueles que de alguma forma eram aliados a mim, assim permaneceram.
Ethan permanecia reflexivo. Olhou para Forrest
e lembrou-se de todo o plano maluco.
No longo
corredor que dava para as escadas que dividiam as suítes de hospedagem dos
andares de enfermaria, Forrest continuava a ignorar as perguntas de Ethan. O
moreno evitava fazer qualquer tipo de contato visual com demais treinadores que
passavam por ele no caminho que levava até o hall do Centro Pokémon. Não
parecia estar nervoso, mas seu corpo estava enrijecido de tensão.
Forrest
desceu as escadas, alcançou a recepção e parou abruptamente, virando-se com o
dedo em riste para o rosto de Ethan.
— Eu tenho
uma ideia. Vamos entregar a Amy para os Rockets antes do Red. O que acha?
Ethan
engasgou.
— O quê?!
Você ficou maluco? Que história é ess...
Forrest
aproximou-se e cochichou algo no ouvido do garoto. Era inaudível ao ponto de
que as pessoas olhavam a expressão de Ethan e só podiam acreditar que ele
estava recebendo a notícia da morte de alguém.
— Entregar a Amy é a única maneira de ela sair
viva no final dessa história toda.
Ethan tremia
incontrolavelmente. Ele não conseguia fazer nenhum tipo de contato visual com
Forrest, que falava com a maior tranquilidade um absurdo daqueles. O garoto
fechou os punhos, tentando involuntariamente manter algum tipo de controle de
si próprio.
— Como
assim... Entregar a Amy? Você não disse... Que amava ela... Agora a pouco?
Forrest olhou
para Ethan e deu uma risadinha sarcástica.
— Ora, mas
não foi ela mesma quem disse? Na história, Julieta amou tanto Romeu que morreu
por ele. Se eu a amo, preciso dar ela em sacrifício.
O moreno só
sentiu a dor quando caiu ao chão. Seu rosto doía imensamente. Levou a mão até o
local da pancada para tentar mensurar a dor.
O punho de
Ethan permanecia parado no ar. Sua expressão de fúria assustou Forrest, que
nunca havia visto o amigo daquele jeito antes. Como ele podia falar coisas tão
absurdas de maneira tão natural?
— Isso não
vai ficar assim! Eu vou falar tudo pra Amy!
Forrest
levantou-se do chão, ainda com a mão no rosto, e sorrindo olhou para Ethan.
— Não, você
não vai. Fazendo isso, você vai fazer ela suspeitar de você também, e aí
sozinha, fica mais fácil para os outros pegá-la. A escolha é toda sua.
— Mas se eu
me explicar, ela não vai...
— Você acha
mesmo? Você realmente acha que ao contar sobre nossa conversa, ela não vai
olhar pra você de uma forma diferente? Não se iluda Ethan. Até logo.
Forrest
virou-se de costas e avançou para a saída do Centro Pokémon, deixando um Ethan
em estado de choque para trás.
Ao voltar
para o quarto, deparou-se com Amy escovando os cabelos. Ela assustou-se ao ver
a expressão do garoto.
— Ethan, está
tudo bem? Onde está o Forrest?
O garoto
olhou para a amiga e sua voz sumiu. As lágrimas tentaram tomar conta do rosto
do menino, mas ele piscou algumas vezes para controlá-las.
— Não é nada.
Ainda estou processando tudo o que aconteceu. A história do Forrest, você sendo
ameaçada por duas pessoas que eu pensava serem aliados... Eu não sei o que
fazer.
Amy suspirou.
Colocou o pente sobre a cama e aproximou-se do garoto, que tremia de nervoso.
— Pelo menos
nada de ruim pode acontecer com a gente enquanto estivermos juntos, não é? — e
sorriu.
Ethan hesitou
antes de responder numa mentira descarada.
— …Você está
certa.
A garota o
abraçou de forma terna. Ethan tremia. Diversas coisas passavam pela sua cabeça.
— Amy...
— Sim? — a
voz suave da menina fez Ethan querer protegê-la de tudo.
O garoto
respirou fundo.
— Amy,
Forrest quer entregá-la para a Equipe Rocket! Nós precisamos fugir e-
— Sim, eu sei
disso.
Ethan arregalou
os olhos.
— V-você
sabe?! Como?!
— Não se
preocupe, está tudo sobre controle. — Amy sorriu e voltou a pentear seus
cabelos. — É o único jeito de tudo isso acabar bem.
— M-mas como
assim? Amy, isso não pode acabar bem! De quem foi essa ideia maluca?
— Não se
preocupe, tudo o que você precisa saber por enquanto é que tudo isso está sendo
arquitetado já há bastante tempo. Forrest soube do planejado recentemente,
enquanto treinava com Bruno. Está tudo bem. Você confia em mim?
Ethan hesitou
por um momento. Os olhos de Amy o encaravam, cobrando uma resposta.
— Eu... —
balbuciou o garoto após alguns segundos de silêncio. — Eu confio...
— Fico feliz
de poder contar com você, lindinho. Agora por favor, mantenha a calma e finja
que não sabe de nada, tudo bem?
O garoto
assentiu. Ele não conseguiu dormir aquela noite.
— O bem
sempre vence o mal, Ariana. Lembre-se disso. — A voz de Lance trouxe Ethan de
volta para a realidade.
Em um último
ato de soberania, Silver ergueu-se na direção dos oponentes pela primeira vez,
mostrando a PokéBola GS que ele zelava com dedicação.
— V-vocês
estão errados! Eu vou trazer meu pai de volta, eu tenho Celebi aqui dentro
desta PokéBola! Meu plano é perfeito, eu voltarei no tempo e vou impedir que
vermes como vocês impeçam papai de realizar os planos dele! Papai viverá de
novo e será graças a mim!
O ruivo
arremessou a cápsula na direção de uma das paredes. A PokéBola GS bateu em um
dos vidros do laboratório e o estilhaçou, mas permaneceu intacta.
Lance
gargalhou.
— Você
realmente acredita que Celebi está aí dentro, rapaz?
Silver o
encarou chorando.
— Tolo. Essa
PokéBola GS está vazia.
Por um
instante, todos os cientistas, capangas e os executivos da Equipe Rocket
pareceram perder a respiração.
— Descobri
que o velho Kurt, da cidade de Azalea, foi quem desenvolveu a PokéBola GS
original. Solicitei para que fizesse outra, idêntica. Pelo fato de não termos penas
de Lugia e Ho-Oh para produzir uma de mesmo poder, improvisamos usando
Apricorns mesmo — detalhou Red.
Incrédulos,
os integrantes da Equipe Rocket se entreolhavam com um semblante de pesar.
— Então...
Todo o meu esforço foi... Pra nada? — Silver se recusava a acreditar.
— Vocês estão
presos, Equipe Rocket — anunciou Lance.
Ariana riu.
Uma risada maligna que arrepiou a espinha dos presentes. Ria de forma insana,
como se seu único restante de vida dependesse disso. Encarou Lance e rangeu os
dentes.
— Presos?
Nós? Pelo crime de vender Pokémon? Meu caro, você deveria se preocupar com
criminosos de verdade.
Lance riu de
forma debochada.
— Então você
está dizendo que existem criminosos piores que você?
— Claro que
sim. E aqui nessa sala.
A ruiva
desviou o olhar e apontou para Amy.
— Por que não
condená-la pelo pior crime que alguém pode cometer na vida?
Todos
encararam a garota, que não esboçou nenhuma reação.
— Não sei do
que você está falando — retrucou Amy.
— Ah, não?
Você é a culpada de ter cometido o crime mais terrível, inafiançável,
imperdoável e irreparável que um ser humano pode ter feito.
Lance mudou
sua expressão. O líder da Liga Pokémon arregalou seus olhos e em poucos
instantes, o sorriso cínico e irônico deu lugar a uma expressão de pânico. Red
fechou seus punhos.
— Ariana,
não! — exclamou Lance.
Amy pareceu
não temer a mulher. A encarava com seus olhos azuis com a segurança de quem não
iria se deixar abalar pelo o que ela dissesse.
— E o que
pode ser mais grave do que clonar Pokémon? — provocou a garota.
— Matar seu
próprio pai.
— Ariana! —
berrou Red.
Demorou
alguns segundos para que Amy reagisse. Ela encarava Ariana sem esboçar reação
alguma. Seus rostos estavam tão próximos que uma sentia a respiração ofegante
da outra. No entanto, a garota riu.
— HAHAHAHAHA,
você está louca! Foram vocês que mataram meus pais, lembra disso? É essa sua
cartada final, titia?
Um pavoroso
sorriso de vitória pairou sobre o rosto de Ariana.
— Giovanni é
seu pai. E adivinha só? Eu sou sua mãe.
Amy arregalou
os olhos.
— Do que você
está falando? Tá louca? — a voz da garota se alterava e ficava cada vez mais
alta.
— Conheço
Giovanni há vinte anos. Nos conhecemos no Ensino Médio, no Instituto Técnico
Pokémon em Viridian. Foi amor à primeira vista... Nós nos apaixonamos e logo eu
descobri quem era ele de verdade... Sucessor da liderança da maior organização
criminosa do planeta. Quando sua avó morreu, ele se tornou o grande chefe
imediato. Sempre gostei dos homens poderosos e Giovanni sempre foi um líder de
verdade. Quando ele soube que eu estava grávida de você, me mandou abortar...
Nenhuma mulher, nem mesmo eu, assumiria a Equipe Rocket depois da mãe dele.
Amy,
perplexa, encarava Ariana sem emitir um único som.
— I-isso é
mentira... Eu me lembro dos meus pais... ISSO É MENTIRA!! — berrou Amy.
Ariana, como
uma serpente, apreciava o desespero de Amy com um sorriso sádico. Era como se
estivesse se alimentando do pânico e do temor da garota.
— Lavagem
cerebral. Apagamos todas as suas memórias e implantamos as que queríamos graças
à Alakazam. Giovanni jamais assumiria, mas eu tenho certeza que, depois que
você nasceu Amanda, ele começou a criar um certo apreço por você,
principalmente depois que o seu irmão, Silver, nasceu. Você não imagina o quanto
ele ficou feliz com o nascimento do Silver... Finalmente a sucessão da Equipe
Rocket estava completa. Silver, um homem, descendente direto, teria total apoio
de seu pai para assumir a liderança da organização. Fui eu que o convenci a
treiná-la para que pudesse ao menos ter um local de prestígio no nosso
exército. Talvez você pudesse assumir um cargo executivo, mas sempre fugiu das
suas responsabilidades... Você sempre se negou a aceitar que seu destino sempre
foi a Equipe Rocket... Não percebe? Quanto mais você tenta fugir, mais fica
presa a mim... Você é minha filhinha.
Amy acertou
um tapa no rosto de Ariana e sacou uma PokéBola.
— SUA VELHA
NOJENTA!
— Ora, ora,
ora... Mais uma vez, eu sempre chego atrasado pra festa...
Proton,
coçando a cabeça, surgiu no meio das dezenas de pessoas que permaneciam naquele
local. Segurava um transmissor em sua mão direita.
Forrest
arregalou os olhos.
— Isso é um
detonador!
O Rocket
sorriu.
— Por que a
surpresa? Eu tava pensando só em bombar
um pouco esse nosso encontro... — e apertou um dos botões.
Dos
auto-falantes do laboratório, uma voz robótica anunciou.
— Auto-destruição total em trinta segundos.
Houve um
tumulto generalizado. Os agentes da Equipe Rocket começaram a correr buscando
sair do bunker enquanto a Elite 4 e os Líderes de Ginásio tentavam manter um
controle que já estava perdido. Ethan e Forrest aproximaram-se de Amy, que
chorava, mas tentava avançar em Ariana que, sorrindo de forma vencedora, se
retirava correndo junto com os demais executivos.
Silver deu
uma última olhada para a irmã antes de correr para a saída.
— Eu nunca
vou te perdoar.
Ethan e
Forrest tentavam conter a amiga.
— Amy, nós
precisamos sair daqui agora! — exclamava Forrest.
— Me larguem,
eu vou matar essa vadia! — bradava Amy incontrolável.
— Amy, me
escuta! Vamos pegá-los, mas se a gente explodir aqui dentro, vai ficar por isso
mesmo! — argumentou Ethan.
Amy se
debatia, mas permitiu que fosse guiada pelos amigos até o imenso buraco na
parede criado pela Elite 4 e os Líderes de Ginásio para invadirem o local.
Jasmine
ajudou Pryce a sair do bunker. Os arredores estavam cercados de viaturas da
polícia — tudo planejado anteriormente. No entanto, ao invés de capangas
presos, tudo o que se via eram os treinadores justiceiros chegarem ao lado de
fora aos berros.
— Vai
explodir! — gritavam.
Os policiais
começaram a correr para fora da área. O velho Pryce, no entanto, não permitiria
que a Equipe Rocket se safasse.
O Líder de Ginásio retornou até o
quartel-general subterrâneo e pediu para que seu Sandslash tampasse o buraco
feito por ele e seus colegas com gelo.
— Pryce! — exclamou Lance, correndo em sua
direção para tentar tirá-lo dali.
— Esta ainda é minha cidade! — bradou o velho.
Quando o auto-falante anunciou o “zero” na
contagem regressiva, o bunker explodiu. Pryce fora arremessado violentamente
para trás e Lance voou por alguns metros. Estilhaços de bomba, aço e concreto
eram jogados com força por todos os lados, atingindo treinadores, policiais e
Pokémon.
Às três e cinquenta e sete da manhã, as chamas
ardiam e queimavam ferozmente aquele trecho da Rota 44, próxima à entrada da
Cidade de Mahogany.
Capítulo 52

— Que dor de cabeça...
Joey, meio zonzo, sentia tudo ao redor girar.
Não por menos: havia acabado de acordar de um sonho esquisito, onde caía em um
poço sem fundo e a aflição que sentia competia com a vontade de morrer.
Morrer, pelo menos no sonho, o faria se livrar
de vez daquele pesadelo.
A consciência aos poucos fora retornando para
sua mente. Pôde sentir o frio do chão cinzento e o ensurdecedor silêncio ao
redor.
Abriu os olhos e viu o escuro dar-lhe as
boas-vindas. Não eram tão acolhedoras quanto ele esperava, mas, pelo menos,
tinha o gosto de vida real que ele procurava sentir.
A cabeça dava umas fisgadas e o fazia prestar
atenção, como se pedisse para que o resto do corpo ligasse sinais de alerta a
fim de pressentir o perigo.
O garoto se sentou no chão e encostou-se na
parede fria. Seus olhos adaptavam-se aos poucos à escuridão do ambiente e seus
ouvidos procuraram quaisquer ruídos que não fossem sua própria respiração
ofegante.
Cof. Cof.
Cof.
Três tossidas e Joey lamentou profundamente
após sua cabeça ter latejado tão forte que seria melhor que ela explodisse.
— Joey? Joey querido, é você? — uma voz cochichou em uma súplica urgente.
Mesmo no escuro, o garoto arregalou os olhos.
Aquela voz conhecida fez Joey ficar de pé em um pulo.
— Gabi? Meu Arceus, Gabi? Eu tô tão feliz de
ouvir a sua voz, gatinha, você não tem nem noção!
A euforia de Joey o fez correr para a frente e
meter a cara nas grades da cela. Mas o garoto não ligou, ouvir a voz da
companheira era tudo o que ele queria.
— Estou aliviada também! Fale baixo, estamos
sendo vigiados, tenho medo do que eles podem fazer conosco se descobrirem que
estamos conscientes.
— Vigiados? Putz, eu não acredito que estamos
ainda naquele rolê da Equipe Rocket... — comentou Joey, enquanto agachava e se
deixava abater pela decepção. — Eu esperava estar sonhando... Eu preferia estar
sonhando. Saber agora que o Ethan se aliou a esses caras me deixa muito bravo!
Gabrielle suspirou.
— Eu também acho... Eu non consigo entender o motivo... Ethan não parece ser do tipo de
pessoa que farria isso...
— Eu vou te dizer, Gabi. Depois da Lyra e do
Ethan, eu vou é parar de confiar nas pessoas... Só tem gente cretina nesse
mundo!
O silêncio prevaleceu por alguns instantes até
a tímida voz de Gabrielle voltar a ecoar na sala.
— Você me acha crretina?
O escuro não permitia ver, mas o rosto de Joey
queimou de vergonha.
— N-não! Você é minha parceira! Jamais
pensaria isso de você. Na verdade, só eu, você e o Rattata somos os únicos
seres inteligentes que merecem viver no mundo, o resto é tudo lixo!
Joey aliviou-se ao ouvir a risada doce de
Gabrielle.
— Fico feliz...
O garoto suspirou e sentou-se ao chão.
Respirou fundo e suspirou com pesar.
— Precisamos dar um jeito de sair dessa
espelunca...
Três fortes batidas na porta de metal fizeram
Joey e Gabrielle tomarem um susto. Do outro lado, a voz grave de um homem dava
ordens.
— Calem a boca, seus moleques! Não me façam
entrar aí!
Os corações batiam tão alto que era possível
ouvir alto e claro. Os dois garotos ofegavam de nervoso.
***
Do outro lado do complexo, Proton depositou
outro prato de comida no chão próximo à Amy e se retirou, fechando a cela
enquanto a encarava com curiosidade. A garota mais uma vez não demonstrava
nenhum interesse em tocar na comida, visto que outros três pratos de refeição
jaziam intocados, já começando a estragar.
Ela se encontrava sentada no chão da cela, abraçando
as pernas. Vestia
um uniforme penitenciário negro, da cor da organização, e encarava o teto
testando sua paciência, como fazia desde que havia chegado ali.
— Você é dura na queda... Vamos ver até quando
você vai aguentar — comentou Proton.
Amy não fez nenhum tipo de contato visual com
o homem.
— Eu não sei por que se preocupa. Se você
fosse fazer alguma coisa comigo, não precisaria que eu ficasse enfraquecida de
fome. Você me viu pelada e virou o rosto. Quem não te conhece, pensa até que
você é decente.
Proton deu uma risadinha.
— Eu te conheço desde pirralha. Não parece,
mas tenho meus caprichos. Não seria nem um pouco cavalheiro da minha parte.
Amy suspirou, ainda encarando o teto.
— Acabou pra nós, Proton. Se bem que eu não
esperava ficar tanto tempo sem ser capturada. Foi um recorde pessoal.
— “Pra nós”? Você é
quem vai ser provavelmente torturada, assassinada e esquartejada. Esse prêmio é
todo seu, eu não tenho nada a ver com isso.
—
Ah, não? Eu estou presa numa cela num baita esconderijo tecnológico a prova de
fuga e você é meu segurança particular, como era quando eu era criança. Você
está preso comigo, também é um prisioneiro. Acho que vai ficar com peso na
consciência pelo resto da vida.
O
Rocket riu.
—
Você acha que me conhece, não é? Que sabe alguma coisa sobre mim e que pode me
tocar com sua sensibilidade de quinta categoria. Mas, você tem razão quando diz
que “acabou pra nós”. Eu tenho muitos planos na vida, e um deles com certeza
não é correr atrás de você. Pelo menos com a sua morte eu vou poder viver em
paz.
Amy
desviou o olhar do teto pela primeira vez e repousou-o em Proton. Ele segurava
com uma das mãos uma das barras da cela enquanto a outra estava dentro do bolso
de sua calça preta. Ele encarava a garota com curiosidade, talvez pelo fato de
estar esperando que ela tirasse algum tipo de truque para escapar, mesmo tendo
a certeza de que ela estava desarmada.
— Eu não sabia que causava em você tamanha
repulsa... — comentou ela.
Proton ergueu o cenho, surpreso com aquela
afirmação.
— Seja qual for o sentimento, acredito que
“repulsa” ainda assim é algo muito pesado. Eu até acabo tendo certa simpatia
por você. Você matou o Giovanni, menina. Eu não queria estar na sua pele agora.
A garota continuou a sustentar o olhar por
mais alguns segundos, refletindo sobre as palavras sinceras que Proton havia
dito. Pensando melhor, ela não o conhecia direito. Aqueles breves instantes de
conversa foram o suficiente para abrir os olhos dela a respeito de muitas
coisas.
— Mantenha seus amigos próximos e seus
inimigos mais próximos ainda... Esse ditado começa a fazer bastante sentido — comentou
ela.
Proton virou-se e dirigiu-se em direção à
porta.
— Quando a próxima refeição estiver pronta,
farei questão de lhe trazer, pirralha. Vê se não passa fome.
O Rocket passou pela porta de aço e deu um
último olhar para Amy, que continuava a encarar o teto. Olhou para o relógio em
seu pulso, eram duas e vinte e sete da manhã. Num suspiro, fechou-a, trancando
a garota.
***
No laboratório da Equipe Rocket, havia uma
intensa concentração de cientistas e capangas ao redor da PokéBola GS, que fora
colocada dentro de uma grande cúpula onde lasers tentavam cortar o botão
central da cápsula para que ela abrisse. Diversas tentativas foram realizadas
para liberar o Pokémon que havia dentro da PokéBola, todas elas fracassadas.
Silver permanecia impaciente, de braços cruzados assistindo cada nova ideia de
abrir o objeto sem machucar o que estava dentro.
— Se algo acontecer com o Celebi, eu vou matar
vocês — alertou o ruivo sem perder sua seriedade, o que tornava a ameaça ainda
mais macabra.
Forrest, Red e Bruno permaneciam atentos à
tentativa de abertura da PokéBola GS. Pareciam tão ansiosos quanto Silver,
afinal, não é todo dia que se vê um Pokémon Lendário. Ninguém ousava emitir um
único barulho, nem mesmo em pensamento. A concentração ao redor do objeto
lembrava um culto religioso, tamanha a devoção de todos pelo objeto.
Lyra, no entanto, estava entediada. Olhou para
o relógio em uma das paredes que marcava quinze para as três da madrugada. Não
tinha a atenção do namorado e não gostava nem um pouco de ser trocada por uma
PokéBolazinha qualquer. Sentada em uma cadeira próxima, com a perna direita
cruzada sobre a esquerda, apoiava seu braço na coxa enquanto a cabeça jazia
apoiada na mão direita. O tédio fazia a garota dar uns bocejos curtos enquanto
balançava seu pé continuamente. Ariana, em pé ao seu lado, deu uma olhada para
a garota de canto de olho e não escondeu satisfação.
— Tch. Se você está tão entediada assim,
deveria procurar outra coisa pra fazer. Não estamos brincando aqui.
Lyra encarou a ruiva, mas nada disse.
Levantou-se em silêncio e dirigiu-se para a saída do laboratório, em direção às
demais áreas do complexo. Conforme avançava, passava pelos recrutas Rocket que
faziam a segurança do local, tendo a certeza de para onde queria ir.
Ao chegar à parte do complexo onde ficavam as
prisões, notou estar sendo seguida.
— Não sei por que me surpreendi. Deveria
imaginar que na primeira oportunidade que tivesse, você viria atrás de mim — a
garota deu uma risadinha. — O mundo dá voltas mesmo, não acha, Forrest?
O moreno deu um passo para trás, como um gato
pego no flagra pela presa. Forrest começou a suar frio e sentiu seu coração
palpitar cada vez mais.
— Lyra, eu...
— Eu estava esperando por você. Ou melhor, eu
imaginaria que você daria um jeito de se encontrar comigo. Sabe que eu até
fiquei surpresa? Não, sério, dessa vez eu digo: você me surpreendeu.
Forrest permaneceu em silêncio por alguns
instantes, mas Lyra realmente surpreendeu-se quando o viu rir.
— Hahaha, pois é, fomos surpreendidos
novamente. Eu jamais imaginei que da próxima vez que te visse, você seria
aliada de uma organização criminosa. Acho engraçado como a vida é irônica.
Lyra retribuiu o sorriso sádico.
— Eu achei que você fosse continuar sendo
aquele moleque mole que eu conheci há alguns meses. Mas deu pra ver que você se
tornou um cara interessante...
— Você sempre gostou de caras dominantes. Que
bom que me tornei um.
Os dois se olharam. Um sorriso de prazer
sincronizado apareceu em seus rostos e suas respirações ficaram ofegantes.
— Onde você estava indo? — perguntou ele.
— Fui procurar alguma diversão. Mas acho que
encontrei — ela respondeu, aproximando-se de Forrest como uma serpente prestes
a dar o bote.
O moreno olhou para cima e viu uma câmera de
vigilância apontando para os dois. Ele deu uma risadinha e aproximou-se de
Lyra, colocando a mecha de seu cabelo atrás de sua orelha. Lyra mordeu o lábio.
Nenhum dos dois tomava atitudes drásticas. Se observavam detalhadamente, quase
se devorando com os olhos.
— Vem comigo — pediu Forrest, surpreendendo
Lyra.
— P-pra onde?
O moreno deu um selinho nos lábios da garota.
— Você confia em mim?
— Confio.
Sem dizer mais nenhuma palavra, Forrest
segurou na mão de Lyra e a levou na direção contrária do laboratório, para onde
ficavam as celas. Os dois ofegavam, mas o garoto parecia com pressa de chegar
até lá.
— O que nós vamos fazer aqui? — perguntou Lyra.
— Você disse que confiava em mim. Acho que nós
temos satisfações pra tirar com alguém que está lá dentro.
— Quem?
— Joey.
Lyra olhou para o moreno sem entender.
— Que tipo de satisfações eu teria para tirar
com ele?
— Ué, não foi ele que disse que você era uma
fracassada?
A garota arregalou os olhos. Fechou os punhos
com força e começou a tremer. Seu corpo ficou rígido e sua respiração ficou
ofegante. Forrest ficou surpreso com a reação de Lyra.
— Eu achei que você soubesse...
— Q-que história é essa? — o ódio na voz da
menina era ainda mais evidente pela gagueira. — O-o que ele disse?
— Após o Torneio de Caça aos Insetos... Ele
ficou dizendo por aí que você era uma fracassada. Quando vocês terminaram, ele
deve ter ficado com ódio... Como você não venceu a competição, começaram a
acreditar no discurso dele.
Lyra abaixou a cabeça e pareceu lutar para não
chorar.
— E-eu não sou uma fracassada...
— Eu sei disso, meu amor. E justamente por
isso que estamos aqui. Eu acho que você deve mostrar pra ele quem é você de
verdade. Mostre quem é a Lyra por quem eu me apaixonei.
Forrest aproximou-se de Lyra e, com seu dedo
indicador, levantou o rosto da garota e a fez encarar seus olhos puxados.
— Eu acredito em você.
A garota virou para a grande porta de metal do
complexo e sacou seu cartão-passe do bolso da calça do uniforme negro. Ao
passá-lo pelo controle de acesso, a porta em sua frente se abriu, revelando uma
segunda porta com um agente Rocket de prontidão, que acabou se surpreendendo
com a inesperada visita.
— Abra a porta — disse Lyra com firmeza.
O Rocket ficou surpreso.
— Mas senhora, eu tenho ordens para não abrir.
— EU MANDEI ABRIR ESSA PORTA.
Lyra chutou as partes íntimas do homem que
caiu no chão segurando a área atingida com suas duas mãos. Lyra agachou e pegou
de seu bolso o cartão de acesso do agente, passando pelo controle de acesso
digital e abrindo a porta de metal que dava para as celas onde os prisioneiros
eram trancafiados. Forrest retirou do cinto do agente as chaves das celas do
interior da sala.
As luzes se acenderam. Joey e Gabrielle
levaram as mãos aos olhos para amenizar a repentina claridade às suas irises,
acostumadas com o breu total. Estalos de PokéBolas liberando Pokémon foram
ouvidos seguido de um berro agudo ordenando um golpe.
— VICEGRIP!
O portão de aço que guardava Joey dentro da
cela fora destruído, cortado como se fosse papel. O garoto tomou um susto
tamanho que brigou com seus olhos para tentar ver o que estava acontecendo
enquanto Gabrielle gritava de medo.
— Lyra?! — exclamou o garoto.
— SEU MERDA! EU VOU MOSTRAR PRA VOCÊ QUEM É A
FRACASSADA!
Lyra correu na direção de Joey e deu um chute
na boca de seu estômago, deixando-o sem ar. O golpe repentino fez a visão de
Joey escurecer e o ar desaparecer de seus pulmões.
— QUE HISTÓRIA É ESSA DE DIZER QUE EU SOU
FRACASSADA? EU VOU MATAR VOCÊ! PINSIR, TIRE A CABEÇA DELE DO PESCOÇO, USE O
VICEGRIP! — berrou a garota para seu Pokémon.
Pinsir abriu suas pinças afiadas e
impulsionou-se para frente na direção de Joey, caído ao chão tentando
recuperar-se do golpe recebido.
O Pokémon de Lyra, no entanto, foi arremessado
para a parede oposta por algo tão rápido quanto um míssil.
A garota olhou com ódio para o local onde seu
Pokémon jazia caído e viu um Heracross se levantando após utilizar seu Aerial Ace.
Ao olhar para trás, viu Forrest aproximando-se
dela e Gabrielle acuada, olhando com cautela para fora da cela, agora aberta.
— O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?! — berrou
Lyra.
— Meu bem, eu acredito em você. Por isso mesmo
eu acho que você está sendo idiota em se juntar à Equipe Rocket, não desperdice
o seu talento — disse Forrest.
Lyra virou-se bruscamente e avançou na direção
do moreno, dando-lhe um soco no rosto. O garoto cambaleou para trás, colocou a
mão no rosto e sorriu.
— Ok, eu mereci essa.
— Você merece que eu te mate primeiro.
As mãos de Lyra agarraram o pescoço de Forrest
e o apertaram. O garoto sentia sua garganta ser cada vez mais comprimida
enquanto seus pulmões lutavam com uma pressão inútil contra a ausência de ar. O
moreno pôs a mão no cinto para pegar uma PokéBola, mas a garota deu uma
joelhada na barriga do rapaz, que deixou a cápsula cair ao chão, rolando até
próximo de Joey, que se recuperava do golpe recebido.
Ao perceber a PokéBola próxima, Joey olhou
para o objeto e viu Forrest tentando se livrar da agressora agarrando seus
pulsos e tentando se desvencilhar de alguma maneira. O garoto percebeu que
conhecia aquela PokéBola.
— Mas... Como?
Forrest soltava grunhidos altos. Seu rosto
estava mais escuro do que o normal e sua visão escurecia. Lyra continuava a
apertar seu pescoço e sua pele rasgava dolorosamente, ardendo conforme as unhas
da garota fatalmente pressionavam, além da traquéia, as veias que passavam por ali.
O agente da Equipe Rocket que fazia guarda do
lado de fora da sala recuperou-se e invadiu o local segurando uma PokéBola em
mãos.
— Eu não sei o que está acontecendo aqui, mas
isso acaba agora! Drowzee!
O Pokémon psíquico surgiu e olhou assustadoramente
para as pessoas ao redor.
Joey arremessou a PokéBola e seu Venomoth
rapidamente surgiu em sua frente.
— Silver
Wind! — ordenou o garoto.
Venomoth bateu suas asas e um poderoso ciclone
prateado surgiu e partiu com velocidade para cima de Lyra, Forrest, Drowzee e o
agente Rocket, separando-os para cantos diferentes da sala. A garganta de
Forrest ardia e o moreno tossia cada vez que o oxigênio chegava aos seus
pulmões, enquanto o agente Rocket jazia nocauteado após bater a cabeça
violentamente contra a parede.
Uma forte explosão fora ouvida vinda de algum
lugar do lado de fora. Um alarme soava incessantemente. Lyra levantou-se em um
salto e procurou recolher seu Pokémon.
— Wrap!
— berrou Forrest.
O corpo de Lyra foi envolvido com tentáculos amarelos,
imobilizando a garota de fazer qualquer tipo de movimento. O moreno levantou-se
e, ainda segurando o próprio pescoço, correu para a cela de Gabrielle onde
entregou-lhe algumas PokéBolas.
— Você vai precisar — avisou o garoto entre
tossidos.
Joey saiu correndo de sua cela e foi em
direção à de Gabrielle.
— NÃO TOQUE NELA! — berrou ele para Forrest.
O moreno olhou para o garoto e estendeu a mão,
mostrando outras cinco PokéBolas.
— Nós estamos lutando por um bem comum. Use
tudo o que puder.
Diversos agentes da Equipe Rocket corriam nos
corredores na direção do laboratório. Forrest recolheu seu Shuckle, que continuava
a impedir Lyra de se mexer, e saiu correndo pela porta.
— Ariados, use Spider Web, ma chérie! — ordenou Gabrielle enquanto arremessava uma
PokéBola para o alto.
Lyra até tentou pegar uma PokéBola, mas as
poderosas teias de aranha de Ariados prenderam seus membros junto ao corpo e a
impediram de levantar-se do chão.
— Eu vou matar
vocês! — gritou Lyra do chão, enfurecida, enfatizando cada palavra.
Joey segurou na mão de Gabrielle e, junto com
Venomoth e Ariados, se retiraram da sala de prisão, dirigindo-se para o lado do
laboratório Rocket.
TO BE CONTINUED...